Descrição dos fatores relacionados à alteração vocal em professores: uma revisão de literatura Descripción de los factores relacionados con trastornos de la voz en los docentes: una revisión de la literatura Description of factors related to voice disorders in teachers: a literature review |
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*Graduada em Saúde Coletiva - Universidade Federal da Bahia **Graduada em Enfermagem e em Saúde Coletiva. Mestranda em Saúde Comunitária - Universidade Federal da Bahia ***Fisioterapeuta, Mestre em Saúde Ambiente e Trabalho Professor Auxiliar da Universidade Federal do Amazonas |
Alda Santana Santos* Daiane Nascimento de Castro** Cléber Araújo Gomes*** (Brasil) |
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Resumo O presente estudo tem o objetivo de descrever sistematicamente problemas relacionados à ocorrência de distúrbio da voz em professores, a partir de uma revisão literatura. Trata-se de uma revisão de literatura as buscas foram realizadas nas bases LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SCIELO através da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), utilizando-se as seguintes palavras chave: "distúrbio da voz"; "professores", "voz", "saúde do trabalhador". Os critérios de inclusão utilizados foram: artigos completos disponíveis online, publicados em português e disposto no período de 2000 a 2012 e que o sujeito da pesquisa fossem professores de qualquer nível de ensino. Inicialmente, foram identificados 171 estudos. Após revisão dos títulos e resumos, consideração dos critérios de inclusão e exclusão, verificação da coerência com o tema da pesquisa e eliminação por estarem repetidos, cinco foram efetivamente analisados Na maioria dos estudos analisados, pode-se observar que a ocorrência de distúrbio vocal está associada a fatores gerais de condições de trabalho desfavorável. Sejam esses por demanda excessiva, ambientes ruidosos, condições de limpeza inadequada que repercute de forma negativa sobre a saúde psíquica, estando estatisticamente associado à insatisfação no trabalho e ao estresse. Evidenciou-se também que, cada vez mais, autores fonoaudiólogos estão envolvidos no processo caracterização sociodemográfica, condições ambientais e organizacionais do trabalho dos docentes. Com este estudo observou-se possíveis fatores associados à ocorrência de distúrbio vocal em professores. As condições de trabalho com demandas excessivas, ambiente desfavorável e intensidade do trabalho perdiz que o trabalho em circunstâncias de alto desgaste pode gerar reflexos negativos no desenvolvimento das atividades. Unitermos: Distúrbio da voz. Professores. Voz. Saúde do trabalhador.
Abstract This study aims to systematically describe problems related to voice disorder to occur in teachers, from a literature review. This is a literature review the searches were conducted in LILACS (Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences) and SCIELO through the Virtual Health Library (VHL), using the following key words: "voice disorder"; "Teachers", "voice", "health worker". Inclusion criteria were: available online articles published in Portuguese and provisions in the period 2000-2012 and that the research subject were teachers at any level of education. Initially, 171 trials were identified. After reviewing the titles and abstracts, consideration of inclusion and exclusion criteria, consistency checking with the research theme and disposal because they are repeated, five were effectively analyzed In most of the studies analyzed, it can be observed that the occurrence of vocal disorder is associated with general factors of unfavorable working conditions. These are by excessive demand, noisy environment, improper cleaning of conditions that has a negative impact on mental health, being statistically associated with job dissatisfaction and stress. It also showed that, increasingly, authors speech therapists are involved in the sociodemographic characteristics, environmental and organizational conditions of work of teachers. This study observed possible factors associated with the occurrence of voice disorders in teachers. The working conditions with excessive demands, unfavorable environment and labor intensity partridge that work in high wear conditions can have negative consequences on development activities. Keywords: Voice disorder. Teachers. Voice. Worker health.
