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Estudo das bases neuropedagógicas e o papel do educador na construção da aprendizagem frente à educação emocional e cognitiva do aluno

Estudio de las bases neuropedagógicas y el papel del educador en la construcción
del aprendizaje frente a la educación emocional y cognitiva del alumno

 

*Professor Bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Educação, Organização e Avaliação para o ensino,

 docente da unidade Cabo Frio da Universidade Veiga de Almeida, Cabo Frio, Rio de Janeiro

**Especialista em Neurociências Pedagógicas, Docente e Orientador Pedagógico e Educacional, 

Secretaria Municipal de Educação de Araruama, Universidade Cândido Mendes, Araruama, Rio de Janeiro

(Brasil)

Ricardo De Mattos Fernandes*

ricardofernandesvela@gmail.com

José Hélito Nunes de Marins**

zehelito@globo.com

 

 

 

 

Resumo

          O atual estudo visou abordar a relação interpessoal professor e aluno no que tange o processo de ensino e aprendizagem através da ótica da neuropedagogia. Com o passar do tempo o homem, intrigado com o funcionamento do cérebro, vem cada vez mais pesquisando e estudando este tão importante órgão. Multiplicam-se as tentativas do entendimento deste mecanismo biológico e muitos progressos foram feitos até os dias atuais. Neste contexto encontramos o desenvolvimento dos estudos e pesquisas da neurociência e seu novo ramo de pesquisa a neuropedagogia. O desenvolvimento social e as novas tendências educacionais geraram demandas que anseiam por novas ações educacionais que permitam o aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem e a relação interpessoal professor e aluno. Com a Neuropedagogia pode-se ter uma visão científica que gere subsídios sobre o assunto e sinalize para as ações que se fazem necessárias para o sucesso deste processo educacional.

          Unitermos: Educação. Educação Escolar. Neurociência. Neuropedagogia.

 

Recepção: 03/02/2015 - Aceitação: 08/03/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os estudos neurocientíficos vêm alargando os horizontes da compreensão em torno do encéfalo. Esta pesquisa emerge da necessidade de entender como o cérebro aprende, vislumbrando a sinergia educando e educador na construção do saber, permeando as nuances psicológicas, emocionais, cognitivas e sociais que o assunto suscita.

    O século XXI conclama os investigadores do processo educacional a se afastar do processo reducionista e arcaico do aprendizado, permitindo uma aproximação com os novos paradigmas que surgem no bojo da neurociência, apresentando o cérebro como mecanismo de potencialidade biológica ampla e reorganizador.

    Já vem sendo apregoado com ênfase, que o prazer deverá estar vinculado ao ato de construir o conhecimento, para tanto o sistema límbico canaliza sua ação vigorosa nos centros de memória, fazendo com que o nível de interesse viabilize o armazenamento da informação.

    Esta pesquisa trilhou pelo caminho investigativo, através do olhar da neurociência, gerando a visão de que o ambiente, a estrutura biológica, o perfil emocional e neural, na relação interpessoal professor e aluno podem, de acordo com a sua natureza, estabelecer o êxito da concretização cultural.

A neurociência e a educação

    Ao longo do tempo o homem sempre esteve intrigado com o funcionamento do cérebro. As análises se multiplicaram, ora aproximadas à lógica, em outros instantes absurdas, mas todas se enveredando pela busca do entendimento deste mecanismo biológico.

    Hipócrates, nas cogitações médicas, afirmou que através do cérebro o indivíduo experimentava as emoções primárias, como também ensejava o aprendizado. Ideias diversificadas eram apresentadas nos círculos pensantes da época. Foi assim que, no século XVIII, veio à baila o postulado de que a ação do encéfalo se dava pela presença de espíritos no interior do mesmo.

