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Nível de atividade física e qualidade de vida em idosas participantes e não participantes de um programa de atividade física

Nivel de actividad física y calidad de vida en mujeres mayores participantes y no participantes de un programa de actividad física

 

*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU - MG)

Mestre em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília (UCB – DF)

Prof. Assistente na Universidade do Estado da Bahia (UNEB/DEDC XII)

Pesquisador da Linha de Estudo, Pesquisa e Extensão

em Atividade Física-LEPEAF/UNEB Campus XII.

**Graduada em Educação Física pela Universidade

do Estado da Bahia (UNEB/DEDC XII)

Luiz Humberto Rodrigues Souza*

luizhrsouza21@yahoo.com.br

Dayane Matos Bezerra Bezerra**

dayanematos3@gmail.com

Kelly Dayane Martins Malheiros**

kmartinsmalheiros@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse estudo foi comparar a qualidade de vida (QV) e o nível de atividade física (NAF) entre idosas praticantes e não praticantes de atividade física, bem como correlacionar o NAF e a QV das voluntárias. Participaram da pesquisa 15 idosas praticantes de atividade física e 15 não praticantes. Os instrumentos utilizados foram: WHOQOL-Abreviado e o IPAQ-Versão Curta. Para comparar o NAF, a QV e os domínios da QV entre as idosas participantes e não participantes do Programa Ação e Saúde foi utilizado o teste “t” para amostras independentes. Para comparar as freqüências observadas dos níveis de atividade física entre as idosas participantes e não participantes do programa foi realizado o teste qui-quadrado. Para correlacionar o nível de atividade física e QV das voluntárias foi utilizado o coeficiente de Pearson. Notou-se que os escores médios das variáveis ‘QV’ e ‘NAF’ apresentaram diferença significativa (p<0,01) entre dos grupos. Em relação aos domínios da QV verificou-se que todos, exceto o domínio social, apresentaram diferença significativa. Por fim, notou-se que o grupo que não pratica atividade física apresentou uma associação inversa e significativa entre o nível de atividade física e os domínios físico, psicológico e ambiental da QV.

          Unitermos: Idosas. Nível de atividade física. Qualidade de vida.

 

Recepção: 31/08/2014 - Aceitação: 12/12/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 202, Marzo de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento é um fenômeno natural inerente a todo ser humano e que se caracteriza pela diminuição progressiva de capacidades ao longo da vida. É um processo biológico que acarreta uma série de alterações e mudanças estruturais no corpo e nas funções fisiológicas, psicológicas e sociais, que variam de indivíduo para indivíduo (RAUCHBACH, 2001; PAULA, 2010).

    Alves Júnior (2010, p.14) mostra que o percentual de idosos no Brasil aumentará expressivamente, a ponto de se estimar para 2025 uma população idosa de 32 milhões, o que levará o país ao sexto lugar em número de idosos no mundo. Dessa forma, com o aumento da sobrevida da população, ressalta-se a importância de garantir aos idosos não apenas maior longevidade, mas também, uma melhor qualidade de vida.

    A atividade física regular tem sido uma das estratégias utilizadas para melhorar a qualidade de vida das pessoas, pois pode minimizar a degeneração provocada pelo envelhecimento e pode colaborar na manutenção das funções do aparelho locomotor, principal responsável pelo desempenho das atividades da vida diária e pelo grau de independência e autonomia do idoso (OKUMA, 1998).

    Na sociedade atual, o estilo de vida sedentário é um fator predominante que atinge todas as faixas etárias, porém, “na velhice ele pode ser mais acentuado, devido à crença popular de que com o processo de envelhecimento deve-se diminuir a intensidade e quantidade de atividades físicas” (MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2001, p.105). O estilo vida sedentário provoca o desuso dos sistemas funcionais, que por sua vez, entram em um processo de regressão podendo trazer consequências diretamente à saúde do idoso, causando uma deterioração na qualidade de vida. Por isso, a prática regular de atividades físicas na terceira idade tem se revelado como fator determinante no que diz respeito à manutenção da qualidade de vida dos idosos.

    Sendo assim, o objetivo desse estudo foi comparar a qualidade de vida e o nível de atividade física entre idosas praticantes de atividade física no Programa Ação e Saúde e idosas não praticantes de atividade física, bem como correlacionar o nível de atividade física e a qualidade de vida das voluntárias.

Metodologia

    Este estudo foi de caráter quantitativo, descritivo e explicativo, em que a coleta de dados aconteceu mediante uma pesquisa de campo. Para o grupo que pratica atividade física (AF), a coleta de dados foi realizada no Salão Catequético de uma igreja da cidade de Guanambi-Ba, onde acontecem as atividades do Programa Ação Saúde. Antes de dar início à coleta de dados, o responsável pelo local assinou um termo de autorização para que a pesquisa fosse realizada. Para o grupo que não pratica atividade física (NAF) a coleta aconteceu em domicílio, sendo que a data foi previamente agendada.

