Educação Física e mídia na concepção crítico-superadora Educación Física y medios de comunicación según la concepción crítico-superadora |
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* Acadêmica da 8ª fase do Curso de Educação Física – Licenciaturada Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC - Concluinte em 2014 **Professor Mestre na Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC (Brasil) |
Cecília Ronconi Spilere* Luis Afonso dos Santos** |
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Resumo O presente artigo tem como objetivo compreender como os professores podem abordar o tema mídia dentro da concepção crítico-superadora, que tem como principais características: diagnosticar, julgar e buscar uma direção, tornando assim alunos críticos para a sociedade. Trata também de como a mídia pode influenciar as crianças e adolescentes através dos meios de comunicação de massa, tendo em vista a relação que a mídia possui com o esporte e sua influência na Educação Física Escolar. Assim, o estudo feito de pesquisa bibliográfica constatou que há possibilidades de abordar a mídia em nossas aulas, tendo o professor como um mediador desse processo, estando preparado para lidar com os meios de comunicação no ambiente escolar e com a influência da mídia nas aulas de Educação Física e na sociedade. Unitermos: Educação Física. Esportes. Mídia. Concepção crítico-superadora.
Recepção: 19/12/2014 - Aceitação: 22/01/2015
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 201, Febrero de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os meios de comunicação de massa vêm conquistando espaços cada vez maiores, juntamente às tecnologias cada vez mais avançadas. Computadores, notebooks, celulares, smartphones, internet, rádios e TV, hoje em dia estão cada vez mais acessíveis a todas as pessoas. Sabemos que a mídia interfere na nossa subjetividade, pois podemos ser influenciados a todo o momento pelas informações por ela produzidas. Sendo assim, torna-se uma temática indispensável para ser trabalhada nas aulas, uma vez que o esporte é um dos principais assuntos abordados nos meios de comunicação de massa ao mesmo tempo em que é um dos conteúdos da educação física escolar. Além disso, faz-se necessário abordar esta realidade a partir de uma concepção crítica de educação física, tratando da temática em uma sociedade de classes e mostrando os interesses envolvidos no esporte da mídia.
Neste sentido, para contribuir no direcionamento do trabalho, tivemos algumas questões norteadoras que nos auxiliaram como: Qual a influência da mídia em crianças e adolescentes? Qual a relação das aulas de educação física com a mídia? Qual deve ser o papel do professor para trabalhar a recepção das mensagens produzidas pelos meios midiáticos? Tivemos como objetivo geral apontar possibilidades de trabalhar o tema mídia nas aulas de educação física em uma concepção crítico-superadora.
Para alcançarmos os objetivos propostos optou-se por uma pesquisa bibliográfica. Na abordagem qualitativa, escolhida para esta análise, de acordo com Terence e Escrivão Filho (2006, p. 02), o pesquisador procura aprofundar na compreensão dos fenômenos que estuda como, as ações dos indivíduos, grupos e contexto social, interpretando a perspectiva dos participantes, sem se preocupar com representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito. Com isso, desenvolvemos uma proposta de aula com o tema mídia para as turmas do ensino médio, em uma proposta crítico-superadora. Entendemos que a sistematização na forma de planejamento de aula contribui para uma aproximação entre a teoria estudada e a prática na escola.
Situando a Educação Física
É importante ao iniciarmos, contextualizar a educação física escolar, para que possamos compreender a mídia e a concepção crítico-superadora, temas deste artigo. A literatura da área mostra várias definições e conceitos sobre a educação física e sua atuação na escola. Para este artigo optamos pela conceituação e compreensão do Coletivo de Autores (1992).
Assim, segundo o Coletivo de Autores (1992. p. 33),
Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal.
Os conteúdos abordados devem estar de acordo com a capacidade cognitiva e a prática social do aluno, ao seu próprio conhecimento e às possibilidades enquanto sujeito histórico, de forma sistemática e metodológica, visando sempre as carências e as necessidades dos alunos (Nunes; Couto apud Coletivos de Autores, 1992).
Para a realização da mediação da cultura corporal com base na leitura crítica da realidade, é necessário buscar elementos que compõem a complexidade da construção social. Entre estes elementos que interferem na elaboração e leitura de mundo temos os meios de comunicação de massa e um dos seus principais temas, o esporte.
Mídia, Indústria Cultural e Esporte
Os meios de comunicação de massa têm o poder e a função de informar o público sobre os assuntos de interesse da população. Conforme a Constituição Brasileira, a rádio e a televisão são serviços outorgados, isto é, não podem ter “donos”, são concessões dadas por um determinado período de tempo, e esses veículos de comunicação devem prestar serviços à população como educação, arte, cultura (nacional e regional), respeitando os valores éticos e sociais (art. 221). Além disso, “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio” (art. 220) (BRASIL, 1998). Entretanto, a realidade tem mostrado uma mídia com capacidade de levar ao telespectador notícias distorcidas, bem como induzir ao consumo de coisas, em sua maioria, desnecessárias.
A palavra mídia origina-se do latim media, plural de médium, que significa meio. A mídia refere-se aos meios de comunicação humana mediada por algum aparato afirmam Betti e Pires (2010). Na medida em que os aparatos tornaram-se mais sofisticados, alcançaram um número maior de pessoas.
A produção de informações de forma massificada origina uma indústria – a indústria midiática – aqui entendida como produtora e veiculadora de símbolos e significados socialmente compartilhados na cultura contemporânea, além de ser a principal operadora da Indústria Cultural defendem Betti e Pires (2010).
Além de difusão dos bens materiais, a mídia cria mecanismos de convencimento para o consumo. Podemos citar aqui dois tipos de mecanismos relacionados à publicidade. O primeiro refere-se a estratégia de convencimento através de um ídolo ou marca e o segundo através de produtos ou embalagens. Não que somente esses sejam mecanismos utilizados, pois há novelas, propagandas, entre outros. O prazer vai além de apenas usar os produtos, adquirir algo, mas sim pela satisfação em comprar e o poder.
A criança pode encontrar o Snoopy no seu sabonete, tomar café da manhã com o Mickey ou a Minnie no seu copo e pratinhos, levar a Xuxa na sua mochila ao sair, ter a Angélica nas suas sandálias, conviver com inúmeras figuras de desenho no seu material escolar e pode se divertir durante o dia com uma infinidade de heróis e monstros dos seus filmes prediletos, tais como Power Rangers, Batman & Robin, Guerreiras Mágicas, etc. Cansada do seu dia, ela pode finalmente adormecer abraçada com uma Nana Neném da Eliana (SAMPAIO, 2000, p.157)
Orientada em mecanismos psíquicos de reconhecimento e identidade, a mídia vende, sobretudo, a (pseudo) satisfação de desejos e vontades subjetivas que são também frutos da ação da Indústria Cultural associada ao capital (Rudigger, 2002).
Sendo assim, a mídia acaba interferindo na nossa subjetividade, impedindo-nos de fazer escolhas de forma autêntica, comandando e impondo sonhos, gostos, hábitos e muito mais.
Um forte exemplo é o futebol que de forma sistemática vão sendo criados novos ídolos que se transformam em garotos propaganda de qualquer produto. Cria-se uma relação direta entre ser um vencedor e consumir determinados produtos. Além disso, existem os patrocinadores dos clubes e o próprio jogo torna-se mercadoria, uma vez que a transmissão do mesmo é vendida. Percebe-se assim, uma mercantilização total do esporte, onde o mesmo vira objeto de consumo e é utilizado como instrumento para induzir o consumo de determinados produtos e estilo de vida.
Tendo em vista que o esporte está associado a nossa área de atuação, podemos dizer que, as aulas de Educação Física podem ter uma grande relação com a mídia, pois podemos fazer uma discussão crítica dessa temática. Para tanto, é fundamental compreendermos o papel do professor e a importância de trabalhar em uma concepção crítica de educação física.
A importância do professor como mediador dentro de uma sociedade midiática
Atualmente, o esporte está associado à mercadorização, onde é tratado como negócio, sendo oferecido a seus consumidores para satisfazer seus desejos e necessidades. As organizações empresariais que buscam atingir um determinado público alvo, ligado ao esporte, utilizam-no como mídia alternativa.
O esporte se tornou um produto perfeito para satisfazer aos dois mercados da televisão: o telespectador, que cada vez mais consome esporte (as maiores audiências da TV mundial são de eventos esportivos), e o mercado publicitário, atraído pelas grandes audiências junto aos seus públicos-alvo. (POZZI, 1999, apud PIREZ, 2002, p. 92).
Conforme Belloni (2001), as formas e conteúdos das mensagens midiáticas ás quais crianças e jovens têm acesso não correspondem a objetivos educativos e pedagógicos, mas à lógica da economia mundial. De modo geral, nossas crianças e adolescentes não estão preparados para resistir aos apelos persuasivos da televisão, e tendem a tornarem-se consumidores passivos, sem meios de exercer um olhar analítico e de efetuar uma leitura critica das suas mensagens.Teme-se ainda pelos efeitos negativos que a televisão possa causar sobre seu desenvolvimento intelectual e sócio afetivo e sobre seus comportamentos.
As mídias estão em todo espaço da escola, desde uma conversa das crianças e adolescentes sobre os capítulos de novelas, aos reality shows, até mesmo na aula de dança onde a coreografia é toda midiatizada.
Assim, Ferrés (1996) propõe que a escola eduque para a reflexão crítica: levando o aluno a compreender o sentido explícito e implícito das informações e estabelecer relações coerentes e críticas entre o que aparece na tela e a realidade do mundo.
Segundo Betti e Camilo (2010):
Não é um trabalho simples, e ao contrário da velocidade com que aparecem novas situações problemáticas, o processo de reflexão sobre valores éticos, políticos e ideológicos que estão envolvidos é bem mais lento. Mas é o espaço escolar esse lugar de "repensar".
Ainda de acordo com estes autores, devemos reconhecer o aluno como produtor de conhecimento e re-significador do mundo em sua volta, trazer para o currículo escolar a discussão acerca dessa pluralidade de informações que nos rodeiam, modelam condutas e opiniões. Sem negar a prioridade às novas mídias que aparecem com os alunos, até mesmo nos seus comportamentos.
Mediar o significado é mostrar aos alunos onde se aplica o conteúdo recém-aprendido, de que forma esse conteúdo aumenta a compreensão sobre outros fatos e como o conceito pode ampliar a compreensão de mundo da criança (Meier, Budel 2013).
Sabemos que para haver transformações e para que ocorra tudo da melhor maneira possível, é preciso um professor qualificado para trabalhar a mediação, que é de extrema importância em qualquer disciplina. Principalmente quanto se estabelece o uso das mídias.
Vamos abordar o tema mídia na concepção crítico-superadora e para tal apresentaremos princípios básicos da proposta teórico metodológica a seguir.
A proposta teórico metodológica crítico-superadora
A Pedagogia Crítico-Superadora elaborada por um Coletivo de Autores (1992) têm como tema principal o conhecimento da Educação Física quanto à cultura corporal, desenvolvida por meio da dança, jogos, esportes e ginásticas.
De acordo com o Coletivo de Autores (1992), a proposta teórico-metodológica Crítico-superadora organiza-se a partir da pedagogia histórico-crítica, da psicologia histórico-cultural e do materialismo histórico-dialético. Valoriza o conhecimento científico como fundamental para a compreensão do mundo. Para isso, destaca o processo histórico da cultura corporal como meio para esse entendimento. (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Cultura corporal do movimento compreende práticas expressivo-comunicativas que se externalizam pela expressão corporal, podendo ser determinadas pela cultura ou determinante da mesma, ao passo que estabelecem uma relação dialética entre elas. Ou mais resumidamente, é um conjunto de movimentos e hábitos corporais de um grupo específico (FERNANDES, 2013). Ela se manifesta por meio das danças, do esporte, dos jogos, das lutas e das ginásticas.
Assim, esta concepção busca entender a realidade a partir de três características:
Diagnóstica: constata e lê os dados da realidade.
Judicativa: julga a partir de uma ética, representando os interesses de uma determinada classe social.
Teleológica: determina aonde se quer chegar, buscando uma direção. (COLETIVO DE AUTORES, 1992)
Nasce através de uma sistematização e uma proposta pedagógica referenciada bastante concisa baseando-se na justiça social.
Nessa visão de uma Educação Física transformadora é que a concepção de ensino crítico superadora se embasa: no discurso da justiça social, no contexto da sua prática. Busca levantar questões de poder, interesse e contestação; faz uma leitura dos dados da realidade à luz da crítica social dos conteúdos. Ela pode ser tida como uma reflexão pedagógica e desempenha um papel político-pedagógico, pois encaminha propostas de intervenção e possibilita reflexões sobre a realidade dos homens.Tratar desse sentido/significado abrange a compreensão das relações de interdependência que jogo, esporte, ginástica e dança, ou outros temas que venham compor um programa de Educação Física, têm com os grandes problemas sócio-políticos atuais como: ecologia, papéis sexuais, saúde publica, relações sociais do trabalho, preconceitos sociais, raciais, da deficiência, da velhice, distribuição do solo urbano, distribuição de renda e outros (SEARA E FERMINO, 2010. APUD COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Conforme a fonte anteriormente citada, existem quatro ciclos de escolarização, tendo conteúdos tratados de forma que amplie o pensamento do aluno, desde a realidade até a compreensão dos fatos.
O primeiro ciclo vai da pré-escola até a 3ª série. Neste ciclo, os jogos visam na criança o reconhecimento de si, das possibilidades que tem de ação; o reconhecimento dos materiais sejam eles naturais ou construídos pelo homem e as possíveis ações executáveis. A relação do pensamento sobre uma ação com a imagem e a conceituação verbal.
