Avaliação das ações de controle da esquistossomose mansônica em município de Minas Gerais Evaluación de las acciones de control de la esquistosomiasis mansónica en el municipio de Minas Gerais |
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*Graduada em Farmácia. Faculdades Unidas do Norte de Minas **Acadêmica de Medicina. Universidade Estácio de Sá ***Professor/a do curso de Medicina Faculdades Unidas do Norte de Minas e Faculdades integradas Pitágoras (Brasil) |
Narjara Campos de Almeida* Thais Ariane Freitas Jorge* Ludimyla Maria Ramos Costa** Laercio Fonseca Costa*** Luçandra Ramos Espírito Santo*** |
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Resumo As Esquistossomoses são doenças causadas por helmintos trematódeos do gênero schistosoma é um indicativo socioeconômico importante, estando relacionada à pobreza e sua incidência está associada à falta de saneamento ambiental, rede de abastecimento de água e coleta de esgotos. Embora a implementação dos programas de controle da parasitose em várias regiões endêmicas tenha reduzido a prevalência, intensidade de infecção e a transmissão da doença, a esquistossomose ainda é uma das doenças parasitárias mais prevalentes no mundo, sendo que o número de indivíduos infectados não apresentou mudanças significativas nos últimos 50 anos. Este estudo teve como objetivo avaliar as ações de controle da esquistossomose mansônica, desenvolvidas pelo Programa de Controle de Esquistossomose (PCE), no município de Frei Lagonegro em Minas Gerais, no período de 2006 e 2009, bem como identificação de fatores determinantes. A Metodologia utilizada foi análise dos registros no banco de dados do PCE e aplicação de questionário sócio- econômico e demográfico a população de estudo para identificação de fatores determinantes. Os resultados demonstraram aumento da prevalência da parasitose em 9,16% de 2006 para 2009. As visitas domiciliares identificaram que 100 % dos entrevistados não possuem água tratada e 13,21 % destes dispensam dejetos fezes e urina a céu aberto e 31,29 % dos indivíduos declararam terem adquirido mais de uma vez. Com este estudo observou-se que a região apresenta alta prevalência de contaminação humana pelo parasita e significativo desconhecimento da população quanto ao papel da água na contaminação pela esquistossomose, bem como seus danos a saúde humana. Unitermos: Esquistossomose. Ações. Controle.
Abstract Schistosomiasis a disease caused by helminths of the genus schistosoma trematodes is an important socioeconomic indicator, and is related to poverty and its incidence is related to poor environmental sanitation, water supply network and sewage systems. Although the implementation of control programs in several endemic regions has reduced the prevalence and intensity of infection and disease transmission, schistosomiasis is still one of the most prevalent parasitic diseases in the world, and the number of infected individuals showed no significant changes in recent 50 years. This article aims to evaluate the actions of schistosomiasis control, developed by the Schistosomiasis Control Program (PCE) in the municipality of Frei Lagonegro in Minas Gerais, between 2006 and 2009 as well as identifying factors. The methodology used was analysis of the records in the database of the PCE and questionnaire socio-economic and demographic study population to identify factors. The results showed increased prevalence of parasitosis in 2006 to 9.16% in 2009. Home visits identified that 100% of respondents do not have clean water and 13.21% of exempt waste feces and urine in the open and 31.29% of the state have already been purchased contaminated more than once. This study showed that the region has a high prevalence of human infection by the parasite and significant ignorance of the population about the role of water contamination by schistosomiasis, and their damage to human health. Unitermos: Schistosomiasi. Actions. Control.
