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Mulher, obesidade e moda: um estudo
de caso da cidade de Carlos Barbosa, RS

Mujer, obesidad y moda: un estudio de caso de la ciudad de Carlos Barbosa, RS

Woman, obesity and fashion: a case study of the city of Carlos Barbosa, RS

 

*Bacharel em Moda pela Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS

**Doutora em História e professora dos cursos de História e PPG

em Processos e Manifestações Culturais

Universidade Feevale, Novo Hamburgo, RS
***Mestre em Inclusão Social e Acessibilidade pela Universidade Feevale
(Brasil)

Camila Dalsin*

cadalsin@hotmail.com

Claudia Schemes**

claudias@feevale.br

Bruna Pacheco***

blacklabelconsultoria@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo procura refletir a respeito das mulheres obesas e a moda, direcionando o olhar para o estado brasileiro do Rio Grande do Sul, o qual possui o título de segundo maior estado com prevalência de obesidade no país. O setor da moda é um dos que mais cresce no país, entretanto, observamos que não há a preocupação devida com o público feminino obeso, que encontra dificuldades na hora de consumir produtos ligados ao vestuário.

          Unitermos: Mulher. Moda. Obesidade.

 

Abstract

          This article search to reflect upon the obese women and fashion, directing his look to the Brazilian state of Rio Grande do Sul which has the title of second largest state with obesity prevalence in the country. The fashion industry is one of the fastest growing in the country, however, we observed that there is no concern for the obese female audience, which is a tough time consuming products related to clothing.

          Keywords: Woman. Fashion. Obesity.

 

Recepção: 08/04/2015 - Aceitação: 29/04/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 204 - Mayo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O padrão de beleza feminino atual está diretamente relacionado com o corpo magro. A mulher que não se enquadra neste estereótipo é discriminada socialmente e encontra dificuldades de aceitação nas mais diversas áreas, sendo a moda uma delas, visto que as mulheres obesas não possuem as medidas que correspondem ao modelo de beleza idealizado.

    Dados do IBGE (2010) informam que mais da metade da população brasileira está com sobrepeso ou obesidade, sendo que de 1974 a 2009 a porcentagem de mulheres obesas passou de 28,7% para 48%, sendo que o estado do Rio Grande Sul é o segundo estado com maior prevalência de obesidade no país, correspondendo a 54,1% da população (Portal da saúde, 2013).

    Estes dados nos instigaram a realizar uma pesquisa de campo com mulheres que se encontram acima do peso em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, já que observamos que existem vários obstáculos na aquisição de vestuário e escassez de ofertas que ofereçam roupas com medidas e preços adequados, possuam tecidos confortáveis e estejam em concordância com as tendências de moda atuais. Estes fatores tendem a interferir na satisfação das mesmas, gerando descontentamento e situações negativas.

O corpo e a moda

    Uma forma de abordar o corpo, segundo Stenzel (2002), é vendo-o sob a perspectiva da estética. Intimamente interligado aos adjetivos ‘belo’ e ‘feio’, Dorfles (1984, p. 35) salienta que, a opinião quanto à estética é relativa: “A beleza não é uma qualidade inerente às coisas em si, mas existe apenas na mente de quem as contempla: cada mente percebe uma beleza diferente”. Stenzel (2002, p. 22) completa através da afirmação de que as representações da beleza e os valores atribuídos a ela mudaram com o tempo e “o que é considerado belo hoje, pode não ter sido no passado assim como os padrões de beleza no passado já não servem mais para a sociedade moderna”.

    O percurso da história mostra o interesse do homem pelo seu corpo e, por conseguinte, pela estética. Conforme Pacheco (2014, p. 37), “mudam os meios, mas os corpos continuam sendo construídos, esculpidos, modificados e transformados”.

