Avaliação do estado de humor em atletas Evaluación del estado de humor en deportistas Assessment of mood states in athletes |
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*Acadêmica do curso de Educação Física. Bolsista do artigo 170 **Orientador da pesquisa. Mestre em Ciências do Movimento Humano – UDESC (Brasil) |
Bruna Esser Rocha* Altair Argentino Pereira Júnior** |
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Resumo: A síndrome do excesso de treinamento, também conhecida como SET ou overtraining, é um transtorno onde indivíduos realizam praticas esportivas de forma continua, mesmo com contra-indicações. O individuo diagnosticado com SET pode ter redução do desempenho, atlético, alterações metabólicas, entre outras. O objetivo desta pesquisa é verificar em atletas praticantes de atletismo a presença de sintomas de alteração do estado de humor e observar também a existência de alteração de humor durante o treinamento e competição. Para isso, foi acompanhando freqüentemente o treinamento de corredores de fundo e meio fundo da equipe de atletismo de Itajaí e realizado a aplicação da Escala de Humor de Brunnel, obteve-se dados sobre a existência de sintomas de alteração no estado de humor nos atletas, como antes da competição, apavorado, ansioso, tenso e pós a competição, cansado, exausto, esgotado. Unitermos: Desempenho desportivo. Estados de humor. Mensuração.
Abstract The overtraining syndrome, also known as SET or overtraining, is a disorder where people make sports practices continuously, even with contra indications. The individual diagnosed with SET can have reduced performance, athletic, metabolic disorders, among others. The objective of this research is to checkin athletes practiced athletics the presence of symptoms of change in mood and also observe the existence of mood change during training and competition. Therefore, it was often the accompanying training distance runners and a halfback of team performed at Itajai city and application of the Scale of Humor Brunnel, we obtained data on the existence of symptoms of change in mood in athletes as before the competition, scared, anxious, tense and after the competition, tired, exhausted. Keywords: Physical performance. Mood states. Measurament.
Recepção: 11/03/2015 - Aceitação: 28/03/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Hoje em dia tem-se uma grande preocupação com a saúde e forma física. Com atletas não deixa de ser diferente, porém grandes males podem comprometer o rendimento deste publico.
A síndrome do excesso de treinamento, também conhecida como SET ou overtraining, é um transtorno onde indivíduos realizam praticas esportivas de forma continua, mesmo com contra-indicações.
O individuo diagnosticado com SET pode ter redução do desempenho, atlético, alterações metabólicas entre outras que afetam uma considerável porcentagem de indivíduos envolvidos em programas de treinamentos intensivos, sendo que atletas de todos os níveis de performance podem desenvolver esta síndrome.
Entretanto mesmo sendo diagnosticas com SET muitos atletas se recusam a interromper seus treinamentos devido à cobrança de resultados e por sua própria busca de superar seus limites.
Observa-se que a dependência ao exercício e a SET estão associadas a uma época determinada e a valores culturais, uma vez que surgem de uma sociedade consumista, competitiva e onde o culto à imagem adquire uma grande importância, levando atletas e não atletas a excederem os limites de suas capacidades físicas e psicológicas (Adams e Kirkby, 1998).
Hoje em dia são poucas as equipes que possuem profissionais para acompanhar este quadro de atletas, talvez por isso não existam diagnósticos bem estabelecidos ou até mesmo pela falta de uma cultura que implique em uma avaliação sistemática e rotineira dos desportistas.
De acordo com Morris et al (1990), alguns corredores apresentavam sintomas de abstinência, tais como irritabilidade, ansiedade, depressão e sentimentos de culpa, quando eram impedidos de participar de suas rotinas de corridas regulares. Entre as evidências que fortalecem a hipótese da existência de dependência de exercício, encontram-se relatos de corredores sobre a interferência da prática regular de corrida no convívio familiar, social e no ambiente de trabalho (Sachs e Pargman, 1979).
Estudos apontam que o sintoma de abstinência é uma das principais características da dependência ao exercício físico que causa a sensação de desconforto, irritabilidade, ansiedade, alteração no estado do humor e depressão como conseqüência da supressão de um ou alguns dias de treinamento. Estas sensações desagradáveis parecem ser similares à síndrome de abstinência que grande parte das drogas causa, e possivelmente estão relacionadas à produção e dependência dos opióides endógenos (Rosa, Mello e Formigoni, 2003).
Diante da utilização de um instrumento que demonstre sensibilidade e especificidade na detecção da síndrome do excesso de treinamento, este artigo visa apresentar por meio da Escala de Humor de Brunel, a presença de sintomas de alteração do humor em praticantes de corrida.
