efdeportes.com

A importância da parceria da família no programa de

estimulação precoce de crianças com deficiência visual

La importancia de la colaboración de la familia en el programa de estimulación temprana para niños con discapacidad visual

The importance of the partnership of the family in early stimulation program for children with visual impairment

 

*Instituto Benjamin Constant (IBC), Rio de Janeiro, RJ

**Instituto Benjamin Constant (IBC)

URECE (Futebol para cegos), Rio de Janeiro, RJ

***Instituto Benjamin Constant (IBC)

Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), Rio de Janeiro, RJ

(Brasil)

Patrícia Soares de Pinho Gonçalves*

patydepinho@hotmail.com

Maria Margarete Andrade Figueira*

margarete.figueira@uol.com.br

Fausto Maoli Penello**

faustopenello@gmail.com

Glauber Lameira de Oliveira***

glauberlaoli@ig.com.br

Talita Adão Perini***

talitaperini@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo tem como objetivo relatar dentre os princípios norteadores da prática pedagógica do Setor de Estimulação Precoce do Instituto Benjamin Constant, a presença das famílias nos atendimentos como imprescindível para estruturação do processo pleno da educação da criança deficiente visual desde o nascimento até três anos e onze meses. Para tanto, serão apresentadas, de forma a compreender tal processo, as dificuldades vivenciadas pela família da criança com deficiência visual, as necessidades de adequação, modificação e reorganização, tendo em vista contribuir de forma ativa, complementando todas as etapas da intervenção profissional.

          Unitermos: Estimulação precoce. Deficiência visual. Família. Instituto Benjamin Constant.

 

Abstract

          This article aims to report from the guiding principles of the pedagogical practice of the Department of Early Stimulation of the Benjamin Constant Institute, the presence of families in care as essential for structuring the process of education full of visually impaired children from birth to three years and eleven months. So it must be presented in order to understand this process, the difficulties experienced by families of children with visual impairment, needs adjustment, modification and reorganization, in order to contribute actively, complementing all stages of professional intervention.

          Keywords: Early stimulation. Visual impairment. Family. Benjamin Constant Institute.

 

Recepção: 24/12/2014 - Aceitação: 07/03/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A deficiência visual caracteriza-se por perdas parciais ou totais da visão, compreendendo-se a cegueira e a visão subnormal (visão parcial ou baixa visão (Maristella, 2011).

    A pessoa com deficiência visual possui limitações nas suas noções senso-perceptivas, ocorrendo diminuição nos rendimentos que exigem coordenação, equilíbrio, orientação espacial, dentre outras, sendo necessário que o mesmo possua intervenção para que adquira desenvolvimento satisfatório e possível independência e autonomia. Estas últimas estão atreladas a capacidade da criança aprender a cuidar de si própria, alimentar-se, vestir-se e adquirir hábitos de higiene, permitindo-a maior liberdade de ação no seio familiar e na sociedade.

    Sabe-se que o desenvolvimento satisfatório da criança com deficiência visual estrutura-se desde o nascimento a partir das possibilidades de exploração e influências do meio (Cunha & Enumo, 2003). Porém, em condições normais com a ausência da visão, a criança com deficiência visual não possui um estímulo motivador da percepção visual para a exploração de objetos, formas, pessoas e etc., tornando-se limitada. Além disso, a criança cega não conta a capacidade de aprender diversidades de gestos, condutas e comportamentos através do recurso da imitação do outro.

    Sendo assim, acredita-se que o desenvolvimento da autonomia funcional da criança com deficiência visual se dá essencialmente através da interação com o ambiente, por meio da mediação do outro na estimulação e interação dos sentidos remanescentes, tais como: o vestibular, tátil-cinestésico, auditivo e proprioceptivo, possibilitando que a mesma venha construir dessa forma, uma representação mental (Rodrigues & Macário, 2006).

    Embora as potencialidades do tato, olfato, auditivas e motoras se apresentam intactas no deficiente visual, há a necessidade de explorá-las, com o objetivo de que estas venham, de certa forma, minimizar o mais cedo possível, o impacto frente à criança com deficiência quanto às limitações geradas pela ausência visão total ou parcial.

