O processo de ensino em Educação Física escolar pela metodologia crítico-emancipatória El proceso de enseñanza de la Educación Física escolar por el método crítico-emancipatorio The process of education in school Physical Education for critical-emancipatory methodology |
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Licenciando do 7° período em Educação Física pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI (Brasil) |
Paulo Roberto Serpa |
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Resumo Esse artigo tem como objetivo verificar como se dá o processo de ensino nas aulas de Educação Física utilizando abordagem crítico-emancipatória. Com base nessa proposta, existem algumas estratégias que possibilitam uma aprendizagem mais reflexiva dos participantes do processo, alunos e professores. A razão que levou o pesquisador a realizar o estudo, surgiu das práticas de estágio supervisionado, onde se notou a grande exigência por parte dos orientadores em utilizar esta abordagem e também, a boa receptividade dos acadêmicos para com a mesma. A análise se delimita a reflexões entorno da temática estudada e suas possíveis aplicações. Por fim, se recomenda a realização de outras pesquisas que possam suprir a necessidade de estudos empíricos. Unitermos: Abordagem crítico-emancipatória. Educação Física Escolar.
Abstract This article aims to study how the teaching process in physical education classes using critical- emancipatory approach. On this basis, there are some strategies that enable a more reflective learning process participants, students and teachers. The reason why the researcher to conduct the study , emerged from the supervised training practices , which noted the great demand from advisors to use this approach and also the good reception of academics to with it. The analysis defines the surrounding reflections of the theme studied and their possible applications. Finally, it recommends conducting other research that can meet the need for empirical studies. Keywords: Approach critical-emancipation. Physical Education.
Recepção: 17/02/2015 - Aceitação: 23/03/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Entende-se a grande estimação do ambiente escolar pelos esportes, principalmente coletivos, a exemplo do futebol e voleibol. Apesar de não ser o único conteúdo da educação física, acaba por ser um dos mais utilizados no seu ensino. Kunz (2004, p. 67) ao tratar a relação entre educação física e esporte, nos diz que:
[...] com interesse pedagógico da educação física pelos esportes, o objetivo de estudo deveria se concentrar mais sobre todas as formas de manifestação humana e de forma contextualizada, em que ser humano e movimento são relevantes tanto ao agir e pensar, como para as relações dos próprios homens.
O que Kunz procura dizer, é que a educação física pode se preocupar sim com o esporte, mas não somente com o fim nele mesmo, deve-se observá-lo como um movimento humano, uma expressão da relação do homem com o meio, com as coisas e com os outros.
O presente artigo é caracterizado por uma metodologia bibliográfica, buscando de forma teórica tratar do processo de ensino-aprendizagem na abordagem crítico-emancipatória para compreender como trabalhá-la fidedignamente.
A razão que levou o pesquisador a realizar o estudo, surgiu das práticas de estágio supervisionado durante a formação acadêmica, onde se notou a grande exigência por parte dos professores orientadores em utilizar esta abordagem e também, pela boa receptividade dos acadêmicos para com a mesma. Pesquisas de Barroso e Darido (2009), Brasil (1997), Kunz (2001, 2004, 1989), Ripka e Finck (2009), entre outros, contribuem e dão relevante importância na investigação deste tema no campo da Educação Física Escolar.
Pretende-se como fruto da pesquisa, o reconhecimento dos educadores de educação física para uma prática de ensino mais viável, possível e emancipatória, contribuindo para uma melhor relação dos alunos com o esporte pedagogizado. De forma que o mesmo contribuiu para as discussões em torno do fenômeno esportivo e sua perspectiva emancipatória de ensino. Diante disto, delimitou-se a pesquisa com o seguinte questionamento: Como é o processo de ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física utilizando abordagem crítico-emancipatória?
1.2. Objetivos
1.2.1. Geral
Verificar como é o processo de ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física utilizando abordagem crítico-emancipatória.
1.2.2. Específicos
Conceituar a abordagem de ensino crítico-emancipatória;
Identificar como ocorre processo de ensino e/ou metodológico da abordagem crítico-emancipatória.
