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Análise da ação da ‘cortada’ de uma atacante 

de ponta no voleibol a partir de vídeo-feedback

Análisis de la acción del “remate” de una atacante de punta en voleibol por vídeo-feedback

 

*Acadêmica do curso de Educação Física, Univates – Lajeado/RS

**Docentes do curso de Educação Física, Univates – Lajeado/RS

(Brasil)

Camila Zanatta*

camilazanatta@universo.univates.br

Rodrigo Lara Rother**

Taís Prinz Cordeiro**

rodrigorother@univates.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo analisar e qualificar a ação técnica da cortada, no fundamento ataque do voleibol, de uma atacante de ponta da categoria infanto-juvenil feminina, com a utilização de vídeo feedback. Para o estudo foi realizado um corte transversal de cunho quali-quantitativo. Foram realizadas filmagens de quatro ângulos (lateral esquerda, posterior, lateral direita e anterior) da atleta realizando a cortada. Essas filmagens foram posteriormente analisadas por três técnicos de voleibol utilizando uma escala de 1 a 5 para a qualidade de cada fase do movimento, sendo: 1, não executa; 2, executa com muita dificuldade; 3, executa com alguma dificuldade; 4, executa bem; 5, executa perfeitamente. Após a análise foram realizadas médias dos resultados para cada fase em cada ângulo de filmagem. A partir dos resultados constatou-se que a maior incidência de erros da atleta na execução foi na fase da queda, pois repetidamente a atleta cai desequilibrada e apoiada numa perna só. A ordem das fases de maior dificuldade de realização seguiram pelo braço de ataque, salto e corrida de aproximação. Este estudo conclui que devem ser realizados exercícios corretivos dirigidos a fase da queda no ataque para potencialização dessa técnica.

          Unitermos: Treinamento esportivo. Voleibol; Análise do ataque. Vídeo feedback.

 

Resumen

          El presente estudio tuvo como objetivo analizar y cualificar la acción técnica del remate de una atacante de punta de voleibol de la categoría infanto-juvenil femenina, con la utilización de video feedback. Para esto fue realizado un corte transversal cuali-cuantitativo. Fueron realizadas filmaciones de cuatro posiciones (laterales derecha e izquierda, frontal y posterior) de la jugadora realizando acciones de remate. Las películas fueron analizadas por tres entrenadores de voleibol que utilizaron una escala de 1 a 5 para la cualidad de cada parte del movimiento. Así: 1 - no hay; 2 - hay, pero con mucha dificultad; 3 – hay, pero con alguna dificultad; 4 – hay; 5 - perfección. Después del análisis fueron calculados los resultados que presentaron más ocurrencia de error en la fase de caída pues repetidamente la jugadora caía en desequilibrio y apoyando un solo pie. Los otros movimientos en que tenia dificultad fueron en el brazo que golpea, el salto y la carrera de aproximación. Este estudio concluye que deben ser realizadas ejercitaciones de corrección para la parte de la caída después del remate para potencializar la acción ofensiva.

          Palabras clave: Entrenamiento deportivo. Voleibol. Análisis del remate. Video feedback.

 

Recepção: 14/04/2015 - Aceitação: 12/05/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 204 - Mayo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O voleibol é um esporte coletivo que segundo Bizzocchi (2004, p. 55) consiste em um “complexo aprendizado e sua maior dificuldade reside no fato de envolver habilidades não naturais ou construídas. Como todo o esporte, é baseado em gestos específicos, também chamados fundamentos”. Esses fundamentos devem ser bem trabalhados e desenvolvidos desde a iniciação no esporte para que haja maior eficiência em relação à habilidade motora necessária para a execução dos mesmos, que por não serem naturais e muitas vezes combinados com outras ações são de difícil execução.

    De acordo com Bizzocchi (2004), os deslocamentos utilizados dentro de quadra não são muito comuns e fáceis de realizar pois correr, andar, saltitar e galopar muitas vezes não são executados separadamente, mas sim, combinados em um mesmo deslocamento o que o torna mais complexo.

    A técnica individual no voleibol, para Borsari (2001), compreende as posições básicas, o toque na bola (toque por cima com as duas mãos, com uma mão, entre outros), os passes (curto, alto, chutada, para trás...), manchete, o saque e suas variações, cortada, bloqueio, defesas acrobáticas, a recuperação de bola junto à rede, sendo que essas técnicas possuem diversas variações. Uma das ações de jogo mais complexas é a cortada.

    A cortada segundo Bizzocchi (2004) “é a ação de ataque mais eficaz e potente utilizada no jogo de voleibol”, e normalmente é o que mais marca pontos em uma partida. Muitos autores a definem como o gesto técnico mais bonito do jogo, a forma mais bonita de terminar um raly, “[...] a cortada está para o voleibol assim como a “cesta” está para o basquetebol, o “gol” está para o futebol, etc. É a satisfação maior, a melhor forma de finalizar, de liberar sua energia, para um jogador de voleibol” (Carvalho, 1980, p. 44).

    A cortada é uma ação técnica composta por uma seqüência de movimentos. Bizzochi (2004) classifica esta seqüência em quatro etapas. A primeira é a corrida de preparação, onde o atleta busca velocidade para ser transformada em salto; a segunda é o salto, onde o atleta implica uma força para obter a maior altura de alcance possível; a terceira é o golpe na bola com o braço de ataque, com o cotovelo totalmente estendido e a mão “encaixada” na bola; e a quarta etapa é a queda, com equilíbrio recuperado, em que o atleta retorna ao solo com controle e sem invadir a quadra do adversário.

    Por ser o gesto técnico mais complexo do voleibol, Carvalho (1980) diz que a cortada apresenta inúmeros problemas na sua aprendizagem. Para corrigir e otimizar a execução da mesma várias estratégias podem ser úteis, como a gravação de vídeos e utilização dos mesmos como feedback para que o movimento possa ser analisado posteriormente por treinadores e pela atleta buscando desenvolvê-lo nos pontos onde são identificadas as dificuldades de execução.

    Sobre o estudo do movimento humano, Mendes (2001) diz que:

    Todos os movimentos humanos passam por complexos processos internos antes de ser possível observar o que ocorre externamente. Muitos estímulos são captados e outros tantos negligenciados; conexões são feitas, inúmeros processos bioquímicos ocorrem, enfim leva-se bastante tempo para analisar completamente tudo o que um simples gesto motor exige. Por isso, a performance e a aprendizagem motora são áreas de estudo que, juntamente com a teoria de processamento de informação, tentam explicar o que acontece com o ser humano ao se movimentar, seja ao aprender ou simplesmente ao realizar um movimento nas tarefas diárias. (MENDES, 2001, p.121)

    Para Magill (apud Mendes, 2001) o feedback “é o retorno de informação sensorial que resulta de todos os movimentos. E também pode ser definida como a informação recebida pelo aprendiz sobre a execução do seu movimento.” Ele tem uma grande importância para a aprendizagem, pois trás um retorno do que foi realizado e o que deve ser alterado. “O feedback é visto como a informação que o aprendiz utiliza para ajudar no progresso de suas respostas (Jesus, 1986, p.17)”.

    Existem duas formas de feedback: intrínseco e extrínseco. O feedback intrínseco é aquela informação que a própria pessoa que está executando determinada tarefa ou movimento recebe, através de seus vários canais sensoriais. Já o extrínseco é a informação suplementar ou redundante que o indivíduo recebe sobre determinada tarefa ou ato. Esta informação é fornecida por outras pessoas ou instrumentos, seja o professor, o técnico ou outras fontes possíveis, como é o caso da utilização de vídeos, o chamado vídeo-feedback (JESUS, 1986).

    A partir da evidente dificuldade encontrada na execução correta da cortada e do vídeo-feedback como possibilidade de correção dos movimentos esportivos, essa poderia ser uma forma de auxiliar o treinador na análise do movimento de sua atleta para que posteriormente ele possa prescrever os melhores exercícios para correção da técnica. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo analisar e qualificar a cortada no voleibol de uma atacante de ponta da categoria infanto-juvenil de uma equipe de voleibol feminino nas fases de corrida, salto, ataque e queda, para que seu técnico utilize essas informações a fim de potencializar o seu rendimento.

2.     Métodos

2.1.     Tipo do estudo

    Para o estudo foi realizado um corte transversal de cunho qualitativo e quantitativo.

2.2.     Sujeito

    Uma atleta de 16 anos da categoria de base Infanto-juvenil feminina de uma equipe de voleibol da cidade de Estrela/RS/Brasil.

2.3.     Materiais

  • Rede de voleibol;

  • Bola de voleibol;

  • Levantadora;

  • Filmadora;

  • Tabela da escala de qualidade do movimento.

2.4.     Procedimentos

    Foram realizadas coletas de vídeo com a atleta. As filmagens foram feitas enquanto a atleta realizava cortadas de ataque em seqüência. Quatro ângulos foram escolhidos para melhor observação: lateral esquerda, posterior, lateral direita e anterior da atleta, assim 20 vídeos foram feitos, sendo 5 de cada ângulo.

    As filmagens foram analisadas por três técnicos de voleibol utilizando uma escala de 1 a 5 para a qualidade de cada fase do movimento (corrida, salto, ataque e queda) sendo: 1, não executa; 2, executa com muita dificuldade; 3, executa com alguma dificuldade; 4, executa bem; 5, executa perfeitamente. Para cada execução dita incorreta, os técnicos também descreveram o erro que identificaram. Após foram realizadas médias para análise geral dos resultados.

2.5.     Variáveis analisadas

    As variáveis analisadas pelos técnicos foram os seguintes estágios da cortada de voleibol: corrida, salto, ataque e queda. Utilizando como referência as fases da cortada de voleibol definidas por Bizzocchi (2004) e adaptadas pelos pesquisadores.

3.     Resultados

Gráfico 1. Vídeo da visão lateral esquerda

Fonte: Autores, 2015

    O gráfico acima apresenta a média de pontuação dos cinco vídeos, da visão lateral esquerda da atacante, realizada por cada treinador, portanto, o treinador 1 (T1) qualificou as fases corrida, salto, ataque e queda respectivamente: 3,8, 3,8, 2,8, 3,2;

    O treinador 2 (T2) classificou as seguintes médias: 3,0, 3,2, 4,6, 3,2;

    O treinador 3 (T3) classificou as seguintes médias: 3,6, 3,4, 2,8, 3,2. Destacando como observação o braço encolhido no momento da cortada.

    Desta forma, ficou evidente que a fase de maior deficiência foi o ataque, analisada por 2 treinadores. T1: “Armada do braço de ataque incompleta”. Porém o T2 definiu a mesma fase como a de maior eficiência da técnica.

    Também ficou evidente que na queda houve concordância na qualidade da execução da fase, sendo determinado o mesmo valor.

    De acordo com Carvalho (1980) juntamente ao salto os braços equilibram o movimento e contribui para a impulsão do salto, o braço oposto ao da batida segue o curso ascendente à altura do ombro, já o braço do ataque continua em circulo para trás fletindo o cotovelo e no momento da batida na bola o cotovelo se estende rapidamente.

    “A bola deve ser batida no ponto mais alto do salto” (Dürrwächter, 1984, p.78).

Gráfico 2. Vídeo da visão posterior

Fonte: Autores, 2015

    No gráfico 2 observamos que o T1 classifica as fases da corrida, salto e queda muito bem, decaindo a qualidade apenas no momento do ataque. “Armada do braço de ataque incompleta”. As médias dos valores referentes ao movimento foram: 5,0, 5,0, 3,6, 4,8; em que o treinador ainda observou na fase da queda desequilíbrio para frente.

    O T2 classifica apenas a etapa da queda como: executa bem e as demais fases com dificuldades. As médias do T2 para a execução foram: 3,6, 3,4, 2,8, 4,0 e as considerações:

    “Braço de ataque muito flexionado na hora do contato com a bola; pouca potencia no salto, pouca velocidade na passada; ataca com o braço muito flexionado, por isso que a bola bate na rede”.

