O papel da Educação Física na inclusão de pessoas com deficiência El rol de la Educación Física en la inclusión de personas con discapacidad |
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Graduada em Normal Superior e Pós Graduada em Orientação e Supervisão Aluna do curso de Pós Graduação Lato Senso em Esportes e Atividades Inclusivas para Pessoas com Deficiência da Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, MG (Brasil) |
Valéria Cristina Santos Silva* Júlia Reyes |
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Resumo Tem-se como objetivo promover uma reflexão sobre a importância da Educação Física para o processo educativo das pessoas com deficiência. A fim de alcançar esse propósito, foi adotado como procedimento metodológico o referencial bibliográfico e um trabalho de campo (pautado em uma observação) com uma aluna com deficiência mental do 6º ano do Ensino Fundamental, matriculada numa escola da rede pública estadual situada no município de São João del-Rei (MG), a fim de subsidiar as considerações aqui expostas. A partir das observações realizadas pode-se inferir que o discurso acerca da inclusão de pessoas com deficiência na escola, no trabalho e nos espaços sociais em geral tem-se propagado rapidamente entre educadores, familiares, líderes e dirigentes políticos, nas entidades, nos meios de comunicação etc. Isto não quer dizer que a inserção de todos nos diversos setores da sociedade seja prática corrente ou uma realidade já dada. As políticas públicas de atenção a este segmento geralmente estão circunscritas ao tripé educação, saúde e assistência social, sendo que os demais aspectos costumam ser negligenciados. Precisamos mudar esta prática excludente e passar a trabalhar com uma postura acolhedora. Para que ocorra esta mudança acolhedora, deve-se repensar Educação Física, trabalhar para que a mesma acolha a todos sem distinção, e para que isto aconteça o primeiro passo seria abandonar conceitos e metodologias padronizadas que distinguem os grupos de alunos que adoram as aulas de Educação Física dos outros grupos frustrados e amedrontados, incapazes de realizar uma determinada atividade com gestos técnicos minuciosamente estabelecidos condicionados e imutáveis. Devemos então repensar esta postura pedagógica passando a trabalhar pelo e para o aluno. Unitermos: Educação Física. Inclusão. Deficiência mental.
Abstract Has the objective of promoting a reflection on the importance of physical education to the education of persons with disabilities. To achieve this purpose, a methodological procedure was adopted as the bibliographic references and field work (guided by a note) with a student with mental disabilities in the 6th year of elementary school, enrolled in a school of public schools in the municipality of São João del-Rei (MG), in order to subsidize those considerations here. From the observations we can infer that the discourse about the inclusion of people with disabilities in school, work and social spaces in general, has rapidly spread among educators, families, leaders and political leaders, the entities in media etc. This is not to say that the inclusion of all the various sectors of society to be normal practice or a reality already given. Public policy attention to this segment generally are confined to the tripod education, health and social care, and other aspects are often neglected. We need to change this exclusionary practice and go to work with a welcoming attitude. For this welcoming change occurs, must now rethink Physical Education, working for the same welcome to all without distinction, and for that to happen the first step would be to abandon standardized methodologies and concepts that distinguish the groups of students who worship the Physical Education classes (gifted physically) of others frustrated and frightened groups, unable to perform a certain activity with technicalities thoroughly established conditioned and immutable. We should then rethink this pedagogical stance going to work by and for students. Keywords: Physical Education. Inclusion. Mental deficiency.
Recepção: 08/12/2014 - Aceitação: 09/02/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Para que a inclusão das pessoas com deficiência aconteça é preciso ocorrer pequenas e grandes transformações, tanto na mentalidade das pessoas quanto no espaço físico em que elas estão inseridas. Assim, o trabalho com a atividade física precisa ser voltado para a valorização da autoimagem e da autoconfiança para que se desenvolva na pessoa com deficiência a autonomia para estabelecer um convívio social de respeito.
Partindo da importância da inclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar daremos destaque no estudo ao papel da educação física. O professor de Educação Física poderá contribuir para que a inclusão aconteça na escola? Analisaremos através de observação feita em escola regular.
Historicamente e socialmente falando a escola é considerado um local responsável por organizar e oferecer espaços para elaboração de conhecimentos e aquisição de saberes.
Assim é de suma importância que os direitos das pessoas com deficiência sejam reconhecidos e as oportunidades sejam ofertadas a todas as pessoas, incluindo aquelas com necessidades educacionais especiais.
