Brincando com a Capoeira Jugando con la Capoeira |
|||
Profª. Rede Municipal de Itirapina/SP (Brasil) |
Raquel Jalantonio |
|
|
Resumo Este trabalho teve como objetivo desenvolver a capoeira de uma forma lúdica, através de jogos e brincadeiras conhecidos pelas crianças, utilizando os elementos característicos da capoeira como a ginga, o cocorinha e a meia lua. Participaram deste projeto crianças de 5 anos de uma escola municipal de Itirapina. Durante a intervenção percebemos que a grande maioria dos alunos nunca teve contato com a capoeira. Também vimos que através do lúdico e das brincadeiras as crianças aprenderam um pouco sobre a historia da capoeira e seus movimentos característicos, e vivenciaram a capoeira sem perceber. Unitermos: Capoeira. Brincadeiras. Educação Física.
Recepção: 31/01/2015 - Aceitação: 20/02/2015
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Capoeira faz parte da cultura popular brasileira, é um elemento cultural que foi trazido pelos negros africanos e se desenvolveu durante o período da escravidão.
A capoeira foi desenvolvida pelos escravos vindos da áfrica durante o período de escravidão no Brasil. A capoeira surge como uma forma de resistência ao senhor escravocrata, sendo praticada nas senzalas para manifestar e manter a sua cultura e dizer não ao fim das raízes Africanas. A denominação capoeira aparece pela primeira vez na Guerra de Palmares, no século XVII, com a invasão holandesa os escravos aproveitaram para fugir e criar “repúblicas” (COSTA, 1995). A capoeira era praticada nos terreiros próximos às senzalas, contudo as lutas também ocorriam em campos com pequenos arbustos, denominados na época de capoeira ou capoeirão, daí o surgimento do nome desta luta.
A capoeira foi uma forma que os escravos encontraram para manterem sua cultura viva apesar da repressão por parte dos seus senhores, onde no período pós libertação dos escravos, a capoeira foi considerada ilegal.
Com o Decreto nº. do código penal da republica dos estados unidos do Brasil, de 11 de outubro de 1890, a qual estabelecia, no Capítulo XIII, que tratava dos “Vadios e Capoeiras” nos seguintes termos:
Art.339 – Deixar de exercitar profissão, ofício ou qualquer mister em que ganhe a vida, não possuindo meio de subsistência e domicílio certo em que habite prover a subsistência por meio de ocupação proibida por lei, ou manifesta ofensiva da moral e dos bons costumes. Pena de prisão celular por quinze a trinta dias.
Art. 402 – Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação de capoeiragem, andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor ou algum mal: Pena de prisão celular de dois a seis meses.
Parágrafo Único – É considerado circunstância agravante pertencer o capoeira a algum bando ou malta. Aos chefes ou cabeças se imporá a pena em dobro.
Art. 403 – No caso de reincidência será aplicada à capoeira, no grau máximo, a pena de um a três anos, a colônias penais que se fundarem em ilhas marítimas, ou nas fronteiras do território nacional, podendo para esse fim ser aproveitados os presídios militares existentes.
Parágrafo Único – Se for estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.
Art. 404 – Se nesses exercícios de capoeiragem perpetrar homicídio, praticar lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, e perturbar a ordem, a tranqüilidade e a segurança pública ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas cominadas para tais crimes.
Foi somente no governo de Getulio Vargas, o qual objetivava a integração do pais e sua reconstrução homogenia, acolheu algumas reivindicações da sociedade, onde autorizou uma serie de manifestações culturais entre elas a capoeira, mais a restringiu a recintos fechados e com alvará de instalação (LIMA, 1990 apud GONÇALVES JUNIOR, 2009).
Com essa liberação começaram a surgir centros de capoeira, onde em 1937 Mestre Bimba, funda e recebe o alvará de funcionamento do Centro de Cultura Física Regional em Salvado. A Capoeira Regional surge com regras de conduta e sistematização para fins de aceitabilidade social. Onde mestre Bimba elaborou, com os seus amplos conhecimentos de capoeira e movimentos de outras lutas, tais como o batuque, o jiu-jítsu e o boxe, essa capoeira mais rápida, que foi direcionada para o combate, onde visava retirá-la da marginalização social (CAMPOS, 2003).
