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Fatores psicológicos influenciadores no paraquedismo militar

Factores psicológicos que influyen en el paracaidismo militar

Psychological factors influencing the military parachuting

 

*Docente da Universidade Veiga de Almeida

Comitê Olímpico Brasileiro

**Aluna de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida

(Brasil)

Clarice Medeiros*

claricemdrs@gmail.com

Thais Silva Rueda**

ruedathais@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O paraquedismo é um esporte pouco conhecido, com características próprias que tornam a sua prática complexa, exigindo do atleta diversas aptidões físicas e psicológicas. O presente trabalho pretende apresentar os aspectos psicológicos que influenciam no paraquedismo militar, assim como as percepções dos atletas sobre a prática esportiva. Para isso, foram realizadas anamneses com treze atletas de uma equipe de paraquedismo militar, o que permitiu levantar alguns desses fatores. Dentre os principais resultados encontrados está a paixão pelo esporte, de modo que a prática freqüentemente encontra-se acompanhada de emoções positivas. Porém, no momento competitivo a ansiedade foi o fator predominante.

          Unitermos: Esporte. Paraquedismo militar. Psicologia.

 

Resumen

          El paracaidismo es un deporte poco conocido, con sus propias características que lo hace una práctica compleja que requiere diversas aptitudes físicas y psicológicas por parte del atleta. Este trabajo tiene como objetivo presentar los aspectos psicológicos que influyen en el paracaidismo militar, así como las percepciones de los atletas en el deporte. Para esto fueron registradas las historias de casos con trece atletas de un equipo de paracaidismo militar, que permitió estudiar algunos de estos factores. Entre los principales resultados se destaca la pasión por el deporte, por lo que la práctica suele ir acompañada de emociones positivas. Sin embargo, el momento de la ansiedad competitiva fue el factor predominante.

          Palabras clave: Deporte. Paracaidismo militar. Psicología.

 

Abstract

          The skydiving is a little-known sport, its own characteristics makes it a complex practical, requiring the athlete's several physical and psychological preparation. This paper aims to present the psychological aspects that influence military skydiving, as well as the perceptions of athletes on the sport. For this, case histories with thirteen athletes of a team of military skydiving, which allowed to raise some of these factors. Among the main results is the passion for the sport, the practice is often accompanied by positive emotions. However, the competitive moment anxiety was the predominant factor.

          Keywords: Sport. Military skydiving. Psychology.

 

Recepção: 25/11/2014 - Aceitação: 23/12/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Desde o inicio, o homem se movimentou, fugia de animais predadores, lutava por terreno e disputa um lugar diante do seu grupo. O início da prática esportiva é remota, quando aparecem entre hebreus, egípcios, babilônios e assírios, cenas de lutas, jogos de bola, natação, acrobacias e danças.

    Nota-se que desde o inicio as praticas esportivas estão ligas as forças armadas e as guerras. Procurava-se aprimorar e desenvolver a força física do soldado através do esporte, além de significar mais chances de vitória nas batalhas, servindo como demonstração de superioridade de um povo. O povo egípcio é um exemplo disso por a luta corpo a corpo e com as espadas demonstrar como os exercícios tinham como principais fins a prática militar.

    É na Grécia Antiga que o esporte passa a ocupar um lugar de destaque na sociedade. A Educação Física deixa o campo militar e se torna motivo de distinção social. A prática esportiva é a única atividade que, mesmo gerando suor, causa orgulho nos cidadãos, diferentemente do que era concebido aquele que trabalhava, algo designado aos escravos e homens livres, mas sem prestigio. O esporte ocupava, assim, lugar de destaque entre espartanos e atenienses.

    Os Jogos Olímpicos antigos foram uma série de competições realizadas entre representantes de várias cidades-estados da Grécia Antiga e se caracterizou principalmente eventos atléticos, mas também de combate, força, velocidade. Os jogos foram de fundamental importância religiosa com eventos esportivos ao lado de rituais de sacrifício em honra tanto a Zeus como a Apolo, considerados o deus dos esportes e a sua história origina o início dos jogos e a coroação dos vencedores com galhos de louro.

    No entanto, com a expansão do cristianismo, pregando a purificação da alma e do corpo, o desenvolvimento do esporte passa por um período de estagnação, uma vez que passou a ser um período de guerras. A partir do século IV, o esporte vive um período de estagnação, uma vez que o corpo vai servir menos para o desenvolvimento do esporte e mais para as penitencias.

    A retomada do esporte se dá no Humanismo, quando se dá a reforma dos conceitos esportivos e a definição de regras para os jogos. A padronização dos regulamentos das disputas favorece a disseminação da prática esportiva. A concepção moderna do esporte foi incentiva com a retomada e promoção dos jogos olímpicos, sendo a primeira Olimpíada Moderna em 1896, em Atenas.

    Na segunda metade do século XX, após a I e II Guerra Mundial, o esporte é tomado por uma nova realidade. O ideário olímpico e sua máxima de que “o importante é competir” saem de cena em prol da ideologia da Guerra Fria, a qual vê no esporte uma forma de incentivar o rendimento e o resultado. Nota-se que é retomada a antiga aliança entre esporte e guerra, militarismo.

    Em tempos de Guerra Fria, Casal (2007) afirma que a União Soviética via o esporte como um instrumento de educação da disciplina e das capacidades de enfrentamento ao adversário. Também será um meio de concretizar na mente das pessoas o caráter superior da sociedade soviética. Aos poucos, o esporte será convertido em uma arma ideológica e guerra fria. Isto permite explicar o apoio soviético ao esporte e as ciências do esporte em geral. Além disso, o desenvolvimento do programa espacial soviético influenciou, em médio prazo, todas as esferas da ciência soviética, incluindo o esporte. Os estudos recaíram principalmente sobre o alto rendimento e a questão dos limites humanos.

    Os últimos tempos revelam a volta da força dos Jogos Olímpicos assim como uma aceleração das mudanças das práticas esportivas, de modo que se consolida o esporte enquanto um direito de todos. Hoje em dia, o esporte aparece mais desvinculado das concepções de guerra, sendo utilizado algumas vezes como instrumento de projetos sociais no combate a violência e na construção de um cidadão de bem, de valores. Apesar disso, o esporte ainda ocupa um lugar de importância nas Forças Armadas, de modo que elas possuem campeonatos próprios ou ainda oferecem a estrutura esportiva para diversos atletas.

O paraquedismo

    Como demonstrado anteriormente, existe uma forte ligação entre esporte e militarismo. Se em um primeiro tempo, os grandes guerreiros eram grandes atletas, em um segundo momento, com as Guerras, o esporte é revisto como força de fortalecer o soldado para guerra e incentivas o patriotismo.

    O paraquedismo é uma modalidade tipicamente militar. Diferentemente do que se possa pensar o paraquedismo não é um esporte recente. Há relatos, desde 1306, de que os acrobatas chineses se atiravam de muralhas e torres empunhando um dispositivo semelhante a um grande guarda-chuva que amortecia a chegada ao solo. Em 1495, Leonardo da Vinci, aparece como precursor, sendo projetista de um paraquedas. Em 1617, o italiano Fausto Veranzio salta com um "paraquedas" da torre da catedral de Veneza, aterrando ileso diante dos espectadores.

    Mais de um século depois, Sebastian Lenormand constrói patenteia um paraquedas com que repetidamente executa saltos. Em 1785, Jean Pierre Blanchard constrói e salta com um paraquedas feito de seda, sem a armação fixa, o que então era utilizada para manter o velame aberto. Em 1797, Andre-Jacques Garnerin, em Paris, salta de um balão a uma altura aproximada de 2000 pés. Garnerim prossegue saltando regularmente, conquistando a honra de ser o primeiro paraquedista do mundo. Cinco anos depois, em Londres, Garnerim salta a 8000 pés, sendo este um recorde para a época.

    Em 1808, pela primeira vez o paraquedas foi usado como salva-vidas quando o polonês Kuparenko o utiliza para saltar de um balão em chamas. Em 1837, acontece o primeiro acidente fatal com um paraquedista, quando Robert Cocking falece em razão do impacto contra o solo. Ele saltava com um paraquedas com o desenho de um cone invertido que se mostrou inadequado, não resistiu à pressão e fechou. Em 1887, o capitão americano Thomas Baldwin inventou o equipamento que se ajusta ao corpo do paraquedista, substituindo os cestos até então utilizados. Esta criação foi um passo de suma importância para o desenvolvimento do paraquedismo. Em 1901, Charles Broadwick inventa o paraquedas dorsal, fechado dentro de um invólucro, como os que hoje são utilizados pelos pilotos de aviões militares. Em 1911, Grant Norton realiza o primeiro salto utilizando um avião: decolou levando o paraquedas nos braços e na hora do salto arremessou-o para fora sendo por ele extraído da aeronave. Em 1919, Leslie Irvin executa o primeiro salto livre, abrindo o paraquedas, por ação muscular voluntária durante a queda livre.

    Em 1930, os russos organizam o primeiro Festival Desportivo de Paraquedismo. E em 1941, o exército alemão emprega o paraquedas como equipamento de guerra, lançando paraquedistas militares para conquistar a Ilha de Creta. Dai em diante o paraquedismo se desenvolve numa velocidade vertiginosa, seja quanto aos equipamentos, técnicas de salto e tipos de competição.

    Atualmente, é possível afirmar que o paraquedismo militar enquanto esporte tem como objetivos: realizar demonstrações, proporcionando um intercâmbio dos militares com a comunidade civil; participar de campeonatos; e desenvolver o paraquedismo, com novas técnicas e equipamentos. Nas competições, existem quatro possiblidades de disputa: Formação em Queda Livre (FQL-4), Precisão de Aterragem, Estilo e Trabalho Relativo de Velame.

Figura 1. Figuras da formação em queda livre

Fatores psicológicos

    Diversos são os fatores que influenciam na prática do paraquedismo esportivo. Por ser uma modalidade que não pode ser treinada diariamente, por precisar de uma infraestrutura e equipamentos específicos, para realizar o treinamento é preciso que os atletas viagem longas distâncias, seja para realizar o salto do avião seja para treinar no túnel de vento.

    Essa particularidade esportiva introduz, muitas vezes, uma dificuldade de executar o planejado devido a disponibilidade do equipamento e das condições meteorológicas. Freqüentemente, apesar de irem treinar, dificilmente eles conseguem executar o número de saltos planejado, o que de inicio pode gerar ansiedade ou frustração por não saberem quando será possível realizar o treinamento e de que forma será possível. Além disso, após de dias de treinos, muitas vezes, eles sentem-se frustrados por não terem conseguido realizar o planejado, seja por falta de equipamento, seja devido às condições meteorológicas. Isso inclui ainda preocupações extras como material de treinamento, logística, etc.

    Esta particularidade de treinamento também faz com que haja muitas viagens, umas mais curtas, outras mais longas, e os atletas freqüentemente estão distantes de suas famílias. O convívio freqüente com os demais atletas e seus comportamentos também é um fator que traz dificuldade, assim como lidar com os seus próprios problemas.

    Com o objetivo de levantar os primeiros aspectos psicológicos que, inicialmente, influenciam a prática esportiva do paraquedismo militar, de modo particular, foi realizada uma anamnese nas equipes masculino e feminino, totalizando 13 atletas.

    De acordo com Assef e Grupenmacher (2011), a anamnese surgiu originalmente como uma necessidade da área médica e a psicologia fez uso desse instrumento adequando-o a sua demanda. Saber quem é o atleta é essencial para o campo da psicologia do esporte, pois é com base nesses dados que um trabalho poderá ser construído. É necessário conhecer emoções, reações, comportamentos e atitudes e a anamnese será um instrumento que auxiliará nesse conhecimento inicial.

    Segundo os autores, uma anamnese tradicional traz informações da identidade do sujeito e sua história, mas isso ainda é insuficiente, de modo que foi necessária uma ampliação dessa investigação. Deste modo, o tempo da anamnese não deve ser reduzida simplesmente a perguntas e respostas:

    devemos manter a mente alerta, os olhos atentos, saber ouvir o que se perguntou, considerando amplamente a resposta dada, ou seja, indo além das palavras proferidas. Gestos, olhares, nuances de voz, interrupções, devaneios (...) vão nos contemplando com muitas informações e reforçando a riqueza do encontro (ASSEF e GRUPENMACHER, 2011:28).

    A anamnese deve conter perguntas amplas a fim de levar o sujeito a falar livremente sobre si ou ainda sobre questões especificas da modalidade a ser praticada. No esporte, deve-se propor integrar aspectos como as características do atleta, os requisitos técnicos e. os objetivos com o treinamento

    É importante ressaltar, no entanto, que com o tempo ocorrem mudanças importantes na vida daquele atleta. E, por isso, não se deve considerar a anamnese como algo estático e sim como uma fotografia do instante, sublinham os autores. Questionamentos são importantes sempre que houver mudanças significativas, ou até mesmo, quando se achar necessário.