A fim de alcançar o objetivo acima destacado, buscou-se um referencial bibliográfico e um trabalho de campo com uma aluna com Deficiência Mental do 6º ano de uma escola da rede pública estadual do município de São João del-Rei (MG), a fim de subsidiar as considerações ora expostas.
2. Desenvolvimento
2.1. O papel da Educação Física no processo educativo
A Educação Física é uma disciplina que fomenta mudanças na aprendizagem, pois estimula a cultura de movimentos.
A Educação Física é uma disciplina que foi estudada nos ramos da didática e da pedagogia, porém, muitos desafios pedagógicos ainda permanecem no contexto da escola. Através da observação de aulas em escolas públicas, ainda é possível ver que muito pouco é feito na direção de alguma mudança mais significativa na maneira de ensinar. Segundo Makiguti (1994, p. 39):
[...] Infelizmente, os efeitos da intoxicação psicológica nas crianças, causada pela aprendizagem forçada de conteúdos incompreensíveis, não são percebidos de imediato. Por isto, as conseqüências perniciosas desse processo não são reconhecidas. A situação é séria, mas, ao pesquisarmos as causas do problema, defrontamo-nos com um paradoxo: professores e pais acreditam estarem colaborando com o futuro bem-estar das crianças, apesar de as tornarem infelizes durante o processo a escola que sacrifica a felicidade presente da criança e faz da felicidade futura seu objetivo violenta a personalidade infantil e o processo de aprendizagem propriamente dito.
Um dos motivos para não estar ocorrendo o desencadeamento de mudanças pode ser o fato de os próprios educadores se oporem a novas dinâmicas, parecendo que a forma tradicional/tecnicista ainda é o jeito "mais fácil" de ensinar. Vários outros fatores poderiam ser citados, mas, como objeto deste estudo, destacaremos os conteúdos de ensino, que segundo Libâneo (1985, p. 39) [...] são realidades exteriores ao aluno que devem ser assimilados e não simplesmente reinventados, eles não são fechados e refratários às realidades sociais".
Enquanto estes forem trabalhados de uma maneira tradicional pré-estabelecida, em que os saberes dos alunos não são considerados para o planejamento, considerando muitas vezes apenas o desenvolvimento da aptidão física do indivíduo (embora muitas das vezes sem um real ganho para a saúde do praticante), estar-se-á contribuindo, cada vez mais, para a adaptação passiva do homem à sociedade, alienando-o da sua condição de sujeito histórico, capaz de interferir na transformação da mesma.
No plano social, desde cedo a criança aprende a competir, a perder e a vencer, além de experimentar o espírito da coletividade, e todas as diferenças devem ser respeitadas. Portanto, a Educação Física Escolar deixa de cumprir apenas o seu aspecto pedagógico, transcende a mera recreação e passa a influir decisivamente na prevenção de doenças, na melhoria da qualidade de vida e na sociabilização e inclusão dos jovens.
2.2. Caracterizando a Deficiência Mental
Também denominada Encefalopatia Crônica da Infância (Figura 1), apresenta um grupo de sintomas incapacitantes permanentes, resultantes de danos nas áreas do cérebro responsáveis pelo controle motor. É um problema não progressivo. Ocorre em 10 a 30 % dos pacientes, sendo a forma mais encontrada em prematuros.
Figura 1. Esquema demonstrativo sobre a Deficiência Mental
Fonte: CASTRO (2014, p. 01)
Trata-se, conforme apresenta o esquema acima, de um comprometimento dos membros inferiores, comumente evidenciando uma acentuada hipertonia dos adutores, que configura em alguns doentes o aspecto semiológico denominado síndrome de Little (postura com cruzamento dos membros inferiores e marcha "em tesoura").
Há diferentes gradações quanto à intensidade do distúrbio, podendo ser pouco afetado (tendo recuperação e bom prognóstico - adaptam-se à vida diária); enquanto outros evoluem mal com graves limitações funcionais. Os dados semiológicos são muito variáveis. No 1º ano de vida, a criança apresenta-se hipotônica, evoluindo gradativamente para uma outra fase em que se observa um quadro de distonia intermitente, com tendência ao opistótono quando estimulada.
Nos casos mais graves a criança pode permanecer num destes estágios por toda a sua vida, porém geralmente passa a exibir hipertonia espástica, inicialmente extensora e, finalmente, com graves retrações semiflexoras podendo variar desde os severos (incapacidade total de controlar os movimentos corporais), até os mais leves (somente uma pequena dificuldade na fala). Costuma vir acompanhada de lesões em outras áreas e por isso é muitas vezes considerada uma deficiência múltipla.
