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Indisciplina em sala de aula: o (re) pensar
da prática docente no ensino fundamental

La indisciplina en clase: (re) pensar la práctica docente en la escuela primaria

The indiscipline in the classroom: the (re) thinking of teaching practice in elementary school

 

*Mestre em Ciências da Educação (Universidade Americana-PY)

**Doutora em Língua Portuguesa (UERJ), Mestre em Educação (UCP)

***Mestre em Cognição e Linguagem (UENF)

****Pós-Doutoranda em Cognição e Linguagem (UENF)

(Brasil)

Douglas Aparecido Dopp*

douglasdopp@gmail.com

Dulce Helena Pontes-Ribeiro**

dulcehpontes@gmail.com

Thiago Azevedo da Silva***

professorthiagoazevedo@hotmail.com

Fernanda Castro Manhães****

castromanhaes@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo analisar a indisciplina em sala de aula e as dificuldades enfrentadas na relação professor /aluno no processo educacional. Aborda também os obstáculos pedagógicos/educativos intervenientes nessas relações e o novo repensar do docente em uma nova postura ligada à educação, à criação de limites, voltada à participação dos alunos e todos envolvidos no processo educacional. Conclui-se que, os professores precisam internalizar não só os aspectos cognitivos como também os afetivos com foco na formação do caráter. Importante rever sua postura em sala de aula e investigar meios para agirem sem radicalismo e menos atitudes de imposições. Os limites necessitam ser respeitados, sendo necessária a busca de alternativas para estruturá-los, para que seja preservada a autoridade docente, a ética, o equilíbrio e com isso proporcionar uma maior proximidade na relação professor/aluno.

          Unitermos: Indisciplina. Limites. Professor/aluno. Relacionamento.

 

Abstract

          This study aimed to analyze the indiscipline in the classroom and the difficulties faced in the teacher / student in the educational process. It also discusses the pedagogical obstacles / educational stakeholders in these relations and the new rethinking of teaching in a new posture linked to education, setting limits, focused on the participation of students and everyone involved in the educational process. In conclusion, teachers must internalize not only the cognitive but also affective focusing on character formation. Important to review your posture in the classroom and investigate means to act without radicalism and less taxes attitudes. The limits need to be respected, requiring the search for alternatives to structure them so that it preserved the teaching authority, ethics, balance and therefore provide greater proximity in the teacher / student relationship.

          Keywords: Indiscipline. Limits. Teacher/student. Relationship.

 

Recepção: 01/12/2014 - Aceitação: 23/02/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Considerações Iniciais

    Um dos temas mais debatidos no âmbito escolar está relacionado à indisciplina – uma constante que tem gerado polêmica e pesquisas nas diversas áreas do conhecimento. Como são inúmeras as causas, dificilmente se chega a um consenso. Desconhecendo-se o embrião do problema, torna-se quase impossível tratá-lo com eficácia. Por certo, sua natureza ultrapassa os liames da instituição escolar por relacionar-se aos ambientes familiares, sociais, culturais e a outras esferas.

    O fenômeno da indisciplina para muitos educadores e estudiosos se apresenta como um novo problema com poucas explicações para a variedade de manifestações. Alguns autores atribuem-no à influência da família, da escola, dos professores e dos colegas como fatores primordiais que levam os alunos a serem indisciplinados.

    Nos últimos tempos, tem-se vivenciado uma grande quantidade de manifestações de indisciplina nas escolas, proporcionando uma gama de obstáculos pedagógicos/educativos intervenientes nas relações professor/aluno. Diante dessa conjuntura, a dificuldade de muitos docentes em enfrentar atos de indisciplinas deixa dúvidas de como compreender e/ou reprimir os envolvidos nesses atos, ou mesmo se deve ignorá-los. Agem sem a certeza de que suas atitudes são relevantes na relação com o aluno. Muitos deles – como também diretores, alunos e familiares – desconhecem as normas e ações, que deveriam ser o parâmetro de seu perfil no ambiente escolar. Portanto, objetiva-se por ora delinear o papel do professor e o trato com o aluno no tocante à indisciplina e imposição de limites em sala de aula.

