Prevalência das morbidades hospitalares por transtornos mentais no município de Montes Claros, MG La prevalencia de la morbilidad hospitalaria de los trastornos mentales en el municipio de Montes Claros, MG |
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*Acadêmica do curso de psicologia da Faculdade de Saúde Ibituruna **Professor do Centro de Pesquisa da Faculdade de Saúde Ibituruna Programa de pós-graduação em ciências da saúde da Unimontes (Brasil) |
Danuza Lima Cordeiro* Jéssica Tainá Ladeia Maciel* Vinícius Dias Rodrigues** |
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Resumo As Políticas de Atenção, Prevenção e Promoção da saúde integram-se como um desafio no que se refere ao tema de saúde mental. O transtorno mental (TM) é caracterizado por alterações do funcionamento da mente que comprometem a saúde física e afetiva das pessoas, também como alterações do modo de pensar e/ou do humor agregados a uma angústia expressiva, causando danos no desempenho global do indivíduo no âmbito pessoal, social, ocupacional e familiar. O objetivo dessa pesquisa é conhecer a prevalência das morbidades hospitalares por transtornos mentais, faixa etária, sexo e raça na população residente do município de Montes Claros referentes ao ano de 2013. Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo realizado por meio de consulta ao DATASUS, onde esses dados foram consultados e posteriormente analisados e descritos pelo programa Statístical Package for the Social Sciences (SPSS) 20.0 for Windows. Os resultados obtidos são de que os transtornos mentais acometem mais a faixa etária de 30 a 39 anos, sendo que os TM devido ao uso de substâncias psicoativas são mais freqüentes em indivíduos de faixa etária de 10 a 29 anos e a esquizofrenia em pessoas de 30 a 60 anos. Os transtornos mentais devido ao uso de álcool, drogas e a esquizofrenia atingem mais homens, já os transtornos de humor atingem mais as mulheres. Os TM esquizotípicos atingem em primeiro lugar a raça branca e em segundo a parda. Sendo que em todos os transtornos mentais a raça branca é a mais atingida. Unitermos: Prevalência. Saúde Mental. Transtornos mentais.
Recepção: 21/10/2014 - Aceitação: 29/01/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O tema saúde mental vem ganhando destaque e preocupações crescentes com o passar dos anos, integrando-se como um desafio em seu enfrentamento nas Políticas de Atenção, Prevenção e Promoção da saúde (FILHO NEVES, 2009).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um completo bem estar físico, psíquico e social. Nessa perspectiva, a saúde mental assume um papel importante nos indicadores de saúde da população brasileira (OMS, 2002).
O transtorno mental é caracterizado por alterações do funcionamento da mente que comprometem a saúde física e afetiva das pessoas além de lhes privar de uma boa qualidade de vida. Estudos da literatura especializada apresentam avanços na medicina do comportamento constatando que muitas doenças mentais resultam de uma complexa interação de fatores biopsicossociais (SANTOS; SIQUEIRA, 2010).
De acordo com a OMS (2002), os transtornos mentais e de comportamento são uma série de distúrbios definidos pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Embora os sintomas variem consideravelmente, tais transtornos geralmente se caracterizam por uma combinação de idéias, emoções, comportamento e relacionamentos anormais com outras pessoas. São exemplos a esquizofrenia, a depressão, o retardo mental e os transtornos devidos ao uso de substâncias psicoativas.
Os transtornos mentais (TM) e comportamentais exercem considerável impacto social. Os indivíduos não só apresentam sintomas comportamentais do seu distúrbio como sofrem também por estarem impedidos de participar em atividades de trabalho e lazer, muitas vezes em virtude de discriminação. As limitações mais importantes se referem à autonomia do sujeito pelo fato de não poderem assumir com suas responsabilidades para com a família e os amigos, e temem ser um fardo para os outros (OMS, 2001).
