Avaliação do desenvolvimento
motor Evaluación del desarrollo motor de los participantes del Proyecto COPAME Evaluation of motor development in participants of the COPAME Project |
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* Graduanda em Educação Física. Licenciatura na Universidadede Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul, RS **Licenciada em Educação Física e graduanda em Educação Física Bacharelado na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul, RS ***Docente do Curso de Educação Física na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul, RS |
Caroline Lúcia Stülp* Cláudia Daniela Barbian** Letícia Borfe** Sandra Mara Mayer*** (Brasil) |
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Resumo Introdução: O desenvolvimento é um processo incessante de transformações na capacidade funcional do indivíduo, onde a extensão destas mudanças pode ser observada nas diferentes etapas da vida. Objetivo: avaliar o desenvolvimento motor em crianças abrigadas na Associação Pró Amparo Ao Menor - COPAME, de Santa Cruz do Sul e participantes do Projeto Copame. Método: a amostra foi composta por 24 sujeitos, sendo 11 do sexo masculino e 13 do sexo feminino, com idades entre 35 meses (2 anos e 11 meses) e 132 meses (11 anos). Através de testes da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de Rosa Neto foram avaliadas as variáveis: motricidade fina; motricidade global; equilíbrio; esquema corporal; organização espacial; organização temporal/linguagem. Resultados: demonstraram um atraso de 13,87 meses na idade motora geral (IMG) e no o quociente motor geral (QMG), a amostra obteve a classificação como normal baixo. Conclusão: os sujeitos apresentam um atraso no desenvolvimento motor em todas as variáveis avaliadas. Visto que esse estudo oportuniza a avaliação individual de cada sujeito, ressaltando a importância de ações intervencionistas dos profissionais de Educação Física inseridos nesta realidade, para restabelecer a idade motora das crianças, através de atividades regulares que permitam o progresso integral do desenvolvimento motor. Unitermos: Idade motora. Motricidade global. Crianças.
Abstract Introduction: The development is an incessant process of transformations in the functional capacity of the individual, where the extent of these changes can be observed in the different stages of life. Objective: evaluate the motor development in children sheltered in the Association for the Support Minor - COPAME, Santa Cruz do Sul and in participants of the Copame project. Method: the sample consisted of 24 subjects, 11 males and 13 females, aged between 35 months (2 years and 11 months) and 132 months (11 years). Through testing of Motor Development Scale (MDS) of Rosa Neto variables were evaluated: fine motor, gross motor control, balance, body schema, spatial organization, temporal and language organization. Results: showed a delay of 13.87 months in general motor age and QMG sample was rated as low normal. Conclusion: subjects have a delayed motor development in all variables. Since this study provides an opportunity to evaluate each subject individually, emphasizing the importance of interventionist actions from Physical Education professionals inserted into this reality, to restore motor age in children, through regular activities that allow the integral development of motor development. Keywords: Motor age. Overall motor. Children.
Recepção: 16/09/2014 - Aceitação: 20/12/2014
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O desenvolvimento motor é a transformação constante do indivíduo durante a vida, iniciando-se na concepção e interrompendo-se com a morte1. O desenvolvimento é um processo incessante de transformações na capacidade funcional do indivíduo, onde a extensão destas mudanças pode ser observada nas diferentes etapas da vida, sendo o desenvolvimento motor caracterizado como um processo sequencial relacionado à idade, pelo qual há mudanças no comportamento motor2.
A infância é marcada pela obtenção de um extenso conjunto de habilidades motoras, que desempenha na criança o domínio do seu corpo estático e dinâmico, a locomoção de diferentes formas e a manipulação de variados objetos. Estas competências básicas são necessárias no cotidiano da criança, seja nos seus afazeres em casa e na escola, como também em seu anseio pelo brincar, que requerem da criança, já nos primeiros anos de vida, o domínio de várias habilidades motoras3. Portanto, o papel do educador é fundamental, pois com suas habilidades e planejamento, poderá sugerir e ministrar atividades recreativas que instrinsecamente possam proporcionar prazer e simultaneamente informações que contribuam no desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas habilidades4.