Materiais e métodos
Foi realizado um estudo de caráter descritivo que segundo Gil (1994), tem como objetivo primordial à descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.
A pesquisa foi realizada na cidade de Itajai, com 30 atletas da Associação Comunidade de Atletismo, acompanhados treinamentos diários e competições dos mesmos.
Os treinamentos aconteciam de Segunda a Sábado, no Centro Poli Esportivo da cidade, tanto no período matutino quanto vespertino, porém somente alguns destes atletas treinavam em ambos os períodos.
Os critérios de inclusão da pesquisa serão: não possuir alterações neurológicas ou cognitivas e assinar termo de consentimento livre e esclarecido.
Utilizou-se como instrumentos da pesquisa, ficha de avaliação compostas por questões relacionadas aos dados sociodemográficos. E a Escala de Humor de Brunnel, que foi desenvolvida para medir o humor na população de adultos e adolescentes, esta é composta por 24 indicadores simples de humor, tais como, sensações de raiva, disposição, nervosismo, insatisfação, que são perceptíveis pelo indivíduo avaliado (Rohlfs, 2008) .
Os dados obtidos foram tabulados no Software Microsoft Excel, e categorizados de acordo com os instrumentos usados para coleta de dados, e apresentados na forma de gráficos e tabelas usando a estatística descritiva.
Resultados e discussão
Muitos dos atletas pesquisado eram de classe media baixa, e alguns iam sem a alimentação adequada para o treino, o que sem duvida ocasionavam mal estar durante os treinos.
As desordens alimentares comumente ocorrem como uma das conseqüências da dependência ao exercício, uma vez que o indivíduo faz dieta alimentar para perda de peso como meio de melhora do desempenho desportivo. A situação se agrava quando surge o consumo de esteróides e anabolizantes a fim de garantir essa melhora. O consumo destas sustâncias aumenta o risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do tamanho dos testículos e maior propensão ao câncer da próstata (Decoverley, 1987; Kanayama et al. 2003).
Haviam três atletas lesionados na equipe, o que nos chamou atenção pois mesmo lesionados, com contra indicação medica e até mesmo do treinador, não queriam deixar de participar dos treinamentos, então realizavam trabalhos no gramado, bicicleta ou academia, situações que o treinador tentava improvisar para não deixar este grupo de atletas ainda mais desanimados com a situação que se encontravam.
Inúmeros estudos têm demonstrado que o exercício físico pode produzir benefícios crônicos e agudos na saúde mental, mas as evidências sugerem que os exercícios realizados de maneira extrema podem resultar em dependência patológica (Ciappa, 2003). Para alguns indivíduos, o exercício pode tornar-se uma obsessão que tem sido referida na literatura como dependência ao exercício, compulsão por exercício, exercício obrigatório e tem recebido atenção dos pesquisadores desde a descrição desse fenômeno por Baekeland em 1970 (Baekeland, 1970; Kim, 2003).
A competição mais importante que foi acompanhada foi os Jogos Abertos de Santa Catarina, que aconteceu na cidade de Criciúma. Esta é considerada a maior competição esportiva de Santa Catarina, contando com a participação de 215 cidades com o envolvimento de aproximadamente 13 mil atletas, de varias idades e com as principais modalidades olímpicas, e por ser a mais importante do estado a um grande investimento das cidades para o resultado dessa competição, e por isso, mais responsabilidade aos atletas que participam da mesma.
Os resultados foram significantes em alguns aspectos como: Esgotado, Exausto, Inseguro, Preocupado e Cansado, onde o maior número de atletas responderam que estavam no nível máximo dos mesmos, pós treinamento.
Os dados que foram obtidos e que chamaram mais atenção pela divergência de resultados antes e pós treino respectivamente foram: Apavorado onde 15 atletas responderam estar moderadamente e 21 responderam nada; Ansioso onde 11 responderam pouco e 9 responderam nada; Inseguro onde 13 responderam nada e 9 extremamente; Tenso onde 8 atletas responderam moderadamente e 15 nada. A divergência entre estes aspectos deve-se ao fato que os atletas antes do treino não sabiam o que iriam realizar durante o mesmo por este motivo estavam apavorados, ansiosos, inseguros, tensos e após realização do treino já estavam sentindo-se com o dever comprido, e esses sentimentos acabaram diminuindo.
Para Ducasse (2009) o verdadeiro adversário, sabemos bem, não é o corredor da raia ao lado, nem o jogador do outro lado da rede, nem mesmo a bola que volta, mas a duvida, sentimento de estar tomado por problemas grandes de mais, sentimento profundo de não ser “puro” o suficiente para ganhar.