Em contrapartida Mestre Pastinha, organiza e funda em 1941, o Centro Esportivo de Capoeira de Angola, a qual visava preservar o que Pastinha considerava a verdadeira capoeira, baseada numa cultura africana, cheia de ritualidade, ludicidade, teatralidade e musicalidade (GONÇALVES JUNIOR, 2009).
Ainda segundo o autor supracitado a capoeira angola configura-se com os capoeiristas presentes, sentados em roda, com uma orquestra de instrumentos, composta de três birimbaus (gunga, médio e viola) e dois pandeiros, acompanhados por agogô, reco-reco e atabaque, a orquestra fica sentada num banco de frente para a porta do recinto onde se realiza a roda. A capoeira regional costuma ter uma rimo de jogo mais lento e teatralizado, com movimentos muitas vezes bruscos e inesperados com o intuito de surpreender o outro capoeirista.
Em 1972 capoeira é homologada como um desporto, tendo a partir daí uma classificação por estágios, cordões, verde iniciante até o cordão branco de mestre, portanto uma capoeira mais voltada para a competição.
Hoje em dia podemos encontra a capoeira contemporânea, que aparentemente utilizava golpes dos dois primeiros estilos, com golpes rápidos, saltos mortais e alta elasticidade corporal, com o intuito de promover um espetáculo para os turistas.
Portanto no decorrer da historia podemos ver que a capoeira passou de uma atividade ilegal a um importante elemento pedagógico e esportivo, o qual possui a luta, o jogo e a dança em uma só atividade e hoje está presente nas escolas, academias, clubes, e centro comunitários e etc.
Objetivo especifico
O objetivo deste trabalho foi desenvolver a capoeira de uma forma lúdica, através de jogos e brincadeiras conhecidos pelas crianças, utilizando os elementos característicos da capoeira como a ginga, o cocorinha e a meia lua.
Metodologia
Este trabalho tem como objetivo a valorização da capoeira como elemento cultural popular, através do conteúdo da capoeira nas aulas de Educação Física, onde procuraremos desenvolver a capoeira de uma forma lúdica através de jogos e brincadeira com as crianças de uma escola do município de Itirapina.
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, onde numa pesquisa qualitativa o pesquisador busca entende os fenômenos, segundo a visão dos participantes do estudo para assim interpretar os dados coletados, as informações colhidas durante a pesquisa serão analisadas de forma contextualizada, não havendo generalização das informações (NEGRINE, 1999).
As atividades ocorreram dentro das aulas de Educação Física dos alunos das salas de Pré II da escola, sendo duas aulas semanais de 50 minutos cada, tanto para os alunos do período da manhã como para o período da tarde. As aulas foram aplicadas pelo próprio pesquisador, o qual desenvolveu as atividades em conjunto com os alunos (observação participante).
Sujeitos da pesquisa
Participaram das aulas crianças na faixa etária de 5 anos (n = 77), alunos do Pré II da escola, sendo 43 alunos no período da manhã (Pré II A e B) e 34 no período da tarde (Pré II C e D), divididas em duas turmas a cada período.
Local
As aulas ocorreram dentro das aulas de Educação Física de uma escola de Ensino Infantil do município de Itirapina, a escola atende crianças de 3 a 5 anos.
Aulas
A intervenção foi realizada no mês Setembro;
Duas aulas por semana durante duas semanas, sendo 4 aulas para cada Pré II;
Aula 1 – Foge capoeira;
Aula 2 – Esconde – esconde capoeira;
Aula 3 – Troca de quilombos;
Aula 4 – Golpe do capoeira.
Com a duração aproximadamente de 50 minutos.
Considerações
Durante as aulas buscamos mostrar para os alunos um pouco da historia das brincadeiras, através de personagem que faziam parte da brincadeira como, capitão do mato, os capoeiras. Também percebemos que as crianças em sua maioria conhecia a capoeira como uma luta, e não viam ela como uma dança ou um a brincadeira.
Assim, durante a intervenção buscamos mostrar aos alunos, a questão da capoeira como um elemento cultural, que veio com os escravos, o qual para se defenderem do Capitão do Mato e dos seus Senhores utilizam a capoeira como uma forma de defesa ou de manter sua cultura viva.
Também durantes as aulas buscamos mostrar a capoeira não somente como uma luta, como era vista por eles a principio, mais também como uma dança e um jogo, que depende da intenção que se da à capoeira, ela pode ser tanto luta como uma dança como uma brincadeira.
