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Análise sanguínea em esportistas adeptos e não 

adeptos a auto-hemoterapia em Montes Claros, MG

Análisis sanguíneo en deportistas que utilizan o no la auto-hemoterapia en Montes Claros, MG

Blood analysis of athletes that are users and non-users of self-hemotherapy in Montes Claros, MG

 

*Graduação em Biomedicina. Faculdades Integradas

do Norte de Minas. Instituto Ciências da Saúde.

**Doutor em Ciências da Saúde. Faculdades Integradas do Norte de Minas

Instituto Ciências da Saúde. Centro de Pesquisas

(Brasil)

Amanda Nataly de Souza Lima*

Suellen Alves Monteiro*

Valéria Couto Quintão*

Marcos Vinícius Macedo de Oliveira**

mvmoliv@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A auto-hemoterapia (AHT) é uma prática de uso clínico crescente e freqüentemente usada por esportistas que acreditam que ela proporciona um melhor desempenho físico em competições, e vem sendo também bastante usada por pessoas que acreditam que esta técnica estimula o sistema imunológico. O presente trabalho avaliou o hemograma e a detecção de Proteína C Reativa (PCR) de atletas adeptos e não adeptos à prática da AHT na cidade de Montes Claros, MG. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e transversal, de caráter quantitativo em que foram avaliados dados hematológicos do eritograma, leucograma e plaquetograma, bem como detecção da PCR em esportistas praticantes de AHT em Montes Claros, MG. Cinco adeptos e cinco não adeptos à técnica foram selecionados de um grupo de ciclistas para coleta de sangue periférico, bem como coleta de informações epidemiológicas. Os indivíduos não adeptos à prática tiveram elevações no leucograma e plaquetograma após atividade física, corroborando com a hipótese de efeito inflamatório causado pelo exercício físico. Houve relativo aumento de parâmetros leucocitários e plaquetários em ciclistas praticantes de auto-hemoterapia e não detecção da PCR em nenhuma das análises. Acredita-se que uma resposta inflamatória possa ser estimulada nos adeptos à AHT favorecendo uma maior produção leucocitária. Estudos prospectivos podem evidenciar achados relacionados ao efeito dessa terapia em indivíduos saudáveis.

          Unitermos: Ciclistas. Resposta aguda. Inflamação.

 

Abstract

          Auto-hemotherapy (AHT) is a practice of increasing clinical use and often used by athletes who believe it provides a better physical performance in competitions, and has been also widely used by people who believe that this technique stimulates the immune system. This study evaluated the hematology and the detection of C-reactive protein (CRP) of athletes and supporters not followers the practice of AHT in the city of Montes Claros, MG. This is an exploratory, descriptive and cross-sectional study of quantitative character in which hematologic data eritograma, WBC and platelet parameters and detection of PCR sportsmen AHT practitioners in Montes Claros, MG were evaluated. Five supporters and five non-technical enthusiasts were selected from a group of cyclists for collection of peripheral blood as well as collecting epidemiological information. Individuals not adept at practice had elevations in WBC and platelet parameters after physical activity, supporting the hypothesis inflammatory effect caused by exercise. There was a relative increase in platelet and leukocyte parameters practitioners cyclists autohemotherapy and not detecting any of PCR analysis. It is believed that an inflammatory response can be stimulated in AHT adept at achieving greater leukocyte production. Prospective studies may show related to the effect of this therapy in healthy subjects findings.

          Keywords: Cyclists. Acute response. Inflammation.

 

Recepção: 08/01/2015 - Aceitação: 15/03/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 203, Abril de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A auto-hemoterapia (AHT) é uma técnica de estimulação imunológica que consiste na utilização do sangue autólogo, retirado da veia e aplicado diretamente no músculo do indivíduo. A quantidade utilizada varia de 5 a 20 ml. (Okumoto, 2007). Existem relatos que a técnica foi iniciada no ano de 1831, publicada em um jornal de Medicina, que descrevia a técnica utilizada durante um procedimento cirúrgico feita por um médico italiano (Leite et al., 2008) mas foi na França, no ano de 1911, que a técnica passou a ser usada como terapia através do médico Francois Ravout, visando tratar a febre tifóide. Em 1938, com o objetivo de encontrar uma terapia eficaz para infecção, a auto-hemoterapia voltou a ser utilizada, ficando conhecida por toda a Europa até a década de 1950, quando começaram a surgir novos fármacos como os antibióticos (Moura, 2000).

    Como esta prática não tem ainda um nível reconhecido de evidência científica, não há pessoas capacitadas e treinadas para sua realização. A falta de conhecimento sobre o procedimento auto-hemoterápico gera desconhecimento sobre as indicações, contra-indicações, posologia, dosagem, interações medicamentosas, reações adversas, entre outras informações necessárias para seu uso terapêutico (Leite et al., 2008).