De acordo com a Classificação Internacional de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID-10), os TM também podem ser classificados como alterações do modo de pensar e/ou do humor agregados a uma angústia expressiva, causando danos no desempenho global do indivíduo no âmbito pessoal, social, ocupacional e familiar.
Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) apontam que os TM correspondem a 12% da carga mundial de doenças e mais de 40% dos países ainda carecem de políticas em saúde mental e 30% não têm programas nessa esfera. Sabe-se ainda que a maioria dos transtornos mentais podem ser tratados e evitados, comprovando a premissa de que, quando se investe na prevenção e promoção da saúde mental, se pode reduzir consideravelmente o número de incapacidades resultantes dessas patologias (OMS, 2001)
Dados do Ministério da Saúde indicam que cerca de 3% da população geral brasileira sofrem com transtornos mentais graves e persistentes, 6% apresentam transtornos psiquiátricos graves resultantes do uso de álcool e outras drogas e 12% necessitam de algum atendimento, seja ele contínuo ou eventual. A utilização dos serviços de saúde, ainda é considerada baixa, está em torno de 13%. A maioria das pessoas com algum transtorno mental não busca atendimento psiquiátrico, por razões que estão ligadas, muitas vezes, ao estigma, ao desconhecimento da doença, ao preconceito, à falta de treinamento das equipes para lidar com esses transtornos, à falta de serviços adequados para atendimento psiquiátrico, ao medo, entre outras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).
Para a OMS (2002), estimativas apontam que uma em cada quatro pessoas serão afetadas por um distúrbio mental em uma certa fase da vida. Os transtornos mentais atingem, no mundo, cerca de 450 milhões de habitantes, sendo universais, afetando pessoas de todos os países e sociedades, indivíduos de todas as idades, mulheres e homens, ricos e pobres, gentes de áreas urbanas e rurais.
De acordo com o desenvolvimento da epidemiologia psiquiátrica cerca de 90% das manifestações psiquiátricas são compostas de distúrbios não psicóticos, principalmente depressão e ansiedade, incluindo sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, dificuldade de memória e de concentração e queixas somáticas (COUTINHO et al., 1999).
Segundo a OMS, existem alguns fatores que determinam a prevalência, o início e a evolução dos transtornos mentais e comportamentais. Esses fatores são sociais e econômicos, fatores demográficos como sexo e idade, ameaças graves tais como conflitos e desastres, a presença de doença física grave e o ambiente familiar.
No século XIX a doença mental figurava como objeto de pesquisa científica no campo da medicina, a psiquiatria enquanto disciplina médica especializada surgiu logo após incorporando as patologias dos transtornos mentais em sua área de atuação. Entretanto, os portadores de transtornos mentais, tais como, os que tinham muitas outras doenças e formas indesejáveis de comportamento social eram isolados da sociedade em grandes instituições carcerárias - os manicômios públicos, que vieram depois a ser chamados de hospitais psiquiátricos (OMS, 2001).
No Brasil, historicamente, os pacientes acometidos por transtornos mentais eram tratados em manicômios. Registros de repetidos casos de maus-tratos aos pacientes, isolamento geográfico e profissional das instituições e do seu pessoal, impulsionou o movimento da Reforma Psiquiátrica instituída pela lei 10.216/2001, que prevê a substituição do atendimento em hospitais psiquiátricos (principalmente as internações) pelos serviços ambulatoriais abertos e de base comunitária (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
A maior parte dessas ações tem se concentrado na criação dos centros de Atenção Psicossocial (CAPs), nas residências terapêuticas e na ampliação do número de leitos psiquiátricos em hospitais gerais. Esta nova proposta ainda convive com o antigo modelo manicomial, marcado pelas internações de longa permanência (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Visando promover a reinserção do portador de transtorno mental na sociedade e facilitar esse processo, o Ministério da Saúde lançou o Programa “De Volta para Casa”, vem realizar a regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial para assistência, acompanhamento e integração social, fora da unidade hospitalar, de pessoas acometidas de transtornos mentais com história de longa internação psiquiátrica (dois anos ou mais de internação).
