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Relação o estilo de vida moderno e flexibilidade

Relationship the modern lifestyle and flexibility

Relación entre el estilo de vida moderno y flexibilidad

 

*Graduada em fisioterapia pelo Claretiano Centro Universitário (2014). Atualmente é aprimoranda

em fisioterapia cárdio-respiratória no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto

**Graduado em Odontologia pela Universidade de Ribeirão Preto (1997), graduação em Fisioterapia

pela Universidade de Ribeirão Preto (1992) e mestrado em Biologia e Patologia Buco-dental

pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba-UNICAMP (2001) e Titulo de Proficiência

em Anatomia Humana pela Sociedade Brasileira de Anatomia. Atualmente é professor adjunto

da Universidade de Ribeirão Preto e professor adjunto do Centro Universitário Claretiano

e Coordenador do Laboratório de Biomecânica do Movimento - LABIM - Centro Universitário

Claretiano de Batatais e Coordenador do CEP do Centro Universitário Claretiano de Batatais

Larissa Gaioto de Vicente*

larissagaioto@hotmail.com

Edson Donizetti Verri**

edverri@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A flexibilidade é uma importante capacidade motora, e está relacionada ao nível de atividade física. O estilo de vida moderno recorrente da evolução tecnológica e da industrialização tem levado a uma crescente redução dos níveis de atividade física, o que pode comprometer a flexibilidade e a qualidade de vida, principalmente das crianças. Nosso objetivo foi avaliar as diferenças de flexibilidade entre as crianças de hoje e as de antigamente. Foram avaliadas 446 crianças pelo TSA, realizou-se logo em seguida uma correlação estatística entre a média das crianças avaliadas e a média das crianças de um estudo de 1996. A média alcançada pelas crianças que avaliamos foi significativamente menor que a das crianças do outro estudo, nos permitindo sugerir que houve uma redução importante da flexibilidade das crianças com o passar dos anos, e que isso pode ser resultado das mudanças de hábitos desencadeados pela modernização.

          Unitermos: Flexibilidade. Modernização. Sedentarismo.

 

Abstract

          Flexibility is an important motor skill, and is related to the level of physical activity. The modern lifestyle recurrent of the technological change and of the industrialization has led to a reduction raise in levels of physical activity, which can compromise the flexibility and the quality of life, especially of children. Our objective was to evaluate the differences in flexibility between the children of today and of the past. Four hundred forty six children were evaluated by the sit and reach test, then held up a statistical correlation between the average of the children evaluated and the average child of a study of 1996. The average achieved by children we have evaluated was significantly lower than that of children of the other study, allowing us to suggest that there was a significant reduction in flexibility of children over the years, and this may be result of changes in habits triggered by modernization.

          Keywords: Flexibility. Modernization. Sedentary lifestyle.

 

Recepção: 10/04/2015 - Aceitação: 22/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 204 - Mayo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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I.     Introdução

    Compreende-se por flexibilidade a máxima amplitude fisiológica de movimentos que uma articulação ou grupo de articulações conseguem executar (Heyward, 2004). Ela é uma das características do sistema muscular que promove melhor eficiência de movimento, melhora o desempenho muscular, influencia a postura e a auto-estima do indivíduo, e previne algumas patologias musculoesqueléticas (Penha; João, 2008). São multifatoriais os determinantes da flexibilidade de uma pessoa, dentre eles estão compreendidos: genética; gênero; meio ambiente; idade e nível de atividade física (indivíduos que praticam atividade física regular e com certa frequência apresentam melhores níveis de flexibilidade, em contrapartida a quem não pratica) (Nascente, 2011).

    A maturação sexual é outro fator que poderia influenciar na flexibilidade, e este por sua vez, está diretamente relacionado à idade cronológica. A flexibilidade, especificamente, até a puberdade, diminui e tende a aumentar, posteriormente, até atingir um platô e na idade adulta, tende diminuir (Minatto, 2010). Segundo Kendall et al. (1995) isso ocorre quando para avaliar a flexibilidade é utilizado o movimento de inclinação para frente. Devido ao comprimento proporcional do troco e dos membros inferiores ser diferente em indivíduos de 11 a 14 anos em comparação com faixas etárias mais novas e mais velhas, os indivíduos nessa idade teriam um menor nível de flexibilidade, já que nessa faixa etária as pernas se tornam proporcionalmente mais longas em relação ao tronco.

