Manifestações da síndrome de burnout em docentes brasileiros. Revisão sistemática Manifestaciones del síndrome de burnout en docentes brasileños. Revisión sistemática Manifestations of burnout syndrome in Brazilian teachers. Systematic review |
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*Mestrando do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional – UnC **Especialista em Fisiologia do Exercício com Ênfase em Treinamento Esportivo ***Mestrado em Desenvolvimento Regional – UnC ****Professor do Programa de Mestrado em desenvolvimento regional – UnC Porto União, Santa Catariana (Brasil) |
Esp. Cleuza Dallazuana* Esp. Giselle Camargo Feldmann* Esp. Sergio Dimas de Paula* Esp. William Cordeiro de Souza** professor_williamsouza@yahoo.com.br Msc. Marcos Tadeu Grzelczak*** Dr. Luis Paulo Gomes Mascarenhas**** |
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Resumo A Síndrome de Burnout é um fenômeno complexo e multidimensional resultante da interação entre os aspectos individuais e o ambiente de trabalho. Com intuito de identificar os fatores de estresse laboral e outras variáveis preditoras desta doença, foram localizados através de uma revisão sistemática, 245 artigos relacionados ao descritor Síndrome de Burnout, que associado ao descritor Ensino, filtraram-se em 18 artigos, chegando-se a 4 artigos ao acrescentar o descritor Docente. Utilizou-se para esta revisão as bases de dados da Pubmed, Lilacs, Medline, Bireme e Scielo. A busca foi realizada entre os meses de setembro e outubro, restringindo-se a artigos publicados no período de 2002 a 2012. Os resultados indicaram um modelo explicativo para cada dimensão da síndrome de burnout. A maioria dos fatores preditivos refere-se à organização do trabalho, ressaltando-se as dificuldades em relação aos alunos. Os achados deste estudo podem subsidiar programas preventivos quanto à saúde no trabalho de docência. Unitermos: Síndrome de burnout. Ensino. Docente.
Abstract The Burnout Syndrome is a complex and multidimensional phenomenon resulting from the interaction between the individual aspects and the work environment. In order to identify the factors of work stress and other predictors of this disease, were located through a systematic review, 245 related to the descriptor Burnout Syndrome, which associated with the descriptor Teaching articles, filtered in 18 articles, reaching up to 4 items to add Lecturer descriptor. Was used for this review databases of Pubmed, Lilacs, Medline, and Scielo. The search was conducted between the months of September and October, restricting to articles published from 2002 to 2012. The results indicated an explanatory model for each dimension of burnout. Most predictors refers is directed to the organization of work, highlighting the difficulties in relation to students. The findings of this study may support illness prevention programs in teaching. Keywords: Syndrome of burnout. Teaching. Teacher.
Recepção: 09/04/2015 - Aceitação: 05/05/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 204 - Mayo de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Cada vez mais, os professores, em todas as suas dimensões, estão sendo alvo de diversas investigações, porque no exercício profissional da atividade docente encontram-se presentes diversos estressores psicossociais, podendo estes estar relacionados à natureza de suas funções ou relacionados ao contexto institucional e social, onde os professores estão exercendo. Estes estressores, se persistentes, podem levar à Síndrome de Burnout, considerada por Harrison (1999) como um tipo de estresse de caráter persistente vinculado a situações de trabalho, resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada com intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo.
O Burnout em professores, afeta o ambiente educacional e interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando estes profissionais a um processo de alienação, desumanização e apatia e ocasionando problemas de saúde e absenteísmo e intenção de abandonar a profissão (Guglielmi & Tatrow, 1998).
Gil-Monte & Peiró (1997) define Síndrome de Burnout (SB) como uma resposta ao estresse laboral crônico, característica dos profissionais que trabalham com pessoas. Os indivíduos portadores da síndrome em geral apresentam deterioração cognitiva com perda de motivação, baixa realização pessoal no trabalho, redução da ilusão pelo trabalho e afetiva, esgotamento emocional e físico, bem como desgaste psíquico. Consequentemente, passam a desenvolver atitudes e condutas negativas frente aos clientes e à organização passando por comportamentos de indiferença, frieza, distanciamento e indolência. O sentimento de culpa pode ser manifestar posterior a esses sintomas, mas não ocorre necessariamente em todos os indivíduos (Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001).
Desta maneira, é possível distinguir dois perfis no processo de SB. O primeiro perfil refere-se ao surgimento de um conjunto de sentimentos e condutas vinculadas ao estresse laboral, que dá origem a uma forma moderada de mal-estar, mas que não incapacita o indivíduo para o exercício do seu trabalho, ainda que pudesse realizá-lo de melhor forma. Este perfil l caracteriza-se pela presença de baixos níveis de ilusão pelo trabalho com altos níveis de Desgaste psíquico e Indolência. O segundo perfil define os casos clínicos mais deteriorados pelo desenvolvimento da SB, incluindo, além dos sintomas já mencionados, sentimentos de Culpa (Gil-Monte & Peiró, 1997).