Este programa faz parte do processo de Reforma Psiquiátrica, que visa reduzir progressivamente os leitos psiquiátricos; qualificar, expandir e fortalecer a rede extra-hospitalar - Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG)- e incluir as ações da saúde mental na atenção básica e Saúde da Família.
Foram avaliados nessa pesquisa os principais fatores que levam um individuo a ser portador de um transtorno mental, colaborando assim para a elaboração de políticas públicas no que se refere à saúde mental da população Montesclarense. O conhecimento da evolução dessas patologias aparece como preocupações prioritárias dos programas oficiais de saúde pública e poderão contribuir para um melhor planejamento e organização da assistência à saúde mental no Município de Montes Claros-MG.
Dessa forma o objetivo geral desse artigo é conhecer a prevalência dos transtornos mentais na população residente do município de Montes Claros no ano de 2013.
Metodologia
Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo. A pesquisa foi realizada em banco de dados secundários do Ministério da Saúde disponíveis no departamento de informática do SUS (DATASUS), no endereço eletrônico (http: //www.datasus.gov.br).
O universo da pesquisa foi o município de Montes Claros, por se localizar em uma região polo de referência de assistência a saúde mental do norte de Minas Gerais.
Os dados foram verificados pelo sistema de informações hospitalares (SIH) do Ministério da Saúde e organizados pelo tabulador oficial do DATASUS e posteriormente analisado e descritos pelo programa Statístical Package for the Social Sciences (SPSS) 20.0 for Windows, onde foram calculadas proporções de internações por transtornos mentais, sexo, faixa etária e raça.
Os dados populacionais utilizados para o calculo das taxas de internação são aqueles disponibilizados pelo censo demográfico do IBGE no ano 2013, como também as estimativas populacionais disponibilizadas pelo DATASUS.
Por se tratar de um banco de domínio público, o projeto não demanda avaliação e autorização do Comitê de Ética em Pesquisa.
Os tipos de transtornos mentais dessa pesquisa foram descritos em três tabelas, sendo elas de idade, sexo e raça, respectivamente. Os transtornos avaliados foram a demência (DE), transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool (TMCA), transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de outras substâncias psicoativas (TMCSP), esquizofrênia e transtornos esquizotípicos delirantes (ETED), transtornos de humor [afetivos] (THA), transtornos neuróticos relacionados com stress somatoformes (TNSS), retardo mental (RM) e outros transtornos mentais e comportamentais.
Resultados e discussão
Na tabela abaixo é apresentada a frequência de indivíduos com transtornos mentais pela idade na cidade de Montes Claros/MG.
Tabela 01. Freqüência de indivíduos com transtornos mentais pela idade na cidade de Montes Claros, MG
É possível observar na tabela acima, que os transtornos mentais devido ao uso de substâncias psicoativas acometem em maior número os indivíduos de faixa etária de 10 a 29 anos. Já a esquizofrenia é mais freqüente em pessoas de 30 à 60 anos. No total os transtornos mentais prevalecem mais em indivíduos na faixa etária de 30 a 39 anos.
São várias as limitações, contradições e dificuldades que abarcam a definição de padrão de consumo de álcool e outras drogas. Esse, pela complexidade de fatores envolvidos, deve ser avaliado dentro de diversos contextos, sendo eles, biopsicosociais, ambientais, antropológicos, legais e culturais (PECHANSKY, 2004).
A fase da adolescência, além das mudanças no corpo, é marcada por uma transição de pensamentos e ações, onde o individuo está à procura do seu eu. É nesse período que surgem as adaptações onde o adolescente vivencia a passagem para a fase adulta. É um período considerado complexo no que se refere ao desenvolvimento de competências pessoais e interpessoais, obtenção de habilidades e tomada de decisões. Além de que, é na adolescência que o individuo busca viver novas experiências (descoberta do novo) e identificações, geralmente com associações aos grupos de pares (SCHENKER, 2004).
