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Perfil de uma população portadora de artrite reumatóide

em um município do interior do Rio Grande do Sul

Características de una población portadora de artritis reumatoide en un municipio del interior de Río Grande do Sul

 

*Docente do curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo

Doutora em Geriatria e Gerontologia Biomédica – PUC-RS

**Acadêmico de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo – Bolsista Probic/FAPERGS

***Acadêmica de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo – Bolsista Pibic/CNPQ

****Acadêmica de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo – Bolsista Pibic/UPF

(Brasil)

Lia Mara Wibelinger*

Vinícius Dal Molin**

Rafaela Simon Myra***

Mariângela DeMarco****

liafisio@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: Artrite reumatóide (AR) é uma desordem auto-imune de etiologia desconhecida caracterizada pela ocorrência de vários episódios de processos inflamatórios reativos que podem afetar muitos tecidos e órgãos, mas que ataca principalmente as articulações. Devido à grande incidência, aos danos referentes à qualidade de vida e impacto econômico, acarretados por esta doença, torna-se necessário conhecer as características dos pacientes portadores da patologia. Metodologia: Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo de corte transversal. Foram avaliados prontuários de pacientes atendidos no Serviço de Fisioterapia Reumatológica da Universidade de Passo Fundo entre os anos 2011 e 2014. A amostra foi composta por todos os prontuários referentes à pacientes portadores de artrite reumatóide, sendo excluídos todos aqueles referentes a outras patologias reumáticas, totalizando 47 fichas avaliadas. Resultados: a amostra foi caracterizada por mulheres com idade entre 60 e 69 anos, que possuem apenas o primeiro grau, sendo a maioria aposentada.

          Unitermos: Artrite reumatóide. Fisioterapia. Reumatologia.

 

Abstract

          Introduction: Rheumatoid arthritis (RA) is an autoimmune disorder of unknown origin, characterized by several episodes of reactive inflammatory processes that may affect tissues and organs, but principally attacks joints. Due to a high incidence, the damages on quality of life and the economic impact posed by this disease, it's necessary to know the patient's characteristics with this pathology. Aim: Characterize the population with rheumatoid arthritis. Methodology: This is a quantitative, descriptive and cross-sectional study. Medical records of patients were evaluated in the Rheumatological Physiotherapy service of the Universidade de Passo Fundo between 2011 and 2014. The sample was composed of all records relating to rheumatoid arthritis patients, and excluded those regarding to other rheumatic pathologies, totaling 47 records evaluated. Results: the sample was characterized by women aged between 60 and 69 years, who have only the first degree, most retired.

          Keywords: Rheumatoid arthritis. Physical therapy. Rheumatology.

 

Recepção: 21/05/2014 - Aceitação: 29/10/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Artrite reumatóide (AR) é uma desordem auto-imune de etiologia desconhecida caracterizada pela ocorrência de vários episódios de processos inflamatórios reativos que podem afetar muitos tecidos e órgãos – pele, vasos sangüíneos, coração, pulmões e músculos – mas que ataca principalmente as articulações (preferencialmente articulações periféricas e esqueleto axial), produzindo uma sinovite proliferativa não supurativa que progride freqüentemente para a destruição da cartilagem articular e anquilose das articulações.1-4

    Dados de um estudo brasileiro de pacientes com AR inicial sugerem que a apresentação clínica mais comum seja a poliartrite aguda (70%) com sinovite persistente nas mãos (91%) e rigidez matinal prolongada (mais de 2 horas). A rigidez matinal pode ser o sintoma inicial e costuma ser um indício de doença ativa. As articulações interfalangianas proximais e metacarpofalangianas são acometidas em mais de 90% dos casos.5 A prevalência da doença é estimada em 0,5% – 1% da população, com predomínio em mulheres e maior incidência na faixa etária de 30–50 anos.6,7

    O caráter crônico e destrutivo da doença pode levar a importante limitação funcional, com perda de capacidade laboral e de qualidade de vida, a menos que o diagnostico seja feito em fase inicial da doença e o tratamento determine melhora clínica.8 Têm sido relatado que os pacientes deixam de trabalhar 20 anos antes do que se espera na sua idade e que apresentam grandes prejuízos na qualidade de vida.9, 10

    Além de deformidade irreversível e de limitação funcional, pacientes com AR e doença avançada podem apresentar menor sobrevida, o que confirma a gravidade dessa doença.11,12

    Além disso, os custos relacionados à doença são elevados, o que decorre tanto de fatores diretos (gastos com diversos medicamentos, alguns deles de alto custo, como as drogas biológicas, além de despesas médicas e hospitalares) quanto indiretos (perda da produtividade pessoal, absenteismo e pagamento de aposentadorias por invalidez, para aqueles com perda total da capacidade laboral).13

    Assim, devido à grande incidência, aos danos referentes à qualidade de vida e impacto econômico, acarretados por esta doença, torna-se necessário conhecer as características dos pacientes portadores da patologia. Desta forma, este estudo se propõe à analizar o perfil de uma população portadora de artrite reumatóide atendida no Serviço de Fisioterapia Reumatológica de uma universidade do interior do Rio Grande do Sul.