Nesta onda de discussões sobre as individualidades, a idéia de inclusão social e escolar da pessoa com deficiência está na pauta do dia. Deste modo, inclusão é um termo bastante difundido, mas o seu significado, freqüentemente, dilui-se no contexto do discurso “politicamente correto”, que defende, às vezes de modo ingênuo, a educação e a sociedade inclusivas.
É necessário, segundo Teodósio (2003), analisar se a idéia de “sociedade inclusiva” está centrada em um conceito abstrato de sociedade, ou seja, aquele que deixa de considerar os determinantes histórico-culturais que podem induzir à construção de discursos democratizantes e práticas excludentes.
O grupo de alunos com deficiência mental (DM) não se constitui em um grupo homogêneo, pois apresentam diferentes características e não basta um simples diagnóstico para a sua correta identificação.
A pessoa com deficiência, ao longo da história da humanidade, foi tratada de diferentes formas. Na antiga Grécia, a beleza e a perfeição eram cultuadas e também era bastante considerada para o convívio em sociedade. Portanto, quando nascia uma pessoa com deficiência, era eliminada por abandono ou atirada em cadeia. Conforme Rocha (2004, p. 18) [...] até o século XV, na Roma Antiga, crianças que nasciam com deformidades físicas eram jogadas em esgotos; em Esparta crianças portadoras de deficiência eram abandonadas e expostas à morte por negligência e exclusão social. Somente no século XVII é que os dogmas religiosos começaram a ser questionados pelas conquistas no campo científico. A medicina verificou que as deficiências eram resultados de lesões e disfunções no organismo e passou a estudar vários casos de deficiências, segundo aponta Rocha (2004).
A Revolução Industrial, com sua grande necessidade de mão-de-obra alavancou o exercício da cidadania dessas pessoas. A partir do final do século XIX e início do século XX, de acordo com Rocha (2004), foram criadas instituições para deficientes mentais moderados e profundos, mas no sentido de contornar o transtorno e incômodo supostamente ocasionado por eles, pois a pessoa com deficiência pertencia a um grupo diferenciado, que necessitava de atenção especializada e muitas pessoas com deficiência eram segregadas no próprio ambiente familiar.
Na Conferência Mundial sobre Educação para Necessidades Especiais: Acesso e Qualidade, realizada em Salamanca, Espanha, em 1994, dirigentes de mais de oitenta países se reúnem e assinam a Declaração de Salamanca. Este é um dos mais importantes documentos de garantia de direitos educacionais reafirmando o compromisso de uma Educação para Todos. Esta declaração também reforça a importância da profissionalização de pessoas com deficiência: “[...] os jovens com necessidades especiais devem receber ajuda para fazer uma eficaz transição da escola para a vida adulta produtiva.” (FENAPAES, 2007, p. 31).
A vida cotidiana, em especial o mercado de trabalho, ainda hoje mantém muitos preconceitos, devido a fatores como, por exemplo, a aceitação de profissionais que apresentem alguma deficiência. A vida cotidiana é heterogênea e hierárquica, e os homens e mulheres já nascem inserido em uma cultura que muitas vezes possui valores e posturas que nem sempre contribui para o crescimento dos indivíduos. Porém, com o amadurecimento, as pessoas com deficiência tem a possibilidade de adquirir as habilidades para viver em sociedade e se colocar como um ser atuante e capaz de desenvolver uma atividade profissional, por exemplo, independente de ser ou não uma pessoa com deficiência.
É, preciso, porém, que o grupo em que ele está inserido respeite seus limites e ajude-o a desenvolver suas habilidades. Quando esse grupo faz com que as pessoas com deficiências sejam privadas deste convívio, promovem a exclusão por causa das suas diferenças e limitações. (SASSAKI, 1997)
A inclusão rompe com os paradigmas que sustentam o conservadorismo das escolas, contestando os sistemas educacionais em seus fundamentos. Ela questiona a fixação de modelos ideais, a normalização de perfis específicos de alunos e a seleção dos eleitos para freqüentar as escolas, produzindo, com isso, identidades e diferenças, inserção e/ou exclusão. A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas.