    Assim, conforme dito anteriormente, os dados exposto abaixo dizem respeito a anamneses feitas com a equipe de paraquedismo e não são todas as informações apresentadas a fim de manter o sigilo e preservar a identidade dos atletas, de modo que somente alguns dados relevantes para a temática atual estarão presentes.

Tabela 1. Pergunta 1 - O paraquedismo para mim é...

    É marcante como essa modalidade esportiva tem como característica principal a “paixão”. Após um treinamento, um atleta disse: “Chorei varias vezes. Após abrir meu paraquedas as lagrimas escorreram, não dava e eu não queria controlar nada! Eu quero mais e mais e mais... lagrimas, arrepios, abobamento quero tudo!!!”. Sua frase, longe de expressar um descontrole, medo ou qualquer emoção negativa, é a, antes de tudo a expressão que este atleta tem pelo esporte que pratica.

Gráfico 1. Pergunta 2 - Como se sente quando salta?

    Conforme visto na questão anterior, em que o paraquedismo é definido pelos atletas, em sua maioria, como uma paixão, quando perguntados como se sentem quando saltam, com freqüência, mencionaram emoções positivas como “bem”, “relaxado” ou “superfeliz”. Samulski (2009) lembra que, via de regra, procura-se conhecer as emoções negativas experimentadas pelos atletas que podem atrapalhar em seu rendimento. No entanto, algumas pesquisas estão voltando o seu olhar para as emoções positivas que os atletas podem ter durante a prática esportiva.

    Um atleta durante o treinamento disse: “O “clima” do time está cada dia melhor, mesmo em um dia de salto difícil com muitos erros, todos estavam focados e com sorriso no rosto, por estarem treinando!! Show!!!!”. Esta fala ilustra a boa emoção que esses atletas sentem enquanto estão saltando.

    Diante desta investigação sobre as emoções positivas no esporte, dois conceitos ganham destaque: flow-feeling de Csikszentmihalyi (1985) e winning-feeling de Unestahl (1983, 1986). (SAMULSKI, 2009).

    O flow-feeling pode ser definido como “uma sensação de alegria durante a atividade, a total e absoluta identificação e concentração na tarefa que se realiza, esquecendo-se de si mesmo” (SAMULSKI, 2009: 217). É possível ainda diferenciar alguns elementos no estado de flow como equilíbrio entre habilidade e desafio, absorção total na atividade, união entre consciência e ação, concentração total, motivação intrínseca, movimentos soltos e fluidos, dentre outros.

    A partir do relato dos paraquedistas é possível levantar a hipótese de que alguns experimentam o flow-feeling em sua prática esportiva. O paraquedismo é um esporte que requer um alto grau de concentração e motivação intrínseca de modo que o atleta e seu equipamento devem se tornar um só, com a consciência voltada para a ação, propiciando movimentos fluidos. Além disso, como visto na pergunta 1, é um esporte acompanhado de muita paixão, prazer, alegria, marcas também do estado de flow: “É muito estranho parece que o salto tem o dobro do tempo não termina e fica silencioso como se em vez do time cair fica-se parado no ar... eu sei que é coisa de louco mas é o que sinto e adoroooooo!!!!!” (Atleta masculino)

    Já o winning-feeling é caracterizado por quatro aspectos: amnésia, em que o atleta não lembra o que ocorreu durante a atividade; concentração, em que o atleta volta toda sua atenção para ação, deixando de lado estímulos irrelevantes; aumento da tolerância a dor; e mudanças na percepção, em que o atleta muda a percepção de acordo com a necessidade do tempo e do espaço.

Grafico 2.  Pergunta 3 - Como se sente em momentos competitivos?

