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O bom professor, a boa didática, a boa aula e a educação física

El bueno profesor, la buena didáctica, la buena clase y la Educación Física

 

Licenciado em Educação Física – Universidade Federal do Rio Grande/FURG

Mestre em Educação Física – Universidade Federal de Pelotas/UFPel

Doutorando em Educação Física – Universidade Federal de Pelotas/UFPel

Professor de Educação Física SEDUC-RS/ BR

Tutor EAD-Curso de Educação Física - Universidade do Norte do Paraná/UNOPAR

Jones Mendes Correia

jonescorreia.edfisica@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente ensaio problematiza como a mudança da didática das aulas de Educação Física pode ser percebida pelos educandos. A idéia de explorar tal temática surge de algumas interpelações que floresceram no exercício da docência a partir de seis aulas ministradas em uma turma de nono ano do ensino fundamental em uma escola brasileira, além de um debate aberto com a mesma turma acerca da evolução da Educação e da Educação Física Brasileira, além de um debate acerca do que é uma boa aula e uma boa didática.

          Unitermos: Educação. Educação Física. Didáctica. Educandos.

 

Resumen

          Este ensayo analiza cómo el cambio didáctico de las clases de Educación Física puede ser percibido por los estudiantes. La idea de explorar este tema surge de algunas interpelaciones que surgieron en el ejercicio de la profesión docente a partir seis clases dictadas en noveno año de primaria en una escuela brasileña, y un debate abierto con ese mismo grupo sobre la evolución de la Educación y la Educación Física brasileña, y un debate sobre lo que es una buena clase y una buena didáctica.

          Palabras clave: Educación. Educación Física. Didáctica. Estudiantes.

 

Recepção: 13/04/2015 - Aceitação: 02/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 204 - Mayo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Devaneios e conclusões inconclusivas

    Há muito me pergunto sobre o que é uma boa aula. Muitos textos já li, alguns já escrevi, uns poucos publiquei em revistas que tratam de educação. Os textos que escrevi surgiram de alguns devaneios os quais floresceram de um debate “monológico” de mim comigo mesmo. Deste ato, quase que esquizofrênico, surgiram, obviamente, mais perguntas do que respostas, e isso não é ruim, pelo contrário, as certezas estagnam o sujeito, as dúvidas o fazem correr atrás, logo, crescer.

    Primeiramente é necessário deixar claro que somos sujeitos incompletos e inconclusos os quais possuímos diversos papeis sociais. Isso se dá, no sentido que um professor que ministra aulas em uma escola (ou até mesmo em uma universidade), pode ser um aluno de mestrado ou doutorado, logo, o mesmo sujeito está em diferentes posições hierárquicas nas diferentes instituições que possui vínculo.

    Pergunto então, sobre o porquê de sermos sujeitos incompletos?

    Há de se deixar claro que nenhum indivíduo sabe tudo sobre todos os assuntos, pelo contrário, quanto mais avançamos (tanto no ponto de vista formal quanto informal) mais descobrimos o quanto somos pequenos com relação ao conhecimento global. Por outro lado, é importante que se diga que todos os sujeitos são detentores de vivências e de conhecimentos particulares, os quais devem ser respeitados. Um exemplo disso podemos ter em pessoas que sequer foram à escola, pessoas que talvez nem saibam escrever seus próprios nomes, entretanto, tais pessoas possuem uma enorme bagagem cultural, possuem conhecimentos que, talvez, instituição de ensino alguma possa transmitir.

    Voltando a explanar acerca da educação e do conhecimento formal, sempre me perguntei, tanto no papel de professor quanto no papel de estudante, o que é uma boa aula. Ao ingressar no curso de licenciatura comecei a me deparar com textos os quais mostravam a possibilidade de uma educação menos vertical, ou seja, uma educação que trazia o aluno para o centro da produção do conhecimento. Aluno, outra expressão a qual comecei desconfiar. O termo aluno surge do latim, o prefixo “a” dá idéia de negação, já o radical “luno” se refere à luz, logo, aluno significa sujeito sem luz.