    Em relação à roupa que cobre o indivíduo, Fugel (1966 apud Avelar, 2011, p. 4) afirma que ela é uma extensão do corpo em relação aos desejos, gostos e hábitos do indivíduo, funcionando como “um agente e, ao mesmo tempo, intensificando a maneira pela qual nos relacionamos com aquilo que está ao nosso redor, aquilo de que fazemos parte”. Ou seja, segundo o autor, o vestuário funciona como parte do usuário, afinal, os movimentos “compartilham sua ação com aquilo que vai sobre nossa pele”. Cobrir o corpo é uma necessidade, seja por uma questão de adorno, proteção e pudor, no qual as roupas são formas de comunicação não verbal, transparecendo “quem somos, o que fazemos, do que gostamos, o que desejamos, de onde viemos, qual o nosso papel social, entre outras coisas” (Braga, 2005, p. 27).

    Avelar (2011, p. 15) observa que a questão da moda e do vestuário, bem como o corpo que o veste e se transforma, está ligada à beleza e pode carregar consigo um tom de aprovação ou de desaprovação perante a sociedade. Conforme Pacheco (2014, p. 37), “ao olhar para o corpo como um produto da cultura material, reifica-se o corpo, o mesmo é transformado em um objeto, e como todo objeto, passível de ser projetado, construído, remodelado e esculpido”.

    Para Debord (2012, p.13) a sociedade do consumo corrobora para a teoria do espetáculo, em que, “[...] o nosso tempo prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser”, existindo a possibilidade de inversão de valores. O mesmo autor (2012, p. 14) salienta que o espetáculo “não é um conjunto de imagens, mas uma relação entre as pessoas, mediada por imagens”, sendo ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente dizimado através de informações, propagandas, publicidades ou consumo direto, comtemplado pela sociedade como modelo de vida atual e ideal.

    Em uma sociedade na qual as aparências são determinantes, a pessoa obesa é estigmatizada, entretanto, nem sempre isso foi assim ao decorrer da história. No século XIX o excesso de peso esteve intimamente associado à beleza, ou seja, o belo era ter formas arredondas e voluptuosas. As mulheres e os homens que possuíam corpos roliços simbolizavam a felicidade, bem-estar, poder e riqueza, já que estes possuíam dinheiro em abundância para alimentar-se bem e manter as formas tão cobiçadas; para elas, a corpulência era realçada pelos vestidos e, para eles, o excesso de peso era visto como virilidade (Stenzel, 2002). Na época pré-industrial, períodos de carência alimentar ocorriam com freqüência e a mulher gorda tinha energia satisfatória, em forma de tecido adiposo depositado no seu corpo para poder enfrentar longos períodos tenebrosos e conseguir proteger a sua família (Cancela, 2002).

    No entanto, no final do século XIX e início do XX, esta ligação sofreu uma alteração, no qual parte da classe média americana e francesa começou a desejar o emagrecimento como forma de representação do prestígio e da aceitação, como afirma Stenzel (2002, p. 29) “[...] até 1890 o sucesso ou o reconhecimento se davam para aqueles que possuíam corpos avantajados; em 1900 esta representação se inverteu, e de lá para cá o sucesso e a beleza vêm sendo associados à magreza”.

    Diante da nova cultura que estava sendo inserida, o interesse pela perda de peso tornou-se crescente e os corpos esguios passaram a ser símbolos da beleza, no qual o mínimo sinal de gordura era rejeitado. Vigarello (2012) afirma que a estigmatização reflete as inúmeras normas que a sociedade ocidental ditou com a aparência corporal e a apresentação social, podendo refletir nas diferenças entre o gênero masculino e feminino ou em grupos sociais, no qual a culpa torna-se mais severa com o corpo feminino, afinal, espera-se do mesmo mais flexibilidade e leveza, sendo que formas redondas não indicam delicadeza. Em 1891, revistas publicavam colunas com temas sobre obesidade, cedendo espaço para a publicidade e comercialização de produtos para este fim, afinal, a restrição da alimentação era um passaporte de sucesso para as relações sociais. Em conseguinte, neste mesmo período, a medicina, estimulada por este movimento em combate à obesidade, realizou pesquisas que visavam servir de base para promover o controle alimentar e a redução de peso (Stenzel, 2002).

