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Cenário da dança: a influência da mídia no ambiente 

da cultura escolar, sob o olhar da Educação Física

Escenario de la danza: la influencia de los medios de comunicación sobre
el ámbito de la cultura escolar, desde la perspectiva de la Educación Física

 

*Graduação em Educação Física pela Universidade do Estado da Bahia

Especialização em Atividade Física, saúde e sociedade

Professora no Colégio Municipal Anísio Cotrim Fernandes

**Graduação em Educação física pela Universidade do Estado da Bahia – Especialização

em Educação física escolar e gestão escolar. Professora na Escola Municipal Aldori Luiz Tolazzi.

***Graduação em Educação Física pela Universidade Estadual de Montes Claros

Mestrado e Doutorado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília

Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia/UNEB

e Coordenadora do NUPEX (Núcleo de Pesquisa e Extensão)

****Doutorado em Programa de Pós-Graduação em Educação pela Faculdade de 

Educação da UFBA. Professor Pesquisador I da Universidade do Estado da Bahia

Leilane Barbosa Paes*

Aline Lima da Silva**

Berta Leni Costa Cardoso***

José Antônio Leão Carneiro****

lanypaes@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A dança é um conteúdo da cultura corporal que abrange diversos aspectos da Educação Física, mas percebe-se que em muitas escolas a dança não é trabalhada como um processo educativo. O presente estudo aborda a questão da influência da mídia na dança no espaço escolar apontando uma possível consequência sobre o educando neste contexto. Este estudo consiste em uma pesquisa de campo com abodargem qualitativa, na qual foi realizada uma intervenção e uma entrevista semi-estruturada. O campo de estudo teve o seu cenário centrado na cidade de Guanambi-Bahia, onde foi escolhida uma escola da rede municipal de ensino. Foi selecionada para pesquisa a turma do 5º ano com a faixa etária de 09 a 12 anos, totalizando 28 alunos. Como resultado foi verificada a grande prevalência das danças e músicas veiculadas à mídia no contexto escolar, com uma grande preferência pelas danças de apelo sexual.

          Unitermos: Dança. Mídia. Cultura escolar.

 

Recepção: 11/11/2014 - Aceitação: 28/12/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A história da dança se dá desde os primórdios, onde o homem começou a usá-la em cerimônias, festas, sendo possível a expressão de sentimentos, desejos e vontades, tornando-se então uma linguagem universal que ultrapassa a fronteira da idade e das culturas. Atualmente vem sendo considerada como uma rica metodologia a ser utilizada em sala de aula, pois esta tem um papel imprescindível no processo educativo e social das crianças. Onde se é possível trabalhar os movimentos corporais livres, o trabalho em grupo, as emoções e a cultura (NANNI, 2001).

    O Coletivo de Autores (1992) ressalta que a Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada cultura corporal e é configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corporais dentre elas a dança. Assim entende-se que a dança, trabalhada dentro da cultura do movimento corporal na escola, é capaz de propiciar aos alunos um senso crítico em relação à expressão corporal e socialização. Porém, o que muitas vezes se vê é uma desvalorização da dança enquanto conteúdo na escola, negando então toda a reflexão que ela poderia proporcionar ao educando.

    Ponderando os aspectos morais, intelectuais, emocionais dentre outros que ela proporciona, para a sua prática, e relacionando os conteúdos transmitidos pela mídia, o elemento norteador da escolha da pesquisa foi o ambiente escolar.

    O campo de estudo teve o seu cenário centrado na cidade de Guanambi. Foi escolhida uma escola da rede municipal de ensino, sendo selecionada para pesquisa a turma do 5º ano do ensino fundamental, com a faixa etária de 09 a 12 anos, totalizando 28 alunos. Para as discussões foram imbricados teoria e resultados através dos seguintes tópicos: 1. Percurso Metodológico; 2. Dança na cultura escolar; e, 3. Dança e a influência da mídia.

    O estudo traz uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa, realizando uma discussão sobre a mídia no contexto escolar da dança e o papel do professor de Educação Física na escola diante da torrente midiática que é lançada na sociedade. Portanto, essa pesquisa tem como objetivo verificar a influência da mídia sobre a dança e suas consequências para a criança.

1.     Percurso metodológico

    O presente estudo utilizou como ferramenta metodológica uma pesquisa de campo, social e exploratória, com abordagem qualitativa de método descritivo, que tem como “características observar, registrar, analisar, descrever e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir com precisão a frequência em que um fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores” (MATTOS, 2004, p.15).

    Conforme Minayo (1994), a pesquisa qualitativa responde alguns pontos bastante reservados de uma realidade que não pode ser quantificada.

    A escolha pela faixa etária dos alunos de 09 a 12 anos de idade, deu-se por meio de que as crianças nessa fase começam a definir suas vontades, personalidade, adquirem consciência de suas atividades mentais, confrontando a realidade e definindo seus conceitos (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

    Para a coleta de dados foi utilizada como técnica de pesquisa uma entrevista semi-estruturada que conforme Minayo (1994) auxilia o pesquisador a buscar informações contidas nas falas dos atores sociais, podendo abordar livremente o tema proposto.

    Primeiramente houve uma autorização da direção da escola para a realização da pesquisa e depois foi entregue aos aprendizes o termo de consentimento livre e esclarecido para que seus responsáveis autorizassem sua participação nas entrevistas. Das 28 crianças presentes em sala de aula, 15 entregaram o termo assinado pelos pais e estas foram entrevistadas. Foi realizada também, uma oficina de dança que consistiu em conhecer e analisar as danças e canções que as crianças mais gostavam, onde foi possível realizar uma observação participante, em que o pesquisador estabelece uma analogia face a face com os observados podendo capturar diferentes situações ou fenômenos que não são alcançados por meio de perguntas. (MINAYO, 1994). Buscou então uma discussão sobre a observação realizada durante a oficina e a associação e confrontamento desses dados com a entrevista feita com as crianças.

    Foram realizados também durante a oficina, desenhos das danças preferidas dos alunos, que foram de grande valor para análise de suas percepções em relação a suas preferências e a interpretação das crianças diante do que lhe é transmitido.

    Os dados colhidos foram analisados confrontando as respostas das crianças e discutindo o conteúdo à luz das teorias que apresentam a dança como meio educativo. Foram levantadas categorias, estabelecidas na fase prévia ao trabalho de campo e/ou surgidas na fase investigativa da coleta de dados, essa última seria expressa pelos pensamentos, ações e/ou sentimentos dos participantes da pesquisa. As categorias referem-se a um conceito que abrange aspectos comuns ou que se relacionam entre si e remete a ideia de classe para que sejam estabelecidas as classificações. Esse tipo de procedimento está relacionado a qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa (MINAYO, 1994).

    Para preservar o anonimato, os depoentes tiveram seus nomes omitidos e trocados pela letra “F” seguido de um número para o sexo feminino e pela letra “M” seguido de um número para o sexo masculino.

    A análise do conteúdo estabeleceu categorias como: Dança na cultura escolar e Mídia, a fim de classificar os dados obtidos apresentando os resultados e considerações finais.

2.     Dança na cultura escolar

    O ser humano é cultural e agente da sua própria cultura. O corpo por sua vez está em constante construção cultural e de acordo com cada sociedade se expressa diferentemente em corpos distintos. É no corpo que estão refletidos regras, normas e valores de uma sociedade e, mesmo antes da criança andar ou falar, ela traz em seu corpo a expressão social que a cerca (DAOLIO, 1995).

    A dança, sendo um conteúdo e um recurso tão rico, é preciso ressaltar sua importância no contexto escolar, espaço de construção e reconstrução de normatizações que se configuram como cultura escolar. Este é um ambiente para a construção da relação do saber com a cultura e essa interação possibilita a ação social que coloca a educação e cultura juntas, confrontando valores, normas, conceitos, culturalmente estabelecidos pela sociedade para serem refletidos e indagados dentro do âmbito escolar, sendo visto como um espaço de transformações sociais que tem como propósito causar “desequilíbrio” para que os aprendizes reajam diante das reproduções conservadoras (NEIRA; NUNES 2008).