Recepção: 20/04/2015 - Aceitação: 21/05/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 20 - Nº 204 - Mayo de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Na sociedade contemporânea grande parte dos indivíduos utilizam a voz como instrumento de trabalho. Em detrimento disso, observa-se um aumento na ocorrência dos distúrbios vocais, sobretudo entre professores, pois estes trabalhadores utilizam a voz como principal ferramenta para desempenhar suas atividades profissionais (Giannini, Latorre e Ferreira, 2012). O crescimento do número de profissionais com problemas de saúde, relacionados à voz, repercute na organização do trabalho e contribui de forma significativa com o aumento de situações de afastamento no trabalho. Além disso, a incapacidade para desempenhar suas funções pode desencadear impacto social e financeiro na vida destes indivíduos (Giannini, Latorre e Ferreira, 2012). Para consolidar a magnitude do problema, pode-se observar em um estudo transversal abrangendo professores do ensino fundamental da rede pública de Maceió, que dos 126 professores avaliados 87,3% referiram ocorrência de disfonia (Alves, Araújo e Neto, 2010). Outro estudo realizado na cidade de Mogi das Cruzes/São Paulo, dos 451 professores, 80,7% referiram algum grau de disfonia. O reflexo desses dados caracteriza um alto índice de prevalência auto referida do agravo em professores (Fuess e Lorenz, 2003).
No que diz respeito à saúde, em destaque a saúde do trabalhador, para obter uma resposta da relação causal dos fatores associados deve-se analisar múltiplos aspectos. A intensidade, tempo de exposição, organização temporal da atividade, duração do ciclo de trabalho, distribuição das pausas ou a estrutura de horários, podem desencadear a ocorrência da disfonia (Servilha, Leal e Hidaka, 2010). No entanto, é importante destacar que estabelecer essa relação entre o adoecimento vocal e o trabalho docente é algo complexo, principalmente por apresentar causas variadas. Segundo Servilha, Leal e Hidaka (2010), apesar da prevalência dos distúrbios da voz entre os professores ser um problema de saúde pública, a legislação trabalhista vigente não reconhece a relação da doença com a atividade docente e tampouco são explorados os condicionantes de gênero.
A prevalência da disfonia na docência é um problema freqüente e pouco se conhece sobre o seu impacto na vida do professor no país. Vale ressalta, no cenário pedagógico é necessário que o profissional tenha uma voz clara, com boa sonoridade, com ritmo e velocidade adequados, boa projeção e coordenação com a respiração. Essas qualidades da voz dos trabalhadores da educação são consequências do equilíbrio das estruturas do trato vocal e o meio externo. Nem sempre as condições do local de trabalho, para o uso adequado da voz, estão harmônicas. Quando isso acontece, certamente pode ocasionar mudanças no padrão de uso da voz e contribuir para futuros problemas na saúde dos professores (Araújo et al., 2008).
Ao considerar a relevância da temática frente a diversas áreas inclusive a da saúde publica, enormes são os desafios na identificação de fatores que possam está associados à ocorrência de problemas vocais. Esta revisão poderá contribuir com novas discussões sobre as relações entre trabalho, processo saúde-doença e os possíveis reflexos na saúde dos trabalhadores expostos ao risco relacionado ao desenvolvimento de distúrbio vocal. Cabe ainda, chamar atenção para um maior comprometimento em busca de soluções, seja através de políticas de promoção de saúde dos trabalhadores, seja na forma de identificar o problema. O presente estudo tem o objetivo de descrever os problemas relacionados à ocorrência de distúrbio da voz em professores, a partir de uma revisão literatura.
Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura direcionada a identificar publicações científicas que apontassem para possíveis problemas relacionados com a ocorrência de distúrbio da voz em professores. Trata-se de uma revisão de literatura, onde as buscas foram realizadas nas bases LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SCIELO através da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), utilizando-se as seguintes palavras chave: "distúrbio da voz"; "professores", "voz", "saúde do trabalhador". Para a seleção dos artigos, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: fazer relação com o tema proposto, artigos completos disponíveis online, publicados em português, no período de 2000 a 2012 e que apresentassem como sujeito da pesquisa o professor. Dos textos completos obtidos, excluíram-se aqueles que não se relacionaram ao objetivo da pesquisa e estudos de revisão de literatura. Uma matriz de extração de dados composta de variáveis autores, ano de publicação, objetivo, métodos, desenho de estudo e resultados foi construída a fim de identificar a correlação dos artigos selecionados com o objetivo proposto no presente estudo. Para essa análise foram considerados os artigos que nos resultados e ou nas conclusões evidenciasse os possíveis problemas relacionados aos distúrbios vocais nos trabalhadores da educação investigados.