    Dietas, preocupação e hostilidade com o excesso de peso fazem parte de um contexto que envolve a medicina, cultura, ciência, moda, mídia, economia e religião, não sendo fenômenos recentes. Ao contrário de outros momentos históricos, no atual padrão estabelecido o excesso de peso é uma realidade vista com inquietude e preconceito. A crítica social vê o gordo não mais como um estúpido inculto ou incapaz, mas sim, como um personagem ‘inútil’ e ‘improdutivo’ (Vigarello, 2012). Os padrões de beleza corporais atribuídos acabaram por tornarem-se cada vez mais rígidos e inatingíveis, ocasionando problemas na autoestima e gerando problemas psicológicos.

    A cultura da obesidade confirma que, atualmente, o ponto de vista mudou de acusação para auto testemunho, de estigmatização para vitimização (Vigarello, 2012). Seja por fatores que envolvem o consumismo, genética, metabolismo, ambiente, cultura ou sedentarismo, o cotidiano da sociedade foi se modificando ao longo dos anos, excluindo atividades diárias saudáveis. Novos hábitos alimentares gordurosos foram introduzidos na sociedade, o consumo tornou-se desenfreado e, conseqüentemente, a obesidade tornou-se uma epidemia mundial.

As mulheres obesas e a moda

    O site Consumidor RS (2013) relata em uma das suas publicações que, segundo a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul, a linha de vestuário voltada para pessoas com sobrepeso ou obesidade é uma das mais crescentes no mercado atual, com aumento de 30% ao ano. Em 2012, este segmento gerou o faturamento de R$ 4,5 bilhões, correspondendo a cerca de 5% do total faturado pela indústria do vestuário.

    Embora o mercado de moda brasileiro esteja em constante transformação para adaptar-se à realidade atual e atender às necessidades das consumidoras, verifica-se a possibilidade de que o nicho de mercado voltado para mulheres com obesidade ainda seja insuficiente perante a demanda do mercado do Rio Grande do Sul.

    Os produtos ofertados para este público podem não estar satisfazendo as necessidades e expectativas das mulheres que são ávidas por se vestirem com peças que possuam apelo estético, conforto e caimento correto, paralelamente tendo preços acessíveis, devido às mesmas não corresponderem ao padrão de beleza idealizado e difundido pela mídia, o corpo esguio e magro.

    Conforme Stenzel (2002, p. 44), os obesos ainda são “ignorados pela mídia que promove exemplares femininos cada vez mais raquíticos”. Sendo assim, atualmente verifica-se que os meios de comunicação são responsáveis pela formação e reprodução dos meios, principalmente em matérias sobre magreza e obesidade, tendo abordagem bastante pertinente e ambivalente, pois “ao mesmo tempo em que reforça o ideal de magreza parece estimular a obesidade através do apelo ao consumo oral” (Ibidem, p. 57).

    Hoje a moda tornou-se pluralista, ou seja, existem várias formas de cobrir o corpo. Braga (2005, p. 30) salienta que “não existe mais uma única verdade vestível e sim, várias, que se apresentam de acordo com o nicho-alvo”, ou seja, existem inúmeras possibilidades de estar na moda devido às diversas possibilidades de informações geradas através dos veículos de comunicação. Independente do segmento de moda, seja ele mais ou menos explorado, como no caso da moda para mulheres com obesidade, sempre há a possibilidade de vestir-se adequadamente, basta buscar referências que contenham informações sobre o assunto e adaptá-las de acordo com a forma corporal da usuária. Os canais midiáticos podem ser uma forma de auxílio ou, ainda, pode-se buscar um profissional que esteja qualificado para atender as necessidades e desejos da cliente.