Quando perguntado no inicio da aula o que era a capoeira para eles a maioria disse ser uma luta, “Parece com judô”, outros disseram “É assim” levantou e mostrou como eles faziam, realizando uma parada de mão, eu disse que eles também faziam assim mas, a capoeira tem musica será que não pode ser uma dança também, todos disseram que sim, eu perguntei também mas, não pode ser uma brincadeira também, “Nós podemos brincar de capoeira”, e todos concordaram que sim.
Atividade 1. Foge Capoeira
Atividade consiste em uma pessoa que será o capitão do mato que deverá pegar os capoeira que tentarão passar de um lado ao outro do espaço ao comando de foge capoeira, quando pego o mesmo se torna capitão do mato e também passa a pegar junto, até que sobre apenas um capoeira.
Então dei inicio a aula dizendo que iríamos fazer uma brincadeira que eles adoram que é conhecida como mãe da rua, onde uma pessoa fica no meio do pátio e ao chamado de mãe da rua todos tem que atravessar o pátio e chegar ao outro lado sem que a mãe da rua os pegue. Mas nesse caso o aluno seria colocado no centro do pátio e seria o “Capitão do Mato”, expliquei que o capitão do mato era o responsável por prender os capoeiras que fugiam das Senzalas, (coloquei que as senzalas eram onde os capoeiras ficavam presos), e que os demais seriam os capoeiras que iriam fugir das senzalas em direção ao “quilombo“ (expliquei que os quilombos eram onde os capoeiras se escondiam quando fugiam do Capitão do Mato).
Nessa atividade todos interagiram e brincaram se que ocorresse nenhum problema, e atividade foi repetida varias vezes.
Atividade 2. Esconde-esconde Capoeira
A brincadeira é igual ao esconde-esconde normal, mas com os personagens capitão do mato e os capoeiras, onde o capitão do mato seria o pegador e os capoeiras se escondiam.
Dando continuidade a aula, expliquei aos alunos que a brincadeira agora seria de esconde-esconde que eles seriam os capoeiras que iriam se esconder, perguntei se eles se lembravam onde os capoeiras se escondiam e um aluno disse, “no quilombo”, “isso no quilombo muito bem”, e que quem ficasse aqui comigo contando ate dez seria o capitão do mato que queria capturar os capoeiras.
Nessa atividade a única dificuldade foi com relação a os alunos entenderem a brincadeira, pois todos queriam ser o capitão do mato e não se escondiam, da mesma forma que fazem quando brincam de esconde-esconde não tem ainda noção das regras, e ficavam na frente do que estava procurando no intuito de ser pego, expliquei que os capoeiras se escondiam muito bem, e que o capitão do mato não os achavam, e que iria se tornar capitão do mato o ultimo capoeira a ser achado, assim a brincadeira foi realizada melhor e todos participaram.
Atividade 3. Troca de quilombo
A brincadeira consiste em vários Quilombos espalhado pelo espaço e em cada um 1 Capoeira, e fora deles 1 Capitão do mato, ao comando de “Troca de Quilombo”, todos os capoeiras terão que trocar de quilombo e o capitão do mato tentara invadir um dos quilombos, a pessoa que ficar sem quilombo se tornara capitão do mato, e assim por diante.
Expliquei aos alunos que iríamos dar continuidade à aula de capoeira que hoje iríamos brincar de outra brincadeira, disse que iramos brincar de troca de quilombo, perguntei se eles lembravam o que era o quilombo, todos disseram que era onde os capoeiras se escondiam, perguntei por que eles se escondiam, e um disse: “por que o capitão do mato queria pegar ele” e outro disse “ele tava bravo por que o capoeira pisou no mato dele” e todos deram risada, expliquei que o capitão do mato queria pegar os capoeiras por que os donos das fazendas queriam que os capoeiras trabalhassem para ele e os deixavam presos na senzala, e que muitos capoeiras fugiam pois eram mal tratados pelos senhores das fazenda.
Expliquei que a brincadeira seria igual ao coelhinho sai da toca, que os bambolês seriam os Quilombos onde os capoeiras estariam escondidos e que no meio sem bambolê estaria o Capitão do mato que iria tentar invadir o quilombo, assim quando eu disse-se troca de quilombo todos teriam que trocar de lugar e o aluno que estivesse sem bambolê tentaria entrar no bambolê (quilombo) de alguém.
