Emancipação política e emancipação humana: resenha do livro ‘Sobre a questão judaica’ de Karl Marx Emancipación política y emancipación humana: reseña del libro ‘Sobre la cuestión judía’ de Karl Marx |
|||
Professoras de Educação Física formada pela Universidade Estadual de Maringá (Brasil) |
Ana Claudia Rodrigues Russi Jessica Martins Marques Luiz |
|
|
Resumo Essa resenha tem o objetivo de apresentar as principais questões que Marx discutiu neste livro, dentre elas a diferença entre emancipação política e emancipação humana, suas características e objetivos. Unitermos: Marx. Emancipação política. Emancipação humana.
Recepção: 07/12/2014 - Aceitação: 20/01/2015
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Karl Marx (1818-1883) foi um estudioso das relações sociais capitalistas que tinha como objetivo a destruição destas relações e a construção de uma nova sociedade superior, intitulada de comunismo. O livro Sobre a Questão Judaica foi escrito em 1843 e publicado em 1884. Ele é um marco na construção do pensamento de Marx, pois caracteriza um avanço na sua compreensão sobre a realidade e foi o único livro que ele publicou sobre essa temática. Além disso, neste livro Marx faz uma reflexão sobre a luta dos judeus por sua emancipação, distingue emancipação humana de emancipação política e dialoga com Bruno Bauer (1809-1882), criticando seu livro intitulado “A Questão Judaica”.
O fato que estimula estas discussões é a luta dos judeus em toda a Europa por seus direitos políticos, incluindo o direito de praticar livremente a sua religião. Essa luta perdurou por séculos, iniciando-se no final do século XVIII e caminhando até o início do século XX. Neste período havia leis discriminatórias que eram aplicadas contra os judeus, além de perseguições e negação de seus direitos políticos. Sendo assim, o Império Alemão, liderado pela Prússia, um estado cristão, apenas reconhecia os direitos dos cidadãos cristãos.
Bauer, em seu livro, afirma que os judeus da Alemanha só conseguiriam a emancipação política se eles se emancipassem da teologia, ou seja, se abrissem mão de sua religião. Ele aponta que o sofrimento dos judeus era culpa deles mesmos, pois eles se negavam a renunciar ao judaísmo.
Marx afirma que Bauer confunde os direitos do homem e o homem, confunde emancipação política com emancipação humana. Com isso, em sua crítica, Marx busca esclarecer de que emancipação trata-se a luta dos judeus, pois para ele não há uma emancipação pura e simples. Ele aponta que a emancipação pela qual lutam os judeus é uma emancipação política, afirma que essa emancipação é um grande progresso, mas não é a forma superior de emancipação, já que ela tem limites.
Marx apóia a emancipação política dos judeus e entende que essa emancipação não depende da renúncia dos judeus à sua religião. Ele afirma que a separação entre cidadão não religioso e indivíduo religioso não é incompatível com a emancipação política, pois em um Estado laico a religião é uma questão da vida particular dos indivíduos e não uma questão pública. Sendo assim, a emancipação política não deve libertar o homem de sua religião e sim lhe dar o direito e a liberdade à religião. Dessa forma, a religião não é um obstáculo à emancipação dos judeus.
No entanto, Bauer afirma que a emancipação em relação à religião é à condição para a emancipação política, pois, segundo ele, se não houver religião privilegiada não haverá mais nenhuma religião. Sendo assim, os homens em geral deveriam renunciar a religião para serem emancipados. Mas, Marx afirma que não se trata de quem deve ser emancipado e sim de que emancipação se trata.
Desse modo, para Marx a questão judaica deve ser compreendida a partir da análise do Estado em que o judeu se encontra. Entretanto, como na Alemanha não existe um Estado político, a questão judaica é puramente teológica, pois, a oposição do judeu ao Estado na verdade é a sua oposição ao cristianismo adotado pelo Estado. Com isso, “A crítica a essa relação deixa de ser uma crítica teológica no momento em que o Estado deixa de comportar-se teologicamente para com a religião” (MARX, 2010, p. 37).