2. Fundamentação teórica
2.1. A metodologia crítico-emancipatória
As transformações nas práticas das modalidades esportivas sempre existiram, no entanto, o problema está relacionado a uma transformação que atenda o interesse técnico da modalidade de forma a modificá-lo. Quando trata deste assunto Finck (1995, 2006 apud RIPKA; FINCK, 2009) nos diz que:
Muitas vezes o professor prioriza no desenvolvimento do esporte a execução correta dos movimentos, tendo como referência padrões de rendimento, o que contribui para que uma maioria, principalmente de adolescentes, se afaste das aulas de Educação Física. Por outro lado, alguns professores deixam os alunos escolherem e decidirem como e o que fazer nas aulas, não exercendo seu papel de educador. (p. 6226; 6227).
A abordagem crítico-emancipatória vem justamente superar o interesse técnico para o campo de conhecimento na educação física, propondo uma educação mais emancipadora, voltada para a formação cidadã do jovem. Ela tem a intenção de emancipar as pessoas, para que possam interferir na sua própria realidade. Ainda, o esporte pode ser considerado como:
[...] um fenômeno social e também patrimônio cultural da humanidade, na escola deve ser abordado como um conhecimento da cultura corporal de movimento, assim sendo sua abordagem pedagógica nas aulas de Educação Física tornar-se-á extremamente relevante. (RIPKA; FINCK, 2009, p. 6227).
Esta metodologia, por ser centrada principalmente no ensino de esportes em Educação Física Escolar, traz reflexões para novas possibilidades de se ensinar os mesmos, ou seja, busca a sua transformação didático-pedagógica (KUNZ, 2004). E apresenta algumas estratégias de didática, com as categorias de ação: trabalho, interação e linguagem.
Trabalho: Num primeiro momento: desenvolver experimentação individual ou coletiva sem a utilização de alguma técnica específica; No segundo momento: escolha de determinada da tarefa que precisa ser aprendida, e para tal precisa de treino ou do exercício continuado de determinadas habilidades. (KUNZ, ibidem).
Interação: O aluno não descobre e não desenvolve sozinho a experiência. É possível que os alunos trabalhem em pequenos grupos para superar a insegurança e a falta de alguma habilidade para a atividade pretendida. Categoria de observação e encenação. (KUNZ, ibidem).
Linguagem: O professor deve estimular a linguagem verbal dos alunos durante a atividade visando o entendimento dos alunos mediante a proposta da aula. (KUNZ, ibidem).
Segundo Kunz (2004), as categorias de ação e as competências estão conectadas entre si, não sendo desenvolvidas separadamente. Uma atividade deve ter claramente as três categorias, por exemplo, sobre o conteúdo de passe e recepção no futebol: deve ser proporcionado o trabalho no momento em que a um processo de transcendência de limites por experimentação e aprendizagem do conteúdo. A Interação neste caso se dá com uma formação de grupos, em que, com o diálogo instiga-se construção do conhecimento e a linguagem vai ser estas conversar nas relações de interação, constituindo a linguagem verbal, além, da linguagem corporal, verificada em praticamente todos os momentos da aprendizagem.
Também é orientada ao desenvolvimento da capacidade argumentativa dos alunos e professores (entre si) sobre assuntos tratados nas aulas, esta capacidade pode ser entendida como o agir comunicativo, desta forma, tanto professores quanto alunos constroem seus conhecimentos em conjunto e não apenas simples transmissão de informações, ou repetição de gestos.
2.2. Processo de ensino na metodologia crítico-emancipatória
Um professor novo em uma classe deveria iniciar apresentando-se á si mesmo e o conteúdo que será desenvolvido com alunos, bem como, as estratégias e as formas de avaliação. No entanto, deve ser realizada uma avaliação inicial de forma diagnóstica, podendo ser por meio de uma simples conversa á um questionário elaborado, cujos dados serão utilizados para que o professor “[...] possa pôr em prática seu planejamento de forma adequada às características de seus alunos”. (BRASIL, 1997 p. 55).
No caso de uma avaliação diagnóstica prática, a abordagem crítico-emancipatória favorece ao professor perceber as habilidades dos alunos, através da transcendência de limites para experimentação, em que os alunos podem simplesmente explorar e experimentar os materiais, de forma a se perceberem em novas possibilidades e capacidades (KUNZ, 2004).
No livro Transformação didático-pedagógica do esporte (KUNZ, 2004), nota-se que para existir a transcendência de limites para a experimentação deve existir a montagem de um arranjo material para então ocorrer à livre experimentação e por consequência a seleção de atividades. Neste caso a construção de uma simples bola alternativa feita de papel seria o arranjo material que possibilitaria a transcendência de limites para a experimentação.
