Avaliação dos benefícios dos
grupos de terceira idade Evaluación de los beneficios de los grupos de la tercera edad contra la depresión Evaluation of benefits group of seniors against depression |
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*Psicóloga (licenciatura e formação. Especialista em Saúde Coletiva Especialista em Psicologia Cognitivo-Comportamental. Mestre em Psicologia Social – UFPB Doutora em Psicologia – UFRN. Pós-Doutoranda em Psicologia – Unifor Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor **Psicóloga. Especialista em Psicologia Cognitivo-Comportamental |
Cynthia de Freitas Melo* Fabíola de Luna Medeiros** (Brasil) |
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Resumo A população idosa aumenta no mundo, todavia, devido a diversos fatores sociais, crescem os seus índices de depressão. A presente pesquisa avaliou o nível de depressão de idosos, comparando-os em dois grupos (praticantes de atividades esportivas e sedentários); onde 60 idosos responderam ao Inventário de depressão de Beck (BDI), analisados no pacote estatístico SPSS. Observou-se que a amostra obteve uma baixa pontuação do BDI (M=8,7; DP=8,17); e que, apesar da maioria dos idosos (f=42; 70%) não possuir depressão, 30% a apresentam em processo inicial (f=11; 18,3%) ou avançado (f=07; 11,7%). Destaca-se ainda que a pontuação geral do BDI entre o grupo ativo (M=8,83; DP=8,69) e o sedentário (M=8,6; DP=7,76), e o número de diagnosticados com depressão entre os ativos (f=20) e sedentários (f=22) não representarem uma diferença estatisticamente significativa. Conclui-se a não correlação entre atividade física e depressão, todavia recomenda-se a realização de estudos longitudinais antes facto e post facto. Unitermos: Depressão. Adaptação. Idoso. BDI. Grupos.
Abstract The elderly population is increasing worldwide, however due to various social factors, grow their levels of depression. This study assessed the level of depression in the elderly, comparing them in two groups (practitioners of sports and sedentary activities), where 60 seniors responded to the Beck Depression Inventory (BDI), analyzed with the SPSS package. It was observed that the sample obtained a low score of the BDI (M =8.7; SD= 8.17) , and that although most patients (f = 42, 70%) do not have depression, 30% have in original case (f =11; 18.3 %) or advanced (f =07; 11.7 %). Note also that the overall BDI score between the active group (M=8.83; SD= 8.69) and sedentary (M=8.6; SD=7.76), and the number of diagnosed depression among assets (f= 20) and sedentary (f= 22) did not represent a statistically significant difference. We conclude the lack of correlation between physical activity and depression, however it is recommended that longitudinal studies before that and post facto. Keywords: Depression. Adaptation. Elderly. BDI. Groups.
Recepção: 09/11/2014 - Aceitação: 25/01/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Por se tratar de um tema bastante instigante e atual, o envelhecimento consiste em um fenômeno que tem sido muito discutido e estudado na última década. Pois, nesse momento de vida existem muitas transformações positivas, e também negativas. Dentre estas, a depressão surge como um tema que merece especial atenção, uma vez que apresenta freqüência elevada e conseqüências negativas para a qualidade de vida dos indivíduos acometidos (Bee, 1997; Keller, Lavori, Endicott, 1994).
As causas de depressão no idoso configuram-se dentro de um conjunto amplo de componentes onde atuam fatores genéticos, eventos vitais, como luto e abandono, e doenças incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depressão no idoso freqüentemente surge em contexto de perda da qualidade de vida associada ao isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves. E são vários os fatores que a predispõem: sentimentos de frustração perante os anseios de vida não realizados e a própria história do sujeito marcada por perdas progressivas do companheiro, dos laços afetivos e da capacidade de trabalho; bem como o abandono, o isolamento social, a incapacidade de reengajamento na atividade produtiva, a ausência de retorno social do investimento escolar, a aposentadoria que mina os recursos mínimos de sobrevivência (Maders, 2014).