Em relação a está exausto 19 atletas responderam nada e 12 responderam bastante; Com Disposição 24 atletas responderam moderadamente e 6 nada; Com energia onde 13 atletas responderam moderadamente, 6 nada e 6 pouco; Cansado onde 16 atletas responderam nada, 12 responderam pouco e 6 extremamente; Esgotado onde 19 atletas responderam nada e 9 responderam extremamente. Estes resultados foram mais expressivos pós o treinamento, pois são fatores que aumentam com atividade física, como o cansaço e o esgotamento, já com disposição e com energia tiveram os resultados contrários. Isto se deve a exigência física de um trabalho de alto rendimento.
De acordo com Morris et al (1990), alguns corredores apresentavam sintomas de abstinência, tais como irritabilidade, ansiedade, depressão e sentimentos de culpa, quando eram impedidos de participar de suas rotinas de corridas regulares. Entre as evidências que fortalecem a hipótese da existência de dependência de exercício, encontram-se relatos de corredores sobre a interferência da prática regular de corrida no convívio familiar, social e no ambiente de trabalho (Sachs e Pargman, 1979). Rolf (1995), relata ser comum a existência de vários tipos de lesões músculo-esqueléticas e/ou demais complicações devidas a cargas excessivas de exercícios físicos, em indivíduos que praticam exercícios físicos com alta freqüência e/ou intensidade.
De acordo com Vargas (1982) a fadiga é adiado enquanto o jogador pode executar em que nível de preparação técnica e tática irá permitir. É importante saber que tipos de fadiga e de que estes terão uma maior importância em limitar o desempenho durante o treinamento e competição.
Conclusão
A síndrome do excesso de treinamento freqüentemente é observada em atletas que cumprem um programa de treinamento mal planejado, pode ser definida como um conjunto de sinais e sintomas em resposta a um desequilíbrio entre períodos de treinamento e de recuperação.
A utilização de questionários para a avaliação do perfil psicológico é uma ferramenta importante para avaliar o desequilíbrio entre a carga de treinamento e recuperação, e sua relação com o estado do SET.
Pode-se concluir então que a melhor forma de tratamento para a síndrome é a prevenção, um profissional de Educação Física, capacitado para planejar ciclos adequados de treinamento é fundamental para essa prevenção. Além disso, o auxilio de uma equipe multidisciplinar de fisiologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, e médicos é de grande importância para o acompanhamento individual destes atletas, na tentativa de aliar treinamento com bons resultados e saúde.
Os sintomas apresentados pelos atletas, após a execução da competição, evidenciam que a disputa em si ocasiona alterações físicas e psicológicas nos atletas, conforme observado no relato destes ao responder a Escala de Humor de Brunnel.
Referências
Adams, J., Kirkby, R.J. (1998). Exercise dependence: a review of its manifestation, theory and measurement. Sports Med Train Rehab, 8, 265-276.
Baekeland, F. (1970) Exercise deprivation. Sleep and psychological reactions. Arch Gen Psychiatry, 22, 365-9.
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Ciappa, K. E. (2003) Psychopathology and mood state changes in exercise. [dissertation] Hofstra University.
Decoverley Veale, D.M.W. (1987) Exercise dependence. Br J Addict, 82, 735-40.
Ducasse, F. (2009) Cabeça de campeão: como a psicologia forma vencedores no esporte e na vida. Rio de Janeiro: Casa da palavra.
Gil, A.C. (1994). Métodos e técnicas de pesquisa social. 4ed. São Paulo: Atlas.
Kim, A.J. (2003) Imagery use in dependent and non-dependent male weight lifters. [dissertation] University of Windsor. Canada.
Morgan, W.P. (1985) Affective beneficence of vigorous physical activity. Med Sci Sports Exerc, 17, 94-100.
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Nicoloff, G., Schwenk, T.S. (1995) Using exercise to ward off depression. Phys Sports med, 23, (9), 44-58.
North, T.C, Mccullagh, P, Tran, Z.V. (1990) Effect of exercise on depression. Exerc Sport Sci Rev, 18, 379-415.
Rosa, A.D., Mello, M.T., Formigoni, M.L.O.S. (2003) Dependência da prática de exercícios físicos: estudo com maratonistas brasileiros. Rev Bras Med do Esporte, 9, (1), 9-14.
Rohlfs, I.C.P.M. et al. (2008). A escala de Humor de Brunel (Brums): Instrumento para detecção precoce da Síndrome do Excesso de Treinamento. Rev Bras Med Esporte, 14, (3), 176-81.
Sachs, M., Pargman, D. (1979). Running addiction: a depth interview examination. Journal of Sport Behaviour, 2, 143-55.
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