    Esse sujeito sem luz está no seio de uma educação chamada de bancária. Bancária no sentido de não haver construção de conhecimento, somente um “depósito” (como fazemos nas nossas pequenas poupanças, depositamos parte do nosso pequeno salário). Ou seja, o professor, um ser iluminado, começa a transmitir conhecimento para seus pupilos, os quais, estão emanados pela escuridão da ignorância e desconhecimento. Nesse tipo de prática, não há espaço para diálogo, não há espaço para discussão existe apenas a transmissão do conhecimento do docente, suas opiniões e posicionamentos. E o “aluno” que não se atreva a discordar.

    Eu, por discordar desse tipo de modelo, começo a denominar esses “sujeitos sem luz” como Educandos, no sentido que os mesmos possuem importantes bagagens culturais, possuem identidades1 constituídas a partir de diversos espaços e, principalmente, por possuírem autonomia de opiniões e liberdade de pensamento.

    Penso, então, que um modelo educacional ideal seja aquele no qual o educando está no centro da produção do conhecimento. Penso que uma educação ideal seja uma educação de forma mais horizontal, a qual leva em conta as bagagens culturais de educandos e educadores. Penso que uma educação de caráter mais libertário deva abordar singularidades culturais das comunidades diretamente ligadas no processo de ensino/aprendizagem.

    Essa idéia de educação não é tão nova assim. Educadores brasileiros de grande importância já vêm escrevendo sobre essa temática há muito tempo. Alguns deles já nos deixaram, Ruben Alves, falecido em 2014 e Paulo Freire que morreu em 1997, são exemplos. E é uma frase de Paulo Freire que uso dia após dia no meu pensar como educador, uma frase que diz muito para quem pensa que o ideal educacional deva ser mais democrático, transformador e problematizador. A frase é a seguinte: “Não há docência sem discência” (Freire, 2003, p. 21-46). Uma das várias interpretações que consigo ter dessa frase é que no processo de ensino aprendizagem, todos os envolvidos estão obrigatoriamente aprendendo algo, seja esse sujeito um educando ou um educador. Não somos sujeitos completos, logo, sempre há espaço para novos conhecimentos.

    Com relação à Educação Física, minha área de formação, é importante destacar que sua prática já possuiu diferentes instâncias ao longo dos anos. Começa atendendo aos interesses médicos e higiênicos com o propósito único de deixar corpos saudáveis. Após começa a ser orientado pelos métodos ginásticos europeus (principalmente alemão e sueco), mas os objetivos não mudam muito. Em seguida, com a ditadura militar, a idéia é que os corpos se tornem cada vez mais fortes, que não haja espaço para reflexão e posteriormente que o Brasil se torne uma potência olímpica (forma de fazer uma boa propaganda para os governos ditatoriais). As práticas eram puramente tecnicistas e mecanicistas. O gesto técnico deveria ser perfeito sob pena de reprovação escolar. Havia testes físicos nos quais os alunos (uso aluno nesse momento, pois, para a educação da ditadura militar esses sujeitos eram pessoas incapazes de pensar) deveriam possuir uma pontuação mínima, ou então, também reprovariam.

    Após o término da ditadura militar, um grupo de importantes professores de Educação Física se reuniu com o objetivo de alterar as concepções vigentes até aquele momento. A intenção era “re-criar” a Educação Física brasileira, tendo em vista que não havia mais a necessidade de exercer poder sobre os corpos, como era durante o período de ditadura, além de romper com o tecnicismo esportivista, visto que, o Brasil, por inúmeros motivos, jamais se transformou em uma potência olímpica, como objetivado pelos governos militares.2

    Nesse debate de idéias, novas concepções foram criadas com o objetivo de tornar a prática da Educação Física menos mecânica e mais racionalizada. Nesse sentido, começa a haver debates sobre os porquês de se trabalhar determinados conteúdos. Começa-se a explorar a noção de cultura, começa-se a ouvir (sob todos os pontos de vista) os alunos. As aulas ganham um espaço para as problematizações, ocorre o fim da dicotomia entre corpo e mente. O ser presente na Educação Física começa a ser um sujeito com o “direito” de pensar e de manifestar sua(s) opiniões.