Nesse contexto, surgem algumas práticas que são vistas como alternativa não farmacológica do tratamento do transtorno depressivo. Cresce a recomendação de exercício físico, em particular o chamado aeróbio, que se realizado com intensidade moderada e longa duração (a partir de 30 minutos), propicia alívio do estresse ou tensão, devido a um aumento da taxa de um conjunto de hormônios denominados endorfinas, que agem sobre o sistema nervoso, reduzindo o impacto estressor do ambiente e com isso pode prevenir ou reduzir transtornos depressivos (Keller, Lavori, Endicott, 1994; Balbé et al. 2008).
Defende-se, portanto, que o exercício físico apresenta-se como um aliado contra a depressão e que apresenta, em relação ao tratamento medicamentoso, a vantagem de não apresentar efeitos colaterais indesejáveis, e de trazer um maior comprometimento ativo por parte do paciente, contribuindo para a melhoria da sua autoestima e autoconfiança (Keller, Lavori, Endicott, 1994).
Respaldado nessa idéia, o presente estudo objetivou avaliar o nível de depressão entre idosos, comparando-os em dois grupos: praticantes de atividades esportivas e sedentários. Para isso, buscou-se responder os seguintes objetivos específicos: 1) Avaliar o índice de depressão de idosos que fazem atividades de lazer (esporte, dança); 2) Avaliar o índice de depressão de idosos que não fazem parte de nenhum grupo de sociabilização; e 3) Verificar se os idosos que participam dos grupos de lazer apresentam menores índices de depressão.
Metodologia
Delineamento
Trata-se de uma pesquisa correlacional, onde a variável antecedente refere-se ao critério de participação em grupos de convivência e a variável conseqüente será os índices de depressão.
Amostra
Foi utilizada uma amostra não probabilística por conveniência com idosos (mulheres acima de 55 anos e homens acima de 60 anos), sendo 30 participantes de grupos de lazer e 30 não inseridos em nenhum grupo de sociabilização.
Instrumentos
Foram utilizados dois instrumentos:
Questionário sócio demográfico, contendo questões para descrição da amostra (idade, sexo, atividades, características de residência);
Inventário de depressão de Beck (BDI), desenvolvido por Beck , em 1961 é uma escala do tipo Likert com 21 itens, com respostas que variam de 0 a 3 pontos.
Procedimentos de coleta de dados
Foram realizadas visitas a locais onde havia idosos fazendo prática de esportes e solicitada autorização para contatá-los após as aulas. Depois de explicado os objetivos da pesquisa, solicitou-se sua colaboração e o instrumento foi aplicado em formato de entrevista, de forma individual. E a aplicação com os idosos não praticante de esportes, deu-se nas ruas, ou em visitas a domicílios, com aplicação sob o mesmo formato.
Procedimentos de análise de dados
Os dados serão analisados em três etapas. Na primeira etapa, com auxílio do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) utilizara-se estatística descritiva (freqüência, porcentagem, média e desvio padrão) para análise dos dados biodemográficos. Em seguida será contabilizado o somatório de pontos de cada idoso para inferir o nível de depressão dos idosos. Por fim essa pontuação será classificada de acordo com o manual do inventário: até 9 pontos (ausência de depressão); ou sintomas depressivos mínimos; de 10 a 18 pontos, depressão leve a moderada; de 19 a 29 pontos, depressão moderada a grave; e, de 30 a 63 pontos, depressão grave.
Aspectos éticos
Todos os procedimentos foram realizados durante a pesquisa, constituíram na garantia de confidencialidade dos dados coletados, utilizados para este trabalho, e a preservação da identidade dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Faz-se necessário acrescentar o Termo de Consentimento Livre e de Esclarecido (TLCE), documento fundamental para a realização de tal pesquisa.
Resultados e discussão
Este capítulo aborda os resultados encontrados no presente estudo. Estão colocados na seqüência dos objetivos anteriormente citados. Desta forma, será apresentada primeiramente a descrição da amostra, utilizando-se os dados sóciodemográficos da idade, participação em atividade física, e pessoas com quem reside. Em seguida serão avaliados os índices de depressão pontuados na escala de Depressão de Beck (BDI). E por fim, serão comparados os índices apresentados pelos idosos que fazem atividade física e os que não fazem.
Descrição da amostra
No perfil biodemográfico da amostra, composta por 60 idosos, 30 eram praticantes de atividade física e 30 não participavam de nenhuma atividade física ou grupos de lazer. A média de idade é de 69 anos (DP= 9,0), variando entre 60 e 69 anos, destacando-se que os idosos que fazem atividade física são um pouco mais novos (67,30; DP=4,45) do que os que não fazem atividade (70,87; DP=11,73), com uma diferença estatisticamente significativa (t=1,56, p<0,05).