    Transfusões de sangue autólogo tem sido utilizado por atletas durante aproximadamente quatro décadas para melhorar o seu desempenho. Embora o método tenha sido proibido pelo Comitê Olímpico Internacional em meados de 1980, nenhum método de detecção direta, ainda não foi desenvolvido e implementado pela Agência Mundial Antidoping (Morkeberg, 2012).

    A adição de hemácias "extras" provoca uma redução compensatória no volume plasmático de modo a manter o mesmo volume sanguíneo inicial; entretanto, isso nem sempre ocorre. Os índices clínicos, hematócrito e hemoglobina, são capazes de avaliar a maior capacidade de transporte de oxigênio e as alterações da viscosidade sanguínea associadas com o volume "extra" de hemácias. A viscosidade aumenta a resistência vascular independentemente do diâmetro do vaso e isso requer uma contração cardíaca mais vigorosa para fazer circular o sangue (LEITE et al., 2008). A hemoconcentração resultante aumenta a concentração arterial de oxigênio (CaO2). Durante o pico de exercício físico, o envio de oxigênio (débito cardíaco Q X CaO2) a musculatura esquelética é aumentada, melhorando o consumo máximo de oxigênio (Monteiro & Sobral Filho, 2004).

    Essa técnica tem sido empregada para tratar lesões esportivas para possivelmente acelerar a cicatrização e regeneração. Este método oferece algum potencial, especialmente para os atletas. Os fatores de crescimento são geralmente proibidos pela Agência Mundial Antidoping (Schippinger et al., 2012).Alguns praticantes de esporte consideram a auto-hemoterapia como um “recurso ergogênico”, um procedimento ou agente que proporciona ao atleta um limite competitivo além do que seria conseguido através de métodos normais de treinamento (Sowka et al., 1996).

    O objetivo desta pesquisa foi de realizar a análise hematológica dos adeptos e não adeptos a técnica da auto-hemoterapia a fim de medir as variações das células sanguíneas antes e após a realização de atividade física.

Materiais e métodos

    Foi conduzido um estudo em atletas da modalidade de ciclismo na cidade de Montes Claros/MG com acompanhamento de profissional habilitado. As amostras foram obtidas através de coleta venosa de sangue periférico. Os atletas selecionados são praticantes de ciclismo há mais de 12 meses, não fazem uso de medicamento, e não apresentaram agravo à saúde no período da pesquisa. Participaram da pesquisa cinco atletas praticantes de auto-hemoterapia a mais de 1 ano. Eles utilizam 5 mL de sangue autólogo toda semana com intervalos de 7 dias. O sangue usado na prática é coletado por eles mesmos como também a aplicação. Para comparação, utilizamos amostras sanguíneas de cinco ciclistas não adeptos a auto-hemoterapia.

    As coletas foram feitas 60 minutos do início da atividade física, quando os participantes se encontravam em repouso, e imediatamente após um percurso ciclístico de 20 km, com intervalo de 10 minutos após a atividade física.

    Informações de idade, peso, hábito tabagista e atividade esportiva foram obtidas.

Procedimento técnico das análises hematológicas

    As amostras de sangue total foram analisadas pelo equipamento MICROS 60 obtendo-se as contagens hematimétricas de eritrócitos, leucócitos e plaquetas e os diferenciais celulares foram realizados através de esfregaço em lâminas coradas com o corante Leishman, sendo a lâmina coberta por 4 minutos com o corante e 6 minutos com água destilada. O diferenciais foram analisados em microscópio óptico em objetiva de imersão.

Procedimento técnico das análises imunohematológicas - PCR

    As amostras foram centrifugadas a 3500rpm por 10 minutos, na centrífuga CELM COMBATE, para separação do soro com os elementos figurados. O procedimento adotado foi aqueles descrito na bula do kit utilizado, sendo este o Biolatex PCR Bioclin do laboratório Quibasa Química Ltda.

Análises dos dados

    Os dados analisados foram descritos em tabelas permitindo a comparação entre os grupos de atletas avaliados.

Aspectos éticos

    Conforme a resolução número 466/2012, a pesquisa foi enviada para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos e aprovada conforme parecer sob nº 815.534/2014, no qual foi assegurada a confidencialidade das informações, sendo estas utilizadas exclusivamente para fins científicos.