    A educação e a Educação Física estão em um patamar onde o educando é o centro do processo de ensino-aprendizagem, porém, quando um professor tenta implementar um trabalho diferenciado, será que isso é bem aceito e bem entendido pelos educandos? Ou será que estes não entendem a disciplina desse professor como uma aula? Enfim, o que é ser um bom professor?

    O bom professor é aquele que possui capacidade de ensinar, de argumentar, de ajudar na formação de um pensamento crítico (sendo imparcial), o bom professor, para mim, não é aquele que tudo sabe, mas sim, aquele que vai atrás daquilo que não possui como bagagem de conhecimento. O bom professor é aquele que da vez e voz para os seus educandos, o bom professor é aquele que é capaz de fazer uma aula passar rápido construindo conhecimento com os demais sujeitos que compõe o processo.

    E os educandos, será que enxergam dessa forma?

    O certo é que estes não aprovam a mesmice. Não querem ficar um ano letivo inteiro desenvolvendo a mesma atividade, sem acréscimo de complexidade e de conhecimento. Porém, esses mesmos, em algumas oportunidades não são capazes de perceber que a liberdade dada por alguns professores deve ser melhor aproveitada. Eles ficam calmos, copiam, não esboçam um sussurro quando o professor tem cara de bravo, mas quando o professor tenta implementar “uma outra didática” ai a coisa acaba sendo mal interpretada.

    A intenção não é comparar a Educação Física com outras disciplinas, pelo contrário, é preciso entender que cada área possui suas especificidades, entretanto, é necessário fazer com que os educandos percebam que há conteúdos e que há importância nas aulas de Educação Física. É importante que eles percebam que uma prática reflexiva é de suma importância para a construção de uma cultura corporal e que sirva como instaurador de um estilo de vida ativo fora da escola (já que, em uma ou duas aulas na semana não é possível alcançar o tempo para considerar um sujeito como suficientemente ativo).

Para finalizar este texto, mas somente este texto, pois as reflexões continuam...

    Por fim, a finalidade desse breve escrito não é mostrar o que fazer, mas sim, tentar impetrar um debate sobre o que é uma boa aula, o que é uma boa didática. É importante que os docentes e os alunos se mantenham em consonância para que haja no processo de ensino/aprendizagem a construção de novos conhecimentos. As aulas não devem ser monótonas, deve haver participação dos alunos durante todo o processo, afinal de contas, acredito ferrenhamente que esse estilo de aula auxilie na formação de sujeitos mais críticos e reflexivos. Nesse sentido, penso que tanto na escola, quanto em outros meios, nada substitua uma prática reflexiva, ou alguém prefere uma aula nos moldes da ditadura militar?

Notas

  1. Baseio o conceito de identidade na leitura de Bauman (2005). Nesse texto, o autor entende que os sujeitos constroem suas identidades a partir das diferentes relações socioculturais nas quais se inserem. Nesse sentido, Identidade não pode ser um conceito estagnado, visto que, as interações sociais não cessam, ocasionando uma identidade que se constrói ao longo de toda a vida do indivíduo.

  2. Mais em: Coletivo de Autores (1992) e Freire (2002).

Referências

  • Bauman, Z. (2005). Identidade. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

  • Coletivo de Autores (1992). Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez Editora.

  • Freire, J. B. (2002). Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. 3ª ed. São Paulo: Editora Scipione.

  • Freire, P. (2003). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.

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