Resultados e discussão
Após a aplicação dos filtros, foram identificados 171 estudos. Ao revisar títulos e resumos, considerando os critérios de inclusão e exclusão, verificação da coerência com o tema da pesquisa e eliminação por estarem repetidos, cinco foram efetivamente analisados.
Estudo de caso controle realizado com professoras do ensino infantil, fundamental e médio da rede de educação do Município de São Paulo, evidenciou associação entre o distúrbio de voz e o estresse no trabalho docente. Nesse estudo foi observado também que os professores estão sujeitos a uma grande demanda e alta exigência, as quais repercutem de forma negativa sobre a saúde psíquica do professor. Consequentemente pode contribuir com a insatisfação no trabalho e o estresse do trabalhador. Corroborando com esse estudo, Marçal e Peres (2010), constataram aumento na prevalência dos sintomas de alteração vocal em docentes entre 1998 e 2001. Estes autores concluíram que a deterioração das condições de trabalho dos professores durante esse período contribuiu com ocorrência deste agravo. Por sua vez, as péssimas condições de trabalho, as quais estão expostas com professores vêm sendo influenciadas pelo aumento da indisciplina dos estudantes pelo ruído no ambiente de trabalho.
Dentre diversos aspectos citados, verificou-se que alguns elementos podem favorecer o surgimento das alterações vocais em professores, destacando os fatores ambientais, como tamanho da sala, grande quantitativo de alunos, ambiente ruidoso, condições de limpeza inadequada, etc. Além disso, os fatores pessoais, como hábitos de falar alto ou falar excessivamente, voz aguda, etc. E fatores biológicos como alergias, refluxo entre outros, também contribuem para o agravo do problema (Giannini; Latorre e Ferreira, 2012).
Diversos artigos apontam para composição de associações positivas entres um conjunto de fatores e a ocorrência de distúrbio da voz. Marçal e Peres (2010), assim como Jardim et al. (2012), nos seus achados relataram a natureza multifatorial da disfonia. Foi observado por estes autores que o trabalho docente expõe o professor a agentes agressores no ambiente de trabalho, tais como ambiente com barulhos externos e internos, relacionamento ruim com alunos, salas com acústica inadequada, excesso de alunos em sala de aula, presença de poeira e pó de giz. Esses achados configuram o novo cenário educacional que vem sendo construído para cumprir o aumento da demanda e ampliar o atendimento educacional. A partir de então, estão sendo adotados critérios de eficácia, produtividade e excelência, desencadeando uma intensificação tanto em termos qualitativos, caracterizados pelas transformações da atividade sob pressão temporal, quanto em termos quantitativos, relacionados ao aumento do volume de tarefas (Giannini, Latorre e Ferreira, 2012).
Em outro estudo realizado na rede municipal de ensino de Vitória da Conquista, Bahia, evidenciou-se que um maior tempo de exposição à atividade docente relaciona-se a maior frequência de efeitos negativos sobre a voz. Em uma relação direta Jardim, Barreto e Assunção (2007) trouxeram em seus achados que uma maior exigência, o aumento da demanda e a intensidade com que o trabalho é executado, concentram maiores riscos a saúde do trabalhador. Nesse sentido, vale ressaltar a importância do cuidado do com a voz dos trabalhadores da educação de forma a minimizar os riscos à saúde destes profissionais.
Acredita-se que medidas de promoção e prevenção à saúde dos docentes possam contribuir com a ocorrência deste importante problema de saúde pública. A principal preocupação se dá a cerca das condições e forma de organização do trabalho, no intuito de tornar as relações mais amplas, proporcionando um ambiente de trabalho mais saudável e com qualidade.