No Brasil a prevalência da SB em professores pode ficar entre 10% e 30% (Shirom, 1989). O instrumento mais utilizado para a avaliação da SB em diferentes profissões tem sido o Maslach Burnout Inventory (MBI) (Maslach & Jackson, 1984). Utilizando o MBI identificar a prevalência de SB em profissionais da educação no Brasil, Batista et al. (2010) estudaram 265 professores da cidade de João Pessoa-PB e encontraram 33,6% da amostra com alto nível de exaustão emocional, 8,3% com alto nível de despersonalização e 43,4% com baixo nível de realização profissional.
Diante do exposto, este estudo visa fazer um levantamento bibliográfico baseado em evidencias cientificas para reforçar a constatação de quais os principais fatores são apontados para o aparecimento da síndrome de burnout em docentes.
Materiais e métodos
Para a realização desta revisão sistemática foram consultadas as base de dados: Pubmed , Lilacs, Medline, Bireme e Scielo. A busca foi realizada entre os meses de setembro e outubro do ano de 2014, restringindo-se a artigos publicados no período de 2002 a 2012.
Como critérios de seleção foram incluídos nesta revisão artigos completos que preencheram os seguintes critérios: os descritores de Interesse “Síndrome de Burnout, ensino, docente”. Uso de metodologia quantitativa. Amostra constituída de professores ativos na atividade de ensino.
Foram localizados 245 artigos relacionados ao descritor Síndrome de Burnout, quando associado descritor ensino filtraram-se 18 artigos e acrescentando o descritor docente chegou-se a 04 artigos (Figura 1).
Após a leitura dos 04 artigos, um dos artigos apresentava-se como revisão literária. Desta forma identificou-se somente 03 (três) artigos potencialmente relevantes, onde a leitura completa foi realizada. A figura 1 abaixo apresenta o esquema dos procedimentos de seleção dos artigos presentes nesta análise.
Figura 1. Esquema representativo do procedimento de seleção dos artigos para análise sistemática
Os artigos selecionados foram analisados por dois revisores e caso houvesse duvida um terceiro revisor era consultado. Foi construído uma tabela de registro pelos autores, cuja estrutura foi organizada em 6 tópicos: Título; Autor; Ano; Participantes/Amostra; Metodologia; Resultados no intuito de melhor adensamento do artigo.
A escala “Physiotherapy Evidence Database (PEDro)” que foi utilizada para analisar a qualidade metodológica dos 3 artigos selecionados. Esta escala é uma ferramenta responsável pela avaliação da qualidade metodológica dos artigos selecionados. A escala de PEDro está baseada em tópicos desenvolvidos por Verhagen et al. (1998) apud Morton (2009) utilizando a técnica de consenso Delphi. Sua estrutura esta constituída de 11 tópicos. O item 1 refere-se à validade externa do estudo, enquanto que os elementos de referência 2-9 validade interna, indicando os itens 10 e 11, a informação estatística fornecida pelos autores para interpretar os resultados de forma adequada. Todos os itens desta lista são dicotomizados como "sim" ou “não”.
Cada item em que a resposta foi "sim" marca-se um ponto, enquanto que o itens em que a resposta foram "não" ou "não informou" não marcaram nenhum. O artigo não deve exceder 10 pontos e pode partir de um mínimo de 0 pontos. Embora a escala PEDro seja comumente usada para avaliar a qualidade metodológica de projetos controlados e randomizados nesta revisão sistemática também foi usada para este fim.
Resultados
A tabela 1 mostra os artigos selecionados por autor, ano e data de publicação, os participantes da amostra, a metodologia e os resultados deste estudo em relação à Síndrome de Burnout.
Tabela 1. Descrição e caracterização dos artigos selecionados
Fonte: Os autores
Na Tabela 2 está representada a escala PEDro na qual os três artigos selecionados enquadram-se no objeto de estudo da manifestações da Síndrome de Burnout em docentes em exercício profissional, obtendo nota satisfatória para a análise da revisão sistemática.
Tabela 2. Análise Metodológica pela escala PEDro dos artigos relacionados
Fonte: Os autores
Discussão
Os artigos estudados apresentam a Síndrome de Burnout em professores como um fenômeno complexo e multifacetado resultante do entrelaçamento entre diversos aspectos individuais e ambiente profissional. Analisando os dados obtidos a partir dos questionários aplicados nos estudos, observamos a recorrência de fatores que implicam diretamente sobre a saúde física e psicológica dos profissionais da educação.
A ilusão pelo trabalho, desgaste psíquico, falta de reconhecimento profissional e sobrecarga de trabalho, aumentam a sensação de incompetência sentida pelos professores, o que desencadeia o sentimento da falta de capacidade de lidar com as questões profissionais. Além disso, a necessidade constante de atualizações provenientes do avanço das transformações tecnológicas, associadas à sobrecarga laboral docente, dificulta a qualificação dos professores, uma vez que não há tempo para dar conta de todas estas exigências (Ferreira & Assmar, 2008).