    França-Freitas e Gil (2012) destacam que quando a criança com deficiência visual é devidamente estimulada por profissionais qualificados em intervenções freqüentes e funcionais para a vida cotidiana, a criança torna-se capaz de adquirir novos desempenhos e ser condicionada a superar limites. Contudo, diferentes estudos têm afirmado que a família muitas das vezes, por desconhecimento, tem assumido uma postura de superprotetora em relação à criança com deficiência visual, principalmente seus pais, restringido as oportunidades de vivência e troca entre a criança e o meio. (Navarro et al, 2004; Williams & Aiello, 2001)

    Sendo assim, o conhecimento, compreensão e participação da família em programas de intervenções precoces são determinantes para minimizar as limitações apresentadas pela criança com deficiência visual. A partir do reconhecimento da estimulação precoce como um conjunto de atividades com o objetivo de promover experiências e estímulos que envolvamos sentidos remanescentes à visão, esta poderá permitir ao deficiente visual uma adaptação ao ambiente e obtenção da autonomia adiante.

    Estudos apontam que os resultados satisfatórios apresentados em um programa de estimulação precoce na pessoa com deficiência visual estão diretamente atrelados à participação ativa da família (Williams & Aiello, 2001).

    A família deve ser considerada como parte integrante no processo de intervenção precoce, não pode ser ignorada ou restrita a oferecer informações acerca de comportamentos da pessoa com deficiência visual ou a receber orientações específicas, mas deve ser vista como parceira atuante nas tomadas de decisão e resolução de problemas.

    Sendo assim, este estudo procurou abordar os aspectos atrelados à inclusão da família, como uma premissa básica no atendimento educacional do deficiente visual submetido a um programa de estimulação precoce. Para complementar o entendimento, procurou apresentar as etapas do processo de atendimento à criança com deficiência visual do setor de Estimulação Precoce do Instituto Benjamin Constant.

Reação da família frente ao nascimento da criança com deficiência visual

    Durante a gestação, é natural que os pais tenham expectativas positivas em relação ao nascimento e futuro dos seus filhos. Porém, o diagnóstico de um filho com deficiência visual, pode frustrar certas expectativas da família, muito compreensível nesta fase inicial.

    Segundo Martin e Ramirez (2003), o inesperado impacto gerado ao constatarem que o filho apresenta deficiência visual quase sempre dificulta a interação da díade (mãe/filho), o que prejudica os aprendizados sociais da criança. O choque afetivo experimentado pelos pais quando a deficiência visual do seu filho é confirmada, é quase inevitável. Os riscos de desorganização das relações da mãe e da família com este bebê são elevados, e os efeitos dessa desorganização afetam o desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança.

    Segundo Rodrigues (2006), a visão participa de forma contundente na construção do vínculo afetivo entre mãe e bebê nos primeiros meses de vida. Essas “trocas de olhares”, juntamente com o “toque” que envolve o acolhimento e o afeto, favorecem uma profunda interação com a mãe e vice-versa, promovendo sua primeira inclusão no mundo, a inclusão no núcleo familiar. Isso explica, de certa forma, as dificuldades encontradas pelas mães de crianças deficientes visuais em estabelecer os tão fundamentais vínculos afetivos com seus filhos (Rodrigues & Macário, 2007).

    Para Behl et al (1996), o processo de adaptação, dos pais com a situação nova, inesperada e contrária ao seu real desejo, é em termos afetivos, altamente custoso. Segundo os autores, o mais comum é a família adotar uma atitude de superproteção, o que é prejudicial à criança, pois reforça a baixa atividade motora e dificulta a interação da criança com o mundo que o cerca, além de dificultarem sua adaptação.

    Durante os primeiros meses de vida, é necessário que a criança se sinta amada e desejada pelos pais, o que em parte, contribui para minimizar as limitações provocadas pela deficiência visual.

A importância da estimulação precoce na criança com deficiência visual

    Segundo Bruno (2003), a ação e a capacidade de construir conhecimento pela criança com deficiência visual pode ser defasada não apenas pelas limitações visuais conhecidas, mas principalmente pela qualidade de troca no ambiente, uma vez que 80% das informações oriundas do meio são recebidas pelo estímulo visual (Figueira, 1996)

    Sendo assim, intervenções oferecidas à criança com deficiência visual, por meio de sua interação com o ambiente físico e inclusão na vida social, requer intermediação com o outro, contribuindo para minimizar as limitações apresentadas pelas mesmas, quando aplicadas precocemente em centros especializados, sem necessariamente substituir a participação da família.