Em sala de aula ou espaços utilizados, por exemplo, para a prática da Educação Física, o professor avalia como o aluno se relaciona com o conhecimento e com seu corpo, como ele responde às solicitações do professor, se ele manifesta atitude de dependência ou autonomia e se é necessário o uso de recursos, equipamentos e materiais para acessibilidade ao conhecimento.
As limitações intelectuais interferem de maneira substancial: na aprendizagem; na execução de determinadas atividades da vida diária; no contexto familiar, escolar e social. O aluno com DM exige um trabalho sistematizado, contínuo e requer um período mais longo para aquisição da aprendizagem.
Algumas dicas podem ser apresentadas como medidas de intervenção para o trabalho pedagógico com o aluno deficiente mental. São elas: evitar comparações com os demais alunos; cobrar do aluno a execução das tarefas que lhe forem atribuídas; evitar a repetição constante de produções errôneas ou incompletas e sim dar-lhe condições para a autocorreção; encorajá-lo a aprender de forma independente.
2.3. Sobre o processo de inclusão escolar
O capítulo V da Educação Especial, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 (BRASIL, 1996) lança, tanto para a escola como para toda sociedade, um desafio muito grande no que se refere à Inclusão. Falamos em sociedade, pois a escola está inserida em um contexto social que modifica com o desenvolvimento de sua gente, de sua tecnologia, de sua ciência, envolvidos em uma estrutura globalizada. Quanto mais sistemas comuns da sociedade adotarem a inclusão, mais cedo se completará a construção de uma verdadeira sociedade para todos - a sociedade inclusiva. O ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento. Estas exigências requererem da própria sociedade uma nova estrutura, um novo conceito em relação à formação do futuro cidadão e uma visão renovada de seus conceitos e pré-conceitos com relação ao diferente.
Portanto, reconhecer as diferenças é essencial no caminho da integração e, principalmente, da Inclusão. Oferecer um ambiente favorável à Inclusão, não é só ter conhecimento das mais variadas diversidades, como também e principalmente, respeitar os indivíduos em suas limitações, reconhecendo suas diferenças e ressaltando suas potencialidades.
O discurso acerca da inclusão de pessoas com deficiência na escola, no trabalho e nos espaços sociais em geral (em especial, pessoa com deficiência mental), tem-se propagado rapidamente entre educadores, familiares, líderes e dirigentes políticos, nas entidades, nos meios de comunicação etc. Isto não quer dizer que a inserção de todos nos diversos setores da sociedade seja prática corrente ou uma realidade já dada. Segundo Werneck (2001, p. 56):
A educação destas pessoas tem sido objeto de inquietações e constitui um sistema paralelo de instituições e serviços especializados no qual a inclusão escolar desponta como um ideal utópico e inviável. A saúde limita-se à medicalização e patologização da deficiência ou à reabilitação compreendida basicamente como concessão de órteses e próteses. A assistência social traduz-se na distribuição de benefícios e de parcos recursos, em um contexto de miséria e de privações, no qual impera a concorrência do assistencialismo e da filantropia.
Em cada um destes setores, o foco do atendimento privilegia uma certa dimensão do contexto de vida familiar, comunitário e social. Para a educação, o sujeito com deficiência é um aluno, cujas necessidades específicas demandam recursos, equipamentos e níveis de especialização definidos de acordo com a condição física, sensorial ou mental.
No âmbito da saúde, o mesmo aluno é tratado como "paciente", sujeito a intervenções tardias e de cunho curativo, enquanto no campo da assistência social ele é um "beneficiário" desprovido de recursos essenciais à sua sobrevivência e sujeito a formas de concessão de benefícios temporários ou permanentes de caráter restritivo. O que se observa, nestes setores, são ações isoladas e simbólicas ao lado de um conjunto de leis, projetos e iniciativas insipientes e desarticuladas entre as diversas instâncias do poder público.
Em todos os casos, percebemos uma concepção de sujeito fragmentado, incompleto sem a necessária incorporação das múltiplas dimensões da vida humana. Existe uma teia de contradições e um fosso entre o discurso e a ação, pois o mundo continua representado pelo "nós, os ditos normais" e "eles", as pessoas com deficiência. Tais observações podem parecer pouco otimistas e talvez o sejam por representarem a perspectiva de quem tem a experiência da exclusão atravessada nas cenas do quotidiano e nos descaminhos da própria existência. (SASSAKI, 1997)
Repensar significa poder refletir, retroceder e reformular idéias que pareciam concretizadas, eis aí o que significa aprender. Poder construir e reconstruir conhecimentos que levarão a novas descobertas e é o novo que nos faz continuar, que leva a ânsia de caminhar ao encontro do que possa contribuir para o crescimento.