Outro importante resultado obtido foi observado em um estudo exploratório de prontuários médicos de professores afastados de sala de aula, no período de 2005 e 2006 no estado do Rio de Janeiro. Esta investigação afirmou que dos professores afastados de sala de aula, com disfonia, este agravo associou-se á alteração anatomofuncional da laringe. No entanto, é de suma importância destacar que o uso da voz de forma profissional, contribuiu para o surgimento de problemas na voz nestes professores (Provenzano e Sampaio, 2010).
Por meio desta revisão, evidenciou-se também que, cada vez mais, autores estão envolvidos no processo caracterização sóciodemográfica, alterações vocais e organização do trabalho dos docentes. Isso demonstra a necessidade de se chamar atenção para as condições de saúde e trabalho dos professores, principalmente no que se refere aos fatores de risco, os quais estão expostos esta categoria de trabalhadores e que por sua vez podem corroborar com o aparecimento e agravamento de problemas na voz. Desta forma, a identificação dos fatores relacionados ao adoecimento vocal em professores visa propor subsidia ações preventivas de modo a preservar a saúde desses profissionais.
Conclusão
Esse estudo de revisão de literatura pode evidenciar, entre os artigos pesquisados, os possíveis fatores relacionados à ocorrência de distúrbio vocal em professores. Em sua maioria as condições de trabalho com demandas excessivas, ambiente desfavorável e intensidade do trabalho predizem que o trabalho em circunstâncias de alto desgaste pode gerar reflexos negativos á voz dos professores. Apesar das limitações relacionadas à metodologia proposta, uma vez que se restringiu a estudos nacionais e não delimitou professores de categorias de ensino similares, estes achados trazem dados importantes quanto aos fatores associados à ocorrência de distúrbios da voz.
É iminente a necessidade de investigar outros níveis de ensino e novas modalidades de atuação do professor, seja em cursos preparatórios para concursos, vestibulares e professores universitários. Como observado nos estudos, a organização e o ambiente de trabalho onde atua o professor podem refletir na saúde vocal dos docentes. Por isso atuar para minimizar estes riscos possibilita benefícios à saúde desses trabalhadores.
Vale ressaltar a importância de ações de prevenção e promoção de saúde, no intuito de minimizar os efeitos causados na saúde do professor. Estes profissionais ao apresentarem problemas de voz, perdem também sua identidade profissional, colocam em risco sua carreira e trazem impactos sociais, econômicos, profissionais e pessoais. Tais intervenções constituem a base da atenção voltada às ações primárias à saúde, de baixo custo e alta eficácia.
Referências
Alves, L.P., Araújo, L.T.R., e Neto, J.A.X. (2010). Prevalência de queixas vocais e estudo de fatores associados em uma amostra de professores de ensino fundamental em Maceió, Alagoas, Brasil. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 35(121), 168-175.
Araújo, T.M., Reis, E.J.F.B., Carvalho, F.M., Porto, L.A., Reis, I.C. e Andrade, J.M. (2008). Fatores associados a alterações vocais em professoras. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(6), 1229-1238.
Fuess, V. R. e Lorenz, MC. (2003). Disfonia em professores do ensino municipal: prevalência e fatores de risco. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 69(6), 807-812.
Giannini, S.P.P., Latorre, M.R.D.O. e Ferreira, L.P. (2012). Distúrbio de voz e estresse no trabalho docente: um estudo caso-controle. Cadernos. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(11), 2115-2124.
Jardim, R., Barreto, S.M., Assunção, A. A. (2007). Condições de trabalho, qualidade de vida e disfonia entre docentes. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(10), 2439-2461.
Marçal, C. C. B. e Peres, M. A. (2011). Alteração vocal auto-referida em professores: prevalência e fatores associados, Revista de Saúde Pública, 45(3), 503-511.
Provenzano, L. C. F. A. e Sampaio, T. M. M. (2010). Prevalência de Disfonia em Professores do Ensino Público Estadual Afastados de Sala de Aula. Revista CEFAC, 12(1), 97-108.
Servilha, E. A. M., Leal, R. O. F, e Hidaka, M. T. U. (2010). Riscos ocupacionais na legislação trabalhista brasileira: destaque para aqueles relativos à saúde e à voz do professor. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, São Paulo, 15(4), 505-513.
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