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Inclusão, Educação Física e sociedade: paralelismos epistemológicos

Inclusión, Educación Física y sociedad: paralelismos epistemológicos

 

Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Beatriz Dittrich Schmitt

beatriz_bds@hotmail.com

Giandra Anceski Bataglion

Angela Teresinha Zuchetto

ama@cds.ufsc.br

 

 

 

 

Resumo

          Esse estudo pretende apresentar um panorama sobre a história das pessoas com deficiência. Em seguida, almeja-se expor algumas questões relacionadas à Educação Inclusiva, traçando paralelismos com a Educação Física e, por fim, ir-se-á suscitar reflexões a respeito das concepções dos educadores sobre os educandos com necessidades educacionais especiais.

          Unitermos: Educação Física. Conhecimento. Inclusão educacional.

 

Abstract

          This study aims to present an overview of the history of people with disabilities. Then we aimed to expose some issues related to Inclusive Education, tracing parallels with Physical Education and, finally, will be going to raise reflections on the conceptions of teachers on students with special educational needs.

          Keywords: Physical Education. Knowledge. Mainstreaming.

 

Recepção: 06/01/2015 - Aceitação: 05/02/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 201, Febrero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Partindo-se da premissa de que a Educação Física possui íntima relação com a Educação Inclusiva, pretende-se nesse texto, enfatizar o caráter multidisciplinar que perfazem essas duas temáticas. Faz-se necessário salientar que ambas são áreas do conhecimento relativamente incipientes e, por essa razão, definem-se por sua aplicação. Além disso, buscam incessantemente suas identidades, objetivando superar a influência de teorias epistemológicas distintas que, por sua vez, invocam noções particulares de verdades.

    Nesse sentido, faz-se mister aludir que essas áreas do conhecimento científico são impregnadas por paradigmas que, muitas vezes, são reforçados e perpetuados no (sub)consciente da sociedade. Destaca-se que a sociedade faz interpretações errôneas que transcendem os muros da escola e, assim, constata-se a emergência de mudança paradigmática e epistemológica. Tanto a sociedade quanto a instituição escolar precisam se preparar para atender o ser humano em sua totalidade, sem fragmentação (ZUCHETTO, 2004).

    Desta maneira, inicialmente, será apresentado um breve panorama sobre história das pessoas com deficiência. Em seguida, almeja-se expor algumas questões relacionadas à Educação Inclusiva, traçando paralelismos com a Educação Física e, por fim, ir-se-á suscitar reflexões a respeito das concepções dos educadores sobre os educandos com necessidades educacionais especiais.

Contextualização histórica sobre pessoas com deficiência

    Desde o período da antiguidade, no berço da civilização ocidental, em Roma e Grécia, considerava-se normal estigmatizar, perseguir e abandonar pessoas com deficiência. As deficiências adquiridas eram vistas como castigo dos deuses. Vale destacar que essas idéias estavam amparadas nos ideais atléticos e na crença religiosa que fundamentavam a organização social da época (ALVES; CANTERLE, 2002).

    Durante a Idade Média, sob influencia do cristianismo, passaram a conceber a deficiência como obra divina e, por isso, essas pessoas não podiam ser abandonadas ou mortas, ainda que dependessem dos outros para sobrevivência (PARANÁ, 2006). A partir dessa visão assistencialista, surgiram as primeiras instituições destinadas a tratar não só dessas pessoas, mas também dos seus bens materiais (DIEHL, 2003).

    Nesse sentido, essas instituições possibilitaram o desenvolvimento de pesquisas científicas na área de Medicina. Em razão disso, deu-se um novo enfoque às deficiências, limitando-se às concepções clínicas da “doença”, dos tratamentos e da cura (BRASIL, 2004). Esse paradigma médico de institucionalização partiu do princípio da segregação e vigorou durante parte da Idade Média até o início do século XX.

    Ao fim do século XX, surgiram ideais de respeito à alteridade e a busca por uma sociedade inclusiva, visando normalizar uma sociedade fragilizada ao diferente, procurando se tornar acessível e transpor barreiras a fim de oferecer às pessoas o que lhes é de direito: sua cidadania e o direito de ir e vir.