    O notável médico e neuroanatomista austríaco Franz Joseph Gall elaborou estudos interessantes sobre a estrutura cortical, expondo que determinadas áreas aumentam de acordo com atividade exercida (LENT, 2010). Segundo Lent (2010, p. 26): “Gall acreditava que o cérebro é uma máquina sofisticada que produz comportamento, pensamento e emoção, e que o córtex cerebral é na verdade um conjunto de órgãos com diferentes funções”. Tempos depois novas descobertas surgirão apresentando uma nova configuração do cérebro.

    Nas atividades levadas a efeito pelo córtex, podemos entrever desde mensagens para inibir o metabolismo, até comandos para produzir substâncias químicas importantes, objetivando a manutenção da homeostase. Estudos vêm sondando a intimidade do telencéfalo, esboçando sua arquitetura biológica, desvendando seu universo de funções, onde o ser humano passa a perceber a realidade de estímulos, que altera o conduzimento no cotidiano.

    O neurologista Francês Pierre-Paul Broca se dedicou a analisar o comportamento do Monsieur Laborgne, depois que o mesmo foi acometido de um acidente vascular cerebral. Constatou o renomado cientista que Laborgne não conseguia falar. Ao falecer, seu cérebro foi submetido a pesquisas acuradas, quando ficou confirmada uma lesão na terceira circunvolução esquerda frontal, que passou a se chamar área de broca ou região da fala. Inúmeros estudiosos passaram a trazer contribuições substanciais para o entendimento do comportamento humano, como Carl Wernicke, que descobriu a área da compreensão da fala. Cajal verificou que as células nervosas transmitem informações para o corpo, estabelecendo ações essenciais na manutenção da vida.

    Na complexidade do cérebro o sistema límbico possui aspecto singular, uma vez que supervisiona e coordena as emoções, substrato biológico de real valor em todas as atitudes do indivíduo. Observa-se, então que o mecanismo cognitivo apresenta forte expressão de afetividade, a fim de emergir a matriz intelectual.

    O educador, para ensinar com eficiência precisa se assenhorear do conhecimento em torno do cérebro, em virtude da especificidade que lhe é peculiar. Segundo Relvas (2012, p. 54):

    O novo caminho que o professor poderá percorrer, a fim de despertar o interesse do estudante diante das novas aprendizagens é por meio das conexões afetivas e emocionais do sistema límbico, sendo estas ativadas no cérebro de recompensa. Por isso, precisam ser preservadas e respeitadas, pois são centelhas energéticas que provocam a liberação de substâncias naturais, os mensageiros químicos conhecidos como serotonina e dopamina, pois estão relacionados à satisfação, ao prazer e ao humor.

    Nas unidades escolares, muitas vezes, os ensinantes comunicam atitudes radicais, autoritárias e antipedagógicas aos alunos, não visualizando que ali está um conglomerado de indivíduos, que vem a configurar uma biologia cerebral com suas múltiplas peculiaridades.

    Cabe ao professor perceber, que o aspecto emocional constitui em elemento primordial no desencadear e consolidação do saber. Estudiosos como o Prof. Machado (2008, p. 98) expõe: “Quando se envolve o sistema límbico no ensino e aprendizagem, isto é, deliberadamente envolvem-se as emoções, dominam-se forças poderosas, que formam a aprendizagem mais eficaz”.

    Diante destes argumentos o educador, através de uma análise meticulosa, detectará as variáveis da personalidade e as características afeto-psicomotoras, objetivando empregar precisa diretriz pedagógica, viabilizando o dilatar do conhecimento. Para tanto, o aprofundamento no estudo do telencéfalo é urgente, a fim de aparelhar os profissionais de educação, tendo como escopo o desenvolvimento de uma educação de qualidade.

    A neuropedagogia possui apontamentos científicos significativos, que fornecem ferramentas preciosas aos docentes, oportunizando ações educativas dinâmicas. Segundo Relvas (2012, p. 53):

    O conhecimento e a aplicação da neuropedagogia na educação perpassa por uma visão neurocientífica do processo de ensinar e aprender. Contribui na identificação de uma análise biopsicológica e comportamental do educando por meio dos estudos de anatomia e da fisiologia do sistema nervoso. Explica, modela e descreve os mecanismos neuronais que sustentam os atos perceptivos, cognitivos, motores, afetivos e emocionais da aprendizagem.