Em relação à qualidade na convivência de moradia, observou-se que nenhum dos idosos entrevistados moram sozinhos, sendo que 52 (86,7%) moram com familiares e 8 (13,3%) moram com pessoas que não são seus familiares. Dados estes que corroboram com a pesquisa de Pedrazzi (2010), onde se observa que a tendência maior na sociedade atual ainda é os idosos morando com seus familiares. Fator esse que contribui para o cuidado físico e psicológico deste grupo, fazendo sentir-se cuidado, amado, integrado e importante.
Avaliação dos índices de depressão dos idosos
Na avaliação dos índices de depressão dos idosos pode-se constatar que de modo geral, os idosos apresentaram uma baixa pontuação na escala de depressão (M=8,72; DP=8,17). Observando-se, entretanto, que houveram alguns pacientes com altos índices de depressão, uma vez que as pontuações variaram entre 0 e 41.
Para melhor compreensão desses índices, faz-se necessário ainda verificar a interpretação dessas pontuações segundo as estratificações da avaliação de depressão. De acordo com as orientações da escala existem quatro estratos de classificação: até 9 pontos (ausência de depressão); 10-18 pontos (depressão leve-moderada); 19 – 29 pontos (depressão moderada-grave); 30 – 63 pontos (depressão grave).
Baseado nesses critérios distribui-se os idosos da amostra nos quatro estratos, conforme observado na tabela 1. Pode-se verificar que a maioria dos idosos não possui depressão (f=42; 70%). Contemplando-se, todavia, o alarmante índice em que 30% dos idosos apresentam depressão em processo inicial (f=11; 18,3%) ou avançado (f=07; 11,7%) (ver Tabela 1).
Tabela 1. Classificação da amostra pelos índices de depressão
Estes dados corroboram com diversos estudos que alertam sobre o preocupante aumento dos índices de depressão em idosos originados pela sensação de abandono da família, inadequação à sociedade moderna e inutilidade laboral (Rodrigues et al. 2000; Silva, Cristina, 2004).
Comparação dos índices de depressão entre idosos sedentários e os que fazem atividade física
Por fim, para verificação da importância de atividades físicas, lúdicas, de lazer, ou grupos de encontros sociais, compararam-se os índices de depressão entre os dois grupos analisados na presente pesquisa.
Em relação ao somatório do índice geral da escala de depressão (BDI), observou-se que a média da pontuação dos idosos que fazem atividades é de 8,83 (DP=8,69) e dos sedentários é 8,6 (DP=7,76), não havendo diferença estatisticamente significativa entre esses dois índices (t=0,11, p<0,05).
Aprofundando-se as análises, separaram-se os dois grupos para verificação dos estratos dos níveis de depressão. Observou-se que dentre os idosos que fazem atividades físicas 22 (73,3%) não apresentam depressão, contra 20 participantes (66,7%) do grupo sedentário. Constatou-se também que 5 (16,7%) praticantes de exercício apresentam depressão em processo inicial, contra 6 sedentários (26,7%). Identificando-se, por fim, que 3 (8,4%) praticantes de exercício apresentam depressão avançada (moderada-grave), contra 4 (13,3%) idosos sedentários. Contempla-se, entretanto, que nenhuma dessas diferenças não são estatisticamente significativas (x2= 2,85; 3 graus de liberdade e 0,05 de nível de significância), como apresentado na Tabela 2.
Tabela 2. Comparação da classificação dos índices de depressão entre os idosos sedentários e os que fazem atividade física
A diferença estatisticamente não significativa dos dados não corrobora com a literatura sobre a temática. (Cheik et al. 2003; Balbé et al. 2008).
Conclusão
Através do presente estudo, realizado com uma amostra de 60 idosos, onde 30 fazem atividade física e 30 não fazem, pôde-se avaliar os índices de depressão pontuados na escala de Depressão de Beck (BDI), permitindo-se ainda realizar comparações dos índices apresentados pelos dois grupos, observando os efeitos que a atividade física pode trazer para a prevenção e tratamento da depressão.