    Na busca de entender a questão da indisciplina no cotidiano da sala de aula e discutir a aplicação de limites para um melhor relacionamento professor/alunos, após a pesquisa teórica, segue-se uma pesquisa de campo (uma investigação não experimental) realizada com o corpo docente de três escolas de ensino fundamental: sendo uma da rede privada e duas públicas (uma municipal e uma estadual). As instituições se localizam na cidade de Itaperuna, um espaço territorial de 1.105,341 km2, no noroeste do estado do Rio de Janeiro.

Limites: desafio constante

    Nas décadas passadas, um ambiente disciplinado era caracterizado, pela sociedade, por limitações e ideais, sem a perspectiva de ultrapassar barreiras. O respeito era concebido de forma bastante severa dentro das famílias. A melhor escola era a que impunha mais limites. Não se importava se o aluno estava interessado pelos conteúdos, mas com o fato de poder contar com o respeito e com o clima de mutismo favorável à transmissão da matéria pelo professor.

    Sana; Vergés (2004) esclarecem-nos que os limites são de imensa importância na educação. Eles contribuem significativamente para o desenvolvimento da personalidade e para caracterizar o comportamento das crianças, tendo parte nisso os educadores e familiares. Mas, as famílias não sabem como impor limites e esclarecer aos filhos que eles têm não só direitos como também deveres, e estes devem ser cumpridos. (OLIVEIRA, 2002).

    Hoje, fala-se muito nos limites que devem ser seguidos. Ninguém deve duvidar da importância deles, pois é possível vê-los aplicados desde os primórdios. Porém, é necessário algo a mais, ligado aos limites empregados na civilização, como o desejo, a vontade de agir, a espontaneidade na hora de explorar as possibilidades... É assim que se conquistam os objetivos. Os limites com a carência de sentido trazem um efeito de autoridade, autoritarismo, deixando de ser um fator educativo. Para Vasconcelos, o desconforto dos educadores no contexto disciplinar se resume em duas ações básicas:

  1. a falta de interesse dos alunos: desinteresse, indiferença, apatia, desmotivação, falta de perspectiva, cinismo, descrença, desesperança, falta de clareza de objetivos.

  2. a falta de limites dos alunos: desrespeito, agressividade, transgressão, desobediência às normas; parece que aluno não “sabe estar”. O espectro aqui vai da simples transgressão da norma até a violência. (VASCONCELOS, 2009, p. 62).

    Em vez de os limites serem estabelecidos como uma forma de proteção e ferramenta de preparação para um caminho melhor a ser seguido futuramente, têm-se presenciado limites autoritários, provadores de novas crises. É necessária a preparação para a convivência com os limites, transformando-os em algo maior, como um desafio. É preciso que se acostume a ultrapassar barreiras, incentivando o aluno cada vez mais como forma de valorização. Isso deve partir dos profissionais da área. (DEMO, 2000).

    O aluno precisa ter presente em sua trajetória alguém que lhe sirva como exemplo. Na maioria das vezes ele não tem condições para tomar decisões ou até mesmo responsabilidade para tomá-las sozinho. Necessita da companhia de um adulto, para auxiliá-lo na sua formação que ocorre no dia a dia, principalmente através do diálogo. A união entre os limites e o estímulo ao exercício das virtudes facultará o aluno a viver a moralidade e o autorrespeito como grande conquista de dignidade. A falta de limites pode ser o principal fator para a presença da indisciplina na da sala de aula.

    Como se percebe, o limite é essencial na formação do sujeito na sociedade, porém não é qualquer limite ou forma de trabalho que levará à formação da pessoa. Educadores precisam distinguir os limites que devem ou não ser aplicados e de qual forma eles serão de benefício para o crescimento do aluno. Eles devem ser estabelecidos antes de qualquer discussão, para um melhor encaminhamento da atividade escolar.