    Posteriormente, percebe-se a presença da intencionalidade educativa, inicialmente realizada em ambientes segregados específicos e, depois, lentamente migrou para ambientes inclusivos com amparo da legislação brasileira (ALVES; CANTERLE, 2002). Houve valorização escolar e, assim, passaram a crer no ensino das pessoas com necessidades educacionais especiais, em especial com deficiências leves associadas a problemas específicos de aprendizagem.

    Vale acrescentar ainda que o período da segunda guerra mundial foi um grande marco no que se refere à Educação Física voltada para pessoas com deficiência. Nessa época, muitos homens saudáveis foram para a guerra com o propósito de representar suas nações e de lá retornaram com ferimentos os quais, em grande parte, estavam associados à deficiência física. Esses homens eram vistos como heróis daquela sociedade e promoveram mudanças paradigmáticas no imaginário social da época. Nesse período, iniciaram as primeiras clínicas de reabilitação por meio do esporte adaptado, através da modalidade esportiva denominada basquete.

Educação Inclusiva e Educação Física

    Assuntos relacionados à inclusão e a educação física estão cada vez mais em evidência e representam um grande desafio educacional (ALVES; CANTERLE, 2002; SENNA, 2004; PARANÁ, 2006; ANACHE, 2009). Há diferentes fatores que interferem nas problemáticas dessas áreas e, por essa razão, têm-se observado mudanças nas práticas pedagógicas dos educadores, a saber: adoção de novos conceitos e estratégias metodológicas, reformas curriculares e na forma de avaliação (SANT’ANA, 2005; ANACHE, 2009). Os docentes também se deparam com preocupações que não se restringem às características dos educandos, tampouco às barreiras arquitetônicas, mas, sim, às barreiras atitudinais que se associam a discursos e ações impregnados de paradigmas no que tange ao discurso de normalidade (ALVES; CANTERLE, 2002).

    Sendo assim, a Educação Física está fortemente moldada para atender as instituições escolares com base nesses paradigmas, logo, muitos profissionais não sabem ao certo para onde caminham e nem qual o caminho a trilhar. Portanto, diante de tamanhos questionamentos, o papel do profissional da educação precisa ser repensado, bem como alguns termos e conceitos devem ser redefinidos (RUIZ, 2003).

    Historicamente, várias terminologias foram utilizadas para designar as pessoas com necessidades especiais: portadores de necessidades especiais, portadores de deficiência, incapacitados, deficientes, pessoas com deficiência, entre outras de não menor importância. Atenta-se para o fato de que a deficiência é uma condição e por isso não pode ser portada.

    Sassaki (2003) comenta que jamais houve ou haverá um único termo correto que seja válido em todos os tempos e espaços, pois cada época utiliza termos cujo significado seja compatível com os valores vigentes em cada sociedade e suas alterações vão de acordo com a evolução do relacionamento com as pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Conforme o autor supra-citado, para que seja construída uma sociedade verdadeiramente inclusiva, deve-se atentar para as linguagens adotadas porque por trás dessas terminologias existem conceitos.

    Deve-se destacar também que, atualmente, o contexto da Educação Física é repleto de transformações e incertezas. É comum verificar que a Educação Física ainda vive em tempos de crise e valoriza a esportivização, e, sobremaneira, a competição. Os ideais de Educação para todos não são contemplados a partir do momento que parte do grupo é excluída em decorrência de seus atributos pessoais. Isso é válido para as pessoas que possuem algum tipo de deficiência e para aqueles que não se enquadram na lógica da normalidade.

Reflexões

    Diante do exposto acima, faz-se mister aludir que as definições errôneas utilizadas para designar pessoas com deficiência perpetuam (pré)conceitos. Outros termos como inclusão e integração também não devem ser confundidos, pois sequer se assemelham.

    Muitas pesquisas de cunho pedagógico já abordaram essas questões, embora ainda se evidencie que esses assuntos não foram assimilados pelo intelecto da sociedade. A partir disso, pode-se questionar se o conhecimento da academia está chegando à comunidade, sobremaneira aos educadores. É sabido que os processos de educação continuada, muitas vezes estimulados pelas prefeituras, vão ao encontro de determinados esclarecimentos. Logo, pode-se sugerir que essa é uma forma de propagar conhecimentos.