    Conhecer como o aluno aprende, perpassa pela reflexão acurada do córtex encefálico com todas as suas estruturas, com desdobramento nos estímulos ambientais e nas ações neurais. Após pesquisas demoradas, constatou-se que a célula nervosa é que veicula mensagens cognitivas durante o processo de aprendizagem. Através das redes neurais, o impulso elétrico conduz ideia de um neurônio para outro, facultando o registro na memória.

    As escolas basearam, durante décadas, sua metodologia num diapasão tradicional, em que o aluno recebia as informações de maneira passiva, onde o professor era o senhor do conhecimento e o aprendente alguém destituído da esteira do saber. Estes postulados vigoram até o momento presente, subtraindo no contexto da formação a realidade social, comunitária, ética, afetiva, emocional e cognitiva do educando.

    Os currículos escolares alinham procedimentos estanques e estranguladores da criatividade, como também da aprendizagem significativa. Não considera o ser humano com o perfil heterogêneo e características particulares, estabelecendo um padrão único de ensino para todos. As consequências advindas deste mecanismo educativo têm sido nocivo, alargando os horizontes da segregação cognitiva.

    Vários teóricos trouxeram expressiva contribuição ao processo educacional, no entanto, o cérebro como elemento essencial no aprender recebeu considerações superficiais.

    Estudiosos como Piaget alinham, que o desenvolvimento da inteligência se devia às interações sociais, onde o indivíduo vai construindo a percepção dentro de faixas etárias especificas, tendo o contributo do sentimento. O ambiente desencadeava estímulos que geravam a inserção do ser humano na realidade circundante. Piaget (1967, apud LA TAILLE, 1992, p. 11) aborda que “a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais, que são, em geral, demasiadamente negligenciadas”.

    As escolas ministram suas tarefas dentro do modelo arcaico, estanque e segregatório, não valorizando o intercâmbio de ideias, o debate, o desafio, instigando o aprendente na construção do saber. Existem algumas mudanças neste horizonte cultural, no entanto, as elites dirigentes, através de certa maquiagem nas políticas públicas, mantêm as classes populares alijadas da educação de qualidade. Fatores variados se conjugam para a manutenção do sujeito cerebral no primarismo das concepções, sem a elaboração do cidadão reflexivo-crítico.

    A educação é uma prática que interfere no cotidiano, alterando a estrutura da sociedade, podendo essa alteração estabelecer ações castradoras ou libertadoras. Caberá, em parte, aos profissionais de educação, aliados a outros segmentos do conglomerado humano, operacionalizar uma escola dinâmica, criativa, prazerosa, afetuosa e progressista, em que o indivíduo na dimensão de construtor do conhecimento o faça de maneira substancial. La Taille, ao citar Vygotski (1992, p. 76):

    Coloca que o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulso, afeto e emoção. Nesta esfera estaria a razão última do pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva.

    A neurociência oferece à educação contribuição relevante, que pode favorecer a diminuição dos mecanismos de discriminação cognitiva. Ao tempo que desvela o cérebro, explica o seu funcionamento, elucidando questões tidas como mitos na aprendizagem. Por exemplo, comenta-se que o homem só utiliza 10% (dez por cento) do cérebro, porém de acordo com Della Chiesa (2012, p. 49):

    As descobertas da neurociência agora mostram que 100% do cérebro é ativo. Na neurocirurgia, quando é possível observar funções cerebrais em pacientes com anestesia local, estímulos elétricos não revelam área inativa alguma, mesmo quando não há movimento, sensação ou emoção sendo observados. Nenhuma área fica completamente inativa, mesmo durante o sono; se ficasse isso indicaria um sério distúrbio funcional.