    Em função da sociedade de consumo exigir cada vez mais agilidade na produção de artigos que sejam novidade no mercado, os norte-americanos após a Segunda Guerra Mundial começaram a produzir roupas com qualidade e variedade de estilos em série (escala industrial) (Treptow, 2005). Essa democratização que contribuiu para a indústria do vestuário foi denominada de ready-to-wear e, para os franceses prêt-à-porter, ou seja, pronto para usar, mas, segundo Braga (2005), foi somente em 1960 que ele foi incorporado pelo consumo em massa, através da imprensa.

    A revista Elle, criada por Hélène Lazareff após a Segunda Guerra, fez a primeira reportagem sobre a nova produção em série, intitulada ‘Você gostaria de encontrar vestidos prontos para usar?’ Para uma melhor organização na produção de roupas foi necessária a criação de tabelas de medidas com tamanhos pré-estabelecidos para identificar cada numeração. Saltzman (2008 apud Pacheco, 2014, p. 54) explica que a partir de uma média de usuários hipotéticos criou-se um padrão de medidas, “surgindo uma dicotomia entre o corpo e a roupa, pois os tamanhos estabelecidos favoreceram apenas uma pequena parcela da população”. Também, ressalta que “o modelo de corpo ideal que a cultura propunha tornou-se tão específico que um grande número de potenciais usuários ficava excluído do mercado, já que os cortes e a modelagem não os contemplam” (Ibidem, p. 54). Dentre esta parcela omitida, podem-se citar as mulheres com estatura muito alta ou baixa e, também, as que possuem excesso de peso ou obesidade, ou seja, aquelas que utilizam tamanhos grandes que vão do 46 ao 80, do G ao GGG (Frings, 2012).

    As peças voltadas para este nicho podem ser vistas no principal evento de moda GG do país, o Fashion Weekend Plus Size 1 (FWPS) que, adquirindo cada vez mais espaço no mercado, em 2014 completou a sua nona edição. Acontecendo duas vezes ao ano, divulga as tendências para a primavera/verão e outono/inverno. Contando com grifes especializadas em tamanhos maiores e repertório variado, apresenta peças que vão do lingerie ao jeanswear, passando por vestidos a peças superiores e inferiores mais elaborados.

    Algumas grandes empresas varejistas já perceberam o potencial deste público e investem neste ramo contando com linhas específicas para as consumidoras com sobrepeso ou obesidade em seu catálogo, criando a possibilidade de fidelização entre a cliente e a marca.

    Conforme abordado anteriormente, o mercado de vestuário direcionado para mulheres com sobrepeso e obesidade está crescendo, mas questiona-se se ele realmente está satisfazendo as necessidades de seu público-alvo. Entendendo a roupa como forma de expressão e influenciadora nas interações sociais, Calanca (2008, p. 16) diz que a mesma “[...] tem valência de linguagem, na acepção de sistema de comunicação, isto é, um sistema de signos por meio do qual os seres humanos delineiam a sua posição no mundo e sua relação com ele”. Devido a isto, é importante que haja vínculo entre o vestuário e conforto, envolvendo uma interação entre ambos, sempre visando respeitar as características de cada indivíduo.

    Diversos fabricantes lidam com uma grande variedade de tipos corporais que não se enquadram nos estereótipos ditados pela moda, tendo como desafio criar peças que tenham apelo estético e modelagens apropriadas, bem como estejam ergonomicamente corretas.

Estudo de caso: as mulheres obesas de Carlos Barbosa, RS

    Para conseguirmos observar como é a relação mulher obesa/moda, realizamos um estudo de caso através de uma pesquisa de campo na cidade de Carlos Barbosa/RS com dez mulheres entre a faixa etária de 23 e 66 anos, que possuem obesidade leve (IMC entre 30 a 34,9) e moderada (IMC 35 a 39,9).

