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Jogos e atividades recreativas: recreios escolares

Juegos y actividades recreativas: los recreos escolares

 

*Aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional

Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus Frederico Westphalen

Licenciada em Educação Física pela mesma universidade

**Aluno do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus Frederico Westphalen

***Aluna do curso de Educação Física Licenciatura da Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus Frederico Westphalen

****Doutora pela UB-ES; Pós-doutoranda UNISINOS/RS. Pesquisadora

em Educação Física e Ciências do Esporte– CNPq/UFRGS. Pesquisadora

do Observatório em Educação- Unisinos- Membro do INEP-MEC

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI-FW

Fernanda Cocco*

fernanda.cocco@hotmail.com

Tharles Gabriele Cauduro**

tharlescauduro@hotmail.com

Claudinara Anezi de Souza***

clauanezi@hotmail.com

Dra. Maria Teresa Cauduro****

maitecauduro@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esse texto apresenta os resultados da segunda etapa da pesquisa desenvolvida no período de 2012-2014 intitulado “A Ética e a Moral utilizada por crianças nos jogos na escola”. O objetivo foi analisar os tipos de jogos realizados pelas crianças em escolas no município de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul durante os recreios escolares. Nesse artigo utilizou-se o estudo de caso de outro bairro de uma escola cuja investigação foi realizada em 2013, empregando-se o método qualitativo, descritivo. Como resultado, o recreio escolar foi considerado um espaço de relacionamentos sociais, em que são facilitados a brincadeira, jogos recreativos e a promoção do caráter pessoal. Foi destacado que as atividades mais encontradas nessa escola foram as de cooperação por parte dos alunos. Concluiu-se que o recreio escolar é um espaço fundamental para a integração dos alunos na escola e importante para a formação destes. Os jogos mais utilizados foram os cooperativos.

          Unitermos: Pesquisa. Recreios escolares. Jogos e atividades recreativas.

 

Resumen

          El texto presenta los resultados de la segunda etapa de la investigación "Ética y Moral utilizados por los niños y adolescentes en los juegos en la escuela." realizado entre 2012-2014. El objetivo general fue analizar los tipos de juegos de los niños en las escuelas en la ciudad de Frederico Westphalen, Río Grande do Sul en los espacios escolares. Específicamente en este artículo se utiliza el estudio de caso de otro barrio de una escuela cuya investigación fue llevada a cabo en 2013 utilizando el método cualitativo, descriptivo e interpretativo. Como resultado, el recreo fue considerado un espacio de vínculos sociales, lo que se facilitan el jugar y los juegos recreativos y se promueve el carácter personal. Se destacó que las actividades más frecuentes en el recreo fueron las de cooperación por parte de los estudiantes. Así que el recreo es fundamental para la integración de los alumnos de los establecimientos escolares y es importante para la formación de éstos. Es como la clase o la casa, uno de los ámbitos de vida de los niños.

          Unitermos: Investigación. Recreo. Escuela. Juegos y actividades recreativas.

 

Recepção: 12/04/2015 - Aceitação: 02/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 204 - Mayo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Esse artigo pretende divulgar os resultados de uma parte da investigação intitulada “A Ética e a Moral utilizada por crianças e adolescentes nos jogos na escola”. Essa investigação teve início em 2011 e término em 2013.

    Teve como objetivo geral analisar os tipos de jogos realizados pelas crianças em uma escola no município de Frederico Westphalen/RS nos momentos livres (recreio escolar). Como específico, buscamos catalogar, mapear e sistematizar os jogos utilizados e suas regras.

    A idéia inicial foi verificar as condições, o estilo, a situação de vida em que as crianças estão inseridas na escola e suas práticas sociais. Mais ainda, verificar se estas práticas estavam promovendo a conscientização para o lazer motivado pela ética.

    Nas escolas, o discurso evidenciado é que as relações do dia a dia deveriam traduzir respeito ao próximo, através de atitudes que traduzam amizade, harmonia e integração das pessoas. Os jogos e as brincadeiras podem e devem traduzir essas vivências. Baseando-se nessas concepções, pensamos que esta investigação poderá servir de parâmetro para aproximar a realidade da escola com a universidade, aproximar o ensino e a pesquisa e, se necessário, planejar intervenções.

Metodologia

    O marco teórico metodológico para esta investigação foi o qualitativo, descritivo, interpretativo com estudo de caso. A pesquisa qualitativa é centralizada no estudo dos significados da vida social e ações humanas, e no ethos escolar/comunitário, substituindo noções de explicação do método quantitativo por noções de compreensões, significados e ações de explicação, fechando, assim, a proposta inicial deste estudo.

    O contexto em que foi realizado o estudo e aqui apresentado situa-se em uma escola do município de Frederico Westphalen/RS, Centro, no ano letivo de 2013. Foi entregue na escola o termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos professores e direção, garantindo, assim, nossa entrada na instituição. Posteriormente, foram realizadas observações e anotações com relação aos tipos de jogos e atividades desenvolvidas por crianças com idade de 7 a 9 anos.