    A estimulação precoce é reconhecida pelo Ministério da Educação como uma prática facilitadora da construção do conhecimento por meio da comunicação e interação com o outro no ambiente que o cerca (Gil & Almeida, 2005). Para Rodrigues (2002), adicionalmente, ela é capaz de promover a autonomia na criança com deficiência visual, através da integração e estímulo dos sentidos remanescentes que não envolvem as percepções visuais, tais como: o vestibular, tátil-cinestésico, auditivo e proprioceptivo.

    O conceito básico do termo Estimulação Precoce, segundo Bralic (1979), se prende à importância da estimulação, ou seja, do conjunto de ações que tendem a proporcionar à criança as experiências necessárias, a partir de seu nascimento, para lhe garantir o desenvolvimento máximo de seu potencial, diante de possíveis déficits motores, sensoriais, cognitivos e até emocionais (decorrentes das primeiras relações entre mãe e bebê). (Ribeiro, 2000)

    Embora sejam conhecidas as limitações de uma criança com deficiência visual, é necessária a identificação permanente das competências apresentadas pela criança envolvida em um programa de estimulação precoce, a fim de potencializar as capacidades emergentes durante seu processo de desenvolvimento. Segundo Leonhard (1992), a cada novo nível de desenvolvimento, uma capacidade emerge e é trabalhada pelo organismo. Para a autora, ao ser obtida, pode ser incorporada de forma crescente em uma estrutura de competência que contribuirá adiante para a autonomia da criança com deficiência visual.

    Para Carvalho & Mansur (2005), após o nascimento, desde o início do desenvolvimento, os primeiros gestos e movimentos de um bebê são motivados pelo estímulo visual. A deficiência visual caracteriza, portanto, uma condição limitante que influencia de forma substancial no interesse na exploração do ambiente, relações, interação e comunicação social.

    Nos primeiros meses de vida, evidencia-se que a comunicação do bebê com o ambiente que o cerca, está atrelada a manifestação corporal vivenciando e experimentando as relações, intimamente ligada às emoções e ao prazer. Para Morizot (1996) a corporeidade é a linguagem mais primitiva desse indivíduo, desde sua fase uterina.

    O ciclo evolutivo do desenvolvimento do ser humano inicia-se no momento da concepção, tendo continuidade após o nascimento, quando os órgãos e sistemas assumem suas funções no organismo. Na ausência de um dos sentidos, os demais remanescentes assumem grande importância para interação da criança com o mundo, construção de imagens e representações mentais.

    Neste contexto, outros recursos, como o sistema háptico (tato), auditivo,e uso da linguagem são postos como subsídios e têm um papel fundamental a fim de suprir tal carência, quando se trata de indivíduos com deficiência visual. Porém, para o pleno aproveitamento destes recursos, há necessidade de mediação do outro para relacionar-se com o meio, já que não dispõe do elemento interesse e motivação.

    Para Laplane e Batista (2008), a ausência da visão está atrelada ao desinteresse pelo ambiente, haja vista que com a deficiência visual a criança não dispõe de estímulo motivador para manejo dos objetos, suas formas, apreciação às cores, e em geral exploração do meio exterior.

    Segundo Leonhard (1992), além dos estímulos a que são submetidas em um programa de estimulação precoce, a família é capaz contribuir de forma complementar no desenvolvimento da criança cega valorizando e favorecendo a utilização das habilidades conquistadas e previamente reconhecidas pelos profissionais especializados, atuantes na estimulação precoce. Nesse sentido é importante que a família reforce o comportamento da criança quando a mesma atingir o objetivo esperado da tarefa proposta.

A participação ativa da família em programas de estimulação precoce

    Segundo Oliveira & Marques (2005), os pais podem exercer um papel fundamental no desenvolvimento geral da criança com deficiência visual, quando ajudados a perceber que sua criança é perceptiva, e que dispõe de habilidades de aprendizados e que necessariamente precisa do retorno e estimulação familiar desde os primeiros anos de vida.

    A motivação e participação ativa dos pais atrelados a um programa de estimulação precoce é um dos fatores que determinará o quanto a criança poderá potencializar suas habilidades através do desenvolvimento dos sentidos remanescentes, minimizando suas dificuldades e limitações.