Metodologia

    Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo de corte transversal. Foram avaliados prontuários de pacientes atendidos no Serviço de Fisioterapia Reumatológica da Universidade de Passo Fundo entre os anos 2011 e 2014.

    A amostra foi composta por todos os prontuários referentes a pacientes portadores de artrite reumatóide, sendo excluídos todos aqueles referentes a outras patologias reumáticas, totalizando 47 prontuários de avaliação .

    Os dados extraídos dos prontuários avaliados neste estudo foram os seguintes: gênero, idade, escolaridade, profissão, queixa principal, uso de medicamentos, tipo de medicamento usado, presença de doença associada, quais são as doenças associadas e história de doença reumática na família. Os dados foram avaliados a fim de se estabelecer a caracterização da população estudada.

    Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Passo Fundo sob parecer número 091.2011.

Resultados

    A amostra foi caracterizada por mulheres com idade entre 60 e 69 anos, que possuem apenas o primeiro grau, sendo a maioria aposentada.

    A queixa principal mais relevante foi a dor.

    A grande maioria faz uso de medicamentos.

    A grande maioria dos pacientes tinham doenças associadas, sendo a hipertensão arterial sistêmica a mais freqüente. Além disso, 10 pacientes (21,27%) são acometidos de mais de uma doença associada.

    Histórico de doenças reumáticas na família se apresentou na maior parte da amostra.

Discussão dos resultados

    Coincidindo com as características de gênero desta pesquisa, onde 44 (93,62%) dos indivíduos questionados são do sexo feminino, outra pesquisa realizada por Junior et al (2007), afirma que esta é a população mais afetada pela patologia. O estudo destes autores foi baseado em uma revisão retrospectiva de características sociodemográficas e clínicas de 1.381 prontuários disponíveis de pacientes com diagnóstico de artrite reumatóide em acompanhamento ambulatorial no Estado de São Paulo, Brasil, revelando que 1.184 (86%) dos pacientes eram mulheres. Reafirmando esta evidência, em um estudo realizado com 80 pacientes, a fim de avaliar as mudanças do perfil lipídico durante um tratamento utilizando corticosteróides na AR, mostra que 62 dos participantes são do sexo feminino (PETERS et al, 2007).

    Em estudo realizado com 53 pacientes, a fim de avaliar o impacto da AR sobre a capacidade funcional para o trabalho e a qualidade de vida relacionada com a saúde, a idade média dos pacientes foi de 51,9 anos (CORBACHO E DAPUETO, 2010). Esses dados vem ao encontro deste estudo, uma vez que a maior parte da amostra desta pesquisa é composta por pacientes na faixa etária entre 50 - 59 e 60 - 69 anos. Já no estudo de Junior et. al, 2007, citado anteriormente, 55% dos avaliados tinham idade entre 40 e 50 anos, diferindo dos dados encontrados nesta pesquisa.

    Quanto à atividade profissional, este estudo demonstrou que a grande maioria desempenhava apenas trabalhos domésticos ou eram aposentados, totalizando 51,05% incluídos nestas duas situações o que vai ao encontro à outros estudos que indicam que a maioria dos avaliados encontra-se afastados do emprego ou aposentados (JUNIOR et al 2007). O fato de a maioria dos indivíduos do nosso estudo estarem aposentados ou apenas realizando trabalho doméstico pode se dar pelo fato de a maior parte deles apresentarem baixo nível cultural além de pertencerem a classes sociais economicamente achatadas.

    Dados evidenciados nesta pesquisa mostram que 97,87% da amostra total apresentavam dor, podendo esta ser fator limitante das atividades de vida diárias e laborativas, como foi apresentado em 12,76% dos pacientes. Devido à dor, ocorre o declínio na qualidade de vida em grande parte desses indivíduos, tanto na sua dimensão do bem-estar físico quanto no emocional.

    Dessa forma, como a maior parte dos pacientes apresentam dor intensa, há a necessidade de medidas analgésicas mais específicas, uma vez que se trata de uma doença na qual o tratamento da dor é considerado como parte do tratamento de remitência (CORBACHO; DAPUETO; 2010). Porém, ao contrário do esperado, o uso de analgésicos não sobressai os demais medicamentos, uma vez que os hipotensores foram os mais utilizados pela amostra analizada (27,65%).

    A presença de processo inflamatório crônico resulta no surgimento precoce de aterosclerose. Com base nos dados analizados neste estudo, verificou-se a prevalência de doenças associadas, sendo a hipertensão arterial sistêmica (HAS) a mais freqüente (34,04%). Esta, por sua vez, constitui fator de risco para o desenvolvimento de doença arterial coronariana, aumentando a mortalidade em pacientes com AR (BRENOL, 2007).

    No que se refere ao histórico familiar de doença reumática, encontramos 76,59% dos pacientes com este histórico em familiares de primeiro grau, porém, a hereditariedade não é comprovada cientificamente como causadora desta patologia.

    Segundo Fellet e Scotton (2004), a distribuição populacional da artrite reumatóide parece ser aleatória. As considerações de ordem genética,ainda discutidas, surgem da ocorrência por vezes familiar. Há um aumento na prevalência da patologia em parentes de primeiro grau de portador de AR, além de um risco aumentado em 30 vezes em gêmeos monozigóticos. Enquanto em gêmeos dizigóticos e irmãos não gêmeos o risco é de cerca de seis vezes em relação ao grupo-controle.

Conclusão

    Por fim, o estudo mostrou que a população portadora de artrite reumatóide foi caracterizada como predominantemente feminina, faixa etária entre 60-69 anos, com baixa escolaridade e renda. A maior queixa apresentada foi a dor. A patologia associada mais predominante foi a hipertensão arterial sendo os hipotensores os medicamentos mais usados. Ainda, a grande maioria apresentou histórico familiar de doença reumática.

Referências bibliográficas

  1. MOTA LM, CRUZ BA, Brenol CV, Pereira IA, Rezende-Fronza LS, Bertolo MB, et al. Brazilian Society of Rheumatology Consensus for the treatment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol. 2012 Mar-Apr; 52(2):152-74.

  2. da Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Fronza LS, Bertolo MB, et al. Consensus of the Brazilian Society of Rheumatology for diagnosis and early assessment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol. 2011 May-Jun; 51(3):199-219.

  3. Senna ER, De Barros AL, Silva EO, Costa IF, Pereira LV, Ciconelli RM, et al. Prevalence of rheumatic diseases in Brazil: a study using the COPCORD approach. J Rheumatol. 2004 Mar; 31(3):594-7.

  4. Marques-Neto J, Gonçalves E, Langen L, Cunha M, Radominski S, Oliveira S. Multicentric study of the prevalence of adult rheumatoid arthritis in Brazilian population samples. Rev Bras Reumatol. 1993;33:169-73.

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  6. Alamanos Y, Voulgari PV, Drosos AA. Incidence and prevalence of rheumatoid arthritis, based on the 1987 American College of Rheumatology criteria: a systematic review. Semin Arthritis Rheum 2006; 36(3):182–8.

  7. Marques-Neto JF, Goncalves ET, Langen LFOB, Cunha MFL, Radominski S, Oliveira SM et al. Multicentric study of the prevalence of adult rheumatoid arthritis in Brazilian population samples. Rev Bras Reumatol 1993; 33:169–73.

  8. Verstappen SM, van Albada-Kuipers GA, Bijlsma JW, Blaauw AA, Schenk Y, Haanen HC et al. A good response to early DMARD treatment of patients with rheumatoid arthritis in the first year predicts remission during follow up. Ann Rheum Dis 2005; 64(1):38–43.

  9. Woolf A, Pfleger B. Burden of mayor musculoskeletal conditions. Bulletin of the World Health Organization 2003; 81(9).

  10. Van Riel P, Shumacher H. How does one assess early rheumatoid arthritis in daily clinical practice? Best Pract Res Clin Rheumatol 2001; 15(1):67-76.

  11. Chehata JC, Hassell AB, Clarke SA, Mattey DL, Jones MA, Jones PW et al. Mortality in rheumatoid arthritis: relationship to single and composite measures of disease activity. Rheumatology 2001; 40(4):447–52.

  12. da Mota LM, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Fronza LS, Bertolo MB et al. 2011. Consensus of the Brazilian Society of Rheumatology for diagnosis and early assessment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol 2011; 51(3): 199–219.

  13. de Azevedo AB, Ferraz MB, Ciconelli RM. Indirect costs of rheumatoid arthritis in Brazil. Value Health 2008; 11(5): 869–77.

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