    O recreio visitado foi no turno da tarde, das 15h às 15 h e 30 min, durante seis meses de observações diretas. As crianças deslocavam-se pelos diversos espaços físicos da escola para brincar. Mapeamos o espaço físico e nos dividimos para coletar os dados.

    A cada visita feita à escola tínhamos total liberdade para transitarmos pelo espaço onde era realizado o recreio escolar. Não interferirmos nas brincadeiras que os alunos realizavam. Assim, pudemos observar o real cotidiano dos alunos, observando e anotando as brincadeiras e as formas como estas eram realizadas pelas crianças.

    A coleta dos dados foi realizada, inicialmente, no período de julho a dezembro do ano de 2013. Foram observados quarenta e oito (48) recreios escolares de que se coletou os jogos e brincadeiras realizadas.

    Durante a realização das observações dos recreios não encontramos a supervisão de nenhum professor. As crianças sabiam como se dividir na escola em seus espaços determinados. Apenas havia uma guarda que era responsável pelo portão e ficava cuidando para que nenhuma criança saísse da escola durante horário escolar.

    De posse deste material coletado, iniciamos a tabulação dos dados, os quais separamos por classificação, baseados nos autores Kishimoto (2010) e Piaget (2010) e Brotto (2001).

Análise dos achados

    As crianças realizaram suas atividades principalmente na quadra esportiva e em dois lugares do pátio da escola. Sobre o brincar e os espaços, Volpato colabora:

    [...] certamente nos remetem a pensar sobre o tempo que as crianças estão tendo para brincar, e os espaços reservados a elas, diante de tantas mudanças que ocorreram no contexto de nossa sociedade contemporânea [...], demarcar nossa preocupação com os espaços e tempos que dispõem as crianças para o brincar. (Volpato, 2002 p.80).

    A brincadeira catalogada como a mais executada foi o chute a gol (em que as crianças usam a quadra poliesportiva, sendo a maioria meninas que participaram da brincadeira). Apesar de esperaram nas longas filas, os alunos aguardavam sua vez e respeitavam as normas propostas para a atividade.

    Outras brincadeiras catalogadas foram o pega-pega e pega-cola. Já a dança foi uma brincadeira das meninas e as “lutinhas” dos meninos. Foram encontradas, ainda, jogos de cartas (trazidas de casa por um dos participantes), sendo esse quem escolhe os que participam do jogo. O “esconde-esconde” foi catalogado, mas pouco utilizado pelas crianças devido à falta de espaço para a execução dessa atividade.

    Ainda nas observações foi detectado um aumento significativo de crianças que realizavam atividades com brinquedos que são divulgados pela mídia, como, por exemplo, o “bater cartinha”1.

    Algumas crianças trouxeram de casa seus próprios brinquedos, tanto para brincar quanto para “mostrar” seus brinquedos novos. Outra evidência observada foi as brincadeiras de outras épocas (culturais), resgatando e vivenciando atividades antigas, como a “adoleta”, “escravos de Jó”, “amarelinha”, “bolinhas de gude”, “peteca” entre outras. As “rodas de conversas” também fizeram parte do recreio escolar. As crianças reunidas não fizeram distinção de gêneros, idades ou cultura.

    Após a coleta e sistematização de dados foi realizada a análise pelo grupo. O recreio escolar é o espaço-tempo mais esperado pelas crianças. É nele que as relações se estabelecem e fica convidativo às crianças explorarem os espaços de diferentes formas, assim como de muitas maneiras. Ressalta-se a criatividade nas brincadeiras. O recreio é a parte do dia mais prazerosa para muitos dos investigados.

    Na literatura, as brincadeiras são divididas em cooperativas, competitivas e simbólicas (Piaget, 2010). Neste ensaio, não analisaremos as brincadeiras simbólicas.

    Ao classificá-las de acordo com o observado encontramos nove (9) brincadeiras cooperativas: chute a gol (eles esperavam sua vez e respeitavam as regras), a “amarelinha”, a “peteca”, a “dança”, a “adoleta”, “escravos de Jó”, o “esconde-esconde”, o “pega-pega” e o “pega-cola”. Nestas, todas as crianças que queriam participar eram incluídas nas atividades, inclusive na divisão de lanches na roda de conversas. Brotto (1997) explica que "Cooperação é um processo onde os objetivos são comuns e as ações são benéficas para todos". (p.29)

    As atividades competitivas encontradas foram cinco (5): as “lutinhas”, os “jogos de cartas”, o “bater catinhas”, “bolinha de gude” e as brincadeiras que eram realizadas com os próprios brinquedos (as crianças queriam disputar quem tinha o melhor brinquedo). Para Brotto (1997), a competição se apresenta de forma que um dos membros alcança os objetivos e outros serão incapazes de atingir os seus. (Brotto, 2001)

    Os materiais utilizados na realização das brincadeiras foram bolas disponibilizadas pela escola e figurinhas de diversos temas trazidas pelos alunos. A realização das atividades envolvia diferentes brincadeiras com crianças de outras turmas e também de várias idades. A escolha das brincadeiras e dos espaços disponíveis na escola era escolhida pelos participantes.