    Os apontamentos de estudiosos atualizados e em acordo com as descobertas mais recentes vêm demonstrar o movimento permanente do encéfalo, no seu quimismo pensante, que veicula emoção e ideias. Como expressa Kolb & Whishaw (2002, p.79), “no sistema nervoso humano existem aproximadamente 100 bilhões de neurônios e talvez um número dez vezes maior de células da glia”.

    O professor necessita se apoderar destes conceitos científicos para melhor realizar as atividades docentes. Observar o alunado, conhecer as diversas personalidades que ali estão, verificar os limites e capacidades, visando potencializar a cerebração.

    O ato de lecionar não pode se fixar dentro de ações imóveis, radicais e imobilizadoras. Ensinar reclama apaixonar-se pelo labor professoral, entendendo esta perspectiva como atitude profissional criativa e libertadora. Se o movimento é libertador, essa mediação docente deverá romper com o estilo “bancário” de ensinar, oportunizando o desenvolvimento das competências e habilidades.

Cérebro, emoção e aprendizagem

    No século XX que, no lastro dos ambientes perquiridores, Paul Maclean começa a estudar a neurologia das emoções. Este pesquisador percebe, então, a importância de certas estruturas, como o hipotálamo para o registro emocional e o córtex cerebral para a decodificação e vivência das matrizes afetivas. Tal pesquisa acentuava que os estímulos ambientais facultam o eclodir de comportamentos emocionais, que são canalizados para o cérebro, onde iram ser decodificadas, se exteriorizando, inclusive, transitando como bioenergia nos sistemas orgânicos.

    No ano de 1952 Maclean cria a nomenclatura sistema límbico, para substituir a expressão cérebro visceral. Durante as elucubrações levadas a efeito, o cientista, demonstra que as estruturas do sistema límbico agem de maneira integrada, permitindo entrever que o encéfalo não é uma máquina biológica estanque. Ainda na rota dos conteúdos Ledoux (1998, p. 93) afirma que “as emoções foram qualificadas como funções cerebrais atuantes na sobrevivência do indivíduo e da espécie”.

    Os registros acima demonstram a interdependência do sistema que controla as emoções, como também, seu aspecto singular na preservação da espécie humana. William James proclamou que as emoções eram coordenadas pelas áreas sensoriais e motoras do cérebro. Estas ideias penetraram o tecido social-científico, tendo sido, tempos depois, contestadas por Cannon e Bard, que sustentavam serem as emoções produzidas pelo hipotálamo.

    O dedicado anatomista James Papez produz reflexões demoradas sobre o encéfalo, objetivando entender as reações humanas na expressão múltipla dos estados emocionais. Assim, Correa (2010, p. 288) argumenta que:

    Papez foi muito além de Cannon e Bard na compreensão da comunicação entre hipotálamo e córtex, assim como as regiões corticais que participam do processo. Papez propôs uma série de conexões do hipotálamo para o tálamo anterior e o córtex do cíngulo. As emoções ocorreriam quando o córtex do cíngulo integra sinais do córtex sensorial (parte do córtex lateral evolucionariamente mais recente) e do hipotálamo. Informações partidas do córtex do cíngulo para o hipocampo e depois para o hipotálamo permitiriam que os pensamentos situados no córtex cerebral controlem as reações emocionais.

    Descartes estabeleceu uma dualidade mente e corpo, no entanto, com o passar dos anos, novas ideias emergiram das fontes científicas a proclamar, que mente e corpo interagem sobre o permear das moléculas da emoção. Só existe aprendizado quando se mantém um trânsito de atenção, querer, prazer e bem-estar que emerge e consolida. Segundo Relvas (2012, p. 35):

    Antonio Damásio, neurocientista, em seu livro “O erro de Descartes”, razão e emoção estão intimamente ligadas, e a ausência de sentimentos e de emoção não constrói a racionalidade. Segundo alguns autores, utilizar apenas a razão para a solução de problemas não é a melhor forma para um mundo mais saudável nem mais feliz.