Resultados e discussão

    Apenas homens participaram do estudo. Entre os dez indivíduos avaliados, a idade média foi de 31.5 ± 6.6 anos, variando entre 25 e 45 anos. Os ciclistas não adeptos tiveram idade média de 32.4 ± 7.0 anos (25-40 anos), e os adeptos, 37.8 ± 5.6 anos (30-45 anos). Em relação ao peso, a média do estudo foi de 76.8 ± 9.7kg, variando de 68 a 90kg. Entre os não adeptos, a média de peso foi 81.6 ± 11.5kg (68-90 kg), e entre os adeptos, 72.0 ± 4.5kg (69-80 kg). Todos os ciclistas percorrem semanalmente cerca de 50km. Não ficou evidenciada alterações expressivas nos índices hematimétricos em relação ao momento das coletas sanguíneas. Nenhum atleta apresentou valores no eritograma elevados de forma considerável.

    Na tabela 1 encontram-se as análises do eritogramados atletas em repouso. A média das hemoglobinas dos não adeptos foi de 14.2 g/dL, máxima de 15.2 g/dL e mínima de 13.1 g/dL. Já a média da hemoglobina nas amostras dos adeptos foi 14.30 g/dL, máxima de 15.,2 g/dL e mínima de 13.4 g/dL. Quanto à PCR, todas as amostras deram negativas. Observa-se que não houve variações significativas quanto ao resultado dos não adeptos e adeptos.

Tabela 1. Índices hematimétricos dos atletas analisados em repouso

    Na tabela 2 observam-se as análises hematimétricas para os ciclistas após a corrida. O exame da PCR foi novamente negativo em todos os atletas, como evidenciado em outro estudo (Markovitch et al., 2008). A média das hemoglobinas dos não adeptos foi 14.3 g/dL, máxima de 15.0 g/dL e mínima de 12,0 g/dL. Já a média da hemoglobina nas amostras dos adeptos foi 14.9 g/dL, máxima de 15.8 g/dL e a mínima de 14.0 g/dL. Houve um pequeno aumento dos valores hematimétricos dos adeptos mediante comparação com os resultados dos não adeptos, porém foram valores não diferentemente expressivos.

Tabela 2. Eritograma dos atletas analisados após percurso ciclístico

    Na tabela 3 observam-se os valores do leucograma dos atletas não adeptos e adeptos antes e após a atividade física. Observa-se que os atletas adeptos apresentaram índices leucocitários mais elevados em relação aos adeptos em ambos os momentos de coleta. Pequeno aumento foi verificado no leucograma após a atividade física. Acredita-se que a AHT possa estar exercendo inflamatório, no sentido de aumentar a produção leucocitária, mas sem atingir níveis não hemostáticos.O leucograma dos não adeptos não apresentou eosinófilos após atividade física indicando que no exercício de alta intensidade, após um período de recuperação de 30 minutos, o número de eosinófilos pode diminuir e essa queda pode perdurar por até três dias (Kendall et al., 1990). Já os adeptos tiveram um aumento expressivo dos eosinófilos, não chegando a uma eosofilia, porém os resultados demonstram que ao invés da taxa de eosinófilos caírem, elas aumentaram, o que poderá protegê-los contra possíveis infecções respiratórias, comuns em praticantes de ciclismo (Oliveira et al., 2002).

Tabela 3. Índices do leucogramados atletas analisados em repouso e após ciclístico

    Na tabela 4 estão descritos os valores do plaquetograma dos adeptos e não adeptos. Este exame demonstrou que o plaquetograma dos atletas adeptos estava aumentado em comparação aos do não adeptos no repouso. A AHT, em um possível efeito inflamatório, pode levar a produção de fatores plaquetários que também são pró-inflamatórios com o fator de necrose tumoral (TNF). Após atividade física, verifica-se aumento de plaquetas nos não adeptos a AHT e uma leve diminuição nos praticantes de AHT. Tal resultado pode representar um efeito próprio do exercício aeróbico vigoroso que estimula a produção a inflamação e agregação plaquetária (Coppola et al., 2005).

Tabela 4. Índices do plaquetogramados atletas não adeptos e adeptos

a auto hemoterapia analisados em repouso e após percurso ciclístico

Conclusão

    Os resultados deste estudo mostram certo aumento de parâmetros leucocitários e plaquetários em ciclistas praticantes de auto-hemoterapia. No entanto, este trabalho limita-se por não ter avaliação de mediadores inflamatórios que pudessem explicar efeitos biológicos do tratamento e estudos prospectivos podem evidenciar achados relacionados ao efeito dessa terapia em indivíduos saudáveis. Os indivíduos não adeptos à prática também tiveram elevações no leucograma e plaquetograma após atividade física, corroborando com a hipótese de efeito inflamatório causado pelo exercício físico.

Bibliografia

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