    Vigotski (2003) aponta a importância do brincar visando ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores como memória, atenção, percepção, pensamento e linguagem. Já Elkonin (1998) fala do brincar livre e espontâneo das crianças, na visão naturalista de concepções biologizantes sobre o jogo infantil, pertencentes ao contexto social e cultural no qual a criança está inserida.

    Quanto à questão ética e de valores, observamos crianças que ajudaram ao colega a resgatar as figurinhas que haviam caído no chão e o vento espalhou. Noutras atividades que incluíam colegas com dificuldades e com necessidades especiais houve o mesmo auxílio por parte dos demais. Também verificamos, com menos incidência, crianças na faixa etária de nove (9) anos que se agrediram fisicamente e verbalmente.

    Sabemos que educar com principios e valores fortalecerão os educandos a serem melhores cidadãos, respeitosos e comprometidos com a sociedade. A Moral conceitua-se como um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Seria uma ciência dos costumes (Motta, 1984).

    Mesmo nos recreios escolares, a escola deve se preocupar com o comportamento ético e moral das crianças e jovens. Neste pouco espaço de tempo que ocorreram essas atividades, observamos que não há regras estabelecidas por adultos, tampouco na organização do brincar, e que a ética permeava as atividades.

Considerações finais

    Ao finalizar o estudo, relacionamos o observado com o que diz no referencial legal dos Parâmetros Curriculares Nacionais (2000): “As crianças se movimentam não só em função de respostas funcionais, mas pelo prazer do exercício, para explorar o meio ambiente, adquirir melhor mobilidade e se expressar com liberdade.” (p. 67).

    Perguntamo-nos: o recreio escolar realmente estimula o brincar da criança? Como as crianças aproveitam esse tempo? Pudemos concluir que sim, o recreio estimula o brincar, conforme foi possível observar e catalogar os jogos e as brincadeiras realizadas pelas crianças no recreio escolar.

    Quanto aos objetivos do estudo encontramos o seguinte resultado: o recreio escolar pode ser considerado um tempo e espaço de relacionamentos sociais, em que são facilitados a brincadeira, jogos recreativos e a promoção do caráter pessoal. Foi destacado que as atividades mais encontradas nessa escola foram de cooperação por parte das crianças. Portanto, o recreio escolar é um espaço fundamental para a integração dos alunos da escola e importante para a formação destes. Ele representa, como a sala de aula ou a casa, um dos espaços da vida da criança.

    O recreio pode ser identificado como um lugar positivo ou negativo, onde há alegria ou tristeza, frustrações ou isolamento. Entretanto, a grande maioria das crianças pesquisadas gosta do recreio, considerando este um espaço de satisfação pessoal e de grupo, por ser um espaço onde é possível fortalecer os relacionamentos e amizades. Portanto, é positivo.

    Percebeu-se que a brincadeira no recreio foi um processo rico em relações interpessoais (trocas sociais e afetivas); nele, a criança vivenciou experiências de movimento e exercitou operações mentais, conforme foi dito por Piaget.

    Concluindo, foi possível mapear e catalogar os jogos e as brincadeiras nessa escola, assim como verificar que há lazer e a ética e a moral estão sendo observadas pelas crianças, sem a imposição dos adultos. Além disso, essas crianças conseguiram elaborar as regras coletivas utilizadas com respeito entre elas. Sugerimos que essa pesquisa seja ampliada para outras escolas e com outros grupos de crianças.

Nota

  1. Brincadeira em que os alunos possuem figurinhas, estando todas viradas para baixo e, um aluno por vez, deverá bater e tentar desvirá-las. Obtendo sucesso, o mesmo fica com a figurinha.

Referências

  • Brasil, Secretaria de Educação Fundamental  (2000). Parâmetros. Curriculares Nacionais: língua portuguesa. 2ª ed. Brasília, Brasil.

  • Brotto, F. O. (1997). Jogos Cooperativos: se o importante é competir, o fundamental é cooperar. São Paulo, Brasil, Cepeusp.

  • Brotto, F. O. (2001). Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Projeto Cooperação. Santos, SP.

  • Elkonin, D. (1998). Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes.

  • Motta, Nair de Souza (1984). Ética e vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural.

  • Piaget, Jean (2010). A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 4ª ed. Rio de Janeiro.

  • Kishimoto, Tizuko Morchida (2010). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 13ª ed. São Paulo: Cortez.

  • Vygotski, Lev Semenovich (2003). La imaginación y el arte en la infancia. Madrid: Akal.

  • Volpato, Gildo (2002). Jogo, brincadeira e brinquedo: usos e significados no contexto escolar e familiar. 1. ed. Florianópolis: Cidade Futura.

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