Para avaliar o desenvolvimento motor de crianças dos 2 aos 11 anos de idade, Rosa Neto5 propõe uma Escala de Desenvolvimento Motor composta por um conjunto de provas diversificadas e de dificuldades graduadas, que permite avaliar o nível de desenvolvimento motor da criança em diferentes setores do desenvolvimento, sendo após comparados com sua idade cronológica (IC). Através desta escala pode-se constatar as individualidades do desenvolvimento da criança, como também atrasos ou adiantamento no desenvolvimento motor. O protocolo compreende a análise dos seguintes testes motores: motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal (imitação de posturas e rapidez), organização espacial, organização temporal (linguagem e estruturas temporais) e lateralidade (mãos, olhos e pés).
A Motricidade fina caracteriza-se pela competência em controlar um conjunto de atividades de movimento de alguns segmentos do corpo, com uso de mínima força, atingindo a resposta desejada à tarefa. Motricidade global refere-se ao controle das contrações dos grandes músculos corporais na geração de movimentos amplos. Equilíbrio é a eficiência do organismo em sustentar qualquer posição contra a força da gravidade, a fim de anular as forças que agem sobre este corpo. O esquema corporal conceitua-se como a aptidão em discernir as partes do corpo, conseguir realizar todos os gestos que o corpo habitualmente realiza e obter êxito na execução de uma tarefa. Já a organização espacial é a consciência das dimensões corporais, tanto do espaço corporal como do ambiente, e a habilidade de avaliar a relação entre ambos. A organização temporal é a compreensão do tempo que se estrutura sobre as perceptivas transformações, caracterizada pela ordem, distribuição cronológica e pela duração dos eventos5, 6.
O presente estudo tem por objetivo avaliar o desenvolvimento motor em crianças abrigadas na Associação Pró Amparo Ao Menor - COPAME, de Santa Cruz do Sul e participantes do Projeto Copame, nas seguintes dimensões: motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal (imitação de posturas e rapidez), organização espacial e organização temporal (linguagem e estruturas temporais).
Método
A amostra foi composta por 24 sujeitos, sendo 11 do sexo masculino e 13 do sexo feminino, com idade entre 35 meses (2 anos e 11 meses) e 132 meses (11 anos), avaliados pelo Projeto COPAME, uma parceria da Associação Comunitária Pró-Amparo do Menor com a Universidade de Santa Cruz do Sul. Os sujeitos foram avaliados no período entre abril e maio de 2013.
Para a avaliação motora utilizou-se o protocolo dos Testes da Escala de Desenvolvimento Motor – “EDM”5, que avalia a idade motora nos testes de motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal/linguagem. São 10 tarefas motoras para cada área avaliada, divididas entre 2 e 11 anos, e estruturadas de maneira progressiva em grau de complexidade, sendo realizada ao final da aplicação o somatório dos êxitos e determinada a Idade Motora de cada uma das áreas mencionadas. Após é calculada a idade motora geral (IMG) e o quociente motor geral (QMG) da criança, sendo o último obtido pela divisão entre a IMG e a idade cronológica multiplicada por 100.
Para o seguinte estudo procurou-se identificar e caracterizar as variáveis relacionadas ao desenvolvimento motor de cada sujeito, como idade cronológica (IC), idade motora geral (IMG), motricidade fina (IM1), motricidade global (IM2), equilíbrio (IM3), esquema corporal (IM4), organização espacial (IM5) e organização temporal/linguagem (IM6). O quociente motor geral (QMG) e de cada variável, motricidade fina (QM1), motricidade global (QM2), equilíbrio (QM3), esquema corporal (QM4), organização espacial (QM5) e organização temporal/linguagem (QM6) são analisados e classificados em padrões: muito superior (130 ou mais), superior (120-129), normal alto (110-119), normal médio (90-109), normal baixo (80-89), inferior (70-79) e muito inferior (69 ou menos)5.
Para o tratamento estatístico, foi utilizada a análise descritiva, através da média, desvio padrão, valor mínimo e valor máximo, calculados no programa Excel 2010. Os testes foram aplicados com auxílio do Kit EDM (Escala de Desenvolvimento Motor).
Resultados
Na tabela 1, verifica-se a média da amostra de 100,95 meses na idade cronológica (IC) e média da idade motora geral (IMG) de 87,08 meses, observando-se um atraso de 13,87 meses. A amostra obteve a maior média na motricidade global (IM2) de 95 meses, observando-se o menor atraso em relação à idade cronológica (IC), de 5,95 meses. No entanto, as variáveis que apresentaram maior atraso foram a organização espacial (IM5) com média de 77 meses e a organização temporal/linguagem (IM6) com média de 79,50 meses, obtendo um atraso de 23,95 meses e 21,45 meses respectivamente.
No quociente motor geral (QMG) a amostra obteve a classificação de normal baixo. Com relação ao quociente motor nas variáveis da motricidade fina (QM1) e motricidade global (QM2) estes foram classificados como normal médio. No entanto, o QM3 (equilíbrio) e o QM4 (esquema corporal) obtiveram a classificação de normal baixo. Obtiveram a média mais baixa o QM5 (organização espacial) e o QM6 (organização temporal/linguagem) ficaram classificados como inferior.
Tabela 1. Distribuição do comportamento das variáveis da avaliação motora
Analisando, individualmente, o quociente motor conforme a tabela 2, 5 (20,8%) sujeitos classificaram-se como inferior ou muito inferior e 18 (75%) sujeitos apresentaram desenvolvimento motor normal. Destes, 11 (45,8%) classificaram-se como normal médio e 07 (29,2%) normal baixo. Apenas um sujeito obteve a classificação superior.
Tabela 2. Classificação da avaliação motora do quociente motor geral (QMG)
Discussão
As perspectivas motoras da criança progridem extensamente conforme sua idade e chegam a ser cada vez mais variadas, completas e complexas. O movimento inicial e o movimento final são uma unidade, projetando-se frente à compensação de uma exigência relacional. O elo entre o movimento inicial e o final se aprimora cada vez mais como resultado de um diferencial progressivo das estruturas integradas do ser humano5.
Os resultados obtidos nesse estudo demonstram um atraso de 13,87 meses na idade motora geral dos sujeitos. Resultado semelhante encontrado também em outro estudo7 da cidade de Montes Claros/MG, que avaliou 20 alunos de uma escola pública da periferia com idades entre 8 e 9 anos de ambos os sexos. A mudança de uma criança para um estágio de desenvolvimento superior dependerá das necessidades que apresenta e dos incentivos que são eficazes para colocá-la em ação8.
Na motricidade fina (IM1) observou-se um atraso de 8,2 meses, resultado encontrado no estudo de Crippa et al.9 que avaliou 19 crianças de ambos os sexos, com idades entre 48 meses e 67 meses do município de Florianópolis/SC. Resultado semelhante também foi encontrado no estudo de Fonseca Filho, Santos e Silva7. A motricidade fina se elabora de forma gradual, juntamente com a evolução motora, variando na criança conforme o nível de aprendizado e evolução5.
Com relação à motricidade global (IM2), os sujeitos apresentaram o menor atraso de 5,95 meses, resultados que não corroboram com os achados nos estudos7,9. Porém, a média obtida é semelhante à média encontrada no teste de estudo11 na cidade de Cuiabá/MT, que avaliou 14 crianças entre 4 e 9 anos matriculados em uma escola particular. Na motricidade global é através da brincadeira que a criança constata os arranjos necessários e progressivos, resultando em um agregado de movimentos coordenados em função de um objetivo a ser atingido5.
O equilíbrio (IM3) que é a eficiência do organismo em sustentar qualquer posição contra a força da gravidade, obteve um atraso de 12,7 meses, que não corroboram com os resultados do estudo7 que encontrou um atraso superior. Entretanto, o estudo9 encontrou resultados satisfatórios com IM3 acima da IC. O esquema corporal (IM4) consiste em conseguir realizar todos os gestos que o corpo habitualmente realiza e obter êxito na execução de uma tarefa utilizando-se do corpo5,6. Com relação a isto nosso estudo encontrou um atraso de 10,95 meses corroborando com o estudo7 que obteve um atraso de 11,7 meses, porém não corroborando com o estudo9 que obteve um atraso muito superior de 21,21 meses.