    A cerebração e o pensar para aprender, de maneira positiva, se constroem com emoção saudável, pois ela produz serotonina, dopamina, glutamato, que viabilizam o ato de assimilar saberes. Logo, o homem que se elabora, percebendo sua intimidade através do viés do conhecimento, ressignificando diretrizes, desconstruindo conceitos, para assimilação de conteúdos mais criativos e fecundos, se endereça na materialização de uma sociedade mais ética e fraterna.

    O metabolismo obedece às suas orientações acoplado a sistemas coadjuvantes. Verifica-se que o cérebro possui dois hemisférios, o direito e o esquerdo, cada qual com sua função específica. O primeiro está relacionado à criatividade, às artes, às relações espaciais e quantitativas. O segundo tem função nas áreas dos cálculos matemáticos, da escrita, da fala, da leitura, da compreensão linguística, etc. Os neurônios, unidades funcionais do sistema nervoso, estabelecem a mensagem bioquímica, fazendo com que a informação alcance as estruturas cerebrais pertinentes.

    O sistema nervoso central é formado pelo encéfalo e tronco cerebral, sendo que, no primeiro, temos o lobo frontal responsável pela capacidade de pensar, decidir, planejar. O lobo parietal possui vínculo com o sistema motor, somatossensitivo, espacial, efetuando a integração e interpretação, integrando e interpretando os estímulos oriundos dos canais neurais. O lobo temporal se vincula a olfação e a gustação, como também ao sistema límbico. O lobo occipital capta os estímulos do meio ambiente pela visão, passa pelas estruturas do córtex e é decodificada, tomando o indivíduo consciência do que ocorre.

    No telencéfalo encontra-se a substância cinzenta, onde uma miríade de corpos celulares imprime a coloração especifica. Nos corpos celulares estão presentes várias organelas celulares, como ribossomos, mitocôndrias, retículo endoplasmático e complexo de golgi, responsáveis pela ação metabólica.

    A substância branca esta localizada na parte interna do cérebro, sendo composta pelos axônios que dão esta coloração esbranquiçada. Existem no córtex encefálico membranas cognominadas de meninges, que protegem o encéfalo, sendo elas: dura-máter, aracnoide e pia-máter. Com esta matriz biológica de proteção, o cérebro possui os impactos amortecidos, através do líquido cefalorraquidiano ou líquor, que se movimenta entre a aracnoide e a pia-máter.

    O sistema límbico é um sistema extremamente importante no contexto do sujeito pensante, pois ele controla as emoções além de outras funções pertinentes. Ai se encontra localizado o centro da memória, o hipocampo, que registra os acontecimentos, que foram significativos para o indivíduo. Como expressa Corrêa (2010, p. 303):

    O hipocampo é quase inteiramente dependente das áreas para-límbicas devido à sua rede de recepção sensorial cortical. Outras conexões importantes da formação hipocampal incluem o hipotálamo e outros componentes do sistema límbico, especialmente a amígdala e área septal. O hipocampo está envolvido nos fenômenos de experiência comportamental, no controle endócrino e na imunorregulação, mas suas funções fundamentais estão ligadas à memória e aprendizagem.

    Desta forma, se percebe a importância do hipocampo no ato de aprender. Dentro do sistema citado o tálamo exerce ação substancial, distribuindo as informações para as regiões específicas e eliminando as inexpressivas. O hipotálamo é uma estrutura que atua no controle da fome, da sede, do impulso sexual e homeostase. Aciona determinadas glândulas na produção de hormônios necessários a vida humana.

    Conforme expressa Ratey (2002, p. 255):

    O sistema límbico compreende a amígdala, o hipocampo, o tálamo medial, o núcleo acumbente e o prosencéfalo basal: todo este conjunto está ligado ao giro cingulado anterior, o qual constitui a principal porta de acesso ao córtex frontal. Este sistema é o ponto de partida das emoções e o responsável pela conexão emocional com o córtex pré-frontal cognitivo.

