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Criança com surdez antes e após implante coclear

(IC) dentro da sala de aula: relato de caso

Un niño con sordera antes y después del implante coclear (IC) dentro de la sala de clase: relato de caso

 

*Pós-graduanda do programa de especialização em esportes e atividades físicas inclusivas

para pessoas com deficiência, pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

Especialista em Educação Especial e Inclusiva. Graduada em Educação Física

Docente da Rede Municipal de Ipatinga – MG

**Mestre em Ciências Biológicas - Bioquímica Estrutural e Fisiológica. Especialista

em Docência do Ensino Superior, Especialista em Tutoria. Graduada em Educação Física

e Orientadora de Especialização da UFJF, Docente da Rede Municipal de Ipatinga – MG

Prof. Esp. Sara Cristina da Penha Viana*

saracviana@bol.com.br

Prof. Ma. Wanda Maria de Faria**

fariamwanda@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo vem relatar a participação de uma criança surda em sala de aula de ensino regular de uma escola da rede pública estadual antes e depois da cirurgia de implante coclear (IC), objetivando relatar como foi a participação e interação da criança em sala de aula antes e depois da cirurgia. A metodologia utilizada foi qualitativa onde a coleta de dados foi feita através de relatos e as informações registradas. Os relatos foram feitos na própria escola e foram ouvidas as professoras e colegas de turma do aluno. Concluiu-se que após a cirurgia de IC a criança mudou seu comportamento em sala, sendo mais participativo ativo e socializando-se mais, demonstrando maior interesse em participar das aulas.

          Unitermos: Surdez. Implante coclear. Ensino regular.

 

Recepção: 15/11/2014 - Aceitação: 14/01/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 201, Febrero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com Poker (2002), a surdez é a deficiência auditiva que pode ser caracterizada por uma redução da capacidade normal de perceber um determinado som e este se caracteriza surdo quando a audição passa então a não ser funcional em seu dia a dia. Ela tem com conseqüências prejuízos como: a não identificação dos diferentes sons ambiente que auxiliam como sinais de alerta, dificuldade no processo de desenvolvimento da linguagem, além da impossibilidade de comunicação oral com as pessoas trazendo com isso dificuldades ou em alguns casos impossibilidades de comunicação e convívio. Poker (2002) considera que a principal conseqüência da surdez refere-se a prejuízos na comunicação natural dos sujeitos surdos que atingem vários aspectos de desenvolvimento global. Não tendo acesso ao mundo sonoro a criança com surdez é extremamente prejudicada no que concerne aos processos de aquisição e desenvolvimento de linguagem e fala.

    Para Costa (2003), a ausência de audição faz com que os indivíduos percam a oportunidade de reconhecer os sons ocasionando assim futuros problemas de comunicação e desenvolvimento da linguagem oral. A audição é o sentido que mais nos coloca dentro do mundo e a comunicação humana é um bem de valor inestimável.

    O Documento Política Nacional de Educação Especial – MEC/Secretaria de Educação Especial estabelece por surdez: “perda total ou parcial, congênita ou adquirida da capacidade de compreender a fala através do ouvido”. (BRASIL,1994). A surdez, por ser um defeito invisível, não recebe da sociedade a mesma atenção que é dada os portadores de outras deficiências. O deficiente auditivo tende a se separar de outras pessoas, trazendo para si as conseqüências do isolamento. A dificuldade maior ou menor que ele tem para ouvir e se comunicar depende do grau de surdez, que pode se:

    A Secretaria de Educação Especial do MEC (2013) considera que se levarmos em conta a localização ou o tipo de perda auditiva da lesão, podendo esta ser: condutiva, neurossensorial, mista ou central. E em relação ao grau de comprometimento ou grau da perda auditiva: surdez leve, surdez moderada, surdez acentuada e surdez profunda. Fazendo assim com que a surdez tenha ligação direta entre seu grau e o desenvolvimento da criança uma vez que a ausência sensorial interfere diferente na comunicação de maneira tal que vem alterar não só a qualidade que o individua tem com o meio, mas também seu desenvolvimento como criança e, o nível desse grau de perda poderá causará implicações para o desenvolvimento da criança que conforme seu grau de perda pode apresentar:

    Implante Coclear (IC) é um dispositivo eletrônico utilizado na reabilitação de pessoas com deficiência auditiva de grau severa e/ou profunda, com perda auditiva neurossensorial profunda bilateral, que a princípio não tenham se beneficiado com o uso do aparelho de amplificação sonora individual (AASI). Ele é uma espécie de prótese computadorizada inserida cirurgicamente na orelha interna que substitui parcialmente as funções da cóclea, transformando energia sonora em sinais elétricos, produzindo, assim, a experiência do som e melhorando o desempenho auditivo. É composto por uma parte interna e outra externa: a parte interna é implantada, através de intervenção cirúrgica, em que os eletrodos são inseridos na cóclea; a parte externa capta o som, por um microfone instalado junto à orelha, que é transmitido por um fio ao processador de fala. O processador envia a informação codificada junto ao receptor-estimulador. O ciclo da audição se completa quando o estímulo elétrico e os sinais codificados são transmitidos. Este aparelho estimula os eletrodos que são implantados na cóclea. (COSTA FILHO et al., 1996; COSTA FILHO et al., 2002).

    Braz (1990), afirma que: “a melhora no desempenho auditivo, da fala, voz e comunicação dos pacientes pós-implante está diretamente relacionada ao nível e a etapa de desenvolvimento da linguagem em que estes pacientes encontravam-se antes do uso do Implante Coclear”.

    Devido à importância da adaptação de crianças surdas no meio escolar regular, levando em consideração a ambientação, socialização, linguagem, convivência com professores e outros colegas de classe. Sendo relevante e de suma importância para entender como se dá o acompanhamento de criança antes e após implante coclear junto as suas diferentes necessidades com as interferências dos professores e o fato desta inclusão em ambientes regulares (LACERDA, 2006). Ressaltando que o implante coclear é uma alternativa para que pessoas com perda auditiva neurossensorial profunda bilateral tenham a possibilidade de se inserirem no mundo dos sons.

Objetivo geral

Metodologia

    O presente estudo foi realizado em uma escola da rede estadual de ensino, com um aluno desta instituição do sexo masculino, que: W.C.A. nascido em 12/06/2004 (10 anos), e residente na cidade de Santana do Paraíso-MG, onde também está situada a escola acima citada, tendo como deficiência a surdez profunda que de acordo com a suspeita dos médicos foi ocasionada por paralisia cerebral diplégica espástica.

    A metodologia utilizada foi à qualitativa onde a coleta de dados foi feita através de relatos e as informações registradas. Os relatos foram feitos na própria escola e foram ouvidas as professoras e colegas de turma do aluno.

    Antes da coleta de dados a equipe diretiva da instituição de ensino, colegas de sala e as professoras do mesmo foram comunicadas sobre o presente estudo e em uma conversa informação foi explicada a importância do mesmo. Sendo autorizada a coleta dos dados.

    Em virtude do respeito à integridade e preservação da imagem e a pedido dos participantes as identidades serão preservadas. Portanto os participantes serão denominados e mencionados com as iniciais de seus nomes.

    Participantes: o aluno da presente pesquisa: W.C.A., a professora do segundo ano do ciclo inicial de alfabetização que será identificada por R2, a professora do terceiro ano do ciclo inicial de alfabetização que será identificada por R3, e dois colegas de turma que estudaram juntamente no segundo e terceiro anos: E.A. e M.O.S.

Relato de caso

    Considerando, portanto que o estudo de caso tem em seu principal aspecto o interesse nos casos individuais ao invés dos métodos de investigação. Stake (2000), portanto, considera que devemos estar atentos para o fato de que: "nem tudo pode ser considerado um caso", pois um caso é “uma unidade específica, um sistema delimitado cujas partes são integradas”.