    Parrat-Dayan (2009) evidencia que em muitas situações, as regras necessitam ser reformuladas para reorganizar os limites necessários, tanto para o trabalho em si, quanto para a disciplina, o que é considerado novidade no ambiente de escolaridade. Para Dozena (2008), é normal se encontrar profissionais sem empolgação, que vão levando a aula com certo sentimento de desprezo. Na maioria dos casos com conversas paralelas, esperando que os próprios alunos busquem tomar ciência de seus limites, em vez de guiá-los por sua caminhada.

    A indisciplina exige do professor uma presença maior de autoridade e um estado de espírito de tranquilidade para que trate com clareza e sabedoria as situações ocorridas em seu local de trabalho. Caso contrário, ele pode agir de forma descontrolada, inconveniente a um educador. Em muitas situações da prática docente, os alunos deveriam obedecer ao professor por uma simples questão de hierarquia. Em razão deste objetivo, os limites aparecem como sendo extremamente necessários:

    Alunos precisam sim aderir a regras (que implicam valores e formas de conduta) e estas somente podem vir de seus pais ou professores. Os “limites” implicados por estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentido negativo: o que não pode ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência da posição ocupada dentro de algum espaço social – a família, a escola e a sociedade como um todo (DE LA TAILLE, 1994, p. 24).

    A partir do momento em que os limites são aplicados de forma incorreta, com extrema autoridade, transformam o relacionamento professor/ aluno em uma forma de disputa, na qual o aluno sente a vontade de ganhar. Quanto mais limites o professor impõe, mais vontade ele irá ter de ultrapassá-los. Desta forma, deixará de se instaurar o respeito moral entre as duas partes.

    Os limites apontam para a existência da outra pessoa, em outro lugar com suas próprias funções; leva a uma melhoria o processo de socialização. Quando postos em discussão dentro das classes, devem ser esclarecidos pelo professor que eles são para o bem de todos, servem para a diminuição de ações indisciplinares.

    Quando um professor preparado se organiza com a turma em relação aos limites, estes deixam de ser apenas um fator de autoridade para serem questões compartilhadas entre o educador e o aluno. Cria-se um clima de respeito, porém ameno, deixando de ser apenas uma imposição. Mesmo em situações de desacordo entre professor/aluno, o professor laborioso avalia seus métodos e condições colocadas em prática de acordo com cada caso, cada necessidade. (DOZENA 2008).

    O ambiente de sala de aula requer do professor uma postura ligada à educação, à criação de limites, voltada à participação dos alunos. Os limites devem ser colocados em prática por um conjunto social. Neste caso, pertence a todos o direito e o dever de utilizar da disciplina no ambiente escolar, mediante a distribuição das responsabilidades entre as relações sociais. De um lado, há professores que agem de uma maneira bastante severa e rígida em relação aos limites impostos. De outro, até por consequência disto, agem com certa sensibilidade, utilizando de conceitos totalmente liberais, não cobrando da forma correta o que foi estabelecido.

    Ser liberal não significa abster-se de tomar posição, deixar o rumo fluir naturalmente, ocultar-se de um dever, negligenciar-se da educação dos filhos por um meio natural. Ser liberal é permitir ações conscientes, com autoridade, mas sem autoritarismo. Conforme Vasconcelos, “Limite por limite é voltar a uma forma de educação ligada ao autoritarismo”. (VASCONCELOS, 2009, p. 205). A partir do momento que não se impõem limites, que não se estabelecem normas e critérios, os alunos se sentem poderosos, com o controle de tudo em suas mãos. Porém, ao mesmo tempo estão perdidos, sem ter alguém para conduzi-los. Tudo sai do controle, a indisciplina reina soberana. (PARRAT-DAYAN, 2009).

    Da parte do professor, em alguns casos, é possível perceber um sentimento de medo em impor limites, de estabelecer sanções, mesmo que simples para ser cumpridas. Há o receio de ser rejeitado pelos alunos, ou de não ser valorizado por eles, sendo considerado autoritário e “chato”. Mesmo que a repressão possa parecer um caminho fácil de ser tomado no relacionamento professor/aluno, para o verdadeiro educador, não é prazeroso agir desta forma. Gera um desconforto e até mesmo tristeza ou revolta no ambiente de trabalho. Opondo-se à repressão, estão a conversa e a vontade de agir com respeito mútuo entre as partes. Isso não significa dizer “sim” em todas as ocasiões – procedimentos muito utilizados por certos pais e mães, cujas consequências desastrosas são também muito conhecidas. (DOZENA, 2008).

    Sempre que se fazem investigações e pesquisas sobre a disciplina e a indisciplina, nas escolas, o foco recai quase sempre nas regras com o objetivo de manter um clima de disciplina mais agradável. (ESTRELA, 2002). É impossível uma discussão de regras se o professor não entrar na “brincadeira”; porém deve ficar claro que o professor e o aluno estão em posições diferentes, não podendo colocá-los em mesmo fator de concordância, devendo manter cada um em seu lugar. (PARRAT-DAYAN, 2009).

    No processo direcionado às relações escolares, existem professores que se dizem auto-democráticos, embora os seus alunos os vejam de uma forma contrária. Os alunos necessitam de valores e regras de conduta as quais se constituem em um conjunto de fatores, procedimentos e ações, que auxilia o relacionamento da criança com o professor e com os seus pares e que pode levá-la à construção de uma autoestima mais positiva e a um maior respeito às regras. É importante que os alunos descubram esses valores por meio do encorajamento, que os leva a conhecer coisas novas e a perceber até aonde podem ir de acordo com os limites.

Metodologia

    O foco desta pesquisa de campo é a análise da relação entre professores/alunos do Ensino Fundamental, na busca de entender a questão da indisciplina no cotidiano da sala de aula.

    São sujeitos desta pesquisa, docentes de três instituições de Educação Básica: 01 municipal, 01 estadual e 01 privada, todas localizadas na cidade de Itaperuna/RJ.

    A amostra foi composta de 37 professores: 11 da Instituição Municipal; 13 da Instituição Estadual; 13 da Instituição Privada. Todos esses professores trabalham no segundo segmento do Ensino Fundamental.

Tipo e abordagem da pesquisa

    A pesquisa se caracteriza pela busca de dados diretamente da fonte de origem e segue o modelo de tipo descritivo que tem como característica observar, registrar, descrever e correlacionar fatos ou fenômenos, procurando apresentar com precisão os fatos e a frequência em que ocorrem os fenômenos e sua relação com os fatores (MATTOS; ROSSETO; BLECHER, 2004).

Técnicas de coleta de dados

    Na coleta de dados, foi utilizado o questionário (com questões abertas e fechadas). O processo e técnica utilizados têm relação direta com o problema a ser estudado, conforme orientam Mattos; Rosseto; Blecher (2004). E, ainda, seguindo Lakatos; Marconi (2001, p. 155), “a escolha do instrumento dependerá de vários fatores relacionados com a pesquisa”.

    Optou-se pelo questionário pelo fato de possibilitar medir com exatidão o que se pretende alcançar. Na aplicação, o pesquisador informa aos participantes a responsabilidade e a importância da seriedade ao responder as questões contidas no instrumento. Assim nos ensinam Cervo; Bervian (2002).