Marx cita o exemplo dos Estados Unidos, que realizou a emancipação política plenamente e demonstrou que a religião pode coexistir perfeitamente com isso, ou seja, a presença da religião não contradiz a existência de um Estado capitalista. Com isso, a emancipação política reflete a sua limitação no momento em que ela permite se libertar de uma limitação humana (religião) sem que o homem fique realmente livre dessa limitação, quer dizer que o Estado é capaz de ser livre sem que os homens sejam realmente livres. Isto é possível pois,
O Estado político pleno constitui, por sua essência, a vida do gênero humano em oposição à sua vida material. Todos os pressupostos dessa vida egoísta continuam subsistindo fora da esfera estatal na sociedade burguesa, só que como qualidades da sociedade burguesa (MARX, 2010, p. 40).
Dessa forma, para Marx, o homem leva uma vida dupla. Uma vida na comunidade política, na qual ele atua como cidadão comunitário, e outra na sociedade burguesa, na qual ele atua como pessoa particular. Com isso, a dissociação entre a vida pública e a vida privada em uma sociedade organizada com um Estado político não é algo estranho à emancipação política, na verdade é a sua própria característica. Para Marx, o Estado que se comporta religiosamente para com a religião não o professa na forma de Estado, ele é um Estado incompleto. Por isso, o Estado Cristão da Alemanha é um Estado incompleto. Sendo o Estado cristão vinculado com o céu e com Deus, nele vigoram relações de fé. Com isso, o espírito religioso não pode ser secularizado, isto é, o Estado não pode se tornar Democrático e continua sendo cristão.
Portanto, enquanto Bauer afirma que os judeus só poderão se emancipar politicamente quando se emanciparem radicalmente do judaísmo, Marx afirma que os judeus não precisam emancipar-se do judaísmo para emancipar-se politicamente. No entanto, Marx ressalta que a emancipação política não liberta o homem da religião nem de seus problemas que surgem em sua vida particular (fora da esfera pública). Nesse sentido, com a emancipação política:
[...] o homem não foi libertado da religião. Ele ganhou a liberdade de religião. Ele não foi libertado da propriedade. Ele ganhou a liberdade de propriedade. Ele não foi libertado do egoísmo do comércio. Ele ganhou a liberdade de comércio (MARX, 2010, p. 53).
Com isso, Marx defende a emancipação dos judeus, mas não como se esse fosse o horizonte mais avançado de emancipação, mas apenas no sentido imediato, entendendo que esta forma de emancipação é a mais elevada a que a sociedade burguesa pode nos levar. Dessa forma, Marx compreende que para que todos sejam emancipados plenamente dos limites e contradições da sociedade capitalista é preciso lutar pela emancipação humana, ou seja, pelo comunismo. Sobre isso:
[...] a emancipação humana só estará plenamente realizada quando o homem individual real tiver recuperado para si o cidadão abstrato e se tornado ente genérico na qualidade de homem individual, nas suas relações individuais, quando o homem tiver reconhecido e organizado suas “forces propes” [forças próprias] como forças sociais e, em consequência, não mais separar de si mesmo a força social na forma de força política (MARX, 2010, p. 54).
A liberdade proporcionada pela emancipação humana ultrapassa os limites postos pelo capital rumo à construção de outra sociedade, ou seja, o Comunismo. “Emancipação humana, para Marx, nada mais é que outro nome para comunismo, embora a primeira enfatize a questão da liberdade e o segundo o conjunto de uma nova forma de sociabilidade” (TONET, 2005, p. 127).
A emancipação humana consiste na liberdade plena do indivíduo, e não apenas na liberdade política adquirida pelo Estado Burguês. Essa liberdade plena só pode ser conquistada em outra forma de sociedade (comunista) que ultrapasse e supere os limites da sociedade capitalista. Então, só em outro modo de produção, ou seja, em outra sociedade é que será possível a realização da emancipação humana.
Referências
MARX, KARL. Sobre a Questão Judaica. São Paulo. Ed. Boitempo. 2010.
TONET, I. Educação, Cidadania e Emancipação Humana. Ed. Unijuí, Rio Grande do Sul-RS, 2005.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 19 · N° 202 | Buenos Aires,
Marzo de 2015 |