    Para Thomas (2000, apud Okano et al. 2001) a flexibilidade pode estar relacionada a aspectos socioculturais, evidenciados no tratamento geralmente diferenciado recebido pelos meninos e meninas durante a infância, por parte dos adultos. Essa diferença de flexibilidade entre os sexos possivelmente possa ser atribuída aos fatores anatômicos e a maior aceitabilidade por parte das meninas as atividades em que os movimentos de flexibilidade são enfatizados. (Okano et al., 2001).

    A flexibilidade pode ser fortemente influenciada pelo nível de atividade física e pelo estilo de vida (Glaner, 2003). Uma crescente preocupação está voltada para redução drástica do nível de atividade física das pessoas como consequência da modernização e da evolução tecnológica. Vários estudos têm mostrado que o estilo de vida sedentário afeta não só o peso corporal, mas também reduz a performance física (Sacchetti et al, 2012). Em decorrência disto, a Federação Internacional de Medicina Esportiva e a Organização Mundial de Saúde (OMS) têm estimulado todas as crianças e pessoas jovens, incluindo os portadores de deficiências físicas, a tornarem-se envolvidos em atividades físicas regulares (FIMS/WHO, 1998, apud Glaner, 2003).

    A evolução da tecnologia, a falta de lugares apropriados e de tempo, a urbanização e os maus hábitos herdados dos pais modernos, têm levado a uma crescente diminuição do nível de atividade física entre as crianças (Maia et al, 2002). De acordo com um estudo italiano, apenas uma criança italiana em quatro com idade entre 6 e 9 anos pratica atividade física suficiente para sua idade (cerca de uma hora por dia), enquanto uma em cada quatro crianças assiste quatro horas ou mais de televisão por dia (Sacchetti et al, 2012).

    Embora ainda não haja consenso na literatura sobre qual é realmente a influencia do nível de atividade física na flexibilidade do indivíduo, vários estudos apontam que a obesidade é fortemente relacionada ao nível de atividade física, e que pessoas obesas, devido a sua composição corporal e maior quantidade de tecido adiposo concentrado em torno das articulações, podem apresentar graus de flexibilidade comprometidos.

    Há no Brasil cerca de três milhões de crianças com menos de 10 anos de idade que sofrem de obesidade. A principal preocupação está no fato de que a população de obesos dobrou, em relação há vinte anos atrás. (Pimenta; Palma, 2001).

    Em vista disso levantou-se a hipótese de que o crescente sedentarismo resultante dos hábitos de vida modernos estaria provocando uma redução no nível de atividade física em crianças e adolescentes, e consequentemente causando um prejuízo na flexibilidade das crianças em relação aos seus pares nas décadas passadas.

    Uma forma de avaliar a flexibilidade é o teste de sentar e alcançar (TSA), ou como também é conhecido, Banco de Wells. Esse teste avalia a flexibilidade da cadeia posterior (tronco e músculos isquiotibiais), tem um custo acessível e é de fácil execução. Segundo Penha e João, 2008 embora ainda existam divergências na literatura, alguns estudos demonstram que o teste tem validade moderada, mas que pode sofrer influencia de fatores antropométricos e posturais como desproporção do comprimento dos membros em relação ao tronco e abdução escapular.

    De modo geral, o TSA, frequentemente utilizado em estudos epidemiológicos, permite identificar a flexibilidade dos músculos da cadeia muscular posterior e a perda funcional dos mesmos e, ainda, acompanhar a evolução do indivíduo como indicador da função vertebral (Minatto, 2010).

    Contudo, o objetivo do presente estudo foi comparar as diferenças de flexibilidade entre as crianças que vivem na sociedade atual e as que viveram nas décadas passadas, através do TSA e pela busca de material na literatura que quantifique a flexibilidade das crianças de antigamente. Outro objetivo foi observar se essas diferenças de flexibilidade têm alguma relação com a queda do nível de atividade física presentes na sociedade contemporânea. Para isso, faremos uma procura nos textos disponíveis no meio acadêmico sobre como a flexibilidade pode ser influenciada pela atividade física, e se realmente houve uma redução dos níveis de atividade física nas últimas décadas.

II.     Justificativa

    Não se sabe ainda qual seria o nível mais adequado de flexibilidade. Do ponto de vista esportivo, a definição do nível ideal de flexibilidade é dependente da modalidade esportiva. Um nível excessivo de flexibilidade seria ótimo para uma ginasta, enquanto para um maratonista, uma flexibilidade limitada de tornozelo ou de quadril melhoraria a sua eficiência mecânica (Gleim; McHugh, 1997). No caso dos jogadores de vôlei, a baixa flexibilidade de rotadores internos de ombro está relacionada a lesões de ombro (Wang; Cochrane, 1999). Para um indivíduo comum, um bom nível de flexibilidade, é aquele que lhe permite realizar de forma eficaz e sem dor suas atividades diárias.