    Estudos prévios ressaltam que crianças com deficiência visual submetidas a programas de estimulação precoce centrados na criança com participação da família mostrou-se mais eficaz que aqueles centrados somente na criança. (França-Freitas e Gil, 2012; Rossit, 1997; Breadariol, 1999).

    Torna-se necessária, portanto, a inserção da criança com deficiência visual em programas especializados para intervenção e mediação, além do envolvimento da família, para que juntos venham contribuir para que a criança com deficiência visual adquira as condições necessárias para o alcance da independência.

    Abaixo são apresentados os procedimentos oferecidos pelo Programa de Estimulação Precoce no Instituto Benjamin Constant à criança com deficiência visual e sua família. Ressalta-se que esta Instituição é referência do atendimento à criança com deficiência visual em âmbito nacional.

Dinâmica de atendimento do Programa de Estimulação Precoce do Instituto Benjamin Constant à criança com deficiência visual

    O Instituto Benjamin Constant é uma Instituição especializada na educação e na reabilitação de pessoas com deficiência visual. Nesta, foi criado em 1985, o Setor de Estimulação Precoce vinculado ao Departamento de Educação e à Divisão de Ensino, que se expressa sob a forma de atendimento educacional especializado à criança deficiente visual desde o nascimento até três anos e onze meses. O mesmo desenvolve um trabalho de cunho pedagógico e abordagem psicomotora, relevante para a estruturação do processo pleno da educação da criança com deficiência visual.

    Dentre os princípios norteadores desta prática pedagógica tem-se a presença das famílias nos atendimentos em grupo ou individualizado, como imprescindível para o alcance do desenvolvimento global da criança com deficiência visual através da conscientização dos responsáveis pelas possibilidades de avanços dos seus filhos.

    Os alunos são atendidos em grupos ou individualizados, comparecendo sistematicamente, com freqüência de uma vez por semana ao Setor de Estimulação Precoce e seus familiares recebem as orientações relacionadas ao desenvolvimento de seu filho.

    O trabalho conjunto entre professores, familiares e alunos, oferece um intercâmbio de informações aos presentes, à medida que se abrem caminhos nas diversas áreas do conhecimento: cognitiva, linguagem, psicomotora, independência e social.

    O trabalho psicomotor é realizado de modo que proporcione ao sujeito possibilidades de desenvolvimento mais próximo da normalidade, respeitando seu ritmo, tempo, suas características individuais e familiares. Essa exploração é realizada a partir de uma estimulação sensório-motora, dos sentidos remanescentes para as crianças cegas ou do resíduo visual para as crianças com baixa visão, orientação espaço-temporal e o reconhecimento das sensações que serão expressas pelas emoções. Emoções estas que estarão formando o pensamento e por sua vez serão traduzidas pela expressão da palavra.

    Para Bruno (1993), através do programa de estimulação precoce a criança cega aprenderá a imitar e a brincar, se encontrar pessoas disponíveis para interagir, com movimentos co-ativos, para que compreenda tátil-cinestesicamente a ação pelo contato físico.

    Trabalhando-se o indivíduo de forma global, evidencia-se a psicomotricidade como necessária para a exploração do potencial ativo de cada um.

    Torna-se essencial, para efetividade de um programa de estimulação precoce, que a família da criança com deficiência visual assuma uma participação ativa e que os profissionais envolvidos atentam para as necessidades individuais da cada criança envolvida na intervenção.

Considerações finais

    A elaboração de um programa de estimulação precoce, com ênfase na participação ativa dos pais durante todo o processo, possibilita um intercâmbio constante de informações durante as aulas, oportunizando avanços no desenvolvimento global das crianças com deficiência visual, inserindo-as no contexto escolar e social concomitantemente com sua família. A participação da família é um fator fundamental nesse processo, favorecendo resultados mais efetivos e fortalecendo o vínculo, imprescindível, para o desenvolvimento global da criança deficiente visual.

    A restrição de oportunidades de interação com o meio, atrelada a atitudes de superproteção adotadas pela família da criança com deficiência visual, resulta no excessivo cuidado e defesa e dificulta que a mesma possa se desenvolver efetivamente durante a intervenção.

    Ressalta-se a necessidade da participação efetiva da família em todas as etapas de intervenção como uma forma de complementar e necessária à intervenção profissional, a fim de contribuir para o desenvolvimento integral da criança com deficiência visual e obtenção da sua independência.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 203 | Buenos Aires, Abril de 2015
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados