efdeportes.com

O efeito do óleo de linhaça sobre a redução de eventos cardiovasculares

El efecto de aceite de linaza en la reducción de eventos cardiovasculares

 

*Discente de nutrição da Universidade Estácio de Sá

Campus Rebouças, Rio de Janeiro, dez/2011

**Nutricionista Clínica no Hospital Miguel Couto, Rio de Janeiro/RJ

Especialista em Nutrição Funcional (VP)

***Médico geriatra do Hospital Santa Cruz, Niterói-RJ

Especialista em geriatria

****Docente do curso de Nutrição da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro

Mestre em Saúde da Criança (Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ)

Felipe Monnerat Marino Rosa*

Patrícia Cristina Crespo Guimarães**

Ruth Dorfman**

Eduardo Herique Caffaro***

Andreia De Luca Sacramento****

felipemonnerat@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Com o envelhecimento da população brasileira e a preocupação com o aumento do numero de casos de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) diversos estudos vêm sendo conduzidos a fim de minimizar e estratificar os riscos pertinentes ao envelhecimento. Nesse intuito avaliamos duas idosas da geriatria de um hospital particular de Niterói com uma faixa etária entre 70 e 74 anos através do escore de Framingham (EFGH), circunferência de cintura (CC), Índice Castelli-2 (IC-2) antes e após a oferta de 20g do óleo de linhaça (10g no almoço e 10g no jantar) durante quatro semanas. Verificamos uma redução significativa na pressão arterial sistêmica (PAS) de ambas as idosas, porém pequena alteração no EFGH e no IC-2. A circunferência da cintura também não teve alteração significativa após o período de ingestão do óleo, esse não promovendo efeito esperado sobre redução na CC de ambas as idosas. Concluímos que utilização do óleo de linhaça foi benéfica para essas duas idosas, principalmente para o controle pressórico, mais não demonstrou impacto significativo nos marcadores de risco para doença arterial coronariana e eventos cardiovasculares por já apresentarem valores desejáveis antes do teste.

          Unitermos: Omega-3. Doenças cardiovasculares (DC). Escore de Framingham (EFGH). Índice Castelli-2 (IC-2). Idosos. Óleo de linhaça.

 

Abstract

          With the aging of the population and concern about the growing number of cases of chronic diseases, several studies have been conducted to minimize and stratify the relevant risks of the aging process. By that means we evaluated two elderly women in a private hospital geriatric session in Niteroi, Rio de Janeiro, Brazil with age ranging between 70 and 74 years using the Framingham score (EFGH), waist circumference (WC), Castelli Index-2 (IC-2), before and after the ingestion of 20 g of linseed oil (10g at lunch and 10g at dinner) for 4 weeks. We found a significant rate reduction in systemic blood pressure of both elderly, but little change in the EFGH and IC-2. Waist circumference also had no significant change after the period of experience, wich did not provide the expected effect in the reduction of both the elderly WC. We concluded that the use of linseed oil was beneficial for these two elderly, especially for blood pressure control, which showed no more significant impact on risk markers for coronary artery disease and cardiovascular events by desirable values ​​already present before the test.

          Keywords: Omega-3. Cardiovascular disease (CD). Framingham score (EFGH). Index Castelli-2 (IC-2). Elderly. Linseed oil.

 

Universidade Estácio de Sá. Curso de Graduação em Nutrição

Estágio Supervisionado em Nutrição e Saúde Coletiva

Trabalho de Conclusão de Estágio – 2011 - 2º Semestre

 

Recepção: 23/08/2014 - Aceitação: 11/11/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    De acordo com dados epidemiológicos o Brasil atravessa um estágio de transição demográfica onde hoje se estima que aproximadamente 14 milhões (7,4% da população) são de idosos contra 10 milhões (5,9% da população) na última década, com uma estimativa de 19% para o ano de 2050 (NASRI, 2008).

    Com o processo de envelhecimento aumentam as chances no desenvolvimento de DCNT em especial as doenças cardiovasculares que representaram 30% das causas de morte no mundo em 2004 (ACHUTTI, AZAMBUJA, 2004; NASRI, 2008; DENARDI, SALGADO, MOREIRA, 2009).

    No Brasil, ainda persiste uma carência de estudos de prevalência de doenças cardiovasculares e dos seus fatores de risco modificáveis no contexto populacional (EYKEN, MORAES, 2009).

    Diversas medidas vêm sendo adotadas como o incentivo a atividade física, alimentação saudável, controle do peso, combate ao tabagismo, álcool e estresse (III DIRETRIZ BRASILEIRA SOBRE DISLIPIDEMIA E DIRETRIZ DE PREVENÇÃO DA ATEROSCLEROSE, 2001).

    Porém se sabe que de acordo com do Ministério da Saúde aproximadamente 450.000 brasileiros morrem por ano em virtude das doenças crônicas não transmissíveis, sendo 38% de doenças cardiovasculares (RIQUE, SOARES, MEIRELLES, 2002).

    O ácido graxo ômega-3 (n-3) oriundo dos alimentos de origem animal encontra-se na forma de ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA) em diferentes concentrações e em alimentos de origem vegetal sobre a forma de ácido alfa-linolênico (ALA). Sabe-se que principalmente o EPA proporciona importante efeito antiinflamatório, reduz agregação plaquetária, proporciona efeito de vasodilatação, elevação da lipoproteína de alta densidade (HDL-C), redução do colesterol total, da proteína de baixa densidade (LDL-C), baixíssima densidade (VLDL-C) colesterol e triglicerídeos (TGS). Auxilia na prevenção e controle principalmente da aterosclerose, das dislipidemias, insuficiência cardíaca (IC) e hipertensão arterial (HAS) evitando assim o infarto agudo do miocárdio (IAM) entre outros eventos cardiovasculares (GOMES, CARMO, 2006; ANDRADE & CARMO, 2006; MARTINS, SUAIDEN, PIOTTO et al. 2008; SAHADE, MONTERA, 2009).

    Após a ingestão do Omega-3 de origem vegetal o ALA sofre efeito da enzima gama 5 dessaturase gerando EPA e gama 6 dessaturase gerando DHA (CARRAPEIRO, 2010)

    O Escore de Framingham (EFGH) é uma importante ferramenta para avaliar risco de doença arterial coronariana (DAC). Esse protocolo leva em consideração os valores de LDL-C, HDL-C, pressão arterial sistólica e diastólica, a idade, o sexo, tabagismo e diabetes. (POLANCZYK, 2005; SBC, 2007; LOTUFO, 2008).

    O objetivo do trabalho foi avaliar a redução no risco de eventos cardiovasculares em idosos após a suplementação com óleo de linhaça.

Materiais e métodos

    Participaram do estudo duas idosas com faixa etária de entre 70 e 73 anos, moradoras da ala geriátrica de um hospital em Niterói.

    Foi adotado como critério de exclusão os pacientes que utilizem medicação, hipolipemiante, os pacientes abaixo de 70 anos e os que estivessem acima de 74 anos, os pacientes diabéticos insulino-dependentes.

    As idosas receberam quatro colheres de café (5 ml x 4) do óleo de linhaça prensado a frio, da marca PAZZE® durante a refeição do almoço e do jantar totalizando aproximadamente 20g de ácido graxo linolênico (ALA). Como somente 5 a 10% do ALA da dieta conseguem ser convertido em EPA e 2 a 5% em DHA (CARRAPEIRO, 2010), ofertamos aproximadamente 2g de EPA e 1g de DHA.

    Todas as pacientes foram avaliadas antes e após o período de um mês de administração do óleo de linhaça. Coletamos os marcadores bioquímicos: colesterol total e HDL colesterol, após jejum de 12 horas. A pressão arterial sistêmica (PAS) em repouso com o paciente sentado, após repouso de 5 minutos, no braço direito, com auxílio de um esfigmomanômetro aneróide da marca PREMIUM® e um estetoscópio da marca PREMIUM®, modelo cardiológico. Adotando como valores de normalidade < 130x85 mmHg (IV DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2010). Foram realizadas três aferições considerando a média como valor de coleta. E verificamos a circunferência de cintura (CC) com auxílio de uma trena inelástica da marca SUNNY® tendo como referência o ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca, adotando os pontos de corte estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde: < 80 cm para baixo risco, 80-88 cm alto risco e >88 cm altíssimo risco para desenvolver doença arterial coronariana em mulheres (OMS, 2008).

    Após a avaliação e coleta, os resultados foram aplicados no Escore de Framingham que classifica o risco para doença arterial coronariana (DAC) em 10 anos, de acordo com o sexo, idade, presença de diabetes mellitus tipo 2 (DM2), tabagismo, LDL-C, HDL-C e PAS. (II DIRETRIZ DE CARDIOGERIATRIA, 2010). Ao final foram comparados os resultados iniciais (antes da utilização do óleo) com os finais (após a utilização do óleo) do escore (EFGH) e pontuação (PFGH) de Framingham, avaliamos o risco também através do Índice Castelli-2 (IC-2) classificando em mulheres como baixo risco para doença cardiovascular, a razão LDL-C/HDL-C ≤2,9 (CASTELLI, ABBOTT, MACNAMARA, 1983).

    Os dados foram avaliados com base em valores de média e desvio padrão, segundo o programa EXCEL.

Resultados e discussão

    A avaliação inicial das duas idosas do estudo (idosa A e idosa B) demonstrou os seguintes resultados: ambas as idosas estavam orientadas, (A) tinha 70 anos e (B) 73, negaram tabagismo e presença de diabetes mellitus tipo 2, fato verificado também em prontuário. As duas idosas (A e B) apresentaram a PAS em repouso em torno de 140x85mmHg e 125x80mmHg respectivamente, e o exame bioquímico revelou: o LDL-C de 97,3mg/dl e 85,1mg/dl, e o HDL-C de 85,7mg/dl e 65,6mg/dl, respectivamente ilustrado na tabela 1. Elas possuíam uma CC de 84cm (idosa A) e 96,5cm (idosa B), classificadas com alto risco e altíssimo risco para doença arterial coronariana (OMS, 2008). O EFGH revelou uma pontuação de 6 pontos para idosa (A), representando um risco de 6% para DAC em 10 anos, enquanto que a idosa (B) revelou uma pontuação de 4 pontos o que significa um risco de 4%. O IC-2 mostrou um baixo risco para ambas revelando uma razão LDL-C/HDL-C de 1,14 e 1,3 respectivamente, conforme expressa a tabela 2.

    Verificou-se na primeira avaliação que ambas as idosas apresentavam um estado de saúde satisfatório segundo os principais marcadores, destacando-se apenas: a CC em ambas e a pressão arterial sistólica da primeira (tabela 2).

Tabela 1. Descrição das características da pacientes idosas segundo:

marcadores fisiológicos, antropométricos e bioquímicos, antes da intervenção

 

Tabela 2. Dados fisiológico, antropométricos, bioquímicos e escore

de Framingham antes de 4 semanas de acréscimo do óleo de linhaça na dieta

    Após a utilização do óleo de linhaça no período de um mês verificou-se que a PAS apresentou redução significativa em ambas as idosas. Na idosa - A houve redução de 10 mmhg na pressão arterial sistólica e diastólica, enquanto que em (B) redução de 15mmhg na sistólica e de 5 mmHg na diastólica, sem modificação dos demais fatores de proteção: como o aumento de atividade física, alimentação diferenciada ou alteração na medicação.

    A AMERICAN HEART ASSOCIATION (2001) também cita o efeito do Omega-3 sobre a redução de triglicerídeos e da hipertensão arterial assim como na melhora da função plaquetária em hipertensos (LAMARÃO, NAVARRO, 2007). Em uma meta-análise, MORRIS, MANSON, ROSNER, et al. (1995) também encontraram uma redução significativa na pressão arterial de 3,4 / 2,0 mm Hg em estudos com indivíduos hipertensos que consumidos 5,6 g/d de n-3. Da mesma forma, APPEL, MILLER, SEIDLER et al. (1993) encontraram que a pressão arterial diminuiu 5,5 / 3,5 mm Hg em ensaios de hipertensos sem tratamento dado 3g / d de ômega-3 ácidos graxos.

    BALK, CHUNG, LICHTENSTEIN et al. (2004) cita efeito positivo do o n-3 sobre a PAS. Porém os mecanismos para tal efeito permanecem incerto, a hipótese mais convincente é a alteração no equilíbrio entre TXA2 (tramboxano A2) vasoconstritores e PGI3 (prostaglandina I3) vasodilatadores. Em outro estudo sobre tratamento não medicamentoso da pressão arterial, a suplementação de 3 e 6g de n-3 favoreceram a redução da pressão arterial em hipertensos (LOPES, FILHO, RICCIO, 2004). Outros trabalhos citam efeitos do n-3 sobre o ácido araquidônico (AA) formando eicosanóides e promovendo benefícios para pressão arterial e contra trombose pela inibição da agregação plaquetária e estimulação da vasodilatação (RIQUE, SOARES, MEIRELLES, 2002; MARTINS, SUAIDEN, PIOTTO et al. 2008).