    Importante assinalar que o disparar dos sentimentos desencadeia movimentos motores. O lobo parietal é articulado a área da motricidade e somatossensorial em que as expressões da face, mãos, membros superiores e inferiores manifestam oscilações corporais. Inclusive os sentimentos interferem no metabolismo orgânico, no batimento cardíaco, na produção de adrenalina, demonstrando a influência exercida sobre o indivíduo.

    As emoções como irritação, medo, alegria, tristeza, ódio, amor produzem efeitos diversos no organismo humano, carreando suas ações bioquímicas. Neurotransmissores são elaborados e oferecem o tom de sentimentos oriundos dos mecanismos que envolvem o ser humano.

    O aluno que apresenta um perfil negativo tem profundas conturbações para se escolarizar. Trabalhos de pensadores têm trazido à baila apontamentos interessantes sobre essa relação aluno e escola. Segundo Relvas (2011, p. 118): “as pesquisas mostram que as crianças que tem dificuldades de relacionamento na escola têm oito vezes mais oportunidade de fracassar em suas ambições”.

    Neste contexto, diversas substâncias neuronais surgem em virtude dos estímulos internos e externos. Quando o sentimento é tocado pelo prazer à dopamina é destilada no mundo físico do indivíduo, oportunizando a experimentação saudável. Produzida na substância negra, se faz presente no aprendizado, como também, a serotonina e a noradrenalina, a primeira produzida no núcleo da raf e a segunda no locus ceruleus.

    Através do conhecimento que a neurociência veicula, informações preciosas chegam ao educador para que o mesmo instrumentalize o ato de lecionar com mais eficiência.

    A decifração das funções do cérebro permite aperfeiçoar ações docentes, educativas e pedagógicas. A sala de aula passa a ser ambiente neuroeducativo, pois o aprendizado é neurobiológico. O professor, em suas tarefas cotidianas, deverá estar mobilizado na motivação para instigar no aluno o prazer pelo assunto desdobrado. Sua atividade não poderá ser melancólica, sem empolgação, pois tal procedimento arruinará o ato de lecionar e, consequentemente, de aprender.

    O aluno que não recebe estímulos adequados para o aprendizado produzirá neurotransmissores como o cortisol e adrenalina, que bloqueiam o mecanismo de assimilação de conteúdos. Os neurônios passam a ter o processo da sinapse interrompido devido à ausência do prazer e bem-estar que as moléculas da emoção geram.

    O sistema de recompensa propicia experimentação de autoestima, tornando prazeroso o pensar. Através dos neurônios piramidais e fusiformes, que se encontram no neocórtex, o ser humano produz o pensamento. Desta forma Relvas afirma que (2012, pág. 93):

    O núcleus accumbens participa muito ativamente na fisiologia do prazer e emite projeções nervosas para o córtex pré-frontal que prepara toda dinâmica do nosso comportamento emocional. Ao conjunto neural formado pelo VTA (área tegumentar ventral) – feixe neural – núcleus accumbens – damos o nome de circuito de recompensa.

    No ato de aprender, as estruturas neuronais e cerebrais atuam com interdependência, comunicando-se os lóbulos frontal, parietal, temporal e occipital para elaboração da leitura e escrita, em síntese do saber.

    O educador, percebendo os limites e possibilidades do seu alunado, utilizará métodos que construam a rota para o crescimento, observando as construções neurais facilitadoras.

    O sistema nervoso atuará nas sinapses, propiciando o conhecimento da informação, que, chegando ao hipotálamo, será armazenada se o conteúdo for importante.

    Não existe aprendizado sem a participação da emoção, pois ela vitaliza o ato de assimilar ou rejeita os elementos cognitivos. Caberá ao professor ter habilidade, adicionando as ideias das ciências às características do alunado. Os estudiosos do assunto apontam que, além de desejar querer, existem outros procedimentos que propiciam um bom aprendizado, tais como: exercício físico regular, boa alimentação, contato com ambiente desencadeador da cultura.

