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A prática do atletismo como lição de vida 

para uma deficiência visual: relato de caso

La práctica del atletismo como lección de vida en un discapacitado visual: relato de caso

 

*Pós-graduando do programa de especialização em esportes e atividades físicas inclusivas

para pessoas com deficiência, pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade – Trabalho e Qualidade de Vida

Especializado em Ciência do treinamento Especializado e graduado em Educação Física

** Mestre em Ciências Biológicas - Bioquímica Estrutural e Fisiológica. Especialista

em Docência do Ensino Superior, Especialista em Tutoria, Graduada em Educação Física

e orientadora de especialização da UFJF, Docente da Rede Municipal de Ipatinga – MG

Prof. Ms. Welington Fernandes Oliveira*

wfoef@hotmail.com

Prof. Ma. Wanda Maria de Faria**

fariamwanda@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A visão é um dos sentidos principais da fisiologia humana e desempenha papel fundamental na união do sujeito com o mundo que o cerca. O objetivo deste estudo é analisar uma pessoa com deficiência visual na prática do atletismo, após ter desenvolvido uma doença hereditária. A metodologia utilizada foi uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, utilizando o método de relato de caso, e para coleta de dados foi utilizado o método de entrevista semi-estruturada. O relato de caso trata-se da participante S.M.P.S.B., 56 anos, sexo feminino, moradora da cidade Coronel Fabriciano, que veio a desenvolver a doença hereditária mácula degenerativa tendo início aos 18 anos de idade, sendo hoje praticante de modalidades do atletismo. Os resultados mostram que o desporto para as pessoas com deficiência, é um elemento indispensável na construção de um autoconceito que contribui para a excelência da qualidade de vida. A atividade física tem sido um instrumento de recuperação, manutenção e promoção da saúde da população de forma geral. Diante do exposto acima, a concepção de deficiência neste estudo pautada, não pela limitação, comprometimento ou falta de funcionalidade do órgão visual, mas pelas possibilidades de adaptação e superação, que se encontram nessa condição por causa da doença adquirida.

          Unitermos: Atletismo. Esporte. Deficiência visual.

 

Recepção: 15/11/2014 - Aceitação: 19/12/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A visão é um dos sentidos principais da fisiologia humana e desempenha papel fundamental na união do sujeito com o mundo que o cerca, seja na obtenção de informações sobre os objetos ou na posição do individuo no espaço ou nas suas relações com os outros (OLIVEIRA, 1999). Quando se fala em Deficiência Visual, referencia-se a pessoa cega ou a pessoa privada da visão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2005), a categorização de cegueira, nos padrões médicos, “é a acuidade visual inferior a 3/60 e campo visual inferior a 10 graus, e a baixa visão, a acuidade visual entre 3/60 e 6/18 no olho com melhor capacidade visual”.

    No Brasil, de acordo com os dados censitários (IBGE, 2010) há aproximadamente 528.624 pessoas cegas e 6.056.684 pessoas que enxergam com grande dificuldade. De acordo com o Comitê Olímpico Espanhol (1994), uma das características dessa população é o sedentarismo e quando se pensa na pessoa com deficiência visual praticando atividade física de alto rendimento, deve-se entender que o maior problema para atingir a performance esportiva não é a ausência de uma carga genética adequada, mas sim a falta de uma estimulação em momentos adequados.

    Diversos autores têm descrito os benefícios do esporte como construtor de aptidão, hábitos saudáveis e competição saudável, desenvolvimento de autoconfiança, habilidades sociais e amizade em pessoas com deficiência visual (PONCHILLIA STRAUSE, PONCHILLIA, 2002). E a modalidade esportiva com maior número de eventos e participantes em todo mundo, segundo Torralba et al. (2007) é o atletismo.

    A prática do atletismo é fundamental no aumento da performance e do desenvolvimento físico em geral. Segundo Oliveira (2006), a modalidade desenvolve e aperfeiçoa o sistema circulatório, nervoso, e é uma referência para diversas modalidades esportivas, além de ser fundamental no desenvolvimento físico e motor dos indivíduos que o praticam. Segundo Paes (2002), “a riqueza do esporte está na sua diversidade de significados e re-significados, podendo, entre outras funções, atuar como facilitador na busca da melhor qualidade de vida do ser humano, em todos os segmentos da sociedade.” Freitas et al. (2002) relatam que o exercício físico pode promover inúmeros benefícios em todos os aspectos entre eles, mencionamos os aspectos sociais, no qual proporciona a confiança, o estímulo para a competição, à aquisição de novas amizades e a troca de apoio, que vão favorecer a inclusão social.

    Um dos grandes desafios hoje, para as pessoas com deficiência é a luta contra o preconceito, o que segundo Ribas (1985), "um dos problemas mais sérios reside na noção ou definição de deficiência que implica na imagem que fazemos das pessoas deficientes, através de termos: “inválidos”, “paralíticos”, “aleijados”, “anormais’’ entre tantos outros que segundo o autor, desqualificam e subestimam as reais condições dessas pessoas, ainda mais no esporte de rendimento. Já Araújo (1997) defende a idéia de que a “deficiência e o desporto busca o inverso, em que a eficiência do deficiente mostra para a sociedade indiferente com os diferentes”.

    Diante deste contexto, este estudo tem como objetivo analisar uma pessoa com deficiência visual na pratica do atletismo, após ter desenvolvido uma doença hereditária, da equipe da Associação Esportiva e Recreativa USIPA – AER USIPA. De acordo com Warren (1994), o deficiente visual apresenta um desenvolvimento motor em um ritmo característico e próprio, em decorrência de sua limitação na recepção de informações do meio.

Metodologia

    Tendo em vista o objetivo proposto, trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, caracterizada segundo Bell (1989), como um estudo de caso, um método de pesquisa cuja principal preocupação é a interação entre fatores e eventos. De acordo com Fidel (1992), o estudo de caso é um método específico de pesquisa de campo, complementando que estudos de campo são investigações de fenômenos à medida que ocorrem, sem qualquer interferência significativa do investigador. Segundo Fidel (1992) o objetivo do estudo de caso é compreender o evento em estudo e ao mesmo tempo desenvolver teorias mais genéricas a respeito do fenômeno observado.

    Participou desta pesquisa uma senhora, 56 anos, praticante de atletismo na AER USIPA, na cidade de Ipatinga - MG, deficiente visual pela doença macula degenerativa da retina.

    Para coleta de dados foi utilizado o método de entrevista semi-estruturada, o que segundo Bogdan e Biklen (1994), o investigador percebe a forma como os sujeitos interpretam suas vivências já que ela “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador uma ideia de como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”. Anteriormente a coleta de dados foi realizado um contato com a pessoa a ser pesquisada para apresentação e explicação da pesquisa. Para atender as considerações bioéticas do estudo, foi assinado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido entregue a participante para a sua participação, resguardando sobre a não exposição de sua identidade bem como relatando os objetivos da pesquisa e importância de sua participação. Para a manutenção do anonimato foi utilizado às inicias do nome da participante. 

    A entrevista ocorreu no clube da AER USIPA, onde são realizados os treinamentos da participante em data previamente agendada e programada, conforme a disponibilidade da participante, em espaço reservado no clube, de forma individual, respeitando a privacidade. A entrevista foi gravada em fita cassete, utilizando a filmadora Full HD da Multilaser, modelo DC115, de alta definição, tela LCD de 2,4, que filma com áudio, 8x zoom digital, sensor de imagem de 14MP, com CD, acessório que contém o driver da câmara e fornece o softwere MAGIX Vídeo easy SE/ MAGIX Photo Manager 9 para processamento de foto e vídeo. A transcrição da fita realizou-se pela técnica de análise de conteúdo, que segundo Berelson (1952), é uma técnica de investigação para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação, em que o pesquisador respeita com fidedignidade o vocabulário utilizado pela entrevistada e sempre que necessário recorre e aprecia novamente o conteúdo para transcrição exata da entrevista. Os dados foram coletados em Julho de 2014.

Relato de caso

    S.M.P.S. B, 56 anos, do sexo feminino, possui a doença mácula degenerativa da retina, diagnosticada em 1998, mas tem conhecimento da existência de glaucoma desde os dezoito anos. É natural de Antônio Dias – MG, atualmente mora em Coronel Fabriciano. Começou suas atividades trabalhistas como secretaria em escritório de advocacia, passando por várias empresas como assistente administrativo, na função de recursos humanos, e em 1984 iniciou o seu primeiro curso superior em Zootecnia, na Universidade Federal de Lavras, além disso, é formada em Ciências Biológicas, atualmente exerce a função de professora concursada da Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais – SRE de Coronel Fabriciano.

    Em setembro de 2011 foi remanejada para ajustamento funcional, ficando fora da regência de classe o que não exigia esforço visual nos termos do artigo 30, parágrafo 20 da Constituição Estadual, resolução nº. 2367/93 e instrução normativa SEPLAG/SCPMSO nº. 002 de 01 de outubro de 2008. Atualmente encontra-se de atestado médico por não estar apta para exercer suas funções, pois, precisa passar novamente por uma junta médica na cidade de Belo Horizonte, quando será reavaliada.

    Antes da perda visual, S.M.P.S.B. se considerava uma pessoa inativa, sedentária, pois praticou esporte apenas nas aulas de educação física. Em 2004 iniciou suas atividades físicas na AER USIPA, modalidade atletismo, com a professora E.R., que hoje é sua treinadora e faz parte da equipe de competição.

    Relata que veio para o esporte por causa da cegueira, para não ser uma pessoa dependente e inativa, e também a depressão ocasionada pela função de professora que exercia, pois vários colegas de profissão se suicidaram. S.M.P.S.B. relata que o esporte foi bastante importante para sua reabilitação, pois apresentava histórico de alcoolismo, baixa autoestima, fumante, e o esporte foi o fator principal que auxiliou na recuperação, além da integração social. Ela destaca que só conseguiu “dar a volta por cima”, porque teve apoio, acolhimento e o amor da sua treinadora E.R., que no começo, diz foi muito difícil, como trabalhava com jovens e adolescentes, e o objetivo do clube é formação de atletas, competição, e S.M.P.S.B., já adulta, com um diagnóstico que necessitava de uma atenção integral, totalmente debilitada no aspecto de condicionamento físico, ela não tinha como oferecer atendimento exclusivo a S.M.P.S.B., apesar da sua deficiência, mas foi aos poucos agregando ela ao grupo, adaptando os treinamentos e hoje em dia, realiza todo o treino com os atletas jovens e adolescentes, com suas adaptações.

    Sua locomoção, segundo S.M.P.S.B. faz sozinha sem ajuda, pois tem boa orientação espacial, realizada através do tato, olfato e audição. No seu dia-a-dia, faz tudo que um indivíduo sem a sua deficiência faz em casa.

    Dentro do atletismo, S.M.P.S.B. realiza treinamentos da prova de marcha atlética e fundo, além disso, pratica ainda natação. S.M.P.S.B. é a única deficiente visual na equipe de competição da AER USIPA, e desde 2005 quando teve sua primeira participação na corrida rústica de Ipatinga, 10 km, obteve em terceiro lugar na sua categoria, não parou mais, com grandes conquistas e participações em várias competições: Volta da Pampulha, 18 km, na cidade de Belo Horizonte, 10 milhas da Garoto, no Espírito Santo, Meia Maratona da cidade de Mariana, 21 km, e vários títulos também, citando apenas os de 2014: Corrida de São Sebastião, 8 km, obtendo segundo lugar na sua categoria, Circuito de Rua do Vale do Aço, 5 km, segundo lugar em sua categoria e vários outros.

    Hoje tem uma carga de treino de 80 km por semana divididos em seis dias, treinando quatro horas por dia, além das aulas de natação. No atletismo, ela participa dos treinamentos de competição e também atua nas equipes de arbitragem como árbitra de Atletismo e Natação.

    Em relação à mácula degenerativa da retina, S.M.P.S.B. relata que tem vários casos em sua família, inclusive com óbito de cinco pessoas, incluindo o pai, que apresentaram a doença. Além disso, relata que todos os seus irmãos também apresentam o glaucoma ou glaucoma e a mácula degenerativa da retina. Um dos principais motivos relatados por ela é que devido o grau de parentesco dos seus pais, primos de primeiro grau, esse fator pode ter relação direta com a hereditariedade da doença.

Discussão

    De acordo com Barbanti (2002), o desporto para as pessoas com deficiência, é visto como um elemento indispensável na construção de um autoconceito essencialmente positivo que, contribui para a excelência da qualidade de vida. É o que relata a S.M.P.S.B., ao ser perguntada sobre o que representa o esporte para ela e como se sente praticando atletismo: “o atletismo para mim é qualidade de vida, pois ao liberar serotonina estou tendo uma satisfação enorme. O esporte é uma forma que o ser humano tem para superar suas limitações, adquirir satisfação, é viver”. Segundo Matsudo et al. (2002), a atividade física tem sido um instrumento de recuperação, manutenção e promoção da saúde da população de forma geral. Contribui para induzir o indivíduo a ter uma maior socialização, resultando em um bom nível de bem-estar no âmbito mental, físico e social. Segundo Cheik et al. (2003) esses fatores contribuem diretamente para a melhoria de sua qualidade de vida.

    Marques (2000) afirma “não existir hoje um sentido único para o desporto, independente de ser velho, novo, mulher e criança, de todas as condições, o desporto só pode ter um significado – o da realização humana”. Neste sentido, Bento (2004), conclui que o esporte existe no plural, de acordo com a clientela, modelos, cenários, modalidades, sentidos e significados.

    Segundo Brasil (2002), o esporte é um fenômeno sócio-cultural, que tem no jogo o seu vínculo cultural e na competição o seu elemento essencial, que contribui para a formação e aproximação dos seres humanos ao reforçar o desenvolvimento de valores como a moral, a ética, a solidariedade, a fraternidade e a cooperação. No que diz respeito ao esporte adaptado, esses valores são ainda mais visíveis, pois o esporte possibilita além de todas essas coisas a reintegração social da pessoa com deficiência.

    A S.M.P.S.B., disse que “quando procurou uma atividade física, buscou academia de musculação. Nessa academia, conheceu um professor que ao realizar um teste de resistência ficou impressionado com o resultado, então o professor, procurou a professora de atletismo E.R, da AER USIPA e a indicou para que viesse a praticar a modalidade de corrida de longa distância que era o perfil da S.M.P.S.B. Quando começou não parou mais. Dentre todos os outros esportes, procurei o atletismo por questões financeiras, um esporte que você gasta menos. E sempre gostei do atletismo, já acompanhava muito tempo na televisão as Olimpíadas e essa modalidade chamava-me a atenção”. Infelizmente as olimpíadas acontecem apenas de 4 em 4 anos, segundo Matthiesen (2005), ela exerce um domínio fascinante em todo o mundo, é onde a maior parte da população tem alguma idéia do que são as provas, os movimentos, as glórias do atletismo e a superação dos atletas, com seus movimentos diversificados e envolventes, que favorecem o desenvolvimento do ser humano em sua forma integral. Justino e Rodrigues (2009) conclui que o atletismo auxilia e dá oportunidade para todos desenvolverem qualidades como coragem, decisão, força de vontade, perseverança, autodisciplina, lealdade e prontidão.

    Segundo Oliveira (2006), o esporte tem o objetivo de compactar o lúdico e a educação na prática pedagógica, e o atletismo contribui para que não favoreça alguns alunos que tenham talento e exclua muitos, mas um esporte de oportunidades a todos e que proporciona benefícios em suas vidas.

    De acordo com Sacks (1995), a partir de uma dificuldade ou diferença em relação aos alunos convencionais, surge um novo método, uma nova maneira. Nessa perspectiva, deficiências, distúrbios e doenças podem ter um papel paradoxal, revelando poderes latentes, desenvolvimentos, evoluções, formas de vida que talvez nunca fossem vistos, ou mesmo imaginados. De acordo com S.M.P.S.B., “antes eu não tinha nenhuma meta de vida a ser alcançada, e agora, quando estou competindo não penso em resultado, penso em dar o meu melhor dentro daquela competição, concluir a prova em primeiro lugar mesmo que não ganho medalha.”.

    De acordo com Wheeler, Steadward, Legg, Hutzler, Campbell e Johnson (1999) o esporte tem uma função fundamental na vida das pessoas com deficiência, pois além de possibilitar uma melhor e mais eficaz recuperação, ele ilumina a vida desses indivíduos oferecendo uma nova oportunidade de integração, socialização, satisfação pessoal e revitalização da autoestima. Segundo Barbanti (2002), o espaço do desporto configura-se como estruturador e reorganizador da identidade de seus participantes, oportunizando a atualização e a potencialização do processo de suas identificações e inserção social, aprimorando a percepção de sua autoimagem, melhorando a sua autoestima. Resulta-se, enfim, na construção de um autoconceito essencialmente positivo que, definitivamente, contribuirá para a excelência da qualidade de vida.

    Machado (2005) reforça a importância dos sentimentos positivos quando afirma que a autoconfiança fornece qualidades relevantes e significativamente positivas, como coragem, vontade e decisão, atributos indispensáveis para atletas, qualidades estas que não falta em nossa entrevistada S.M.P.S.B.

    Perguntada a respeito da sua interação com a equipe de atletismo, S.M.P.S.B. diz que “as pessoas me aceitaram com as minhas limitações, me ajudando e me abraçando, dando força a cada dia em busca de minhas superações. Na AER USIPA busca a formação do individuo como cidadão, capaz de aceitar as diversidades existentes dentro da sociedade. A formação do caráter, antes de tudo”. Segundo Paes (2002), “a riqueza do esporte está na sua diversidade de significados e re-significados”. A idéia de estender, tais vivências a pessoas com deficiência visual justifica-se pela riqueza de sensações e emoções proporcionadas pelo contato com a natureza, que além de constituir um importante estímulo aos órgãos sensoriais remanescentes, favorece o desenvolvimento de capacidades motoras básicas da população em questão.

    Compartilhando a idéia de Almeida (1995), acredito que as atividades motoras e esportivas oferecidas aos alunos com deficiência visual no meio natural, como é o caso da pista de atletismo da AER USIPA que está inserida neste meio, quando devidamente conduzidas, “podem concorrer para o alcance do objetivo maior e de todo processo educativo: a formação global do aluno”.

    Segundo Portet (2007), do esporte pode surgir valores como superação, perseverança, cooperação, respeito, dentre outros que determinam o caráter do sujeito, como em outras áreas da vida. Rubio (2009), conclui que o esporte preconiza outros valores, como o respeito a si mesmo, ao seu corpo e ao outro, bem como o fair play, o espírito de superação, o direito de igualdade e de justiça, além disso, o esporte pode contribuir para a formação do caráter a partir do autoconhecimento, do autocontrole e da autorrealização.

    Para S.M.P.S.B., “sua maior conquista hoje dentro do atletismo é a superação dos meus próprios limites, é viver com qualidade de vida, é estar feliz”. Segundo Albuquerque e Trocoli (2004), o bem-estar estar associado a diversos termos, tais como felicidade, satisfação, estado de espírito, afeto positivo, sendo também considerado como uma forma de avaliação subjetiva da qualidade de vida por cada indivíduo. Veenhoven (1992) conceitua felicidade como sendo o grau em que o indivíduo avalia a qualidade global da satisfação da sua vida de forma geral. Em outras palavras, quanto o indivíduo gosta da forma como sua vida está sendo conduzida. Para Lauriola (2006), felicidade é fruto da percepção subjetiva de cada indivíduo e pode significar um estado de bem-estar, satisfação ou contentamento.

Considerações finais

    Diante do exposto acima, destaco a concepção de deficiência apresentada neste estudo pautada, não pela limitação, comprometimento ou falta de funcionalidade do órgão visual, mas pelas possibilidades de adaptação e superação demonstrada pela S.M.P.S.B., que se encontram nessa condição por causa da doença adquirida.

    Os resultados mostram que não é preciso ser atleta de ponta, com índices para competições nacionais e internacionais. A prática do esporte, quando realizada segundo os princípios, metas a ser alcançado, traz consigo inúmeros benefícios que a S.M.P.S.B. nos apresenta em relação à prática esportiva: maior condicionamento físico para o desempenho diário do corpo; conforto físico e emocional; a vida se toma mais longa para um portador de deficiência que pratica o esporte; o esporte se torna tão importante quanto o ar que respiramos; proporciona prazer e satisfação pela vida; é fator de integração e reintegração; o esporte deixa a pessoa mais independente; dentre tantos outros. Segundo Rosadas (1994) “se você perceber bem verá que a vida está repleta de oportunidades para quem busca a superação das barreiras”.

    Na visão da nossa entrevistada, “o sucesso representa a realização e o reconhecimento que o treinamento diário trouxe resultado”, chamando a atenção para suas possibilidades, ofuscando e deixando de lado as suas limitações. Desta forma, acreditamos, em relação à superação, aos valores, a lição de vida que o esporte pode trazer de fato, como benefício para os portadores de deficiência, não seja a vitória representada pelo resultado final, ou pelo acúmulo de medalhas, mas sim a importância que o esporte assume na vida dessas pessoas; e que o sucesso é decorrente do ganho emocional, da superação de limites, da aceitação, da oportunidade de participação, e dos benefícios funcionais que o esporte possibilita.

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