    Alguns autores afirmam que a flexibilidade dos tecidos ao redor das articulações influencia a amplitude do movimento articular, que é necessária para uma boa execução dos movimentos diários (Penha; João, 2008).

    Médicos especializados recomendam exercícios de alongamento, porque suas experiências clínicas demonstraram benefícios para a prevenção de lesões e no tratamento da lombalgia (Glaner, 2003). A manutenção de parâmetros adequados de flexibilidade na região dos isquiotibiais parece ser um aspecto importante para prevenção de lombalgias. Dores na região lombar durante a adolescência podem apresentar taxas de prevalência de 17,2%, podendo em alguns casos levar à incapacidade de realização das atividades normais, ou mesmo ao uso de medicamentos (Feldman et al., 2001, apud Coledam; Arruda; Oliveira , 2012).

    Apesar de ainda serem escassos na literatura relatos concretos que bons níveis de flexibilidade evitam lesões, é notoriamente visível que níveis precários de flexibilidade estão associados a lesões musculoesqueléticas e ligamentares (Nascente, 2011). Considerando a flexibilidade uma importante variável da Aptidão Física Relacionada à Saúde (AFRS) para todas as idades, torna-se necessário avaliá-la em crianças e adolescentes, pois a capacidade de adquirir e manter índices de flexibilidade são maiores nesta faixa etária (Minatto, 2010).

    Além dos fatores já citados, a flexibilidade favorece o progresso da independência física da terceira idade, pois melhores níveis de flexibilidade podem acarretar numa autonomia de movimentos. Portanto, para que no futuro haja idosos com níveis satisfatórios de flexibilidade, é preciso que se promovam bons níveis de flexibilidade nas crianças e jovens de hoje (Nascente, 2011).

    Mesmo havendo controvérsias na literatura sobre como o nível de atividade física influencia na flexibilidade, foi comprovado que a composição corporal e que a obesidade são fatores determinantes, e que estas variáveis são influenciadas pelo nível da atividade física. Muito embora o senso comum reconheça sua importância, nos últimos anos, a prática regular de atividade física tem se mantido abaixo dos níveis considerados satisfatórios, especialmente entre adolescentes, acarretando um elevado índice de sedentarismo nesta faixa etária. As opções de lazer sedentário têm crescido consideravelmente, substituindo as tradicionais brincadeiras de rua da infância (Melo; Oliveira; Almeida, 2009).

III.     Materiais e métodos

    Participaram do estudo 446 crianças com idade entre 5 e 8 anos, de ambos os sexos, que foram avaliadas com o TSA. Antes de passarem pelo teste, os pais das crianças assinaram um termo permitindo as avaliações. Para realizar o teste foi utilizado o procedimento padrão descrito por Cornbleet e Woosey (1996). Uma caixa de madeira de 30,5cm X 30,5cm foi utilizada para posicionar os participantes, com uma régua graduada em centímetros centrada na parte superior da caixa cujas marcações foram posicionadas de forma que a marca de 23 cm representou o ponto em que as pontas dos dedos das mãos estavam em linha com os dedos dos pés (Figura 1). Quanto ao posicionamento, as crianças apoiavam ambos os pés em dorsiflexão na caixa e realizavam uma flexão de tronco (Figura 2), empurrando com o dedo médio o marcador que determinava a pontuação na régua fixada na caixa. Cada criança realizou o teste por três vezes e posteriormente calculamos a média das três medidas.

Figura 1. Banco de Wells Figura 2. Posicionamento

Fonte: Cornbleet e Woosey, 1996 Fonte: Cornbleet e Woosey, 1996

    Em seguida consultamos estudos publicados antes de 2000 a procura de dados sobre a flexibilidade de crianças das décadas passadas para compará-los aos dados obtidos neste estudo. Encontramos um artigo de 1996 feito por Cornbleet e Woosey que realizava o mesmo teste em criança de 5 a 12 anos de idade, com média de 7 anos, em 410 crianças. Este artigo foi escolhido por apresentar amostra e procedimentos parecidos e nos possibilitar a comparação de dados.