Nessa brincadeira novamente foi difícil no começo os alunos entenderem que eles teriam que entrar em outro bambolê e não ficar sem, pois alguns alunos em vez de trocar de lugar apenas ficavam esperam os outros entrarem nos bambolês para ele ficar no meio e ser o Capitão do mato, portanto quando percebia que um ou outro aluno já havia ficado no centro e se tornado capitão do mato eu dizia para ele escolher outro amiguinho que não tinha ainda se tornado Capitão do mato, para assim todos participarem.
Depois que os alunos entenderam como funcionava a brincadeira disse que iria colocar a musica da capoeira e quando essa musica parasse eles teriam que trocar de lugar, e no decorrer da brincadeira coloque palmas também, eles teriam que bater palmas enquanto a musica estava tocando e quando parasse trocavam de lugar.
Atividade 4. Golpe do capoeira
Desenhado no chão pelo espaço vários Triângulos, com o intuito de realizar a ginga ou golpe do capoeira pisando com os pés na base.
Desenhei triângulos no chão que seria os Quilombos onde os capoeira estavam escondidos, e que nesse quilombo os capoeira dançavam, expliquei como era a dança do capoeira (ginga), colocando um pé de cada lado da base do triangulo e ao som da musica teria que colocar o pé atrás e de volta a base fazendo assim a ginga ou como disse a eles a dança do capoeira.
Após as crianças já terem entendido a ginga falei que agora eles iriam realizar o golpe do capoeira (a cocorinha e a meia lua), então ainda no triangulo desenhado no chão mais agora em pares frente a frente, mostrei a eles que um teria que fazer o golpe do capoeira (meia lua) e o outro teria que se defender (cocorinha), sendo que seria apenas para imitarem os golpes, que não era para acertar o amigo, um aluno disse, “senão machuca”, “isso machuca”, e os capoeiras não machucam as pessoas, eles apenas brincam de capoeira.
No começo alguns alunos encontraram dificuldade na cocorinha então apenas agachavam e protegiam o rosto enquanto o outro passava a perna por cima da cabeça deles.
A atividade transcorreu muito bem, ao final coloquei a musica da capoeira e eles teriam que fazer a dança do capoeira e os golpes durante a musica, e quando parasse a musica eles teriam que trocar de pares, para que assim todos brincassem com todos.
Conclusões
A capoeira faz parte da cultura popular, muitas vezes encarada como luta, briga mais que tem um grande valor cultural, que nos remete a cooperação, a movimentação característica, o ritmo, a ordem e etc.
Assim o intuito desse trabalho foi colocar a brincadeira como um elemento facilitador para o aprendizado dos elementos da capoeira, e mostrar que desde pequenos as crianças já devem e entendem o valor cultural e histórico da capoeira, sendo assim importante a inserção desse conteúdo nas aulas de educação física, pois, percebemos uma boa aceitação por parte dos alunos com relação à capoeira quando desenvolvida de uma forma lúdica e divertida.
Então, desde que trabalhada de uma forma educativa, através do lúdico, das brincadeiras, a capoeira é muito importante na educação básica, e se desenvolvida desde cedo ira promover uma maior facilidade na aceitação desse conteúdo nas aulas de Educação Física nos anos posteriores.
Esse trabalho mostrou um pouco da minha vivencia e experiência com a capoeira, mostrando que a capoeira pode e deve ser vivenciada no Ensino Infantil em especial nas aulas de Educação Física de forma lúdica e divertida.
Referencias bibliográficas
ANDRÉ, Marli E.D.A. Etimologia da pratica escolar: Campinas: Papirus, 1995.
CAMPOS, Hélio. Capoeira na Escola. Salvador: EDUFBA, 2003.
COSTA, Lamartine P. da. Capoeira sem mestre. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.
GONÇALVES JUNIOR, Luiz. Dialogando sobre a capoeira: possibilidades de intervenção a partir da motricidade humana. Motriz. Rio Claro. V.15, nº3, p.700-707, 2009.
NEGRINE, Airton. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. In: Molina Neto, Vicente: Trivinos, Augusto N.S. (org.). A pesquisa qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Editora Universitária/UFRGS/Sulina, 1999, p. 61-93.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 19 · N° 202 | Buenos Aires,
Marzo de 2015 |