    Participaram da pesquisa 15 idosas praticantes de atividade física no Programa Ação e Saúde. Elas praticam atividades físicas como, caminhada, ginástica, dança, alongamentos, duas vezes por semana, em um período de 60 minutos a sessão. O grupo NAF foi constituído por 15 idosas residentes no bairro. Todas as voluntárias do estudo assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido seguindo a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

    Adotou-se como critérios de inclusão da amostra: ter idade igual ou superior a 60 anos; ser do sexo feminino; estar inscrita no programa Ação e Saúde (grupo de praticantes de atividade física); as voluntárias deveriam se prontificar a participar do estudo, ficando ao seu critério a desistência quando achasse necessário.

    Inicialmente as voluntárias do estudo responderam ao Questionário Internacional de Atividade Física – Versão Curta (MATSUDO et al., 2001), para depois responder ao Questionário de Qualidade de Vida WHOQOL - Abreviado (FLECK, 1998).

    Foi realizada uma estatística descritiva dos dados (média e desvio padrão) para analisar o nível de atividade física e qualidade de vida das voluntárias. Para comparar o nível de atividade física, a qualidade de vida e os domínios da qualidade de vida entre as idosas participantes e não participantes do Programa Ação e Saúde foi utilizado o teste “t” para amostras independentes. Para comparar as frequências observadas dos níveis de atividade física entre as idosas participantes e não participantes do Programa Ação e Saúde foi realizado o teste não paramétrico qui-quadrado. Para correlacionar o nível de atividade física e qualidade de vida das voluntárias foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. O nível de significância adotado foi p<0,05, e o pacote estatístico utilizado foi o SPSS 19.0 for Windows.

Resultados e discussão

    A tabela 1 apresenta os valores médios e os desvios padrão das variáveis idade, qualidade de vida e nível de atividade física de todas as voluntárias da pesquisa bem como de acordo com os grupos formados.

Tabela 1. Valores médios e desvios padrão das variáveis idade, qualidade de vida e nível de atividade física das voluntárias

    O estudo de Marques et al. (2009) teve como objetivo relatar a qualidade de vida e o nível de atividade física de 25 idosas participantes do Projeto AFRID/UFU; observou que as voluntárias apresentaram um valor médio de idade igual a 69,8 anos. Foram analisados os domínio da qualidade de vida conforme a faixa etária para as idosas com idade inferior a 70 anos e idosas com idade maior ou igual a 70 anos. O único domínio que apresentou diferença significativa foi o domínio físico.

    As variáveis ‘qualidade de vida’ e ‘nível de atividade física’ apresentaram diferença significativa entre as médias dos grupos AF e NAF. Tais resultados também foram observados no estudo de Gordia et al. (2007), que avaliaram mulheres com idades acima de 60 anos, sendo 30 praticantes de exercício físico e 30 não praticantes de nenhum programa de atividade física regular e orientada. Nesse estudo, notou-se que as idosas praticantes de atividade física tiveram um valor médio de 68,5 para a qualidade de vida, enquanto o grupo que não pratica atividade física obteve um valor médio de 58. Embora o estudo também tenha mostrado diferença significativa entre as médias, vale ressaltar que os valores médios atingidos pela amostra deste estudo foi superior aos escores obtidos na pesquisa de Gordia et al. (2007).

    O estudo de Conte et al. (2005) objetivou anali­sar indicadores da qualidade de vida no domínio físico e associá-los ao nível de atividade física habitual de mulheres idosas participantes dos grupos de convivência de idosos do município de Marechal Cândido Rondon/PR. Os resultados mostraram que 75 idosas foram classificadas como sedentárias ou insuficientemente ativas e 245 foram classificadas como ativa ou muito ativa. De acordo com os resultados, as mu­lheres consideradas ativas ou muito ativas sobressaíram-se em três quartos (76,5%) às insuficientemente ativas ou sedentá­rias, que constituíam 23,5% da amostra.

    A tabela 2 apresenta os valores médios e os desvios padrão dos quatro domínios da qualidade de vida de todas as voluntárias da pesquisa, bem como de acordo com os grupos formados.

Tabela 2. Valores médios e desvios padrão dos domínios físico, psicológico, social e ambiental das voluntárias do estudo.

    O estudo de Fregadolli et al. (2011) analisou a qualidade de vida em 50 idosas que participavam do programa de ginástica em um distrito da cidade de Maringá-PR. Destas, foram selecionadas 25 participantes do programa de ginástica e 25 voluntárias que não participavam das aulas de ginástica. Verificou-se que em todos os domínios da qualidade de vida, os valores das idosas praticantes de ginástica foram superiores quando comparados com idosas não praticantes, sendo essa diferença significativa nos domínios psicológico, social e ambiental. No presente estudo, observou-se também que em todos os domínios da qualidade de vida, os valores médios das idosas praticantes de atividade física foram superiores quando comparados com idosas não praticantes. Ao contrário do estudo de Fregadolli et al. (2011) apenas o domínio social não apresentou diferença significativa.