Recepção: 21/10/2014 - Aceitação: 15/01/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As esquistossomíases, denominadas também esquistossomose, são doenças causadas por helmintos trematódeos do gênero schistosoma que tem como principais agentes etiológicos, para o homem as espécies S. mansoni, S. haematobium e S. japonicum (REY, 2008). As espécies do gênero Schistossoma que afetam o homem chegaram às Américas durante o tráfico de escravos e com imigrantes orientais e asiáticos (nos quais foram detectados numerosos indivíduos parasitados pelo S. haematobium e S. japonicum). Entretanto, apenas o S. mansoni aqui fixou, seguramente pelo encontro de bons hospedeiros intermediários e pelas condições ambientais semelhantes às da região de origem (NEVES, 2005). A esquistossomose é uma das doenças parasitárias mais prevalentes no mundo, Embora a implementação dos programas de controle em várias regiões endêmicas do mundo tenha reduzido a prevalência, a intensidade de infecção e a transmissão da doença, o número de indivíduos infectados não apresentou grandes mudanças nos últimos 50 anos. Isto parece ser resultado, principalmente, do surgimento de novos focos de transmissão, do aumento indiscriminado da população, dos movimentos migratórios da deficiência ou da falta de recursos de infra-estrutura Básica (KING, 2010). A proposta de melhoria da qualidade de vida de populações passa necessariamente pelo controle de diversas endemias. Entre elas situa-se a esquistossomose (OMS, 2010). A gravidade que assume a doença em muitos casos e o déficit orgânico que produz faz da esquistossomose um dos mais sérios problemas de saúde pública, em escala mundial e pesado fardo para as populações das áreas endêmicas (REY, 1992). Portanto o controle da esquistossomose visa interromper o ciclo evolutivo do parasito, impedindo que haja infecção de novos indivíduos. É preciso que a investigação epidemiológica assuma a complexidade da endemia compreendendo a essência social do processo saúde/doença e a historicidade dos seus determinantes (Agudelo, 1985). Os altos índices de Esquistossomose, chegando a 20,79% em algumas localidades do município, registrados pelo Programa de controle de Esquistossomose – PCE em 2006, em amostra significativa de população do município de Frei Lagonegro, região do vale do Rio Doce – MG, evidencia a necessidade de melhoramento políticas de prevenção para o controle do parasito. Tendo em vista que a água é o meio de transmissão da Esquistossomose as regiões Aglomerado Grota Dantas e Córrego Cachoeira foram escolhidas para desenvolvimento deste trabalho visto que situa-se a nascente do Rio Jacuri, o principal rio do município, que está presente em grande parte de seu território, portanto importante via de transmissão. Diante do exposto, realizou-se este estudo com o objetivo de avaliar as ações de controle da esquistossomose mansônica, desenvolvidas pelo Programa de Controle de Esquistossomose (PCE), no município de Frei Lagonegro em Minas Gerais, no período de 2006 e 2009, bem como identificar fatores determinantes para ocorrência da Esquistossomose. Com o intuito de sugerir a adoção de medidas que melhorem o serviço municipal de controle desta endemia, e de medidas sócio-educativas e preventivas para melhoria da qualidade de vida desta parcela da população com pouco acesso à informação.
Material e método
O estudo foi uma pesquisa quantitativa, retrospectiva, descritiva e de caráter de análise teórico-investigativa sobre dados coletados no banco de informação municipal do PCE, da Secretaria Municipal de Saúde de Frei Lagonegro relativos às atividades desenvolvidas pela Equipe de Controle de Endemias do respectivo município durante o ano de 2006 e 2009.
O trabalho foi realizado no município de Frei Lagonegro que tem uma população de 3.329 habitantes, em uma área de 167,47 km2, situa-se no vale do Rio Doce estado de Minas Gerais, é um município carente com incidência da Pobreza de 46,92 % e predominantemente rural 81,44 % da população (IBGE, 2011).
O plano amostral foi realizado baseado nos trabalhos do PCE, análise geográfica do município e conhecimentos prévios sobre o ciclo de desenvolvimento da doença, definiu-se para realização do estudo as regiões de zona rural denominada Aglomerado Grota Dantas e Córrego Cachoeira, com a população aproximada de 400 indivíduos, destes 318 aceitaram participar da pesquisa.
Como instrumento de coleta de dados a secretaria municipal de saúde permitiu acesso ao diário de coproscopia e tratamento do PCE das localidades citadas nos anos de 2006 e 2009. Após esta análise dos dados, foi realizada a fase de visita domiciliar onde foi aplicado questionário estruturado sobre as condições físicas e sanitárias dos domicílios, dados individuais, sócio-econômicos e epidemiológicos da população analisada.Os dados foram trabalhados e avaliados por meio dos softwares SPSS versão 17 e Microsoft Office Excel 2007. Sendo os resultados expressos em porcentagem e sob forma de tabelas. As variáveis categóricas foram descritas através de freqüências relativas.