O segundo ciclo vai da 4ª à 6ª séries. É o ciclo de iniciação à sistematização do conhecimento. Nele deverão ser utilizados jogos cujo conteúdo vise a técnica e o pensamento tático; desenvolvimento da capacidade de organizar os jogos e as regras.
O terceiro ciclo vai da 7ª à 8ª séries. É o ciclo de ampliação da sistematização do conhecimento. Aqui, os jogos visam a organização técnico-tático e julgamento de valores, treinamento, avaliação individual e do grupo para jogar bem tanto tecnicamente quanto taticamente; decisão de níveis de sucesso.
O quarto e último ciclo se dá na 1ª 2ª e 3ª séries do ensino médio. É o ciclo de aprofundamento da sistematização do conhecimento. Os jogos devem implicar no conhecimento sistematizado e aprofundamento das técnicas e táticas; desenvolvimento da capacidade geral e específica de jogar; prática organizada entre escola e comunidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Assim, para maior compreensão da proposta, será disponibilizado a seguir, um plano de aula sobre mídia na concepção crítico-superadora para o ensino médio.
Concepção Crítico-Superadora como alternativa para abordara mídia nas aulas de Educação Física.
Exemplo de uma aula de mídia na concepção crítico-superadora para ensino médio com o conteúdo Punhobol:
Esporte e MídiaTema:
Justificativa: Escolhi este tema por se tratar de um assunto que está presente em nosso cotidiano. Por isso, torna-se fundamental tratá-lo na escola. A compreensão da relação deste esporte com a mídia permitirá uma análise “mais total”, ou seja, mais real da manifestação cultural esporte. Assim, os alunos e alunas poderão compreender melhor e atuarem na sociedade, de forma crítica.
Objetivo geral: Compreender de que forma se efetiva a relação do Punhobol com a mídia.
Objetivos específicos:
Compreender a relação que a mídia tem com os esportes. Neste caso, a relação da mídia com o conteúdo Punhobol.
Discutir e relacionar o Punhobol com os esportes que mais aparecem nas mídias.
Linha de ação:
Aula 1 e 2: Avaliação diagnóstica: em duplas. Os alunos escreverão em uma folha a respeito da modalidade Punhobol, tudo o que imaginam ou sabem sobre esta. Após a atividade serão passados alguns vídeos (Que desperte nos alunos à atenção para o esporte - de preferência os “top 10”).
Apresentação do conteúdo Punhobol, todo seu histórico. Conversar com os alunos e comparar essa modalidade com outras que eles conheçam. (No caso comparar ao vôlei que é bem semelhante ao Punhobol).
Aula 3 e 4: Fazer alguns exercícios em duplas e quartetos referente a “golpear” a bola.
Vivenciar o saque e recepção.
Aula 5 e 6: Deixar que joguem um pouco do jogo propriamente dito, aplicando as regras e atividades feitas anteriormente. E após, iniciar o debate, problematizando se este é um esporte que existia há tempos o porquê de somente agora virar "febre"? Por que não é um esporte com tanto prestígio social? Argumentar com os alunos e fomentar a pesquisa sobre a relação deste esporte com a mídia.
Trazer, em forma de pesquisa escrita, para próxima aula, esportes que a mídia enfatiza e os que não estão no mundo das mídias, seja pela internet, jornais, revistas, etc. Fazer uma discussão sobre isso. Porque alguns esportes estão na mídia e outros não? Levando-os a discutir também sobre a mercantilização dos esportes. Nesse momento será feito uma análise do contexto social de cada aluno, verificando em que situação vive o mesmo. Isso é importante para que o professor possa adaptar os conteúdos e a forma de trabalhar em cada turma. Alcançando assim os objetivos propostos nas aulas que seriam formar cidadãos críticos, questionadores, através dos esportes (usado o punhobol para melhor compreensão desta relação).
Aula 7 e 8: Propor aos alunos fazermos uma filmagem do jogo de punhobol entre eles (na própria aula) e na próxima aula (aula 8) editar as imagens com o placar “mentiroso", ou seja, a equipe que ganhou no dia do jogo, no vídeo perde. Isso estimularia um debate, primeiro recheado de reclamações pelos alunos da equipe no qual ganharam no jogo filmado e ao mesmo tempo questionaríamos os alunos: será que a mídia sempre mostra a verdade sobre a realidade? Será que tudo que passam nos jornais acontece de fato como mostram?