Desta forma a experiência de muitos como educadores deve levar a repensar algumas posturas, hábitos e atitudes de uma educação convencional que esta enraizada, e que por diversas vezes não permite trocar “idéias” com os alunos, se resumindo apenas em transmitir instruções.
O fato de um educador permitir reconhecer o erro sobre a sua metodologia, querer mudar e buscar outras formas de trabalho, certamente levará o mesmo a melhorar o relacionamento professor-aluno. Descobrindo assim que devemos aprender para ensinar, que a Educação Física significa viver o movimento, conhecê-lo e redescobri-lo.
Oportunizando conhecer-se a si mesmo de modo a estimular o potencial existente em cada ser, contribuindo assim para que o mesmo possa ocupar o seu papel na sociedade, um papel de sujeito ativo que pensa e age através de todas as formas de expressão. Dentre elas, está a corporal, tão exercida na fase infantil e por vezes negada na vida adulta.
2.4. Relatório de observação
A observação aconteceu numa escola da rede estadual de São João del-Rei (MG), durante as aulas de Educação Física, no período de duas semanas no mês de setembro e outubro de 2014.
A aluna M (idade de 14 anos), possui um quadro de transtorno de comportamento, deficiência mental, mais Paralisia Cerebral do tipo Diplegia Espástica moderada. A referida aluna faz uso de anticonvulsivante e não tem controle vesical.
A aluna conta com a ajuda de uma professora apoio que a auxilia nas atividades propostas pelos professores em sala de aula e fora dela. Observamos que a aluna é alegre e gosta de participar efetivamente dos eventos promovidos na escola como: festa junina, festa da família e outros.
Percebemos que a aluna é bem aceita na escola por parte dos funcionários e dos colegas que estão sempre por perto conversando e ajudando. A aluna apresenta problemas na fala, mas emiti alguns sons, sua mãe relata que em casa ela conversa um pouco mais. E relata ainda que ela gosta de participar de festas e eventos como Carnaval e que elas desfilaram em escola de samba.
As aulas de Educação Física são adaptadas. Numa aula observada, trabalhou-se com a atividade de arremesso de bola ao cesto. Passemos a descrição da atividade observada:
Material usado: balde e cadeira.
Participantes: dez alunos, divididos em dois grupos.
A professora orientou os alunos quanto às regras do jogo e sobre a participação da professora houve apoio para conduzir a cadeira. A bola deveria ser entregue na mão da aluna M e para o restante da turma com arremesso. A bola foi passada de mão em mão até chegar ao balde. Venceu o grupo que acertou mais vezes a bola no balde.
Na avaliação da atividade, os participantes tiveram a oportunidade de socializar com a aluna.
As atividades realizadas na escola observada são efetivas para inclusão e o desenvolvimento psicomotor do deficiente com paralisia cerebral. Para qualquer atividade proposta em sala de aula, é preciso que o professor esteja atento à necessidade de se recorrer a determinados recursos ou de se fazer adaptações para que todos os alunos, inclusive aqueles com alguma deficiência participem e, assim se apropriem do conhecimento transmitido.
A inclusão requer muito mais. A verdadeira inclusão só ocorre quando se consegue remover todas as barreiras existentes: preconceitos, pré-conceitos, medo, comodismo, e, assim, reverte-se todo esse panorama com políticas públicas próprias, planejamentos coerentes e práticas pedagógicas fundamentadas em princípios inclusivos, de valorização do ser humano independente de suas deficiências.
É necessário lutar pela inclusão escolar e social de maneira geral com o objetivo de melhorar a convivência entre as pessoas, de melhorar a vida em sociedade. Desta forma, haverá investimento no potencial dos educandos, contribuindo assim para que estes se formem cidadãos conscientes de seus direitos e de seu papel enquanto tal. (SASSAKI, 1997)
Em outros termos, a inclusão escolar é possível, desde que cercada de um planejamento eficiente onde contemple a formação continuada dos seus profissionais, que poderão desenvolver uma prática pautada numa pedagogia diferenciada capaz de trabalhar o indivíduo em seus mais diversos aspectos cognitivo-afetivo e social.
3. Considerações finais
A fim de responder a questão-problema acerca da importância da Educação Física para o processo educativo da pessoa com deficiência mental, chegou-se a algumas conclusões.