Outro fator apresentado como promotor do mal estar docente, diz respeito à dificuldade de relacionamento com os (as) alunos (as), por mau comportamento ou por falta de recursos pedagógicos e estruturais para desenvolver seu trabalho (Hakanen, Bakker & Schaufeli, 2006).
A falta de capacitação para desenvolver os trabalhos pedagógicos, as demandas burocráticas e a necessidade constante de atualizações, exigindo uma dedicação maior, se contrapõe com a falta de tempo para família, lazer e saúde são de declarações constantes, causando mais angustia nos professores. Numa incidência menor o desconforto laboral e o medo de demissão aparecem como queixa dos educadores (Levy & Nunes Sobrinho, 2009).
Torna-se desta maneira, fundamental a criação de politicas publicas voltadas para a qualidade dos profissionais da docência, buscando garantir a condição de saúde e ensino. Provocar os professores a repensar o que, como e quando ensinar, e a perceberem suas condições pessoais bem como a repercussão do seu bem estar no processo amplo educacional, podendo ser um processo necessário e de futuras investigações cientificas.
Dentre os três artigos que foram avaliados, cabe destacar que todos usaram questionários, o que acabou dando maior veracidade dos fatos, sendo sugerido alternativas para a humanização de trabalhos docentes e programas preventivos do adoecimento mental. Essa doença surge de forma paulatina e cumulativa, sem que o professor perceba. Todas as reflexões e ações geradas visam à busca de alternativas para possíveis modificações, buscando-se uma qualidade de vida melhor do docente.
Corroborando com os achados do presente estudo e o ponto de vista dos autores, Melamed et al. (2006) ressalvam que os resultados dos estudos sobre a síndrome de Burnout deveriam ser considerados para fomentar políticas de saúde, porque investir na prevenção da saúde e na qualidade de vida do professor é também investir numa educação de qualidade.
Considerações finais
Os artigos estudados mostram a influencia significativa da Síndrome de Burnout, essa doença ocupacional, causadas pelo estresse no trabalho. Percebe-se que o profissional docente integra um grupo de risco em relação à Síndrome de Burnout, e que necessita de mais investimentos na saúde e qualidade de vida do professor faz-se necessário e acarretando assim certamente melhorar a qualidade do ensino.
Bibliografia
Batista, J. B. V., Carlotto, M. S., Coutinho, A. S., Augusto, L. G. S. (2010). Prevalência da Síndrome de Burnout e fatores sócios demográficos e laborais em professores de escolas municipais da cidade de João Pessoa, PB. Revista Brasileira de Epidemiologia, 13(3), 502-512.
Costa, L. S. T., Monte, P. R. G., Possobon, R. F. (2012). Prevalência da síndrome de Burnout em uma amostra de professores universitários brasileiros. Psicologia Reflexão e Crítica, 4(26), 636-642.
Dalagasperina, P., Monteiro, J. K. (2014). Preditores da síndrome de burnout em docentes do ensino privado. Psico USF, 19(2), 263-275.
Ferreira, M. C., Assmar, E. M. L. (2008). Fontes ambientais de estresse ocupacional e burnout: tendências tradicionais e recentes e de investigação. In: A. Tamayo. (Org.), Estresse e Cultura Organizacional (pp. 21-75). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Gil-Monte, P. R., Peiró, J. M. (1997). Desgaste psíquico en el trabajo: El síndrome de quemarse. Madrid: Síntesis.
Guglielmi, R. S., Tatrow, K. (1998) Occupational stress, burnout, and health in teachers: A methodological and theoretical analysis. Review of educational research, 68(1), 61-99.
Hakanen, J. J., Bakker, A. B., Schaufeli, W. B. (2006). Burnout and work engagement among teachers. Journal of school psychology, 43(6), 495-513.
Harrison, B. J. (1999). Are you to burn out? Fund Raising Management, 30(3), 25-28.
Levy, G. C. T. M., Nunes Sobrinho, F. P. (2009). Síndrome de Burnout em professores da rede pública. Production Journal, 19(3), 458-465.
Maslach, C., Jackson, S. E. (1984). Patterns of burnout among a national sample of public contact workers. Journal of Health Resources Administration, 7, 189-212.
Maslach, C., SchaufelI, W. B., Leiter, M. P. (2001). Job burnout. Annual review of psychology, 52(1), 397-422.
Melamed, S. et al. (2006). Burnout and risk of cardiovascular disease: evidence, possible causal paths, and promising research directions. Psychological bulletin, 132(3), 327.
Morton, N. A. (2009). The PEDro scale is a valid measure of the methodological quality of clinical trials: a demographic study. Aust J Physiother, 55(2), 129-133.
Shirom, A. (1999). Burnout in work organizations. In C. L. Cooper e I. Robertson (Eds.), International Review of Industrial and Organizational Psychology, 99, 611-625.
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