Quanto aos aspectos éticos o presente estudo obedece aos preceitos éticos das normas da Resolução 196 de 1996. Sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FUNORTE sob o protocolo número 078/2011.
Resultados e discussão
Segundo registros dos trabalhos realizados pela equipe de PCE da vigilância epidemiológica municipal a prevalência de esquistossomose na região estudada que era 14,14 % em 2006 aumentou para 23,35 % em 2009 (Tabelas 1).
Tabela 1. Analise de registros dados coletados no banco de dados do PCE (Jan. e Fev. 2006)
Fonte: Banco de dados do PCE – Vigilância Epidemiológica Municipal
Tabela 2. Analise de registros dados coletados no banco de dados do PCE (Ago. e Set. 2009)
Fonte: banco de dados do PCE – Vigilância Epidemiológica Municipal
Tabela 3. Comparação entre os resultados de 2006 e 2009
Fonte: Banco de dados do PCE – Vigilância Epidemiológica Municipal
Foram aplicados 318 questionários em 114 domicílios aos indivíduos que aceitaram participar da pesquisa. Destes 44,3 % são do sexo masculino e 55,67 % sexo feminino, comunidades que variam entre 4 e 89 anos. Quanto ao grau de instrução, 65,40% declararam ter cursado ou estar cursando o ensino fundamental, 22,32% analfabetos, 7,54% ensino médio, 2,51 % ensino superior e 2,2 % são crianças em fase de alfabetização. Em relação à renda familiar, 93,71 % da população declararam receber até um salário mínimo, 5,66 % entre 1 e 3 salários mínimos e apenas 0,62 % declarou renda superior a 10 salários mínimo (Tabela 4).
Tabela 4. Caracterização da população
Fonte: Dados coletados
Entre as residências pesquisadas 100% são de alvenaria, possuem energia elétrica e não possuem água tratada, 13,21 % lançam seus dejetos in natura a céu aberto (córregos), 74,52 % declararam que o destino do lixo é a céu aberto e apenas 25,47 % queimam ou enterram (Tabela 5).
Tabela 5. Situação de moradia e saneamento
Fonte: Dados coletados
Dos indivíduos entrevistados todos afirmam contato com água de córregos e lagos, onde 48 utilizam para o laser, 89 no trabalho rural, 76 nas atividades domésticas e 269 mantêm outras formas de contato com águas possivelmente contaminadas. Dos 318 entrevistados 229 (72,01%) desconhecem as formas de contaminação da esquistossomose, 273 destes (89,79 %) já fizeram exame para detectar a parasitose e 163 (59,71 %) destes já se contaminaram. Dentre aqueles que declararam ter adquirido doença 51 (31,29 %) por mais de uma vez, sendo 148 (90,80 %) destes apesar de terem se reinfectado não sabem como contraíram o parasita (Tabela 6).
Tabela 6. Prevalência da esquistossomose
Fonte: Dados coletados
Os resultados levantados no banco de dados do PCE permitiram diagnosticar a fragilidade e até mesmo ineficiência do programa no município, uma vez que a prevalência da esquistossomose aumentou 9,21% de 2006 para 2009. Tal fato pode ter influencia da falta de conscientização da população pela equipe quanto a forma de contaminação, os locais que propiciam a mesma e os efeitos da doença no organismo humano. Também pode ter faltado a mesma conscientização durante a distribuição de coletores em 2009 ocasionando diminuição da adesão, pois o recolhimento de amostra que era 94,15 % em 2006 baixou para 76,47 % em 2009. Corroborando com estes resultados RAMOS (2007), verificou a inexistência de uma ação interativa e participativa dos gestores públicos do município de Itororó, não havendo assim um decréscimo significativo no número de pessoas infectadas pelo Schistosoma mansoni, observando que a interação entre os gestores do município torna-se imprescindível para que diminua os casos de esquistossomose.
