Comportamento da marcha em diferentes condições: estudo de caso El comportamiento de la marcha en diferentes condiciones: estudio de caso |
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*Acadêmica de Educação Física Laboratório de Biomecânica Universidade Federal de Santa Maria **Mestre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul ***Professor Adjunto, Universidade Federal de Santa Maria (Brasil) |
Franciele Marques Pivetta* Elenara Steuernagel* Edineia de Brito* Mateus Corrêa Silveira** Carlos Bolli Mota*** |
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Resumo Introdução e objetivo: A caminhada é o mais comum dos movimentos humanos. Porém, diariamente esta caminhada está submetida a diferentes condições que podem resultar em mudanças no comportamento da marcha do indivíduo. Portanto o objetivo do presente estudo foi avaliar a cinética da caminhada de um adulto submetido a menores índices de luz ou a sobrecargas. Materiais e métodos: Participou do estudo um homem adulto saudável. O participante caminhou nas condições: normal, com o uso de uma mochila nas costas e utilizando uma máscara permitindo a passagem de 5% de luz até o olho. Para descrever o controle da caminhada foram utilizadas duas plataformas de força. As variáveis observadas foram os picos de força vertical, tempos de apoio uni e bipodal (TAB). Resultados: Os tempos de apoio aumentam com a perturbação da visão (> 20%) em relação à condição normal. Os picos de força vertical diminuem em piores condições da visão, mas aumentam expressivamente com a mochila em relação à caminhada em condição normal. Conclusão: O uso da máscara e o excesso de peso na mochila mudaram a marcha do indivíduo, tornando relevante que se faça mais estudos em relação à caminhada em diferentes condições para melhor compreender as dificuldades encontradas no dia-a-dia a fim de amenizar ou tentar evitar problemas que muitas vezes estão relacionados a patologias e sobrecarga muscular em conseqüência dos diferentes padrões de marcha. Unitermos: Caminhada. Padrões. Condições. Uso de mochila.
Recepção: 30/11/2014 - Aceitação: 17/01/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 201, Febrero de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Caminhar é um dos mais comuns de todos os movimentos humanos, existindo para deslocar o corpo com segurança e eficiência ao nível do solo, em subidas ou descidas. O andar é aprendido durante o primeiro ano de vida e atinge a maturidade em torno de 7 até 60 anos de idade1.
Uma variedade de movimentos físicos estão envolvidos, desde a marcha do deficiente físico para o levantamento de uma carga até o desenvolvimento de um atleta. Os mesmos princípios físicos e biológicos são aplicáveis em todos os casos, o que muda de caso para caso são os movimentos das tarefas e o detalhe que está sendo estudado sobre o desempenho de cada movimento2.
É durante a caminhada que nós desafiamos mais o nosso sistema locomotor: iniciar e terminar a marcha, evitando obstáculos (alterando o comprimento do passo), mudando a direção3. As características da marcha humana são definidas e sistemáticas, variando sua magnitude em função do desenvolvimento motor, patologias e desequilíbrios posturais inerentes ao ser humano4.
Devido às diferenças no padrão da marcha em conseqüência de limitações dos sistemas sensoriais (visão, vestibular e somatossensoriais) e/ou pelo excesso de carga na mochila, sugere-se que alterações na marcha podem ocasionar possíveis problemas posturais e de equilíbrio. Para saber se o uso da máscara e da mochila altera os padrões da marcha é necessário que se faça um estudo cinético.
Portanto, o presente estudo tem como objetivo investigar se o uso da máscara ou o excesso de peso na mochila alteram os padrões de marcha do participante desse estudo.
Métodos
A pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso de um indivíduo adulto do sexo masculino (idade: 27 anos; massa: 74 kg; estatura: 1,70 m). O indivíduo participou voluntariamente do estudo realizado no Laboratório de Biomecânica da Universidade Federal de Santa Maria, onde foram realizadas as coletas. Os protocolos deste estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSM sob o número de protocolo 08437612.8.0000.5346, sendo apresentados em um termo de consentimento assinado pelo participante.
Para descrever o controle da caminhada e para obtenção das forças de reação do solo (FRS) duas plataformas de força Advanced Mechanical Technologies Inc., modelo OR6-6 2000, foram utilizadas. As variáveis calculadas a partir da plataforma foram: pico de força vertical (frenagem e propulsão), tempos de apoio sobre o pé direito (TAD), esquerdo (TAE) e bipodal (TAB). O tempo de passagem do participante entre as plataformas de força (TPF) foi monitorado por um par de fotocélulas.
O participante foi orientado a caminhar em um percurso de cinco metros nas condições: normal, com o uso de uma mochila nas costas (7,4kg), utilizando uma máscara permitindo a passagem de 5% de luz até o olho. Foram realizadas cinco tentativas para as condições normal e com o uso da mochila e três tentativas para a condição usando a máscara.