    De acordo com os relatos do aluno W.C.A. ele começou a usar o aparelho amplificação sonora individual (AASI) por volta dos cinco anos de idade e mesmo não obtendo ganhos auditivos usou o AASI até os nove anos de idade.

    No ano de 2013 o aluno W.C.A. se matricula na Escola Estadual em meados de Junho. O mesmo foi transferido de uma escola de educação especial situada na cidade de Ipatinga-MG. De acordo com a professora R2, o aluno saiu da escola de educação especial para a escola de ensino regular porque assim a família iria conseguir agilizar o processo da cirurgia de implante coclear. Relata ainda que o aluno apresentava timidez, mesmo tendo uma intérprete de Libras em sala ele era pouco comunicativo e não demonstrava muita interação com a turma porque possuía muita dificuldade de se comunicar com os colegas de turma, com a própria professora e até com a intérprete. Usava poucos sinais em Libras e não se comunicava oralmente: “Me lembro que às vezes a gente o ouvia dar uma gargalhada ou um grito”. Relatam os alunos H.A e M.O.S.

    Sua participação em sala era bem discreta e por diversas vezes a fisionomia do mesmo demonstrava que ele não entendia bem as coisas que aconteciam em sala. Sempre que a professora R2 tentava o estimular a participar fazendo questionamentos, não apresentava resultados positivos: sinalizava erguendo os ombros para cima e balançando a cabeça demonstrando que não sabia a resposta ou que não queria participar.

    No fim do mês de setembro de 2013, o aluno faz a cirurgia de implante coclear, retornando para a escola em meados de novembro.

    Segundo a professora R2 ele voltou um pouco apreensivo em virtude dos cuidados que deveria ter em função da cirurgia. Mas demonstrava plena satisfação e habilidade no manuseio de seu novo aparelho. A partir de então, de maneira gradativa ele começou a demonstrar as primeiras mudanças: aprendeu a pronuncia algumas letras do alfabeto, começou a perceber e atentar a barulhos e sons em sala com ar de curiosidade.

    Em fevereiro de 2014 o aluno retorna para a escola, mas agora já está cursando o terceiro ano do ciclo inicial de alfabetização, seus colegas de sala são os mesmos do segundo ano, apenas a professora regente e a intérprete que não são as mesmas.

    O aluno estava freqüente desde o primeiro dia letivo, mas a intérprete do mesmo só começou a atuar em sala no mês de Março. Segundo a professora R3, a Superintendência Regional de Ensino (SRE), não havia liberado a contratação do profissional citado. A mesma relata que foi um período muito difícil, pois o aluno tentava se comunicar oralmente ou por sinais, mas, ela não entendia e o W.C.A., por isso ficava nervoso e acabava não interagindo na sala. Tinha muita dificuldade de inteiração com os colegas também em virtude dessa dificuldade de comunicação.

    No mês de abril/2014 começa a trabalhar a intérprete de Libras com aluno W.C.A. se mostra receptivo, feliz em ter uma intérprete e sua adaptação foi boa e rápida. Logo mostra o aparelho, a cicatriz da cirurgia e conta alguns fatos da viagem. Inicialmente a comunicação ainda é difícil porque a linguagem oral está apenas no começo de seu desenvolvimento: fonemas e sílabas que por vezes não possuem um significado. Os sinais muito limitados e na sua maioria caseiros, ou seja: sinais criados em casa e geralmente só conhecidos pelos familiares em virtude da comunicação deficiente e da falta de conhecimento da Libras.

    O aluno W.C.A., agora se mostra mais atento, percebe sons, ruídos, falas em sala e quando a conversa da turma começa a aumentar ele reclama que a turma está conversando muito.

    Ele aprendeu a contar até 10 oralmente, as letras do alfabeto e já pronuncia algumas palavras como: não, pára, copia, água, bobo, feio, já, pode, sim, que ele utiliza para se comunicar em sala com os colegas ouvintes. Com a ajuda da intérprete está aprendendo os sinais em Libras.