    A primeira pergunta realizada dizia respeito à satisfação das colaboradoras em relação ao vestuário que lhes era ofertado: “Você está satisfeita com as roupas que encontra disponíveis no mercado?” Todas as participantes responderam de forma negativa, afirmando com veemência de que não estão satisfeitas com o que encontram. Perguntadas sobre o motivo, foram diversas as respostas. Uma entrevistada afirmou que “as peças de modelagem maior tem apresentado pouca opção. Muitas têm pouca qualidade e são em cores neutras, não seguindo as tendências”. Já para outra, existe a falta de oferta de produtos em tamanho G. As outras oito entrevistadas possuem opinião em comum: todas acreditam que existe falta de opções disponíveis no mercado, com pouca variedade e modelos que se adaptem às suas necessidades. Segundo a entrevistada 7, “as roupas de tamanho pequeno tem modelos mais bonitos que as demais”. A entrevistada 8 complementa afirmando que, quando vai a uma loja que não seja especializada em tamanhos maiores, é costumeiro as vendedoras dizerem “tinha bastante, mas já foi tudo”, enfim, “se eu gosto de uma peça, não tem para o meu tamanho”.

    A segunda pergunta questionava se as roupas eram confortáveis: “Para você, as roupas disponibilizadas no mercado são confortáveis?” Houve um equilíbrio no resultado desta pergunta, ou seja, cinco mulheres responderam que sim e as outras, responderam que não. Aquelas que afirmaram que as roupas são confortáveis salientam que, apesar da noção de conforto ser pessoal, ela atinge as suas necessidades, porém, não os seus desejos. Algumas procuram provar as roupas na loja, pois, segundo elas, não se deve confiar no tamanho que consta na etiqueta. Outras dizem não sentir dificuldade em relação ao conforto, pois os tecidos que compõe as peças são macios.

    As outras cinco entrevistadas responderam à pergunta de forma negativa, dizendo que as roupas ofertadas não são confortáveis. Para uma das entrevistadas, “dificilmente encontramos em Carlos Barbosa calças com cintura alta e que não sejam modelo skinny. As blusas sempre são muito justas e pequenas no comprimento”. Outra refere que não são confortáveis pois “apertam no local em que não precisa”. Ou ainda foi salientado que “ou ela é apertada no busto ou no quadril”.

    A terceira questão era sobre a atratividade visual das peças: “Para você, as roupas disponibilizadas no mercado possuem apelo estético/atratividade visual?” Todas as colaboradoras responderam ‘não’, possuindo uma opinião conjunta e única sobre esta questão, afirmando que as peças não apresentam detalhes e cortes bonitos, como as de tamanhos menores ofertadas no mercado. Foi salientado ainda que, “as estampas são para pessoas mais idosas”, “normalmente as roupas são pretas e sem graça”, por “muitas vezes são enfeitadas demais, faltando peças leves e de bom gosto” ou ainda que, “para as magrinhas, a maioria das peças são lindas, para as fofinhas, não”.

    A quarta pergunta questionava sobre o caimento e a modelagem das peças: “Para você, as roupas disponibilizadas no mercado possuem caimento e modelagem adequados ao seu tipo físico?” Todas as participantes afirmaram que ‘não’, pois “tudo é reto, sem recorte, no busto fica apertado e no quadril, largo”. A entrevistada 7 afirmou que as roupas possuem modelagem pequena e a entrevistada 8 salientou que só compra se a peça possuir em sua composição o elastano, para que possa ceder e ajustar-se melhor ao corpo. As demais referem que a modelagem não está de acordo com as suas respectivas medidas.