    Considerada capaz de permitir uma educação incondicional, a forma de trabalho da dança na escola deve tornar possível a produção do conhecimento, como a valorização de diversas culturas, podendo o sujeito estabelecer relações de valores, fazendo uma leitura crítica do mundo. Mas o que muitas vezes se vê é uma desvalorização da dança e, “o tema da cultura corporal – dança – dificilmente é trabalhado no contexto escolar” (SBORQUIA; GALLARDO, 2002, p.106).

    Gaio e Góis (2006) afirmam que a dança vai além de uma coreografia, ela constrói uma realidade social, cultural e política. A dança, segundo esses autores, causa transformações. E considerando que está sendo exposto pela mídia, pode-se refletir sobre o que está sendo construído na sociedade em relação ao aprendizado da dança e também relacionando a exposição das crianças nesse contexto, uma vez que a mídia oferece canções e danças sensuais que são coreografadas com movimentos bastante sugestivos à sexualidade sendo as crianças levadas precocemente a questões dessa temática, reproduzindo e expondo os seus corpos fazendo com que as situações transmitidas pelas músicas interfiram em seu comportamento (SBORQUIA; GALLARDO, 2002). Esses mesmos autores retratam essa realidade e as suas consequências, quando dizem que:

    Uma criança erotizada na infância poderá deslocar toda a sua afetividade para a sexualidade e, ao chegar à adolescência, poderá lidar com as questões sexuais de maneira precipitada e patológica, sendo o pior dos prejuízos as relações pouco gratificantes e efêmeras que não alcançam a afetividade, ausente em toda a infância (SBORQUIA; GALLARDO, 2002, p.109).

    É preciso então mostrar a realidade que muitas vezes não é percebida, que ocasionam implicações à formação psicossocial e emocional da criança como a maturidade sexual precoce principalmente nas meninas. É preciso também conscientizar pais, professores e demais atuantes na área de educação, visto que o professor pode fazer da dança um conteúdo a ser explorado para a emancipação intelectual daquele que vivencia esta forma de expressão. (GAIO; GÓIS, 2006).

    A dança é educação quando assume o compromisso de informar e formar cidadãos críticos e conhecedores do papel social que representam num dado espaço e tempo, além de ser instrumento gerador de agentes de mudanças em prol do equilíbrio quantitativo e qualitativo da vida em sociedade (GAIO; GÓIS, 2006).

    Entende-se a educação como um constante processo de valorização das vivências culturais. Acreditamos que essas vivências sofrem influências da mídia, interferindo no processo da educação, mas isso não pode se tornar um empecilho para nós educadores, esse desafio é necessário segundo Betti (1998), pois se deve refletir sobre estas questões na escola e não negar do que acontece na sociedade, deve-se instigar os alunos a reflexão e não negar a eles o que se entende por “deseducativo”.

    É nesse momento que pode acontecer para o aprendiz a descoberta das possibilidades de refletir sobre os seus conceitos, de tomar consciência do que determina ou não esses valores culturais que o rodeia. Essa descoberta o auxilia a criar, a pensar e a refletir através de suas vivências, como um momento de aprendizado, onde é necessário que o educador não negue o aprender por meio da cultura, que como se sabe é influenciado pela mídia.

    Segundo Betti (1998), as crianças que ainda estão em formação de seus gostos estéticos, são mais vulneráveis à mídia, como consequência aconteceria uma ruptura com a infância, influenciando nas tradições musicais e lúdicas, pois essas estão sendo sempre reprogramadas e empobrecidas pela mídia.