    Todos os recursos devem ser empregados pelo ensinante para contagiar sua aula, dinamizando-a, para que o saber seja algo desejável. O aluno, ao chegar à escola, necessita estar num ambiente estimulante, agregador, fascinante, no qual os estímulos externos gerem o dilatar da neuroaprendizagem. A equipe de suporte pedagógico da instituição escolar, buscando aperfeiçoar seu fazer laboral, assimilará os informes da pedagogia da afetividade, como dispositivo essencial à atividade docente.

    Sentimento e emoções vigem na essência do mecanismo de ensino. Relvas (2012, p. 38) afirma que:

    O processo de aprendizagem é acompanhado por sentimentos, envolvendo o domínio de conhecimento na forma de fatos, figuras e pensamentos. A emoção ativa a atenção (o acompanhamento primário e mais vital de qualquer ato de aprendizagem ou processamento da informação), que depois desencadeia a memória de curto e longo prazo e, eventualmente, torna o processo de aprendizagem possível. Para se ter aprendizagem, é preciso que ocorra excitação emocional”.

    O sistema de ensino precisa se aparelhar, objetivando oferecer aos professores condições adequadas para a realização do trabalho pertinente. O estabelecimento de ensino requer uma equipe multiprofissional, que venha auxiliar o educador em seu ofício. A presença de neuropedagogos, psicomotricistas, psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, nos dias atuais, se faz importante, por ser o ato educacional processo integrador. O educador deverá se valer de implementos pedagógicos dentro de uma visão neurocientifica, que, sem sombra de dúvida, facilita o processo de aprendizagem.

Inteligências, habilidades, cognição e emoção

    Ao longo do percurso dos estudos científicos o homem tem buscado entender a realidade de suas características. O cérebro tem sido foco de observações frequentes e as descobertas vêm proporcionando à comunidade humana significativa percepção de si mesmo.

    O encéfalo, coordenando e supervisionando as atividades no sistema biológico, possui na sua intimidade estruturas que acionam o eclodir de habilidades. Estas habilidades precisarão ser fomentadas num ambiente notadamente estimulador e agradável, gerando a atmosfera potencializadora.

    Assim se expressa Relvas (2012, p.137):

    A escola é constituída por profissionais que precisam cada vez mais estudar e se aperfeiçoar em saberes do contexto da escolarização e da educação, não bastando apenas lançar e transmitir conteúdos. É preciso fazer o educando perceber e reconhecer suas habilidades e competências, principalmente ter autoconfiança.

    Num ambiente escolar em que o educando se vincula para o aprendizado, carreia consigo sua personalidade, onde limitações e avanços emergem no cotidiano da empreitada cultural.

    O ensinante, dentro das ações pedagógicas e educativas, fará movimentar processos dinâmicos que viabilizarão a construção de um ambiente disparador da confiança nas realizações pessoais. Levar o aprendente a refletir que capacidade intelectiva se conquista com empenho, dedicação, ética, disciplina e compartilhamento. A neurociência possui um vasto conteúdo para auxiliar o professor.

    Hoje a ciência afirma que o telencéfalo possui dois hemisférios cerebrais. O hemisfério esquerdo está ligado à razão, o cálculo, à escrita, à fala, à compreensão linguística, enquanto o hemisfério direito se comunica com a arte, a música, a criatividade, a intuição. Estes dados são expressivamente relevantes para o educador, que já não é o profissional do passado, exclusivamente municiador de informações e sim, articulador de saberes numa visão clara da matriz biológica.

    Relvas ao citar Lent (2008, p. 78) diz:

    [...] o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos seres humanos, mas isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é também responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no reconhecimento de faces, especialmente quando se trata de aspectos gerais.

    Uma sociedade onde as competências serão vislumbradas na vocação cognitiva do indivíduo, aliadas a percepções pedagógicas no contexto da neuroaprendizagem, em que a ética seja considerada, conseguirá resultados exitosos.

    Ao se alfabetizar, o aluno recebe o estímulo do ambiente, que chega ao lobo occipital, sendo dirigido ao tálamo, que remete ao córtex frontal e este, por sua vez, faz chegar ao hipotálamo para fixar na memória.

    A repetição do processo de ensinar constrói as redes celulares específicas, nas quais surge o aprendizado. As habilidades são desenvolvidas à medida que este sujeito cerebral vai sendo cativado por uma aula instigante e transformadora. A capacidade para aprender está ao alcance de todos.

    Relvas (2012, p. 43) expõe:

    Todos os alunos podem aprender. Isto tem se tornado cada dia mais claro, porém a aprendizagem de cada um é diferente, acontece em tempos e etapas diferentes e se desencadeia a partir de estímulos diferentes. Estas diferenças todas demarcadas em suas atividades neurocerebrais. Há um trajeto químico no cérebro que mantém e que operacionaliza cada ação executada por nossos alunos.

    Quando o educador conhecer a neuroaprendizagem, a natureza cognitiva e emocional dos neurotransmissores poderá alavancar a construção do conhecimento, despertando as habilidades intrínsecas a cada educando.

Metodologia

    O processo metodológico constituiu-se de pesquisa bibliográfica, aprofundada em vários livros, revistas e E-book, onde coletou-se informações substanciais para efetuar o estudo. De acordo com Marconi e Lakatos (2003, p. 183):

    Para Manzo (1971, p. 32), a bibliografia pertinente ‘oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente’ e tem por objetivo permitir ao cientista ‘o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações’ (TRUJILLO, 1974, p. 230). Dessa forma, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras.

    Neste contexto elegeu-se falar sobre o cérebro e o mecanismo de influência da emoção em torno das ações cognitivas. A matriz de reflexão foi fecunda, na qual, após análise realizada, trouxe a demonstração inequívoca que sem emoção não há cognição. Algumas obras se constituíram em elementos base desta investigação científica, dentre elas destacam-se as obras: “Cem bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais de Neurociência” cujo autor é Roberto Lent; e “Neurociência na Prática Pedagógica e Que cérebro é esse que chegou a escola? As Bases Neurocientíficas da Aprendizagem” tendo como autora Marta Relvas. Os demais livros e revistas estão alinhados na bibliografia.

Conclusão

    O tema sobre análise do encéfalo é sobremaneira fascinante. Sua pesquisa é fundamental, uma vez que o cérebro é o órgão da aprendizagem. O estudo científico é necessário, sobretudo com a vertente pedagógica. Buscar os eventos investigativos, que demonstrem a relação visceral entre a matriz cognitiva e emocional é preponderante.

    A amplitude desta pesquisa a torna significativa no momento hodierno. Diante das segregações cognitivas, a neuropedagogia oferece uma ferramenta ao educador capaz de melhorar o processo ensino-aprendizagem.

    Na esteira das buscas de compreensão dos processos biológicos do conhecimento, depara-se o educador com fatos dos mais significativos. Empreender reflexões demoradas em torno da importância da afetividade neste mecanismo de assenhorear informações, adentrar com a sonda da observação nas estruturas cerebrais, que coordenam a emoção e verificar suas reações nos atores sociais envolvidos na célula educacional, permiti compreender de maneira mais abrangente o processo de aprendizagem.

    Este trabalho acadêmico emerge como elemento de ciência a contribuir para a visualização de aspectos importantes da rigidez educacional, que não poderão ser descurados, afim de que progressivamente os bolsões de exclusão sejam diminuídos pelas descobertas da neurociência.

    Nesta atividade de investigação científica os conteúdos apresentados, trazem o fator pensante, expressando a capacidade presente no ser humano, que pode ser desenvolvida quando unimos ações pedagógicas e sentimentais de valor saudável.

    No bojo deste trabalho se verifica a importância da questão emocional na construção do saber, pois não há aprendizado sem afetividade, portanto é por demais necessário adicionar a matriz de estudos pedagógicos a neurociência, uma vez que ela apresenta o entendimento neurobiológico de como o aluno aprende, estendendo suas reflexões para que o docente, também seja um mediador capaz de cativar o aluno pela afetividade dinâmica.

Referências

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