    Já os exames bioquímicos não apresentaram grandes mudanças principalmente por já se encontrarem na faixa de normalidade no período pré- suplementação. A idosa (A) apresentou pequeno aumento (±9%) no LDL-C (106,1mg/dl), porém também houve o aumento (±7%) no HDL-C (91,4mg/dl), enquanto que a idosa (B) apresentou discreta redução (9%) no LDL-C (77,8mg/dl) porém também teve discreta redução (5%) do HDL-C (62,6mg/dl), conforme ilustra a tabela 3.

    Em um ensaio clínico com 40 pacientes com síndrome metabólica verificou-se que após o consumo de 3 g/dia de PUFAs, o grupo sofreu aumento de LDL-C (SIMÃO, BARBOSA, NUNES, et al. 2007). Em contra-partida, outro estudo envolvendo 3 grupos, o primeiro com dieta (placebo), o segundo com o uso de estatina e o terceiro com a suplementação de n-3 verificou-se que tanto a suplementação do n-3, quanto o uso da estatina tiveram um impacto positivo na redução do LDL-C e PAS quando comparado com a dieta placebo, somente o HDL-C teve diferença nas duas intervenções, aumentando com o uso de estatina enquanto se manteve igual após a suplementação do n-3 (DENARDI, SALGADO, MOREIRA, 2009). Estudos relatam que os ácidos graxos ômega-3 diminuem lipoproteína de baixissima densidade (VLDL-C) em indivíduos hipertrigliceridêmicos, com um aumento concomitante de HDL-C (BALK, CHUNG, LICHTENSTEIN, et al. 2004).

Tabela 3. Dados fisiológico, antropométricos, bioquímicos e escore

de Framingham após o acréscimo do óleo de linhaça na dieta

    O IC-2 não apresentou mudança significativa tendo um discreto aumento (0,02) em (A) e uma pequena redução (0,06) em (B), não produzindo alteração na classificação de risco já que ambas apresentavam classificação de baixo risco devido aos valores na faixa de normalidade de LDL-C e HDL-C antes da utilização do óleo (figura 1). A CC apresentou um discreto aumento (0,5cm) na idosa (B) enquanto que a idosa (A) apresentou uma discreta redução (1cm), porém em nenhum dos dois casos houve modificação na classificação de risco para doenças cardiovasculares, não apresentando o óleo, impacto significativo na redução da CC (figura 2). Em estudo feito por MARANGONI, S. (2010), com 52 homens adultos, divididos em 3 grupos verificou-se que após a ingestão de 60g de farinha de linhaça todos os indivíduos apresentaram perda de peso e de gordura abdominal.

Tabela 4. Dados fisiológico, antropométricos, bioquímicos e escore

de Framingham depois de 4 semanas de acréscimo do óleo de linhaça na dieta

    Não houve redução no EFGH (figura 3) da idosa (A) que mesmo apresentando redução significativa na PAS, apresentou aumento no LDL-C mantendo um mesmo escore (6%) e PFGH (6). Já a idosa (B) teve redução 1% no EFGH (3%) e de 2 pontos na PFGH (2) devido à redução nos valores pressóricos conforme apresentado na tabela 4.

    LAMARÃO e NAVARRO (2007) verificaram que a suplementação de 1g de n-3 demonstrou um efeito benéfico sobre o risco de eventos cardiovasculares em pacientes com doença arterial coronariana. Observou-se uma redução de 10% no risco para eventos cardiovasculares. Em clássico estudo envolvendo esquimós da Groenlândia citado por MARTINS, SUAIDEN, PIOTTO et al. (2008), mostraram que mesmo com o elevado consumo de gordura e colesterol vinda do peixe os esquimós apresentavam baixos níveis de colesterol total, TGs, VLDL-C e elevados níveis de HDL-C, com menores incidências de doenças cardiovasculares, asma e doenças auto-imunes. BOURRE (2007) também descreve o ALA, EPA e DHA, como importantes para a prevenção da doença cardiovascular isquêmica em mulheres de todas as idades.

Figura 3. Escore de Framingham (%) de ambas as idosas antes e após o uso do óleo de linhaça

Conclusão

    Com base nos resultados apresentados podemos concluir que a utilização do óleo de linhaça foi benéfica para redução da pressão arterial nas duas idosas. O estudo não foi conclusivo quanto à redução do risco para doenças cardiovasculares segundo os três marcadores utilizados, apontando somente uma tendência para diminuição do risco, o que já pode ser considera.

    Outros estudos se fazem necessários com uma amostragem maior, comparando sexos e faixa etária diferentes, em maior período de tempo.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 200 | Buenos Aires, Enero de 2015
© 1997-2015 Derechos reservados