    A quinta questão era sobre a qualidade: “Para você, as roupas disponibilizadas no mercado possuem qualidade?” Das dez mulheres seis responderam que ‘não’. Uma delas salientou que, devido comprar roupas mais baratas, os tecidos não possuem qualidade, nem durabilidade. Para as demais, como o mercado não está focado em atender as suas respectivas necessidades, ele fabrica roupas com qualquer tecido de baixa qualidade. Já outras quatro mulheres responderam que ‘sim’, pois para elas as peças possuem durabilidade e são fabricadas com tecidos de boa qualidade.

    A sexta pergunta era sobre a dificuldade na aquisição de peças: “Você encontra dificuldade na aquisição de vestuário adequado ao seu tipo físico?” A maioria das colaboradoras respondeu que ‘sim’ e afirmou que nem todas as lojas oferecem tamanhos maiores e que, aquelas que os ofertam, não possuem roupas bonitas e com caimento adequado. Disseram que “dependendo da loja, as peças bonitas não possuem numeração disponível e, portanto, compra-se o que tem”. A única a responder que ‘não’ diz não ter dificuldade em adquirir peças adequadas ao seu tipo físico, pois compra somente em determinadas lojas que ofertam tamanhos maiores, como as lojas de departamentos mais tradicionais no mercado.

    A sétima pergunta tratava sobre a questão do preço das peças: “Ao encontrar roupas que sejam adequadas ao se tipo físico, que possuam apelo estético/atratividade visual, conforto, qualidade e caimento adequado, as mesmas possuem preço mais elevado?” A maioria das colaboradoras respondeu que ‘sim’. Segundo elas o preço é mais elevado, e as próprias vendedoras dizem que é porque a peça usa mais tecido. Entretanto, duas responderam negativamente, afirmando que o preço é normal.

    A oitava questão tratava sobre a discriminação e/ou exclusão: “Você sente-se discriminado e/ou excluído perante o mercado no que diz a respeito das roupas ofertadas para o seu tipo físico?” A maioria, sete, responderam de forma afirmativa. Todas as citadas dizem que encontram apenas vestuário em tamanho pequeno e, quando acham algo, o mesmo não valoriza o corpo. Em contraponto, três responderam ‘não’, afirmando que não se sentem excluídas, mas tristes por não encontrarem no seu tamanho o que gostariam de vestir.

    A nona pergunta questionava sobre as peças mais difíceis de encontrar: “Para você, quais as roupas mais difíceis de encontrar adequadas ao seu tipo físico?” Dentre as respostas, as entrevistadas citaram dificuldade de encontrar calças, blusas, vestidos (“tamanho GG só em preto”), casacos, lingeries e saias, ou seja, praticamente todas as peças do vestuário.

    Ao analisar as respostas das participantes, percebeu-se que todas estão insatisfeitas com o vestuário que lhes está disponível no mercado. A partir das respostas, pode-se perceber que o mesmo é escasso e não contêm informação de moda, caimento e modelagem adequados. Em conseqüência, nota-se que, em pelo menos algum momento da vida, as mulheres acima do peso passaram por experiências e situações frustrantes e, além de não possuírem o estereótipo disseminado pela mídia (corpo magro) e uma sociedade que as recrimina, estas mulheres enfrentam a realidade de não estarem incluídas no mercado da moda.

Considerações finais

    O vestuário não tem por premissa apenas o ato de vestir, ele interfere na identidade pessoal dos sujeitos influenciando interações pessoais e sociais, podendo relatar diariamente à sociedade, através da linguagem não verbal, um estado de espírito, gostos e hábitos individuais.

    Influenciado diretamente ou indiretamente por acontecimentos culturais, econômicos, políticos ou sociais, o vestuário é produto de uma construção histórica e está intimamente ligado ao corpo e, por conseqüência, à estética, carregando consigo a subjetividade da aprovação ou desaprovação da sociedade.

    Em relação ao corpo, sabe-se que as mulheres são apontadas como mais vulneráveis à pressão social por um padrão de beleza imposto e aquelas que não possuírem medidas que correspondam ao estereótipo de beleza idealizado e difundido pela mídia, podem sentir-se discriminadas e excluídas perante a sociedade e, justamente aquelas diagnosticadas com obesidade, relatam que a aceitação por ela é um fator importante.