Através dos resultados obtidos do questionário foi possível observar características determinantes para prevalência da esquistossomose à população. A alta prevalência de esquistossomose relaciona-se com o elevado índice analfabetismo da população estudada, consoante com BARBOSA (2009) em estudo sobre o Padrão epidemiológico da esquistossomose em comunidade de pequenos produtores rurais de Pernambuco, Brasil onde 47,5% dos pesquisados eram analfabetos relata que as cargas parasitárias dos indivíduos positivos para S. mansoni foram correlacionadas com a variável nível de escolaridade e número de contatos para verificação de relação estatística entre estas e a intensidade de infecção já que a grande maioria das famílias vive com até um salário mínimo.Neste estudo constatou-se péssimas condições de higiene ambiental e sanitária, traduzidos pela falta de água tratada, esgoto e lixo a céu aberto, são determinantes, pois fatores ambientais influenciam de forma importante o estabelecimento e a manutenção da doença, devido às características do ciclo evolutivo do parasito que requer a eliminação de ovos das fezes no meio ambientes. Em outro estudo Rollemberg et al. (2011) sobre a prevalência da esquistossomose no Estado de Sergipe, observou que a média da situação de higiene dos municípios com maior prevalência de esquistossomose era de uma cobertura de 6,6% da rede de saneamento, enquanto que os municípios com menor prevalência possuíam uma média de 15,6% de cobertura.
Em relação a reinfecção, 51 (31,29%) indivíduos entrevistados que declararam terem se contaminado por duas ou mais vezes. Este índice relaciona-se também com fatores citados e falta de conhecimento sobre as formas de contaminação. PALMEIRA (2010), revela que o binômio educação em saúde e medidas técnicas de controle tem ação comprovadamente profilática e paliativa, diminuindo os índices de reinfecção.
Conclusão
Os estudos sobre a esquistossomose em Frei Lagonegro constataram altos índices de prevalência, de reinfecção e identificou fatores determinantes, demonstrando significativo desconhecimento da população quanto ao papel da água na contaminação pela esquistossomose, bem como seus danos a saúde humana. Os resultados deste estudo traduzem a necessidade melho ria das políticas de prevenção para o controle do parasi ta, considerando-se de extrema importância que a gestão municipal de saúde proporcione a equipe do PCE maior reflexão técnico - cientifica sobre a esquistossomose. Consequentemente orientação aos indivíduos quanto à adoção de medidas sócio-educativas e preventivas para melhoria da qualidade de vida da população de Frei Lagonegro – MG.
Referências
AGUDELO, S.F. As doenças tropicais: da análise de fatores à análise de processos. In: Nunes, E. D., org. As ciências sociais em saúde na América Latina. Brasília, OPAS, 1985. p. 474.
BARBOSA , Constança Simões; BARBOSA , Frederico Simões; Padrão epidemiológico da esquistossomose em comunidade de pequenos produtores rurais de Pernambuco, Brasil; Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 14(1):129-137, jan-mar, 1998.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2010. Brasil. Cidades@. Disponível na internet http://www.ibge.gov.br. Capturado em 20 fev.2011. On line.
KING CH. Parasites and poverty: the case of schistosomiasis. Acta Trop. 2010. Fev;113(2):95-104.
NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 11ª ed. São Paulo, Atheneu, 2005.
OMS - Organização Mundial da Saúde. [homepage na internet]. Preventive Chemotherapy Databank [acesso em 10 Abril 2011] Disponível em: http://www.who.int/neglected_diseases/preventive_chemotherapy/databank/en/index.html
PALMEIRA Danylo César Correia et al.; Prevalência da infecção pelo Schistosoma mansoni em dois municípios do Estado de Alagoas; Rev Soc Bras Med Trop 43(3):313-317, mai-jun, 2010.
RAMOS MC et al.; Educação, saúde e meio ambiente: o caso da esquistossomose no município de itororó-BA; Rev.Saúde.Com 2007; 3(2): 70-76
REY, Luiz. Bases da Parasitologia Médica. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2008. 153 e 154 p.
REY, Luiz. Bases da Parasitologia Médica. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1992. 349 p.
ROLLEMBERG, C. V. V. et al. (2011). Aspectos epidemiológicos e distribuição geográfica da esquistossomose e geo-helmintos, no Estado de Sergipe, de acordo com os dados do Programa de Controle da Esquistossomose. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 44(1).
VASCONCELOS, Cíntia Honório et. al. Avaliação de medidas de controle da esquistossomose mansoni no Município de Sabará, Minas Gerais, Brasil, 1980-2007. Cad. Saúde Pública vol.25 nº.5, Rio de Janeiro 2009.
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