    T3 considera as fases de corrida e queda como: executa bem, as outras ficam abaixo, com as médias: 4,2 3,4 3,8, 4,0.

    Fase de ataque com deficiência, porém T3 não a caracterizou como a pior fase da atleta.

Gráfico 3. Vídeo da visão lateral direita

Fonte: Autores, 2015

    Pela visão lateral direita o T1 classifica da mesma forma as fases de corrida, salto e ataque, baixando um pouco a média na fase da queda, sendo as médias: 3,8, 3,8, 3,8, 3,6; considerações:

    “Último passo muito aberto; pouca flexão dos joelhos; armada do braço de ataque incompleta; desequilíbrio pra frente; desequilíbrio no ar; desequilíbrio para esquerda”.

    O T2 considera apenas a fase do ataque como: executa bem, sendo as médias: 3,4, 3,6, 4,0, 3,0; considerações:

    “Braço de ataque muito flexionado na hora do contato com a bola; pouca potencia no salto, pouca velocidade na passada; ataca com o braço muito flexionado, por isso q a bola bate na rede”.

    O T3, em relação às médias, não classifica nenhuma fase como: executa bem e as médias resultantes são: 3,8, 3,4, 3,6, 3,2.

    A pior fase classificada pelos treinadores da visão lateral direita é a queda, ficando com a média mais baixa na classificação do movimento de todos os treinadores.

    “A queda é uma fase muito importante, porque está limitada pelo espaço. Ela deve ser macia, com amortização de todas as articulações, pois, caso contrário, poderá produzir lesões, principalmente nos tornozelos” (Carvalho, 1980, p. 47), e Dürrwächter (1984) coloca que a queda deve ocorrer com ambos os pés.

Gráfico 4. Vídeo da visão anterior

Fonte: Autores, 2015

    O participante T1 classifica, em média, muito bem os ataques analisados da visão anterior, sendo: 4,8, 5,0, 4,8, 4,8; e acrescenta “Desequilíbrio para esquerda; armada do braço de ataque incompleta; pouco freio na última passada; desequilíbrio para frente”.

    Já T2 classifica em médias: 3,8, 4,0, 3,6, 3,4 os ataques analisados da visão anterior, sendo apenas a fase do salto considerada: executa bem. Além disso, descreve:“Cai com um pé só; não realiza a 1ª passada com a perna esquerda”.

    Complementando a opinião dos outros avaliadores, T3 classifica apenas a corrida como: executa bem, sendo as médias: 4,0, 3,4, 3,4, 3,4. Os três treinadores classificaram a queda como a pior fase das execuções.

    Também foi realizada a análise de percentual de cada uma das fases para averiguar em qual existe maior incidência de execução inferior a 4, considerada com problemas de execução. Segue a tabela abaixo:

Tabela 1. Incidência de qualidade do movimento nas diferentes fases

Fonte: Autores, 2015

    A partir da análise dos resultados a maior incidência de erros da execução constatada foi na fase da queda, pois repetidamente a atleta cai desequilibrada e apoiada numa perna só. A ordem de maior dificuldade se segue pelo ataque, salto e corrida.

5.     Conclusão

    Percebemos o estudo de forma muito positiva, pois a análise a partir de vídeos feedback é uma forma de análise detalhada do movimento que foi realizado para posteriormente fazer a correção e alterações nas diferentes fases do mesmo. Porém, houve discordância considerável entre a análise dos três técnicos, alterando bastante a média de qualidade de execução da atleta para as fases do ataque.

    Seria interessante, para este estudo e aplicabilidade, realizar a gravação dos vídeos com a atleta, da mesma maneira que foram realizados, porém, a análise da qualidade poderia ser realizada apenas pelo técnico da atleta, uma vez que ele tem um conhecimento mais aprimorado da atleta, sabendo exatamente o que precisa ser corrigido para a melhora da execução alcançando o que deseja.

Bibliografia

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