Estudos apontam outros diferentes motivos para o uso dessas substâncias, como a busca pelo prazer, pela diversão, por novas experiências/curiosidade, pela valorização social/pertencimento a um grupo, alívio do tédio, relaxamento como também para a fuga dos problemas pessoais (RODRIGUEZ, 2008). Jovens em situação de risco social, moradores de rua, sem um vínculo familiar ou que abandonaram a escola apresentam um maior risco ao uso de drogas (SOUZA, 2005).
A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou início da idade adulta. Em geral, os homens têm um início em torno dos 18-25 anos e as mulheres em torno dos 25-35 anos. Essa diferença vai depender do critério diagnóstico utilizado para esquizofrenia. No início da adolescência, a razão homem/mulher é 2:1. Após os 50 anos, essa proporção se inverte e aproximadamente 3% a 10% das mulheres iniciam a doença após os 45 anos (CHAVES, 2000)
Em relação ao histórico da doença, estudos apresentam que o sexo é um fator importante no curso e no desenvolvimento da esquizofrenia. As mulheres apresentam um melhor desempenho que os homens, independentemente da medida do fechamento clínico, número de reincidência, remissão de sintomas, tempo de estadia no hospital, número de suicídios e ajustamento social, (CHAVES, 2000).
A pior evolução no sexo masculino pode estar relacionada à maior frequência de fatores associados ao pior prognóstico na esquizofrenia – personalidade pré-mórbida mais comprometida, maior probabilidade de manter-se solteiro, idade de início mais precoce, sintomas negativos, pior retorno ao tratamento e modificações cerebrais estruturais (CHAVES, 2000)
Na tabela abaixo é dada a freqüência de indivíduos com transtornos mentais pelo sexo na cidade de Montes Claros/MG.
Tabela 02. Freqüência de indivíduos com transtornos mentais pelo sexo na cidade de Montes Claros, MG
Os transtornos mentais devido ao uso de álcool, drogas e a esquizofrenia atingem mais homens, já os transtornos de humor atingem mais as mulheres.
Na idade adulta surgem grandes diferenças entre os sexos relacionados aos transtornos mentais. A mulher apresenta maior susceptibilidade a sintomas ansiosos e depressivos, principalmente relacionados ao período reprodutivo (ANDRADE, VIANA & SILVEIRA, 2006). Diversos estudos apontam diferenças de gênero na incidência, prevalência e desenvolvimento de transtornos mentais e do comportamento. O sexo feminino apresentam maiores taxas de prevalência de transtornos de ansiedade e do humor que o sexo masculino, enquanto estes apresentam maior prevalência de transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, como o álcool, transtornos de personalidade anti-social e esquizotípica, transtornos do controle de impulsos e de déficit de atenção e hiperatividade na infância e na vida adulta. Nos transtornos onde a prevalência é equivalente em homens e mulheres, são observadas as diferenças na idade de início, perfil sintomatológico e resposta ao tratamento. Têm, ainda, sido apontados diferentes padrões de comorbidade psiquiátrica e psiquiátrica/física em mulheres e homens. (ANDRADE, VIANA & SILVEIRA, 2006).
Os esteróides sexuais femininos, em especial o estrógeno, atuam na modulação do humor, o que, em parte, explicaria a maior prevalência dos transtornos do humor e de ansiedade na mulher. Estudos mostram que algumas mulheres são mais predispostas a alterações de humor no período pré-menstrual, por uma sensibilidade cerebral às flutuações hormonais presentes no ciclo menstrual feminino, ou seja, um mecanismo psiconeuroendócrino ocasionado pelo ciclo ovariano normal. Essas mulheres, mesmo com níveis apropriados dos hormônios gonadais, teriam maior capacidade a alterações no sistema nervoso central, principalmente na via serotoninérgica, com as oscilações hormonais. (RENNÓ et al, 2012)
Existe uma possibilidade de propensão biológica para explicar a diferença nas prevalências de transtornos de humor entre os gêneros. Segundo os autores, na mulher ocorreria um desbalanço na interação entre o eixo hipotálamohipotalâmico-gonadal e outros neuromoduladores. O ritmo neuroendócrino relacionado à reprodução na mulher seria vulnerável à mudança e altamente atingido por fatores psicossociais, ambientais e fisiológicos. (ANDRADE, VIANA & SILVEIRA, 2006)
De outro modo, considera-se que o estrógeno exerça um papel de proteção na esquizofrenia, fazendo com que as mulheres tenham idade de início mais tardia, requerendo doses menores de neurolépticos, tendo um maior curso favorável, mais sintomas positivos e sintomas negativos menos graves que os homens. Episódios psicóticos agudos ocorrem em períodos do ciclo com baixos níveis de estradiol (ANDRADE, VIANA & SILVEIRA, 2006)
A agilidade do desenvolvimento cerebral intra-uterino é mais lenta em homens e esse processo pode estar associado à ação da testosterona no período da gestação. A maturação cerebral mais precoce levaria a uma menor propensão aos traumas de nascimento nas mulheres. Essa carência de proteção nos homens pode ser um dos fatores responsáveis pela diferença mais constante encontrada na esquizofrenia – a idade de início da doença mais precoce no sexo masculino. Outra possível decorrência do trauma de nascimento são as anormalidades estruturais cerebrais, que estão mais associadas ao sexo masculino: idade de início mais precoce, sintomas negativos, alargamento dos ventrículos cerebrais, gravidade e cronicidade da doença (CHAVES, 2000).
Na tabela a seguir são apresentados os dados da frequência de indivíduos com transtornos mentais por etnia na cidade de Montes Claros/MG.
Tabela 03. Frequência de indivíduos com transtornos mentais por etnia na cidade de Montes Claros, MG
Observa-se que os transtornos mentais esquizotípicos atingem em primeiro lugar a raça branca e em segundo a parda. Sendo que em todos os transtornos mentais a raça branca é a mais atingida. Segundo os autores Paixão e Batista (2004) as decorrências indesejáveis devido o uso excessivo de álcool e outras drogas, incluindo a morte, têm atingido a vida da população negra, especialmente os homens. De acordo com Lopes (2004) as mais elevadas taxas de mortalidade por transtornos mentais e comportamentais entre homens negros, estão centralizadas nas regiões mais carentes, que possuem os menores IDH, com maiores taxas de desemprego e/ou emprego informal. Segundo Horta (2008) para as mulheres negras, os transtornos mentais estão associados a renda e a escolaridade, indicando que possíveis experiências de discriminação racial, provavelmente vivenciadas por pessoas de minorias étnicas, aumentaria o risco de desenvolver esses transtornos. A maior mortalidade das negras por transtornos mentais talvez seja conseqüência da opressão das violências institucionais vivenciadas por essas mulheres, a baixa auto-estima, entre outros. É possível levantar como hipótese que os mecanismos de exclusão social vivenciados pelos negros têm seus reflexos também na saúde mental (LOPES, 2004).
Considerações finais
Considerando os dados obtidos e com base nas revisões de literatura pode-se observar que os transtornos mentais atingem indivíduos de todas as idades, sexo e etnias.
Os TM relacionados ao uso de álcool e drogas são mais comuns em homens, adolescentes e jovens. A esquizofrenia também apresenta números mais elevados no sexo masculino. Já os transtornos de humor e afetivos cercam em maior quantidade as mulheres.
No Município de Montes Claros, onde foi realizada a pesquisa, consta que os brancos são os mais atingidos pelos transtornos mentais, no entanto, outras pesquisas feitas no Brasil revelam que os negros são os mais acometidos.
Há algumas divergências em relação a alguns dados pesquisados no Município comparados aos de outras regiões. Recomenda-se que novos estudos sejam realizados para aumentar o conhecimento sobre estes transtornos, colaborando assim para as Políticas de Atenção, Prevenção e Promoção da saúde.
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