No entanto, os testes que obtiveram os piores índices foram a organização espacial (IM5) e a organização temporal/linguagem (IM6), com atraso de 23,95 meses e 21,45 meses respectivamente. Sendo esses resultados semelhantes ao do estudo de Fonseca Filho, Santos e Silva7 que também apresentou os piores índices nessas variáveis. Já o estudo9 obteve resultados satisfatórios nessas variáveis, sendo que, a melhor média do estudo foi na variável IM5, de 63,79 meses e a IC com média de 57,21 meses.
A organização espacial é a consciência das dimensões corporais, tanto do espaço corporal como do ambiente, e a habilidade de avaliar a relação entre ambos5. Segundo Pereira10 organização temporal é a capacidade do ser humano de situar-se da sucessão de acontecimentos, da duração dos intervalos, da renovação cíclica de certos períodos e do caráter irreversível do tempo.
Quanto à avaliação através do quociente motor geral (QMG), a amostra obteve a classificação de normal baixo, a mesma classificação do estudo de Fonseca Filho, Santos e Silva7, dados que traduzem os encontrados nas variáveis do desenvolvimento motor acima. Porém, o estudo9 obteve a classificação de normal médio, mesma classificação encontrada por Rosa Neto et al.12 que avaliou 101 escolares entre 6 e 10 anos da cidade de Florianópolis/SC.
Conclusão
Os resultados possibilitaram concluir que os sujeitos, nos aspectos avaliados, apresentaram níveis inferiores aos normais e abaixo dos esperados para a idade, tornando os resultados não satisfatórios em todos os aspectos. Destacando-se o menor atraso na variável da motricidade global (IM2), e o maior atraso sendo apresentado na organização espacial (IM5) e na organização temporal (IM6). Os resultados mostraram-se preocupantes em todas as variáveis avaliadas, portanto, sugerem-se ações intervencionistas dos profissionais de Educação Física inseridos nesta realidade, no aprimoramento destes aspectos que se encontram em declínio, amenizando-os e estimulando-os através de aulas de Educação Física lúdicas e recreativas voltadas ao aperfeiçoamento de todas as áreas do desenvolvimento motor, e principalmente das que encontram-se em detrimento.
Deste modo, esse estudo oportuniza a avaliação individual de cada sujeito, podendo adotar medidas específicas para restabelecer a idade motora dos mesmos, levando em consideração a vulnerabilidade social, pois são abrigadas em uma instituição para menores, e seu período de permanência neste lugar é transitório.
Referências
Gallahue D, Ozum CJ. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças e Adultos. 3ª ed. São Paulo: Phorte, 2005.
Haywood K, Getchell N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. São Paulo: Artmed, 2004.
Santos S, Oliveira JA, Dantas L. Desenvolvimento motor de crianças, de idosos e de pessoas com transtornos da coordenação. Revista paulista de Educação Física, São Paulo, 18, 33-44, 2004.
Awad H. Educação física escolar: múltiplos caminhos. Jundiaí: Fontoura, 2010.
Rosa Neto F. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Gallahue D, Ozum CJ. Compreendendo o Desenvolvimento Moto: Bebês, Crianças e Adultos. 1ª ed. São Paulo: Phorte, 2001.
Fonseca Filho GS, Santos JEB, Silva RRV. Estudo de desenvolvimento motor: relação entre idade motora geral e idade cronológica em escolares. FIEP Bulletin on-line, 83, 1-6, 2013.
Vygotsky LS. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Crippa LR. et al. Avaliação motora de pré-escolares que praticam atividades recreativas. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, 14(2), 13-20, 2003.
Pereira CO. Estudo dos parâmetros motores em crianças de 02 a 06 anos de idade no município de Cruz Alta – RS. 43f. 2001. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano). Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos – Universidade de Santa Catarina. Florianópolis, 2001.
Costa RM, Silva EAA. Escala de Desenvolvimento Motor de Rosa Neto: Estudo Longitudinal em uma Escola da Rede Particular de Ensino de Cuiabá-MT. Revista Connectionline, Várzea Grande/MT, 4, 1-14, 2009.
Rosa Neto F, et al. A importância da avaliação motora em escolares: análise da confiabilidade da Escala de Desenvolvimento Motor. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desenvolvimento Humano, Florianópolis/SC, 12(6), 422-427, 2010.
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