    Nossa pesquisa mostrou que há uma insatisfação com os produtos que o mercado de moda oferecem às mulheres que estão acima do peso, ou seja, apesar dos dados do IBGE relatarem que mais da metade da população brasileira está com sobrepeso ou obesidade, o mercado regional não se preocupa com as mulheres que não se enquadram no tamanho padrão. Também, contataram-se obstáculos para a aquisição de vestuário, conforme relatos das entrevistadas, através da afirmação de que as peças de roupa não possuem apelo estético, nem caimento e modelagem adequados aos seus respectivos tipos físicos, podendo até possuir um preço mais elevado.

    Enfim, acreditamos que os profissionais da moda, área em franco desenvolvimento e crescimento no Brasil, devam estar atentos aos grupos que não se encaixam no estereótipo da magreza oferecendo a um público cada vez mais amplo opções de vestuário com informações de moda, design e conforto.

Nota

  1. O evento ocorre no estado de São Paulo/BR e, além de contar com desfiles das marcas participantes, possui uma área reservada para a comercialização dos produtos, o Salão de Negócios, local onde os varejistas podem conhecer as coleções das empresas expositoras.

Bibliografia

  • Avelar, S. (2011). Moda, globalização e novas tecnologias. 2ª ed. São Paulo, SP: Estação das Letras e Cores.

  • Braga, J. (2005). Reflexões sobre moda. São Paulo, SP: Anhembi Morumbi.

  • Calanca, D. (2008). História Social da Moda. São Paulo: Editora Senac São Paulo.

  • Cancela, A. L. E; Félix, D. S.; Lisboa, F. A; Gibson, F. A. (2002). Obesidade e outros distúrbios alimentares. Rio de Janeiro: MEDSI Editora Médica e Científica Ltda.

  • Dalsin, C. (2014). Moda e obesidade: um estudo sobre a satisfação do público feminino residente na cidade de Carlos Barbosa em relação ao vestuário. Trabalho de Conclusão de Curso de Moda. Universidade Feevale.

  • Debord, G. (2012). A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto.

  • Dorfles, G. (1984). A Moda da moda. Lisboa: Edições 70.

  • Frings, G. S. (2012). Moda: do conceito ao consumidor. 9. ed. Porto Alegre, RS: Bookman.

  • IBGE. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_encaa/pof_20082009_encaa.pdf. Acesso em 24 fev de 2014.

  • Pacheco, B. (2014). A percepção das mulheres com obesidade em relação ao vestuário sob a perspectiva da inclusão social. 92 f. Dissertação (Mestrado em Inclusão Social e Acessibilidade) - Feevale, Novo Hamburgo-RS. Disponível em: http://biblioteca.feevale.br/Dissertacao/DissertacaoBrunaPacheco.pdf. Acesso em: 28 mar de 2014.

  • Portal da saúde. Mais da metade da população brasileira tem excesso de peso. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/portal-dcnt/noticias-portal-dcnt/6118-mais-da-metade-da-populacao-brasileira-tem-excesso-de-peso. Acesso em 24 fev de 2014.

  • Portal da saúde. Porto Alegre tem 54,1% da população com excesso de peso. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agencia-saude/noticias-anteriores-agencia-saude/5614-. Acesso em 24 fev de 2014.

  • Stenzel, L. M. (2002). Obesidade: o peso da exclusão. 1ª ed. Porto Alegre, RS: EDIPUCRS.

  • Treptow, D. (2005). Inventando moda: planejamento de coleção. 3ª ed. Brusque: Ed. do Autor. 

  • Vigarello, G. (2012). As metamorfoses do gordo: história da obesidade no Ocidente: da Idade Média ao século XX. Petrópolis, RJ: Vozes.

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