    Através dessas dificuldades em torno de definições conceituais, evidenciam-se incongruências epistemológicas. A partir do momento que não se fazem reflexões a fim alcançar a gênese do problema, torna-se inviável buscar soluções tanto para a Educação Física quanto para a Educação Inclusiva. Dessa maneira, essas duas áreas de conhecimento transitam entre diferentes teorias epistemológicas em razão da falta de identidade, falta de clareza nas idéias e falta de reflexão.

    Ora se enquadram na fenomenologia existencial que considera a complexidade na tríade das relações: consigo/com outros/com mundo; em contrapartida, às vezes, aproxima-se da teoria da Complexidade, pois centra a preocupação no ser humano. Nessa perspectiva, as pessoas com deficiência passam a ser vistas como pessoas em sua totalidade, repletas de possibilidades e o foco nas limitações causadas pela deficiência é consideravelmente reduzida (ZUCHETTO, 2004).

    Em parte, pode-se atribuir esse insucesso epistemológico à influência do modelo médico-biológico que objetivava em tratamentos interventivos a fim de minimizar os problemas advindos pela deficiência do sujeito, agrupando-os por tipos de deficiência.

    Em termos de produção científica, ressalta-se que há demasiado pluralismo em ambas as áreas mencionadas. Justifica-se esse fato em decorrência não só de sua abrangência, mas também de suas interfaces com outras áreas do conhecimento, uma vez que são multidisciplinares (HAYASHI, 2011). Falta embasamento teórico em muitas pesquisas que visam somente resolver questões imediatistas, através de intervenções, levantamentos, estudos de caso, revisões de literatura e pesquisa histórica e outras abordam pressupostos teóricos político-filosóficos b (MAZZOTTA, 1996; SANT’ANA, 2005)

Referências

  • ALVES, D. O.; CANTERLE, S. B. A epistemologia de professores e professoras sobre o processo de construção do conhecimento em alunos com necessidades educacionais especiais - implicações educativas. Rev. Brasileira de Deficiência Mental, v. 167 n. 01, 2002.

  • ANACHE, A. A. A epistemologia qualitativa: contribuições para a pesquisa em educação especial. Revista InterMeio: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação, Campo Grande, MS, v.15, n.30, p.123-141, jul./dez. 2009

  • BRASIL. Ministério de Educação/Secretaria de Educação Especial. Educação Inclusiva. Direito à Diversidade. Curso de Formação de Gestores e Educadores. Brasília: MEC/SEESP, 2004.

  • DIEHL, R. M. Jogando com as diferenças. São Paulo: Phorte, 2006.

  • PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes curriculares da educação especial para a construção de currículos inclusivos. SEE/SE. Curitiba, 2006.

  • HAYASHI, M. C. P. I. Múltiplos olhares sobre a produção do conhecimento em educação especial. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 11, n. 32, p. 145-165, jan./abr. 2011

  • MAZZOTTA, M. S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1996.

  • RUIZ, M. J. F. O papel social do professor: uma contribuição da filosofia da educação e do pensamento freireano à formação do professor. Revista Iberoamericana de Educación, n. 33, set./dez., 2003.

  • SENNA, L. A. G. De Vygotsky a Morin: entre dois fundamentos da educação inclusiva. INES, n. 22, p. 53, jul./dez. 2004.

  • SANT’ANA, I. M. Educação Inclusiva: concepções de professores e diretores. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 2, p. 227-234, mai./ago. 2005

  • SASSAKI, R. K. Vida Independente: história, movimento, liderança, conceito, filosofia e fundamentos. São Paulo: RNR, 2003, p. 12-16.

  • ZUCHETTO, Angela Teresinha. A trajetória de Laila no AMA: Histórias entrelaçadas. [Tese de Doutorado] Campinas, SP: Programa de Pós-graduação Saúde da Criança e do Adolescente, Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp, 2008, f. 210.

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