Uma delas é de que as necessidades educativas especiais dos alunos com deficiência mental devem ser reconhecidas e levadas em conta, encontrando-se estratégias para que elas não representem impedimento à constituição de conhecimentos e valores, principalmente do aspecto da socialização.
Para qualquer atividade educativa proposta, como por exemplo, as brincadeiras e jogos nas aulas de Educação Física, é preciso que o professor esteja atento à necessidade de se recorrer a determinados recursos ou de se fazerem adaptações para que todos os alunos, inclusive aqueles com necessidades especiais participem.
Segundo Oliveira (1988, p. 14) tanto as atividades recreativas podem ser orientadas, quanto às atividades orientadas devem ter caráter recreativo, no sentido de conter ludicidade, espontaneidade e capacidade de proporcionar prazer. O planejamento escolar do professor deve abranger diferentes tipos de atividades e se valer de recursos diversos, como o jogo e a brincadeira. É importante partir do interesse dos alunos para discutir conteúdos das áreas de conhecimento e aspectos da vida, bem como a inclusão de pessoas com deficiência mental no ensino regular.
Trabalhos realizados a partir de ações simples do cotidiano dos portadores de necessidades educativas especiais devem integrar o planejamento. Os atos de beber água, de andar pelas ruas e de dar um laço no sapato pode desencadear atividades envolventes com os alunos. Coordenação motora e questões ligadas à estética de um laço podem ser alguns exemplos de discussões.
Também é essencial oferecer atenção individualizada ao aluno; dar ao aluno ordens claras e seqüenciais, com explicações objetivas e linguagem de fácil entendimento; propor tarefas breves e de curta duração; adotar uma seqüência gradativa dos conteúdos; introduzir atividades alternativas às previstas, bem como outras complementares ao planejamento inicial.
Ainda acerca das medidas de intervenção com alunos diagnosticados com DM é importante flexibilizar o tempo de realização das tarefas; trabalhar em sala de aula com materiais diversificados; reorganizar o espaço físico, alterando posição das carteiras para facilitar a interação de todos os alunos entre si; estar em contato com o professor da sala de recursos multifuncional, com vistas à elaboração de um plano de intervenção voltado ao atendimento das necessidades do aluno.
Todas as atividades citadas acima devem apresentar conexão com o cotidiano de cada aluno, privilegiando suas experiências e explorando seus potenciais. Deve-se despertar a criatividade, a afetividade, o usufruto dos seus direitos, à saúde, à cultura e ao lazer e a descoberta de temas importantes.
Enfim, conhecendo-se o aluno em suas características de crescimento e desenvolvimento, bem como suas deficiências (quando for o caso), o professor em suas aulas de Educação Física terá mais subsídios para selecionar a maneira de desenvolver seu planejamento e, dessa forma, aproximar-se de estratégias mais adequadas de ensino e das reais necessidades de seus educandos.
Referências
BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394. Brasília: MEC/SEESP, 2008.
CASTRO, Sérgio José de. Paralisia Cerebral ou Encefalopatia crônica não progressiva da infância. Disponível em: http://educaofsicaadaptadaeeducaoespecial.blogspot.com.br/2012/10/paralisia-cerebral-ou-encefalopatia.html Acesso em: 25 out. 2014.
FENAPAES. Acessibilidade para pessoas com deficiência intelectual no mundo do trabalho. Orientações para Empresas – Brasília: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, 2007.
LIBÂNEO, J. C. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1995.
MAKIGUTI, Tsunessaburo. Educação para uma vida criativa: idéias e propostas de Tsunessaburo Makiguti. Tradução de Eliane Carpenter. Rio de Janeiro: Record, 1994.
NÓVOA, Antônio. Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1997.
OLIVEIRA, Wanderley C. Algumas Reflexões Sobre o Curso de Pedagogia à Luz de Michel Serres. Revista Vertentes, São João del Rei, nº 21, p.98-104, jan. / jun., 1988.
ROCHA, Moira Sampaio. Educação Especial Inclusiva. Belo Horizonte: PUC Minas Virtual, 2004.
SASSAKI, Romeo. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.
TEODÓSIO, Armindo dos Santos de Sousa. Inclusão de Portadores de Deficiência no Trabalho: novos desafios para gestão organizacional. Belo Horizonte: PUC Minas, 2003.
WERNECK, C. Muito prazer, eu existo. São Paulo: Editora WVA, 2001.
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