Os resultados mostraram que o índice de depressão da amostra aleatória é alarmante. Quando se encontra 30% de idosos numa amostra tão reduzida, enquanto comparada ao número de idosos brasileiros, é gerado o questionamento sobre a qualidade de vida que é oferecida a chamada “melhor idade”.
Destaca-se ainda que, apesar de uma diferença estatisticamente não significativamente entre os índices dos dois grupos de idosos, não se deve desmerecer a importância da prática de esportes e de atividades de lazer na terceira idade. Sabe-se, pois, que esta prática, se não altera significativamente os diagnósticos de depressão, contribui certamente pelo menos para o estado de humor dos sujeitos. Visto que o fechamento de um diagnóstico de depressão exige caraterísticas mais graves do estado de humor que um quadro de tristeza não patológica, o forçamento de diferenças estatisticamente significativas torna-se mais difícil, devendo-se assim relevar as pequenas diferenças existentes entre os dois grupos.
Reconhece-se ainda a limitação do estudo, pois uma vez que não foi realizado com objetivo de exploração e profundidade de cada sujeito, perdeu alguns dados que poderiam ser relevantes. Primeiramente, as pontuações de depressão dos idosos participantes de grupos pode também ter contemplado sujeitos que hoje fazem essas atividades após um diagnóstico de depressão. Além disso, outros determinantes de vida podem influenciar na depressão dos praticantes de atividades, assim como do mesmo modo outras variáveis (família, casamento, amizades) podem contribuir para a profilaxia dos sedentários.
Contempla-se ainda que o estudo não encerre a questão. Sugere-se a busca de novas pesquisas, fazendo uso de pesquisa de abordagem qualitativa, e longitudinal, para verificação e profundidade sobre os sujeitos. Recomenda-se ainda o uso de outros instrumentos, como escalas de humor, ansiedade, qualidade de vida, de forma a verificar a influência dessas atividades e quadros não patológicos. Por fim, indica-se ainda a exploração de maiores amostras, como forma de verificar e avaliar incansavelmente as contribuições do esporte e de outras atividades lúdicas, sociais para a promoção de saúde, na complexidade como ela entendida, de forma física, mental e social, e na prevenção e recuperação de depressão. Deste modo, se poderá sempre oferecer aos gestores, cuidadores e educadores físicos feedback sobre alternativas para construir uma “melhor idade” de fato em que os idosos se sintam amados, uteis e integrados em uma sociedade. Incentivando também as políticas publicas em favor desta causa.
Referências
Balbé, GP. et al. (2008). Atividade física e depressão no idoso. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, 13 (124). http://www.efdeportes.com/efd124/atividade-fisica-e-depressao-no-idoso.htm
Ballone, GJ, Ortolani, IV, Pereira Neto, E. (2007). Da Emoção à Lesão, 2. Ed. São Paulo: Manole.
Bee, H. (1997). O ciclo vital. Porto Alegre: Artmed.
Borges SS, Rauchbach, R. (2004). Tendência a estados depressivos em idosos que não tem o hábito da prática da atividade física: um estudo piloto no município de Curitiba. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, 10 (70). http://www.efdeportes.com/efd70/idosos.htm
Cheik, NC. et al. (2003). Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos. R. bras. Ci. e Mov; 11 (3), 45-52.
Figueiredo, KR. (2008). Depressão no idoso. Portal educação. Retirado de: http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/3913/depressao-no-idoso
Keller, MB, Lavori PW, Endicott, J. (1994). Time to recovery chronicity in levels of psychopathology in major depression a five year prospective follow-up of 431 subjects. Arch. Gen. Psychiatry; 49, 809-816.
Maders, RJ. (2014). Qualidade de vida e os exercícios físicos resistidos para idosos. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, 197. http://www.efdeportes.com/efd197/qualidade-de-vida-e-os-exercicios-para-idosos.htm
Pedrazzi, EC. et al. (2010). Arranjo domiciliar dos idosos mais velhos. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 18 (1).
Rodrigues, R. et al. (2000). Como cuidar dos idosos. 2. ed. São Paulo: Papirus.
Silva, M, Cristina, B. (2004). Fragilidade da velhice. Retirado em: http://amigonerd.net/trabalho/19116-fragilidade-da-velhice
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