    Correlacionou-se a média geral em centímetros dos valores conseguidos no TSA por todas as crianças avaliadas neste estudo com os resultados de Cornbleet e Woosey, 1996 através de análise estatística pelo teste T de Student para amostras pareadas, estabelecendo o nível de significância em 5%, o intervalo de confiança em 95 % e o ponto de corte em 24 cm, já que foi essa a média obtida pelas crianças do outro artigo.

IV.     Resultados

    A tabela abaixo representa os dados obtidos pelo teste T:

Tabela 1. Correlação estatística entre os resultados do TSA dos indivíduos avaliados 

neste estudo e os avaliados por Cornbleet e Woosey. Fonte: Arquivo pessoal do autor

    A média obtida pelas crianças no TSA foi de 20,24 cm, ou seja, 3,76 cm menor que a média das crianças do outro estudo, o que corresponde em porcentagem a uma queda de 15,67% na flexibilidade. No resultado a significância igual a 0 (p<0,05) comprova que a correlação entre as médias foi estatisticamente significante, e expressa que a flexibilidade das crianças deste estudo foi consideravelmente menor em relação ao estudo de Cornbleet e Woosey, 1996, existindo uma correlação entre os resultados.

    Segundo a Aliança Americana para a Saúde, Educação Física, Recreação e Dança (AAHPERD) a distância mínima a ser alcançada no TSA é de 25 cm. Como podemos observar em nenhum dos dois estudos foi alcançada a média esperada, porém no estudo conduzido por Cornbleet e Woosey, 1996, a média chegou bem mais perto do esperado. Em um estudo conduzido por Júnior em 1999, crianças com nove anos de idade alcançaram uma média de 26 cm no TSA, um valor ainda maior que o das crianças do outro estudo, o que nos permite sugerir que segundo os dados apresentados a distância média conseguida pelas crianças no teste vem caindo conforme o passar dos anos, e que isso pode ser reflexo da diminuição de flexibilidade dessas crianças.

    Segundo vários artigos o grau de flexibilidade depende muito de fatores ambientais, como o nível de atividade física principalmente. A atividade física é considerada como qualquer movimento corporal, e muito embora o senso comum reconheça sua importância, e uma associação positiva entre os efeitos da atividade física com os níveis de saúde em crianças e adolescentes possa ser vista na literatura, nos últimos anos os hábitos das pessoas mudaram, provocando modificações na qualidade de vida. O próprio lazer é sedentário. A crescente urbanização provavelmente tenha estimulado tal fato, seja pela falta de espaço físico adequado ou o ascendente modismo por diferentes formas de jogos eletrônicos. Desta forma, o advento tecnológico estimula a inatividade física, possivelmente tornando o homem do futuro um sujeito inoperante e obeso (Glaner, 2003) e acarretando em crianças cada vez mais sedentárias, sendo fator fundamental para determinar os padrões atuais de flexibilidade.

V.     Discussão

    Os resultados indicaram que em dezesseis anos houve uma redução estatisticamente significativa de 15,67% da flexibilidade das crianças comparadas. Uma possível crítica aos resultados encontrados seria que as crianças avaliadas por Cornbleet e Woosey, 1996 eram americanas, enquanto as avaliadas neste estudo são brasileiras. Suas diferenças cultuais poderiam causar divergências nos hábitos de vida, e isso provocaria diferenças nos níveis de atividade física.

    Entretanto isso não é válido, pois estudos apontam que os americanos estão entre as taxas da população que apresentam uns dos índices mais elevados de obesidade (Pimenta, Palma, 2001), e que tal ocorrência se deve ao fato deles apresentarem hábitos de vida mais sedentários. Outra justificativa para não ser uma falha é que as crianças do estudo de Júnior (1999) eram brasileiras e a média de seus resultados no teste foi uma distância 2cm maior que a média das crianças de Cornbleet e Woosey (1996).

    Contudo, apenas as crianças avaliadas por Júnior, 1999, alcançaram os níveis considerados ideais pela AAHPERD. Estudos demonstraram que em amostras representativas de crianças brasileiras, entre 42% e 49% dos meninos, e de 24% a 55% das meninas, não atendem os critérios de saúde estabelecidos para o TSA (Coledam; Arruda; Oliveira, 2012).