Procedimento na coleta de dados

    Este é o momento de definir as interações de aproximação com os participantes, ou seja, a entrada no campo, o início do processo de conhecimento do ambiente de trabalho. Iniciou-se, em primeiro plano, contato com as instituições para ver a possibilidade da participação na pesquisa. Após a aceitação, veio a oportunidade de relatar, explicar como seria desenvolvida a investigação, qual a proposta do estudo e como seria feita a aplicação dos instrumentos para a coleta dos dados. Em seguida, no caso deste estudo, foram selecionados os sujeitos (37 professores). A estes foi apresenta a proposta e deles solicitada a participação na pesquisa.

    Procurou-se assim seguir os passos de André (2005). O autor especifica que esse é o momento de definições: campo de ação, sujeitos, questões iniciais no estabelecimento dos contatos para o acesso ao locus da pesquisa, seleção dos participantes e instauração precisa dos procedimentos necessários.

    Esclarece-se que, para a aplicação do questionário, foi necessário o termo de consentimento, livre e esclarecido, conforme o devido cumprimento das deliberações do Comitê de Ética, que isentaria qualquer informação pessoal do participante da pesquisa.

    Retornando ao campo, aplicamos aos professores o questionário com 11 questões (03 abertas e 08 fechadas).

Técnicas de análise de dados

    Os dados coletados do questionário foram analisados e interpretados por meio da análise e conteúdo, segundo Bardin (2000), e também com base nas obras e conhecimentos adquiridos na revisão de literatura, em especial em Mattos; Rosseto; Blecher (2004).

Resultados e análise

    A seguir, são apresentados os resultados e a análise do questionário realizado com os sujeitos da pesquisa.

Gráfico - Dificuldades frequentes em sala de aula

Fonte: Elaboração própria

    A dificuldade mais recorrente nas salas de aula é a falta de limites dos alunos (51,35%); 29,7% apontaram o desinteresse dos alunos; 8,1% atribuíram ao comportamento agressivo; 5,4% indicaram salas numerosas e outros 5,4%, estrutura física; e falta de material não obteve nenhuma resposta.

    A análise sobre a falta de limites respondida por 51,3% dos professores confirma o que Vasconcelos (2009) apresenta como sendo um desconforto para os educadores, levando o aluno a um comportamento de desrespeito, agressividade e desobediência às normas, à ação indisciplinar. Para De La Taille (1996), muitas destas atitudes sem limite ocorrem pelo desconhecimento das normas por parte dos alunos, o que explica a desorganização que vem acontecendo nas salas de aula. Já Aquino (1998) salienta o inverso: a ausência absoluta de limites é um mito, pois os alunos, em geral, conhecem limites e internalizam regras em diversos campos (esportivo, linguístico, etc.). Na verdade, muitos alunos que demonstram o desconhecimento de limites agem de forma insubordinada para testarem a autoridade do professor.

    Convém sublinhar que o sentimento de medo ao impor limites não surte efeitos positivos. É preciso aprender a conviver com a aplicação destes em sala de aula: sem autoritarismo, sem atitudes severas e agressivas, de modo que o excesso de limites não venha instaurar um desconforto entre professor/aluno. É uma situação de desafio, mas é fundamental estabelecer os limites com a proposta de proteção e de prevenção. Assim, tem-se uma ferramenta para uma melhora no comportamento. Como afirma Vasconcelos (2009), limite por limite é retomar a uma educação de autoritarismo.

    Os dados coletados sobre o desinteresse dos alunos apontam para a necessidade de um melhor relacionamento interpessoal, que é um fator importante para atrair os alunos para a aprendizagem dos conteúdos ministrados. Alves (2002) acrescenta que o desinteresse dos alunos pode ser visto pela forma equivocada de realização das abordagens metodológicas, aplicadas de forma incorreta, não justificando muitas vezes o conteúdo aplicado. Por isso, a metodologia precisa estar diretamente relacionada a uma prática educativa eficiente. Outro fator que pode causar desinteresse é a dificuldade do professor na realização de suas ações e atitudes com o intuito de facilitar o relacionamento. Muitas vezes há pouco interesse pelo trabalho, pouca motivação para ensinar e a falta de habilidade para a instauração de um clima agradável e de respeito em sala de aula.