Sabemos que é de suma importância que no plano de aula da concepção crítico-superadora apareça suas três características da reflexão pedagógica, pois de acordo com Coletivo de Autores (1992, p. 14-15):
"[...] a diagnóstica constata e lê dados da realidade, a judicativa julga a partir de uma ética que representa os interesses de uma determinada classe social e a teleológica busca o ponto que se deseja chegar". Levando assim a melhor compreensão.
É na escola que as crianças e adolescentes tem contato com o mundo, através das disciplinas estudadas. É o local onde deve preparar o aluno para receber os conhecimentos científicos. Em casa são poucos os pais que conseguem dar total atenção ou perceber o que seus filhos fazem, o que assistem na TV, o que procuram na internet. Entendemos que nem sempre é por questão de falta de interesse, mas também por falta de tempo, por trabalharem, por querer descansar, vários fatores.
Há pais que conseguem estipular um tempo para que seus filhos usem a internet em casa, que estão presentes no momento de assistir uma programação da TV, que conseguem tirar as dúvidas deixadas pela apresentação midiática, ou até mesmo questionar seus filhos sobre assuntos do cotidiano no qual estão mais pautados pelos jornais, rádios e televisão. Porém há os pais que não conseguem.
Assim a criança, pode ser influenciada, pois compreende a realidade conforme a visão de mundo mostrada pela mídia. "A programação transmitida pela TV acaba tornando-se um ponto de referência na organização da família, está sempre a disposição, sem exigir nada em troca, alimentando o imaginário infantil com todo tipo de fantasia" (JORGE, 2014 p. 56).
Independente do porque, devemos levar em consideração o tempo que as crianças e adolescentes passam na escola e fazer o nosso papel de mediadores, agindo de forma com que consigamos ajudar na compreensão dos mecanismos que envolvem a mídia e sua relação com o esporte.
Conclusão
Hoje é notória a grande relação que a mídia tem com a Educação Física, sendo que a própria mídia visa o esporte com grande ênfase, e o esporte faz parte das aulas de educação física. Sabemos da grande importância que tem o professor estar preparado para trabalhar o tema mídia em suas aulas. A mídia influencia crianças e adolescentes criando mecanismos de consumo através da publicidade. Interferindo na subjetividade dos indivíduos.
O processo é longo, sabemos disso. Mas devemos seguir motivados, pois assim vamos colaborar na formação de crianças e adolescentes capazes de compreender seus gostos independente da influência ou opinião de "massa".
A mediação do professor nesse processo é de extrema importância, pois ele sendo um "facilitador", incentiva e motiva a aprendizagem do aluno em relação as mensagens trazidas pelos meios midiáticos, ajudando-os a fazerem uma leitura crítica e extrair apenas o que de fato é importante.
Podemos trabalhar na concepção crítico-superadora, uma vez que a mesma permite compreender a situação do esporte, da mídia e da educação física em uma sociedade de classes. Levando-nos, a questionar os esportes que são "midiados" e os que não são, os que a mídia investe, e por vezes até mudam suas regras conforme os interesses e comercialização. Podemos trazer debates, situações e entendimentos para as aulas, buscando enriquecer as mesmas e os conteúdos cada vez mais.
E disso, ir criando mecanismos para que as aulas fluam de maneira que utilizem ou criem "veículos de comunicação", tais como jornais, rádios e tornem nossos alunos cada dia mais críticos, não apenas aceitando tudo o que a mídia impõe, mas sim compreendendo o que de fato lhes convém ou é "empurrado". Criar jornais/rádios consiste em produzir mídias. Pode ser uma forma de mostrar como se escolhe as notícias, os critérios para definir o grau de importância, etc..
Cabe a nós professores fazermos essa intervenção/mediação, onde auxiliaríamos essas crianças e adolescentes a repensarem no que a mídia expõe, se de fato é como eles entendem, ajudá-los a fazer uma leitura crítica da realidade imposta a eles.
Referências
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BETTI, Mauro. Mídias: aliadas ou inimigas da educação física escolar. Motriz, São Paulo, v.7, n.2, p.125-129, jul./dez. 2001.
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___________ ; PIRES, Giovani de Lorenzi. Mídia. In: GONZÀLEZ, Fernando e FENSTERSEIFER, Paulo. (org.) Dicionário Crítico de Educação Física. 2 ed. Ijuí: Uniují, 2010.
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JORGE, Taís de Mendonça. Manual do foca: guia de sobrevivência para jornalistas. São Paulo: Contexto, 2008.
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SAMPAIO, Inês Silvia Vitorino. Televisão, publicidade e infância. São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2000.
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TAHARA, Mizuho. Mídia. São Paulo: Global, 2004.
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