Em seguida, ocorre-se a transcendência de limites para aprendizagem, que é o momento em que se dá mais explicitamente o trabalho do professor, onde ele irá transmitir algum conhecimento aos alunos, no caso da bola alternativa, o professor demostrará possibilidades de utilização da mesma, onde a turma também participa desta demonstração, pois os alunos também já sabem algo. Contudo, quando é aberta a oportunidade para que os alunos reinventem a atividades propostas, ocorre à própria transcendência de limites para criação/invenção, o que deve acontecer espontaneamente.
Ainda assim, não é certo negar aos alunos a utilização do material adequado, oficial, desde que se tenha. Toda via, num jogo típico de futsal, por exemplo, podem ocorrer algumas situações descritas por Maraun (1981 apud KUNZ 2001) como as regras da sobrepujança e das comparações objetivas.
A sobrepujança seria a ideia de que qualquer um pode vencer/superar e levar vantagem sobre seus adversários nos esportes. As comparações objetivas ocorrem juntamente com a sobrepujança, pois oferecerão chances iguais a todos os participantes, deixando ao encargo de suas aptidões físicas automatizadas (TREBELS, 1986 apud KUNZ, 2001). E para que estas situações não ocorram costumeiramente, deve haver uma ação comunicativa.
A ação educativa é entendida como forma especial de interações entre Educador e Educando. Ela não deixa de ser uma práxis social com normas e regras, mas uma práxis social onde os integrantes das interações, de ambos os lados, são respeitados como sujeitos nas ações. (KUNZ, 1989, p. 67).
Pensando agora na avaliação segundo esta abordagem, não deve ser punitiva, favorecendo desta forma a observação o diálogo, entre outros. Este ultimo, pode apresentar mais dados com relação à percepção dos alunos com relação às práticas desenvolvidas, a partir isto, poderá ser modificado o plano de ensino, o cronograma estipulado previamente e os planos das aulas para que atendam o foco da aprendizagem, os alunos. Partindo disto, nota-se que somente a “[...] co-participação nos processos de decisão da aula”. (KUNZ, 1991, p. 104) é que realmente ocorrerá mudança pedagógica e deve ocorrer sempre pra que ocorra esta práxis no trabalho do professor e uma melhor aprendizagem dos alunos.
3. Metodologia
Nesta pesquisa utilizou-se o método de bibliográfica, que para Macedo (1994) a pesquisa bibliográfica permite ao pesquisador agrupar o conhecimento espalho e recuperar as informações quando quiser. A mesma, conceitua a pesquisa bibliográfica de duas maneiras, a primeira seria o conceito restrito, que seria a:
[...] busca de informações bibliográficas, seleção de documentos que se relaçionam com o problema de pesquisa (livros, verbetes de enciclopédia, artigos de revistas, trabalhos de congressos, teses etc.) e o respectivo fichamento das referências para que sejam posteriormente utilizadas (na identificação do material referenciado ou na bibliografia final). (MACEDO, 1994, p. 13).
Este seria o primeiro passo a ser seguido numa pesquisa, justamente para se verificar a literatura existente com relação ao tema a ser estudado e o conhecimento já produzido a cerca desse assunto.
Já o segundo conceito que Macedo (1994, p. 13) apresenta sobre a pesquisa bibliográfica, seria o conceito amplo, que pode ser “[...] entendido como o planejamento global-inicial de qualquer trabalho de pesquisa”. Não obstante deve haver um processo metodológico a ser seguido, ou seja, as etapas de trabalho, em que:
procura-se identificar, localizar e obter documentos pertinentes ao estudo de um tema bem delimitado, levando-se a bibliografia básica;
elabora-se um esquema provisório (temas e subtemas do futuro trabalho) e um rol de descritores (em português e outras línguas) para servir de guia na fase de anotações dos dados de leitura;
transcrevem-se em fichas, segundo critérios, os dados de leitura (resumos, transcrições, notas etc.).
enriquece-se o primeiro levantamento pelas bibliografias constantes nos documentos analisados, organizando-se um conjunto de fichas de anotação para documentar o trabalho (citações de texto). [...] (MACEDO, 1994, p. 13; 14. Grifos da autora).