    Vivenciando um cotidiano dessa natureza, a resposta do aluno vem em forma de desinteresse pelas aulas, refletindo a postura desenvolvida pelo professor. A propósito, é comum encontrar professores sem entusiasmo, mal-humorados, desconfortáveis no desempenho de suas funções. Há um círculo vicioso: o desinteresse dos alunos desmotiva o professor, a desmotivação do professor torna o aluno desinteressado, indiferente, apático, sem perspectivas.

    As respostas sobre comportamento agressivo (8,1%), de acordo com a definição de Souza (2005), é uma manifestação decorrente de situações sem expectativas e da busca de vencer obstáculos para o alcance de prazeres momentâneos, em sala de aula. Há situações em que a agressividade pode se tornar muito complicada. Faz-se de extrema importância que o docente tenha convicção de como agir, tenha discernimento de decidir com o máximo de coerência.

    Embora sejam necessidades básicas a serem resolvidas no estabelecimento escolar, as respostas direcionadas a salas numerosas (5,4%) e estrutura física (5,4%), falta de diálogo revelaram insignificantes diante de dados como falta de limites, desinteresse e comportamento agressivo.

Considerações finais

    A pesquisa evidenciou que os professores precisam internalizar não só os aspectos cognitivos como também os afetivos com foco na formação do caráter, no desenvolvimento da personalidade e na construção da cidadania do aluno (em meio a um contexto de boa convivência), de autodisciplina e de limites, os quais devem ser uma prática frequente na sala de aula.

    Sublinha-se que a falta de regras e o desconhecimento delas remetem os educadores à busca de alternativas para estruturá-las. Importante que, após decididas tais regras, elas sejam informadas a pais e alunos para que entendam a necessidade de cumpri-las. Incluem-se aí os limites que necessitam ser respeitados para preservar a autoridade docente e, ainda, ética, equilíbrio e maior proximidade na relação professor/aluno.

    O ato de educar é processo interativo e requer fluência da comunicação e ações metodológicas coerentes.

Referências

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  • BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000.

  • CERVO, A. L; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

  • DEMO, Pedro. Conhecer e aprender: sabedoria dos limites e desafios Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 9-12.

  • DE LA TAILLE, Y. Autoridade e limite. Jornal da Escola da Vila, São Paulo, 1994, p. 24-28.

  • DOZENA. A, Uma breve análise sobre a postura dos alunos em sala de aula: pontos de vista sobre a indisciplina. Geografia – v. 17, n. 2, jul./dez. 2008 – Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências. PR.

  • ESTRELA, Maria Teresa. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. 4. ed. Portugal: Porto, 2002.

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  • MATTOS, M.G.; ROSSETO JR., A.J.; BLECHER, S. Teoria e prática de metodologia da pesquisa em educação física: construindo seu trabalho acadêmico: monografia, artigo científico e projeto de ação. São Paulo: Phorte, 2004.

  • OLIVEIRA, Marie Izete de. Indisciplina escolar; representação social dos professores que atual no ensino fundamental da cidade de Cáceres-MT. Tese de Doutorado. São Paulo. PUC, 2002.

  • PARRAT-DAYAN, Silvia. Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo: Contexto, 2009.

  • SANA, M. A.; VERGÉS, M. R. M. Limites e indisciplina na educação infantil. Campinas: Átomo, 2004.

  • SOUZA, D. B. Representações Sociais sobre indisciplina em sala de aula dos professores em início de carreira da rede municipal de Presidente Prudente-SP: implicações para a formação inicial. 2005. 205 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista Júlio De Mesquita Filho, Presidente Prudente, 2005.

  • VASCONCELOS, Celso dos S. Indisciplina e disciplina escolar: Fundamentos para o trabalho docente. São Paulo: Cortez, 2009.

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