    O estudo realizado por Tribess e Virtuoso Júnior (2004) examinou a relação entre Atividade Física e Qualidade de Vida em mulheres idosas residentes em instituições asilares ou que viviam de modo independente, ambas participantes de um programa de atividade física orientada. Nesse estudo também foi utilizado o WHOQOL-Bref para avaliar a qualidade de vida das idosas. Diante dos resultados da pesquisa, pôde-se observar que os valores médios dos domínios ‘físico’ e ‘psicológico’ da qualidade de vida apresentaram diferenças significativas favoráveis às idosas que viviam de modo independente. Quando se analisou os domínios ‘relações sociais’ e ‘meio ambiente’, não se observou diferença significativa entre as idosas institucionalizadas e as idosas que viviam de modo independente.

    O estudo de Krentz et al. (2010) teve como objetivo comparar a qualidade de vida em 20 idosas, sendo que, 10 eram praticantes de exercícios aeróbicos e 10 eram sedentárias. Verificou-se que o grupo ativo possuiu um escore para a qualidade de vida significativamente superior em todos os domínios - físico (83,57±14,70), psicológico (75,83±11,08), social (70,00±13,15) e ambiental (53,44±10,36) - quando comparados com o grupo sedentário.

    O quadro 1 apresenta uma análise bivariada das variáveis ‘nível de atividade física’ e ‘atividade física’. No corpo da tabela encontra-se o número de pessoas (frequência absoluta) para cada classe. Para comparar a frequência observada entre o grupo participante e não participante de atividade física utilizou-se o teste qui-quadrado.

Quadro 1. Análise bivariada das variáveis ‘nível de atividade física’ e ‘atividade física’ das voluntárias do estudo

    O estudo de Matsudo et al. (2002) teve como objetivo avaliar o nível de atividade física da população de São Paulo, utilizando o IPAQ – versão curta. Para tanto, foram analisadas 2001 pessoas, sendo que deste montante, 254 eram mulheres com idade acima de 50 anos. Foram formados dois grupos: um com idade de 50 a 69 anos (03 foram classificadas como muito ativas; 106 ativas; 28 irregularmente ativas A; 54 irregularmente ativas B; 11 sedentárias) e outro com idade acima de 70 anos (24 ativas; 10 irregularmente ativas A; 13 irregularmente ativas B; 05 sedentárias). No presente estudo, buscou-se comparar o nível de atividade física entre idosas praticantes e não praticantes de atividade física. Embora a amostra tenha sido bem menor (n=30), pôde-se notar que a maioria das voluntárias teve seu nível de atividade física classificada como ‘ativo’. Porém, este estudo ainda analisou os resultados mediante uma comparação do teste qui-quadrado, e notou que não houve diferença significativa entre as frequências (x2=6,67; p=0,08).

    O estudo de Santos (2009) investigou a relação entre o nível de atividade física e a qualidade de vida de 30 idosos, cujas variáveis foram mensuradas com os mesmos instrumentos utilizados neste estudo. Quanto ao nível de atividade física, notou-se que 06 voluntários foram classificados em ‘muito ativo’; para as classes ‘ativo’ e ‘irregularmente ativo’ encontrou-se 11 idosos em cada; para a classe ‘sedentária’ apenas 02 idosos foram enquadrados.

    Um estudo realizado por Rocha (2008) verificou através do IPAQ – versão curta, o nível de atividade física em 266 mulheres com idade acima de 60 anos, participantes do grupo de Convivência AAGRUTI no município de Jequié-Ba. De acordo com os resultados obtidos, foi constatado que 64,3% (n=171) idosas são ativas fisicamente e 35,7% (n=95) foram classificadas como sedentárias.

    Por fim, a tabela 3 apresenta os coeficientes de correlação (r) entre a qualidade de vida (bem como seus domínios) com o nível de atividade física dos grupos que pratica e não pratica atividade física.

Tabela 3. Coeficiente de correlação de Pearson (r) entre os domínios da qualidade de vida e o nível de atividade física

    Nota-se, pelos dados da tabela 3, que o nível de atividade física (n=30) foi correlacionado inversamente com os domínios da qualidade de vida, exceto no domínio social. Porém, quando se isolou os grupos, verificou-se que os escores obtidos pelo grupo que não pratica atividade física foram decisivos para evidenciar esta associação inversa e significativa entre o nível de atividade física e os domínios físico, psicológico e ambiental da qualidade de vida. Esta informação ajuda a explicar como o nível de atividade física do grupo não praticante de atividade física deste estudo foi superior ao grupo que pratica atividade física (tabela 1).

Considerações finais

    Após a análise dos dados, notou-se que as médias das variáveis ‘qualidade de vida’ e ‘nível de atividade física’ apresentaram diferença significativa (p<0,01) entre os grupos AF e NAF. Em relação aos domínios da qualidade de vida verificou-se que todos os domínios, exceto o domínio social, apresentaram diferença significativa (p<0,05). Por fim, notou-se que o grupo NAF apresentou uma associação inversa e significativa entre o nível de atividade física e os domínios físico, psicológico e ambiental da qualidade de vida.

    Esses resultados ratificam a relação e a interdependência entre o nível de atividade física e a qualidade de vida dos idosos. Sendo assim, sugere-se que novos estudos sejam realizados, utilizando uma amostra mais ampla e incluindo idosos do sexo masculino, no intuito de estabelecer melhor estas associações.

Referências

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Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados