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Aspectos motivacionais na prática do futebol em 

uma escola particular de Santa Cruz do Sul, RS

Aspectos motivacionales en la práctica del fútbol en una escuela privada de Santa Cruz do Sul, RS

Motivational aspects of football practice in a private school of Santa Cruz do Sul, RS

 

*Graduada/o em Educação Física – Licenciatura Plena pela Universidade

de Santa Cruz do Sul (UNISC) e pós-graduanda/o em Gestão profissional

do futebol pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Santa Cruz do Sul, RS

**Docente do Departamento de Educação Física e Saúde da Universidade

de Santa Cruz do Sul (UNISC). Santa Cruz do Sul, RS

(Brasil)

Marcos Moraes*

mmoraes@unisc.br

Rodrigo dos Santos*

rodrigosa67@gmail.com

Daiana Beckemkamp*

daiabeckemkamp@yahoo.com.br

Leandro Tibiriçá Burgos**

lburgos@unisc.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo investigou os aspectos motivacionais que influenciam os alunos a escolher o futebol como disciplina facultativa e a influência dos pais sobre a iniciação e permanência de seus filhos nela. A amostra incluiu 57 participantes (crianças e adolescentes), integrantes da disciplina facultativa de futebol de uma escola particular de Santa Cruz do Sul-RS. A faixa etária variou de 7 a 15 anos. Foram entrevistados também 33 pais dos alunos (42% mães e 58% pais). Pelos resultados obtidos, podemos perceber que embora os pais, em sua maioria (94%), tenham afirmado incentivar os filhos a praticarem esportes, foi identificado que “nunca ou raramente” (51%) se fazem presentes acompanhando os jogos dos filhos. Com esses resultados, sugere-se que os pais devam estar mais presentes nos jogos para incentivar os seus filhos e dessa forma fazer com que o filho permaneça praticando o futebol. Dessa forma, conclui-se o motivo pelo qual as crianças e adolescentes estão participando da disciplina facultativa de futebol é por diversão (46%) e para se tornar um jogador de futebol profissional (38%).

          Unitermos: Futebol. Escola. Professores. Alunos. Pais.

 

Abstract

          This study investigated the motivational factors that influence students to choose soccer as an optional discipline and parent's influence on the initiation and persistence of their sons in it. The research included 57 participants (children and adolescents), members of the optional subject of soccer in a private school in Santa Cruz do Sul - RS. Their ages ranged between 7 to 15 years. 33 students' parents (42 % mothers and 58 % fathers) were also interviewed. From the results, we can see that although parents, mostly (94%) have said encourage their children to practice sports, it was identified that "never or rarely" (51%) are present watching the games of children. With these results, it is suggested that parents should be more present in games to encourage their children and thus cause the child remains practicing football. Thus, it appears the reason why children and adolescents are participating in the optional subject is football for fun (46%) and to become a professional soccer player (38%). From the results, we can see that although, even that mostly of these parents (94%) said they had encouraged their children to practice sports, it was identified that only half of them (51%) had been watching their children's games. With these results, it is suggested that parents should be more present in their children's games to encourage their children and make sure that the child will keep practicing soccer's discipline. So, it looks like the reason why children and adolescents are participating this discipline is: soccer for fun (46 %) and become a soccer player (38 %).

          Keywords: Football. School. Teachers. Students. Parents.

 

Recepção: 19/08/2014 - Aceitação: 28/11/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No Brasil, segundo Filgueira e Schwartz (2007), o futebol é um fenômeno cultural que cativa e impressiona pela sua grandeza, cuja prática tem crescido rapidamente, envolvendo um número significativo de participantes, desde a infância até a vida adulta. O futebol é para os brasileiros, sem dúvida, mais do que um esporte: uma paixão que faz parte da cultura. O fenômeno futebol leva ao delírio milhares de pessoas, principalmente os brasileiros. A participação do público em geral na vida do futebol é extraordinária, o fervor pelo futebol tem marcado gerações de brasileiros.

    O futsal, segundo Bello Jr. (1998), deve ser conceituado tecnicamente como esporte acíclico coletivo, com fins diferenciados. Ele é acíclico devido a suas variáveis em toda sua movimentação. Os jogadores a todo momento executam ações que visem quebrar uma marcação mais acirrada, tentando se sobressair individualmente.

    O incentivo e o acompanhamento dos pais para a prática esportiva de seus filhos são muito importantes e fatores geradores de prazer e de satisfação para as crianças e adolescentes, principalmente durante seus jogos. Esta ideia é reforçada por Harris (1996 p.89), ao afirmar que “a criança pode almejar certas realizações não pelo prazer da perícia, mas a fim de obter a aprovação parental”. Exemplos desse comportamento ocorrem numa partida de futebol, quando a criança ou adolescente realiza uma jogada especial e recebe a aprovação dos seus pais, na forma de aplausos. Esse gesto faz com que a criança fique muito feliz, gerando entusiasmo com a ideia de realizar novamente outra jogada, com mais coragem.

    O conhecimento dos problemas que envolvem a motivação é importante para o professor de Educação Física, pois ele não trabalha apenas com atletas, mas, principalmente, com alunos que são obrigados a frequentar as aulas. Com isso, o professor precisa estar atento ao grupo, pois nem todos os seus alunos encontram prazer ou estão interessados nas atividades oferecidas durante suas aulas. Muitas vezes isto pode acontecer em razão do alto nível de exigência do docente ou mesmo ao contrário, pelo baixo nível de atividades, o que seria relativo aos alunos que estivessem mais adiantados no seu desenvolvimento físico, como no caso específico dos desportistas (MACHADO, 1997).

    De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), as crianças não são adultos em miniatura que podem ser programados segundo caprichos e desejos alheios. Elas estão em pleno desenvolvimento e têm interesses e aptidões que diferem muito das necessidades dos adultos. Com bastante frequência, caímos na armadilha de tentar criar atletas em miniatura a partir dos 6-7 anos de idade, sem primeiro desenvolver as habilidades motoras fundamentais. As crianças são obrigadas a um desenvolvimento precoce de suas habilidades motoras e, por fim, acabam envolvidas em competições atléticas, antes de estarem prontas para lidar com exigências físicas e emocionais. A competição nesta idade não é um mal que deve ser banido da vida das crianças, porém deve-se mantê-la em parâmetros adequados. Pais e treinadores não deveriam preocupar-se com vitórias, e sim concentrar-se no desenvolvimento equilibrado, integral e saudável das crianças, sob orientação sensata.

    Além de ensinar futebol a todos e ensinar bem, a tarefa educacional supõe preparar sempre para algo mais que a atividade específica da escola. Quem aprende futebol pode desenvolver um acervo de habilidades bastante diversificado, podendo aproveitar essas habilidades em muitos outros esportes. Além disso, poderá estar aprendendo a conviver em grupos, a construir regras, a discutir e até a discordar dessas regras, será uma rica contribuição para seu desenvolvimento moral e social (FREIRE, 2006).

    O esporte é um agente importante no processo de socialização de crianças e adolescentes, influenciados por familiares, professores, técnicos e amigos. Ao término da infância e início da adolescência, o predomínio familiar em geral diminui pela influência dos amigos. O adolescente participa de esportes com a necessidade de afiliação (a fim de se tornar membro do grupo), para aperfeiçoar habilidades e para ampliar as oportunidades para competir (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Tendo em vista que as crianças e adolescentes não tem a oportunidade de estar expressando o que pensam sobre a disciplina facultativa que praticam e nem os pais se posicionarem quanto às escolhas para seus filhos, este estudo tem como objetivo identificar os aspectos motivacionais que influenciam os alunos a escolher o futebol como atividade extraescolar e a influência dos pais sobre a iniciação e permanência de seus filhos na disciplina facultativa de futebol em uma escola do município de Santa Cruz do Sul-RS.

Método

    O presente estudo descritivo teve uma amostra de 57 crianças e adolescentes, do sexo masculino, todos praticantes de futebol em turmas das disciplinas facultativas de uma instituição de Ensino Privado e 33 pais dos respectivos alunos (sendo 42% mães e 58% pais). A faixa etária dos alunos varia de 6 anos a 15 anos.

    As entrevistas/questionários foram realizadas mediante a elaboração e aplicação de dois questionários com o propósito de investigar as relações interpessoais da família da criança que pratica futsal. Os dados foram coletados pessoalmente pelo pesquisador. Em contato com os participantes, estes foram informados sobre as condições para o ingresso na pesquisa e orientados a preencher o questionário e não deixar nenhuma resposta em branco, assinalando apenas uma alternativa em cada resposta.

    O instrumento de coleta de dados utilizado no estudo de Verardi (2004) foi aplicado aos alunos que frequentam a disciplina facultativa de futebol de pré-escola ao 3º ano do Ensino Médio e também aos pais desses alunos. Com os menores (do pré ao 3º ano), foi realizada entrevista. Os dados coletados foram digitados em planilha Excel 2010, sendo posteriormente realizada a análise estatística, dada através de valores percentuais.

Resultados e discussão

    Apresentamos os resultados do estudo com relação aos aspectos motivacionais que influenciam os alunos a escolher o futebol como atividade extraescolar e a influência dos pais sobre a iniciação e permanência de seus filhos na disciplina facultativa de futebol.

    Observamos, na tabela 1, que os alunos da escola estão praticando o futebol no turno oposto para diversão (46%); mesmo assim, 38% ainda treinam para se tornar um jogador profissional e 16% querem aprender a jogar. Cabe ressaltar que a opção “fazer amigos” não teve adesão, pois normalmente são colegas da mesma turma que participam, portanto, já se conhecem.

    Ao observarmos os resultados relacionados com o incentivo familiar para prática de atividades esportivas, 82% dos entrevistados responderam que “recebem incentivos”; 5% disseram “não receber incentivo” e 13% relataram que a família “obriga a praticar esporte”. Freitas (2003), em seu estudo, na mesma escola, constatou que a grande maioria dos entrevistados não sofreu influencia dos pais na escolha do futebol como disciplina facultativa, 26,7% dos pais escolheram e obrigaram, mas a grande maioria 46%, incentivaram.

Tabela 1. Motivos e incentivo familiar

    Do total de pais entrevistados, podemos observar, na tabela 2, que 1, 94% admitiram que incentivam seus filhos a participarem de outras atividades esportivas além do futebol; apenas 6% disseram não incentivar. Nota-se que a opinião dos pais não difere da emitida pelas crianças e adolescentes.

    Em relação ao futebol, estamos observando nos dias atuais que há, por parte dos responsáveis, a preocupação exagerada pela iniciação precoce, ignorando, muitas vezes o ritmo normal de desenvolvimento de cada criança. Sabemos, de acordo com a literatura especializada, que no período de dois a seis anos e de sete a aproximadamente 12 anos de idade, a criança e o pré-adolescente devem experimentar variados tipos de movimentos, o que inclui as modalidades esportivas, estimulando o desenvolvimento das habilidades básicas (correr, saltar, arremessar, rolar, chutar), que constituem alicerce para a aprendizagem das habilidades específicas presentes em todas as modalidades, como, por exemplo, a ação do drible no futebol, que envolve a combinação da corrida e do chute (KREBS, 1992; GALLAHUE; OZMUN, 2003; TANI, 2005; PAYNE; ISAACS, 2007).

Tabela 2. Pais, sobre os filhos

    Ainda na tabela 2, observa-se que 46% dos pais entrevistados “frequentemente” acompanham os jogos do filho e 42% “raramente” se faz presente. Identificou-se que a maioria dos pais admitiu incentivar seus filhos a participar de outros esportes além do futebol. Incentivo este confirmado pelas crianças e adolescentes entrevistados. A análise destes dados permite identificar as incongruências entre as respostas apresentadas pelos pais e pelas crianças, pois apesar da maioria dos pais afirmarem incentivar a prática esportiva, 51% “nunca ou raramente” se faz presente acompanhando os jogos dos filhos. Ainda que possa existir de fato, este incentivo pode tornar-se estéril a partir do momento que os pais são ausentes do momento “mágico” da criança em participar do jogo.

    É oportuno ressaltar que, além do incentivo à prática esportiva, o acompanhamento dos pais durante os jogos de seus filhos torna-se importante, pois a criança e o adolescente, no transcorrer de uma partida de futebol, estão diante da oportunidade de competir e, consequentemente, de demonstrar suas habilidades. Ao receber o apoio e aprovação parental como “aplausos e elogios” sentem prazer e satisfação, encorajando-as e motivando-as a se comprometer com o esporte (HARRIS, 1996; GALLAHUE; OZMUN, 2003, BAXTER-JONES, MAFFULLI, 2003).

    Segundo Santana (1996), a criança inicia cedo na modalidade de futsal, pelos seguintes fatores: a) Objetivamente porque esse esporte é oferecido pela maioria dos clubes, escola e associações esportivas; b) Devido à enorme expansão imobiliária que atravessa o país, diminuindo os espaços livres, como os campos, a criança passou a praticar esporte em clubes, associações e escolinhas que são mais seguras também; c) Por ser o futsal, um esporte organizado e com espaço na mídia em quase todo o país.

    O presente estudo identificou ainda, que a opinião dos pais está clara de que o professor de educação física (85%) deve ser o técnico para seu filho. Outros 12% acham que seria bom ter um técnico profissional acompanhando seus filhos em competições. É importante destacar que, quando nos referimos ao técnico profissional, este possui uma formação especializada em futebol. Estes dados permitem ver que para os pais, há uma relação direta entre o esporte e a Educação Física, sendo relevante também, a formação técnica.

    Ter sucesso nas primeiras experiências é um dos pontos básicos da motivação, pois assim queremos repeti-las, ou, quanto maior a destreza para jogar, maior a motivação em continuar jogando, pois autoestima, auto realização e segurança, necessidades básicas do ser humano estão completadas (GOMES, 2003).

Tabela 3. Futuro do atleta

    Podemos observar na tabela 3 que, quando perguntado aos escolares se eles pretendem ser um jogador de futebol profissional, a maioria responde que não (85%) e apenas 15% levam com eles o sonho de serem jogadores de futebol no futuro.

    Assim, também podemos observar que, quando perguntado aos pais se gostariam que seus filhos se tornassem jogadores profissionais no futuro, tabela 3, a maioria (88%) responde que não e só 12% querem que seus filhos sejam jogadores profissionais.

    Podemos observar, com relação aos aspectos que os pais acham mais relevantes na formação do seu filho a partir da prática esportiva, que 57% consideram o aspecto social, 42% física, 18% emocional e 6% intelectual.

    Segundo Becker (2000), não podemos ser ingênuos pensando que tudo o que de bom e de mau que a criança apresenta é devido a seus pais. Entretanto, é importante que os pais apoiem, com adequação, seus filhos na prática do esporte, que quando a criança volte de uma competição seja recebida com afeto, independente do resultado, pois isso traria segurança. Com certeza, um fator importante para a qualidade da participação da criança nos programas esportivos é a conduta dos pais.

    São muitos os estímulos que a criança recebe para jogar bola. Vivemos no país do futebol, com todo um passado e presente glorioso nesse esporte. Há jogos na televisão praticamente todos os dias, a idolatria dos jogadores na mídia, álbuns de figurinhas, materiais esportivos sedutores. Geralmente, quando uma criança entra em uma escolinha, traz consigo a ideia de tornar-se um jogador profissional de futebol (SANTANA, 1996).

Considerações finais

    O estudo mostra que os pais atribuem ao “social e físico” os componentes principais na formação esportiva na infância. Os resultados também revelaram que, boa parte dos pais entrevistados incentivam seus filhos a escolher o futebol com disciplina facultativa e também outros esportes.

    Alguns fatores relevantes da pesquisa foram, por exemplo, que as crianças e adolescentes jogam futebol por diversão, a maioria das crianças e adolescentes tem um relacionamento excelente e bom com o professor e quando perguntado o que acham das atividades propostas pelo professor, eles responderam que acham muito importantes e também prazerosas e por fim o que mais dá prazer e satisfação a eles é o elogio do técnico e ganhar medalhas nos jogos.

    Alguns dos dados obtidos neste estudo evidenciaram a importância da formação acadêmica e profissional das pessoas envolvidas com a criança iniciante no esporte e mais especificamente no futebol, o técnico. Além dos pais, espera-se que os profissionais que atuam com a iniciação esportiva também sejam adequadamente formados e preparados para orientar as crianças inseridas na prática do futebol.

    Portanto, verificamos que há tanto uma lacuna entre os “desejos” pelo futebol, como um distanciamento físico, pois embora os pais afirmem participarem ativa e frequentemente dos jogos dos filhos, os resultados demonstraram o contrário com uma parcela menor dos pais efetivamente assistindo os jogos dos filhos.

    Dessa forma, sugere-se que os pais devem estar mais presentes nos jogos para incentivar os seus filhos e dessa forma fazer com que o filho permaneça praticando o futebol e o motivo pelo qual as crianças e adolescentes estão participando da disciplina facultativa de futebol é por diversão e também para se tornar um jogador de futebol profissional.

    Sugere-se, ainda, que outros estudos sejam feitos, abrangendo talvez diferentes desportos, pois é importante que o profissional de Educação Física e de outras áreas como a Psicologia tenham conhecimento dos motivos que levam as pessoas à prática desportiva, para que, a partir desses dados, elaborem suas atividades de maneira mais consciente e correta, tornando sua prática mais prazerosa, alegre e produtiva, aumentando o desempenho na tarefa proposta.

Referências

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