    Diante do exposto e das observações realizadas na escola municipal, verificamos que a dança é um elemento educacional motivador. Foi notório o interesse das crianças em relação à dança durante a oficina, onde apenas uma disse não gostar de dançar. Alguns, talvez por timidez, não participaram ativamente do momento das atividades, mas percebeu-se que todos gostavam de dançar, e quando questionados o porquê e o que sentem neste momento, a maioria respondeu: “porque é bom” a partir disso, cabe então ao educador incentivar a reflexão crítica da criança diante do empobrecimento que as danças e músicas sensuais podem ocasionar na construção da expressão corporal e da personalidade dos alunos.

    A grande maioria das músicas citadas pelas crianças como suas preferidas, eram músicas de apelo sexual e elas conseguem identificar facilmente todas essas questões. Isso foi notado claramente quando indagados sobre a letra de uma das canções, e M4 respondeu: “é muito indecente tia, porque fala de osadia [sic]! Mais [sic] eu gosto!”. Considerando então, a dança como um meio de construção do saber, como o Coletivo de autores (1992) coloca e observando as danças que estão presentes no quotidiano dessas crianças, pode-se avaliar o que está sendo, portanto, construído, pois a fala: “muito indecente e osadia [sic]” dita pelo aluno M4, está se referindo diretamente a sexualidade e ele conclui dizendo que apesar disso, ele gosta.

    As canções acabam influenciando e refletindo negativamente na vida da criança, provocando e estimulando a sexualização precoce, trazendo então prejuízos imediatos ao aprendizado da criança, especialmente ao processo de alfabetização (SBORQUIA; GALLARDO, 2002).

    É necessário evidenciar o duplo sentido que tais canções possuem, relacionando fatos da realidade nas danças com movimentos copulatórios e muitos sugestivos. Um exemplo claro disso está no trecho de uma das músicas preferidas dos alunos que diz: “ela levanta os quarto que eu boto a madeira” e outra: “eu vou tomar banho de rio, eu vou pescar comer piranha arranha, arranha [...]” essas músicas e ainda outras sendo coreografadas por crianças, figurando o ato sexual trazem consigo movimentos eróticos e termos que vulgarizam mulheres, sociedade, e porque não dizer que até as crianças, pois estas conseguem identificar o duplo sentido que muitas dessas canções trazem e isso foi notório quando um dos alunos relatou: “tem dois tipo de intenção essas música tia, fala de duas coisa!”M3 (se referindo as músicas citadas acima). Sborquia e Gallardo (2002) trazem um questionamento considerável quando dizem que:

    Não se trata de uma inversão de valores, mas da eliminação total de qualquer valor relacionado à conduta sexual: todo o comportamento é legitimado, e o que no passado era motivo de escândalo hoje pode ser normalizado e até mesmo incentivado pela mídia. É como se toda a sociedade estivesse tornando-se mais erotizada e as crianças, que recebem essa enxurrada de estimulações sexuais, acabam sendo vítimas deste triste processo de culto ao que é efêmero (SBORQUIA; GALLARDO, 2002, p. 111).

    Essas questões que os autores ressaltam são claramente visíveis. As crianças estão sendo vítimas dessas agressões e são estimuladas a sexualidade precocemente, perdendo sua identificação com as características da infância que, segundo Cezimbra (1999 apud SBORQUIA; GALLARDO, 2002), caracteriza-se por ser o primeiro período de proteção ao aprendizado. Subtil (2005) afirma que o processo de construção da infância decorre hoje das imposições da sociedade. A autora continua afirmando que pelas características da música, por seu caráter, sua performance “ela aciona mediações individuais e contextuais que vão, de certa forma, interferir nas escolhas, nas preferências, nos juízos de valor e nas práticas musicais individuais ou compartilhadas” (SUBTIL, 2005, p. 72).

3.     Dança e a influência da mídia

    A Educação Física tem um papel imprescindível diante da expressão corporal, pois ela deve sempre considerar o ser humano com valores e regras diferentes, onde este sujeito convive e é culturalmente influenciado a condutas distintas. Sendo assim, o professor de Educação Física, através da cultura corporal, tem em suas mãos a ferramenta capaz de promover a cultura corporal de movimento, mas ele deve sempre analisar o sujeito como um ser construído e influenciado socialmente.

    Para Daolio (1995), o conjunto de posturas e movimentos corporais representa valores e princípios culturais e que atuar no corpo implica atuar na sociedade na qual este corpo está inserido.

    A mídia é um instrumento de fácil acesso, que atualmente está em todos os espaços e que está englobada na construção e na definição do significado do corpo, daí vem-se a indagação de até onde a influência da mídia interfere na construção da expressão corporal especificamente da criança, visto que Daolio (1995) afirma que os movimentos e a postura corporal está inteiramente relacionada à representação de valores e princípios culturais. Para o mesmo autor (1995, p. 41), “o que define corpo é o seu significado, o fato de ele ser produto da cultura, ser construído diferentemente por cada sociedade, e não as suas semelhanças biológicas universais”.

    Sborquia e Gallardo (2002) acrescentam que as danças da mídia não possuem nenhuma intenção de arte visando apenas às demandas de mercado e que a escola muitas vezes reproduz o que a mídia impõe ou nega esse fato.

    O Coletivo de Autores (1992, p. 59), segue afirmando que: “faz-se necessário o resgate da cultura brasileira no mundo da dança através da tematização das origens culturais [...] como forma de despertar a identidade social do aluno no projeto de construção da cidadania”.

    Segundo Betti (1998), é tarefa de a Educação Física preparar o aluno para ser um praticante lúdico e ativo, que incorpore o esporte, o jogo, a dança e as ginásticas em sua vida, para deles tirar o proveito possível. Isso implica também compreender a organização institucional da cultura corporal em nossa sociedade.

    Diante da afirmação dos entrevistados, foi perguntando a eles o que queriam dançar na escola, e o resultado foi realmente o esperado, pois todos tinham a preferência por bandas e músicas que estão bem no auge da mídia como exemplo: o “Kuduro”, “Ai se eu te pego”, “Empreguetes”, “Som do povo” e outras. Observou-se durante a oficina que as crianças realmente gostam e se expressam bem a vontade diante dessas músicas e que a mídia está presente nas ações dessas crianças dentro da escola, pois todos responderam que assistem constantemente às novelas e relataram gostar mais de dançar as músicas que são evidenciadas pela mídia como as descritas acima.

    A última banda citada acima foi bastante evidenciada por eles, e se tratando do conteúdo das músicas, a maioria das letras é de insinuação e apelos sexuais, conduzindo as crianças a se expressarem da maneira que a composição da música juntamente com a exposição midiática conduz e estimula. Nanni (2001) ressalta que a dança faz parte do processo educativo e de valores da humanidade, contribuindo na criatividade e no incentivo a descoberta de valores, transformando o ser humano em um ser integrante e integrado à comunidade. Considerando essa afirmativa da autora, verificamos que as danças com apelos sexuais não correspondem ao verdadeiro conceito de dança defendido por muitos autores que discutem o tema.

    Os desenhos realizados também consistiram em grande valor na pesquisa, pois foram ilustrados pelas crianças exatamente de acordo com a letra das músicas, muitos deles com mulheres de short curto, atrizes de novela, movimentos sexuais. Uma ilustração que merece ênfase é o desenho a seguir que consiste na cena de uma das canções que mais se destaca na mídia e pode-se observar como a criança faz sua leitura diante dessas mensagens.

Figura 1. Criança M7

    Acreditamos que esse fato possa ser explicado como reflexo da própria sociedade e a percepção da criança envolvida nesse contexto, pois ela retrata questões de violência, mesmo que a música e a dança sejam com a intenção sensual ou outras, a criança com seu pensamento subjetivo, e ligada ao meio em que vivem, interpretam as canções de sua maneira. Outra música dita por elas como prediletas tem na sua letra: “se eu te pego na cama eu mato, eu mato, eu mato...”. Dessa forma, verificam-se os tipos de conteúdos que estão sendo transmitidos que acabam por prejudicar o desenvolvimento da criança.

Considerações finais

    Como visto neste estudo, a dança é um conteúdo educativo que faz parte da cultura corporal de movimento, pelo qual a expressão corporal livre e espontânea, evolui através das experiências e é principalmente no âmbito da cultura escolar que esse processo educativo acontece. No caso da escola pesquisada não há aulas de Educação Física, menos ainda de dança, sendo assim algumas questões relacionadas à dança não são tratadas numa perspectiva formativa.

    Durante a observação na escola municipal, verificamos que a dança é uma ferramenta para o processo educativo, no qual envolve a mídia como permanente diálogo dentro e fora da escola, fato este, constatado na observação e discussão em sala onde relatos comprovaram a preferência de danças veiculadas à mídia.

    Não se deve negar que atualmente as crianças já nasceram em meio à globalização e que estão expostas a danças que enfatizam a sexualidade, com movimentos copulatórios incentivando e formando na criança aspectos e valores impróprios a sua condição. Pôde-se perceber que a sexualidade precoce restringe o desenvolvimento espontâneo da criança em sua identificação no ciclo de escolarização, contudo, isso leva em relação à indústria midiática, parece haver um empobrecimento das tradições culturais infantis refletindo assim nas tradições lúdicas da criança. Essa questão foi confirmada nesta pesquisa visto que muitas das danças que as crianças preferem são músicas que possuem apelo erótico e sexual e que os conteúdos e movimentos que estas transmitem às crianças acabam prejudicando além de seu desenvolvimento também a sua formação cultural.

    A expressão corporal por meio da dança nos remete a sentir e refletir sobre algumas questões que estão envolvidas nessas manifestações, pois sendo a dança defendida por tantos autores como um método educacional, acaba sendo esquecida e a escola como um dos mediadores do processo de ensino não utilizam esse recurso, deixando que valores, conceitos, sejam jogados na escola pela mídia sem nenhuma reflexão ou estudo sobre os conteúdos transmitidos. As crianças já trazem consigo a vontade e o prazer de dançar e a escola é hoje, sem dúvida, um lugar privilegiado para que a dança aconteça e, enquanto ela existir, não poderá continuar mais sendo sinônimo de festas de final de ano.

Referências

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  • GAIO, Roberta. GÓIS, Ana Angélica F. Dança, Diversidade e inclusão social: sem limites para dançar! TOLOCKA, Rute Estanislava. VERLENGIA, Rozangela (orgs.). Dança e Diversidade Humana. Campinas, SP. Papirus, 2006.

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  • MATTOS, Mauro Gomes de; ROSSETO JUNIOR, Adriano José; BLECHER, Shelly. Teoria e pratica da metodologia da pesquisa em Educação Física: construindo sua monografia, artigo cientifico e projeto de ação. São Paulo: Phorte, 2004

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  • NANNI, Dionísio. Dança Educação, Princípios, métodos e técnicas. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.

  • NEIRA, Marcos Garcia & NUNES, Mário Luis Ferrari. Pedagogia da Cultura Corporal: críticas e alternativas. 2ª edição. São Paulo: Phorte, 2008.

  • SARAIVA, Maria do Carmo. Práticas Corporais na Comunidade: Pensando a Inclusão na Perspectiva do Gênero-BRASIL. Brincar, Jogar, Viver. Programa Esporte e Lazer da Cidade. Volume I. 2007.

  • SOUSA, Fátima Nogueira Gonçalves Dança e suas Manifestações Culturais -BRASIL. Brincar, Jogar, Viver. Programa Esporte e Lazer da Cidade. Volume I. 2007.

  • STRAZZACAPPA, Márcia. A educação e a fábrica de corpos: a dança na escola. Caderno EDES, Campinas, SP, v. 21, nº 53.Abril, 2001.

  • SUBTIL, Maria José Dozza. Mídias, música e escola: práticas musicais e representações sociais de crianças de 9 a 11 anos. Revista da ABEM. Porto Alegre, V. 13, set. 2005. p. 65-73.

  • SBORQUIA, Silvia Pavesi; GALLARDO. Jorge Sérgio Pérez. As danças na mídia e a danças na escola. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 23, n. 2, p. 105-118, jan. 2002.

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