4. Análise dos dados
Com os livros Transformação Didático-pedagógica do Esporte (2004) e Ensino & mudanças (2001), Kunz vem propor uma transformação da educação física, trazendo uma proposta didático-pedagógica para a mesma, tendo em vista principalmente os esportes, ou seja, procura romper com a instrumentalização das atividades esportivas dentro da educação física escolar. Desta forma, Kunz tenta tornar este novo ensino, uma ferramenta para que os alunos sejam emancipados, trazendo para tanto a metodologia de ensino crítico-emancipatória.
A mesma apresenta como metodologia de trabalho a ser desenvolvido para que ocorra, as suas transcendências de limites, respectivamente, a transcendência de limites para experimentação; a transcendência de limites para aprendizagem; e a transcendência de limites para criação, todas após do arranjo material.
Estas “fases” favorecem a participação de todos os alunos e não de uma minoria. Neste sentido Ripka e Finck, (2009, p. 6229) diz que:
É preciso que os alunos tenham liberdade de expressar seus movimentos e sentimentos, independentemente de terem ou não habilidades específicas para a prática de determinados esportes. Dessa forma o trabalho do professor em sala de aula será direcionado para o estabelecimento da autonomia e da plena utilização social do esporte com finalidades educativas.
Diante disto, o esporte deve ser tratado pedagogicamente, visando o desenvolvimento da criticidade e autonomia dos alunos. Ainda, Alcântara (2007) afirma que:
Existe na sala de aula uma certa autonomia dos professores e estudantes, assim como existe uma certa autonomia do coletivo da escola. São nestes espaços do trabalho pedagógico que se configuram as possibilidades metodológicas, ou seja, as possibilidades do caminho a ser trilhado para ensinar algo e para que os estudantes aprendam algo. (apud RIPKA; FINCK, 2009, p. 6229).
Com isto, o esporte passe a ser mais inclusivo, pedagógico, atendendo as necessidades do ambiente escolar e não as regras institucionalizadas existentes no esporte extraescolar. Ainda assim, se percebe a dificuldade de alguns professores em mudar o enfoque técnico ou da “aula livre”. Neste contexto, para a ação pedagógica e agir metodológico, são necessárias as funções e a coparticipação de professores e alunos.
5. Considerações
Com este artigo, buscou-se evidenciar questões do processo de ensino da abordagem critico-emancipatória. Buscando auxiliar o desenvolvimento das competências objetiva, social e comunicativa de modo a proporcionar o trabalho, a interação e a linguagem.
Neste sentido, acredito que estudos em torno de metodologias de ensino e didática na educação física, não só podem como devem tratados com uma regularidade maior, por proporcionar subsídios para a prática de aula, da dinâmica das intervenções, auxiliando na práxis do processo pedagógico.
No campo acadêmico, é quase que unicamente no estágio curricular que o futuro docente é introduzido o na realidade que atuará. Desta forma, este assunto é muito importante, tendo em vista o preparo do futuro professor para desenvolver suas habilidades e competências.
Por fim, acredito que sege muito importante que esta abordagem tenha uma grande utilização nas intervenções de acadêmicos e professor, justamente pela conscientização pedagógica sobre esporte que ela pode trazer aos alunos durante o processo de ensino.
Referências
BARROSO, André Luís Ruggiero; DARIDO, Suraya Cristina (2009). A pedagogia do esporte e as dimensões dos conteúdos: conceitual, procedimental e a atitudinal. Revista da Educação Física, Maringá, v. 20, n. 2, p. 281-289.
BRASIL (1997). Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF. Acessado em Fevereiro de 2015: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf
KUNZ, E. (2001). Educação Física: ensino & mudanças. Ijuí: UNIJUÍ Ed..
KUNZ, E. (1989). O esporte enquanto fator determinante da educação física. Contexto & Educação, Ijuí, v. 4, n. 15, p. 63-73, jul/set.
KUNZ, E. (2004). Transformação didático-pedagógica do esporte. 6ª ed.Ijuí: Ed. Unijuí.
LIBÂNEO, José Carlos (1994). Didática. São Paulo, SP: Editora CORTEZ.
MACEDO, Neusa Dias de (1994). Iniciação à pequisa bibliográfica: guia do estudante para a fundamentação do trabalho de pesquisa. 2. Ed. São Paulo: Edições Loyola.
RIPKA, Lisiane de Paula; FINCK, Silvia Christina Madrid (2009). O esporte na abordagem crítico-emancipatória: buscando estratégias de ensino e aprendizagem nas aulas de educação física para o ensino médio. IX Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. III Encontro Sul Brasileiro de Psicologia.
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