    A literatura apresenta uma variada discussão sobre a validade do TSA para avaliar a flexibilidade, entretanto ele é comumente utilizado por professores de educação física nas escolas (Coledam; Arruda; Oliveira, 2012) e Baldaci et al (2003) comprovou sua acurácia ao comparar três distintos testes de flexibilidade em universitárias. Estudos comprovam que ele apresenta validade para avaliar a flexibilidade da coluna lombar (Chillón et al., 2010). E embora possa ser influenciado por inúmeros fatores, nenhum teste motor específico é isento de influências (Okano et al. 2001). Segundo Coledam; Arruda e Oliveira (2012) os resultados do teste de “sentar-e-alcançar” também são influenciados por grupamentos musculares como os eretores da coluna, rotadores do quadril e gastrocnêmio, o que para nós é interessante, pois para um bom desempenho no teste seria necessário uma boa flexibilidade em uma maior gama de grupos musculares.

    Muitos autores relatam em seus trabalhos que a atividade física é um dos determinantes da flexibilidade de um indivíduo (Glaner, 2003; Nascente, 2011; Penha, João, 2008; Sacchetti et al, 2012), no entanto outros autores discordam dessa linha de pensamento sugerindo que é tipo de atividade física realizada que influencia a flexibilidade. Esses autores usam como argumento para justificar a sua linha de raciocínio o fato de que atletas profissionais dedicam boa parte do seu tempo a praticarem atividade física, e quando comparados a indivíduos sedentários não são encontradas grandes diferenças nos parâmetros de flexibilidade entre os dois grupos. (Glaner, 2003; Melo, Oliveira, Almeida, 2009). Mesmo que os níveis de atividade física não influenciem diretamente na flexibilidade, a composição corporal e a obesidade comprovadamente influenciam (Glaner, 2003; Minatto, 2010; Nascente, 2011), é assumido que indivíduos que praticam menos atividade física tendem a ser mais obesos e apresentarem mais gordura em sua composição corporal, e que essa relação é causal (Marshall et al, 1998; Pimenta; Palma, 2001; Sacchetti et al, 2012; Wells, 2012). Em seu estudo realizado com 60 mulheres com cerca de 60 anos de idade, Cristóbal et al. (2013) concluiu que mulheres com menores índices de massa corporal apresentam melhor flexibilidade.

    Organismos com grande responsabilidade a nível de Saúde Pública como são, por exemplo, o Centro de Controle de Doenças dos EUA, a OMS e o Colégio Americano de Medicina Desportiva, salientam a rápida proliferação de uma epidemia de inatividade física a qual se associa a obesidade, que começa a alcançar a escala mundial (Maia et al, 2002). No caso das crianças, o mundo atual tem oferecido uma série de opções que facilitariam esse resultado: alimentos industrializados, fast-foods, televisões, videogames, computadores, entre outros, podem constituir um ambiente bastante favorável ao aumento da prevalência da obesidade e uma grande tendência das crianças ao sedentarismo (Pimenta; Palma, 2001). Em seu estudo Pimenta e Palma (2001) concluíram que o tempo destinado a alguma atividade física e/ou esportiva provavelmente foi ocupado pela televisão, e que esse hábito faz parte da rotina diária de muitas crianças de hoje.

    A aptidão física desenvolvida durante a infância, caminha pela adolescência até a idade adulta (Malina, 1998, apud Glaner, 2003). Estudos têm evidenciado que crianças e adolescentes estão menos aptos fisicamente que seus pares de décadas anteriores, e isso é consequência da industrialização. Foi comprovado que, adolescentes residentes no meio rural apresentam uma AFRS significativamente melhor que seus respectivos pares urbanos (Glaner, 2003), provavelmente por ainda não terem sofrido tanta influencia do estilo de vida industrializado presente nas cidades.

    Contudo, com o reconhecimento da importância da atividade física, a tecnologia hoje também tem trabalhado a favor da atividade física e contra o sedentarismo. Há atualmente, no mercado dos games, sistemas capazes de captar o movimento produzido pelo usuário traduzindo essa ação em imagem, como é o caso do Nintendo Wii e de games similares,

VI.     Conclusão

    Segundo os dados apresentados podemos sugerir que houve uma diminuição importante da flexibilidade das crianças com o passar dos anos, e que isso pode ser resultado das mudanças de hábitos desencadeados pela modernização, que levaram a um estilo de vida mais sedentário com níveis mais baixos de atividade física e maiores índices de obesidade. Essa deve ser uma preocupação, uma vez a infância é essencial para um adequado desenvolvimento corporal e mental, os hábitos adquiridos nesse período são levados para toda vida, a criança de hoje é o adulto de amanhã. Contudo, ainda são necessários mais estudos que relacionem a diminuição da flexibilidade com os menores índices de atividade física da população para podermos chegar a maiores conclusões.

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