A freqüência de amostragem do sistema foi ajustada em 1000 Hz e o tempo de aquisição foi de 2 segundos. Os dados do sistema das plataformas de força foram filtrados por um filtro passa-baixas Butterworth de 4ª ordem, com freqüência de corte ajustada em 20 Hz.
Para a estatística, foram realizadas as médias e desvios-padrão das variáveis: TAD, TAE, TAB, TPF e picos de força entre todas as tentativas de caminhada. Adicionalmente, os dados de pico de força foram apresentados normalizados pelo peso corporal do participante.
Resultados
Os resultados referentes aos tempos de apoio indicam que apenas a condição com perturbação da visão foi responsável por um aumento (superior a 20%) no TAB em relação à condição normal (Tabela 1).
Tabela 1. Médias e desvios padrão dos tempos de apoio sobre o pé esquerdo,
sobre o pé direito, em apoio bipodal e de passagem sobre as plataformas de força (TPF)
Em relação aos picos de força vertical, as variações dos picos em relação à caminhada em condição normal não atingiram valores superiores a 15%. Porém, é possível observar que a mudança da condição visual não resultou em aumento dos picos de força durante a caminhada, ao contrário da mochila que foi responsável por maiores picos de frenagem e de propulsão (Figura 1).
Figura 1. Picos de força vertical (normalizados pelo peso corporal) nas diferentes condições de caminhada
Discussão
As características da marcha humana são definidas e sistemáticas, variando sua amplitude em função do desenvolvimento motor e desequilíbrios posturais específicos do ser humano4.
A estabilidade e o equilíbrio dependem da noção da posição e do movimento do corpo, sendo que as informações sensoriais contribuem para respostas adequadas para garantir estabilidade. Assim, o uso das informações sensoriais, controlado pelo efeito mecânico do corpo, pode selecionar a melhor forma de produzir movimentos com o corpo a fim de controlar a postura5,7. Nesse estudo, a mudança da condição visual não apresentou aumento dos picos de força durante a caminhada. Acredita-se que esse fato se deu pelo tempo maior que o participante levou para passar pela plataforma de força e por conseqüência sua velocidade diminuiu pelo do uso dos óculos, ocasionando uma perturbação. Sendo assim, o sistema visual é importante para o movimento do corpo, garantindo uma melhor estabilidade.
O andar do indivíduo com o uso da mochila apresentou maiores picos de frenagem e propulsão. Acredita-se que esse fato se deu pela busca do equilíbrio do corpo quando submetido a uma sobrecarga, fazendo uma força contrária à gravidade para tentar restabelecer o equilíbrio6. Portanto, as diferentes estratégias adotadas pelo indivíduo são formas de intervenção para manter a estabilidade postural e equilíbrio nas condições a qual foi submetido em relação ao ambiente5.
Aprofundar o conhecimento em relação ao andar e as dificuldades encontradas no dia-a-dia permite compreender como cada pessoa reage a determinadas exigências e quais as estratégias devem ser incentivadas a fim de manter a integridade dos membros durante o caminhar4.
Conclusão
Portanto, pode-se concluir que o uso da máscara e o excesso de peso na mochila apresentaram diferenças na marcha do indivíduo no presente estudo. Na mudança de condição visual houve um aumento no TAB, não apresentando aumento de pico de forças durante a caminhada em relação à condição normal, ocorrendo o oposto com o uso da mochila com maiores picos de frenagem e de propulsão. Logo, é relevante que se faça mais estudos em relação à caminhada em diferentes condições para melhor compreender as dificuldades encontradas no dia-a-dia a fim de amenizar ou tentar evitar problemas que muitas vezes estão relacionados a patologias e sobrecarga muscular em conseqüência dos diferentes padrões de marcha.
Referências bibliográficas
PRINCE, F. et al. Gait in the elderly. Gait & Posture, v. 5, n. 2, p. 128-135, 1997.
WINTER, D.A. Biomechanics and Motor Control of Human Movement. 4th edition Edição.Hoboken: Wiley, 2009.
WINTER, D.A. Human balance and posture control during standing and walking. Gait & Posture, v. 3, n. 4, p. 193-214, 1995.
MANN, L. et al. 2008 A marcha humana: investigação com diferentes faixas etárias e patologias. Motriz: Revista de Educação Física, v. 14, n. 3, p. 346-353, 2008.
MOCHIZUKI, L. e AMADIO, A. C. As informações sensoriais para o controle postural. Fisioterapia em Movimento, v. 19, n. 2, p. 11-18, 2006.
PIGOSO, C.R. et al. Análise cinemática da marcha em crianças com excesso de carga na mochila. Lecturas: Educación Física y Deportes, n. 165, 2012. http://www.efdeportes.com/efd165/analise-em-criancas-com-excesso-de-carga-na-mochila.htm
MOCHIZUKI, L. e AMADIO, A. C. Aspectos biomecânicos da postura ereta: a relação entre o centro de massa e o centro de pressão. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 3, n. 3, p. 77-83, 2003.
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