    Em relação a sua participação na sala de aula a professora R3 o considera participativo e sem dificuldades de inteiração com a turma. Quando questionado em sala ele responde, e se não sabe a resposta sinaliza que está pensando ou pede ajuda a intérprete para explicá-lo novamente. Nos momentos de correção oral ou leitura em voz alta, ele demonstra muita participação: por não dominar a escrita da língua portuguesa, ouve os colegas falarem e fica tentando repetir. Pronuncia fonemas, mas que ainda não possuem clareza ou não formam palavras da língua portuguesa. Já responde resultados de adição simples oralmente durante a correção no quadro-negro.

    De acordo com os relatos dos colegas de sala E.A. e M.O.S., ele mudou muito da cirurgia: “agora ele sabe quando estamos conversando, tenta conversar com a gente, tenta ler, ensina sinais em Libras pra gente, pede material emprestado.”

    A comunicação do aluno com a professora, intérprete e alunos ainda não está na fase satisfatória, mas W.C.A. está aprendendo mais sinais e ensinando aos colegas e está sentindo a necessidade de se comunicar principalmente oralmente, é totalmente ativo e participativo em sala.

    De acordo com relatos do mesmo ele está mantendo o tratamento com a fonoaudióloga uma vez por semana e tem demonstrado um desenvolvimento satisfatório e evolutivo até o momento da presente pesquisa. Está freqüente nas aulas e totalmente adaptado à escola, à sua turma e progredindo dia-a-dia.

Considerações finais

    Apesar da experiência do aluno W.C.A. com o implante coclear (IC) ser recente e do mesmo estar em gradativo processo de desenvolvimento, durante a presente pesquisa demonstrou plena satisfação com a cirurgia, apresentando mudanças significativas sendo a principal delas o contato com o mundo dos sons.

    O recente ganho auditivo vem produzir uma nova postura comportamental do aluno em sala de aula que passou de uma postura tímida e pouco participativa a uma participação e interação total em sala de aula: com os colegas, com a professora e com a intérprete.

    O aluno agora identifica os diferentes tipos de sons no ambiente escolar: som de propagandas de carros, sons de conversa em voz alta na sala, som da sirene do recreio. Ele não só identifica-os como já é capaz de apontar qual aluno estava conversando em sala, que o som da música ou propaganda é na rua e não dentro da sala, dentre outros.Coisas que antes da cirurgia o aluno não percebia.

    O IC proporcionou ao aluno perceber sua capacidade de comunicação oral através não só da reprodução de falas, mas também a sensação de ouvinte como os demais colegas de sala. Ele agora além de demonstrar interesse em aprender os sinais em Libras também faz questão de ensinar os colegas de sala os sinais como por exemplo: os sinais de materiais escolar, obrigada, por nada, com licença, por favor. Após a cirurgia também sentiu a necessidade de saber o nome de cada colega de sala de aula e criou um sinal específico para identificar cada um deles.

    Apresentou pela primeira vez a vontade de se comunicar pela língua oral com os ouvintes em sala de aula. Agora participa de leituras coletivas, conversa com os colegas de sala e com a professora em português, conta história, dentre outros. Apesar dele não perceber que as palavras que pronuncia não têm um significado correspondente na língua portuguesa.

    Participar das aulas “falando” faz com que o aluno W.C.A. agora se sinta igual aos demais colegas, facilitando muito sua convivência, interação, comunicação e socialização em sala de aula.

    O aluno apesar de não entender a escrita da língua portuguesa copiava a matéria do quadro mesmo com dificuldade e com muitos erros. Após a cirurgia ele apresentou mais agilidade para copiar, sua letra melhorou e já copia com menos erros.

    Aprendeu a contar até dez, escrever seu próprio nome, e a pronunciar algumas palavras e as letras do alfabeto.

    Com tantos sons a sua volta ele agora se sente estimulado a expressar-se em Libras e oralmente não demonstrando nenhuma dificuldade em se comunicar e expressar, sentindo-se agora igual aos demais colega de sala.

Referências

Outros artigos em Portugués

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