    Pode-se notar respostas diferentes das encontradas na pergunta anterior. Isso porque a competição impõe novas circunstancias com as quais o atleta deve lidar. Moraes (2007) relança a pergunta que freqüentemente treinadores, dirigentes e os próprios atletas se fazem: por que ele não consegue repetir o que faz no treino? Ou seja, por que durante os treinos, estes atletas demonstram prazer e felicidade, mas durante a competição, as emoções são outras? Neste caso, com a competição, os atletas relataram sentirem-se mais ansiosos e tensos. Depois de um dia de competição, um atleta afirmou: “Sinceramente, depois de fazer várias análises, atribuo esses erros a fatores como ansiedade, auto-cobrança, experiência e condições climáticas típicas (...) que sempre nos surpreende. Não posso enumerar na ordem o que pesou mais, mas posso dizer que a ansiedade e auto-cobrança pesaram muito pois essas coisas se sentem na carne e na cabeça”

    Samulski (2009) comenta que, em momentos antes da competição, o atleta encontra-se em um estado de imensa carga psíquica, o que alguns autores denominam de "estado pré-competitivo". Esse estado é caracterizado pela antecipação da competição, das oportunidades, riscos e conseqüências. Dessa forma, também fatores como importância subjetiva da competição, relação técnico-atleta, nível de rendimento do adversário, experiências competitivas e nível de autoconfiança, influenciam diretamente na qualidade e na intensidade do estado pré-competitivo.

    Samulski (2009) retoma Puni (1961) para comentar que existem três estados pré-competitivos: estado de febre, estado de apatia e o estado ótimo de ativação. O estado de febre é marcado pelo nervosismo, instabilidade emocional, inquietude, medo do adversário e falta de controle psicomotor. O estado de apatia diz respeito a uma apatia mental, estado de mau humor, aversão a competição, descontentamento e intensidade diminuída de percepção, pensamento e concentração. Já o estado ótimo de ativação é caracterizado por um nível ótimo de ativação, motivação positiva para a competição, autoconfiança, otimismo, orientação para o êxito, concentração ótima e alta capacidade de controle psicomotor.

    De Rose Jr. (2002) afirma que competir significa enfrentar desafios e demandas que podem representa uma significativa fonte de estresse para os atletas dependendo das características físicas, psicológicas e técnicas. Assim, a competição é considerada o momento em que o atleta ou as equipes se confrontam em busca do mesmo objetivo - a vitória. Esse processo engloba o planejamento da equipe (equipamento, material, treinamento, competições preparatórias), planejamento geral das competições (calendário, viagens), aspectos administrativos (patrocinadores, contratos) e fatores paralelos (imprensa, torcida, etc.), que juntos formam um processo complexo e difícil de ser administrado sem uma organização adequada.

    Como já foi exposto anteriormente, no paraquedismo militar, muitas vezes, os atletas sofrem com a falta de equipamento e organização nas viagens, o que pode gerar estresse durante a competição, pela sensação de falta de preparo. Além disso, durante as competições, muitas vezes, oficiais superiores vem dizer algo que ao invés de ser ouvido como um incentivo é entendido como cobrança. Temos também a questão de ser um esporte de risco, um erro pode ser fatal para o atleta ou para o grupo exigindo assim um nível de concentração maior na tentativa de não cometer ou minimizar erros. Esses podem ser alguns dos fatores para que os atletas tenham dado as respostas acima.

    De Rose Jr. (2002) lembra que não necessariamente a competição será uma fonte de estresse para um atleta ou equipe. Tudo depende de como será feita a avaliação subjetiva desse momento e dos recursos pessoais que se tem para lidar com as contingências da competição.

Grafico 3. Pergunta 4 - Quais os momentos que lhe deixam mais ansioso?

    A questão da ansiedade em momentos anteriores ao salto é algo que com freqüência aparece no discurso dos atletas. Uma série de questões influenciam nisso, como a falta de treino, a fala de superiores sobre a "garantia de vitória", dentre outros. Um atleta comentou: “Acho que como não atingi ainda uma quantidade de saltos que possam me dar mais regularidade, eu tenho focado muito no possível erro. E isso realmente me deixa preocupado. Penso em não errar.”

    É necessário ressaltar, no entanto, que não é sempre que essa ansiedade atrapalha o desempenho dos atletas, muitos relatam precisar senti-la, pois só assim sabem que "entraram na competição". Essa fala traz a reflexão sobre o a ativação.

    Primeiramente, é preciso fazer uma breve diferenciação entre ativação e ansiedade. Segundo Weinberg e Gould (2008), a ativação pode ser definida como a combinação de atividades fisiológicas e psicológicas em uma pessoa, referindo-se à intensidade das dimensões de motivação em determinado momento, podendo variar entre nada excitado e completamente excitado, variando em um continuum. Já a ansiedade é um estado emocional em que os sentimentos de nervosismo, preocupação e apreensão estão associados com ativação.

    Samulski (2009) elucida a "Teoria do U invertido", em que há uma relação entre a ativação e a performance do atleta, de modo que se essa ativação estiver muito baixa ou muito alta, pior será a performance. Cada atleta possui um ponto de ativação ideal em que a sua performance será a melhor possível. No entanto, o autor salienta que essa teoria tem sido criticada. Por isso, foi criada uma teoria alternativa criada por Hanin (1997): teoria das zonas individualizadas de ótimo funcionamento. A proposta desse modelo afirma que cada atleta possui uma zona ótima de ansiedade, na qual produz o seu melhor rendimento e fora dela, os rendimentos são baixos. Além disso, outros fatores influenciam no nível da performance: determinação, prazer, flow-feeling, dentre outros. A diferença entre os dois modelos está no fato de que na primeira a zona ótima de ativação está no ponto central do continuo da ativação, enquanto o segundo isso varia de acordo com o individuo.

    Para Weinberg e Gould (2008), a ativação é um fenômeno multifacetado que consiste em uma excitação fisiológica e da interpretação do atleta dessa excitação. Tanto ativação quanto ansiedade não tem necessariamente um efeito negativo sobre o desempenho. O efeito pode ser positivo e facilitador ou negativo e debilitante dependendo de como a pessoa interpreta as mudanças, além da autoconfiança e a percepção do controle também serem fundamentais para considerar a ativação positiva ou negativa.

Conclusão

    O paraquedismo é, em sua essência, um esporte militar. O seu desenvolvimento teve força a partir do interesse e da tradição das Forças Armadas que conduziu as atividades e investiu no esporte, possibilitando aos atletas a representação do país em campeonatos no Brasil e no exterior.

    Mesmo com todo o investimento financeiro e técnico que o esporte requer o atleta paraquedista convive com diversos fatores que tornam a prática especial e exigem dele um preparo emocional, pois o ambiente em que o ele se encontra é muito diferente das outras modalidades esportivas: não pode treinar a qualquer momento e depende de diversos fatores como clima, equipamentos e deslocamento para o local de treino. Estas adversidades fazem parte do cotidiano do atleta paraquedista nos treinos e nas competições, impondo que ele tenha que lidar com a imprevisibilidade para saltar, o que muitas vezes gera ansiedade, medo, preocupações.

    Apesar das incertezas que são inerentes ao esporte, o atleta deve se manter atento e concentrado na tentativa de minimizar erros, pois o paraquedismo exige uma tomada de decisão rápida e é um esporte que envolve muitos riscos, reduzidos pela utilização de equipamentos e de atitudes que contribuem para a prática segura do esporte. Esses fatores se contrapõem a paixão e o prazer que o esporte lhes proporciona tornando esporte a realização de um sonho e imprescindível em suas vidas.

    A proposta do presente artigo foi o de apresentar os aspectos psicológicos que influenciam na prática do paraquedismo militar. Apesar disso, mais estudos se fazem necessários nessa modalidade tão tradicional e peculiar.

Bibliografia

  • ASSEF, D. M.; GRUPENMACHER, R. (2011) Da entrevista à anamnese: com objetivos, estratégias, alcances e limitações. Instrumentos de avaliação psicológica em psicologia do esporte. São Paulo: Casa do psicólogo.

  • BRODSKY-CHENFELD, D. (2011) Above all else. United States of America: Skyhorse Publishing.

  • CASAL, H. M. V. (2007) Fatos e reflexões sobre a história da psicologia do esporte. Coleção Psicologia do Esporte e do Exercicio v.1: Teoria e aplicação. São Paulo: Atheneu.

  • DE ROSE JR., D. (2002) A competição como fonte de estresse no esporte. Revista Brasileira da Ciência e do Movimento. Brasília. vol. 10 n.4.

  • MORAES, L. C. (2007) Emoções no esporte e na atividade física. Coleção Psicologia do Esporte e do Exercicio v.1: Teoria e aplicação. São Paulo: Atheneu.

  • SAMULSKI, D. (2009) Psicologia do esporte: conceitos e novas perspectivas. 2a. ed. Barueri, São Paulo: Manole.

  • WEINBERG, R.S; GOULD, D. (2008) Fundamentos da Psicologia do esporte e do exercício. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

  • CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE PARAQUEDISMO. História do Paraquedismo. Disponível em https://www.cbpq.org.br/home/historia. Acessado em 28 de março de 2014.

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