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A ginástica e o gênero: possíveis diálogos

La gimnasia y el género: posibles diálogos

 

*Discentes do curso de Educação Física

da Universidade Salgado de Oliveira

**Orientadora. Docente do curso de Educação Física

da Universidade Salgado de Oliveira e da UEG/ESEFFEGO

(Brasil)

Ana Cláudia Teles dos Reis*

Richard Janathan Faleiro Sousa*

Samanta Garcia**

samantagarciaef@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A presente pesquisa teve como objetivo compreender as definições de gênero, as definições sobre ginástica e os seus benefícios e as relações que envolvem a prática da ginástica quanto ao gênero. Para tal propósito foi realizado uma revisão bibliográfica em artigos e livros que citam e abordam os temas descritos. O objetivo do estudo foi compreender os motivos que envolvem pré-conceitos mal formulados e equivocados quando se relaciona diferentes gêneros a pratica da ginástica.

          Unitermos: Ginástica. Gênero.

 

Recepção: 05/11/2014 - Aceitação: 16/12/2014

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 200, Enero de 2015. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As concepções edificadas acerca da diferenciação de gêneros no decorrer dos séculos permanecem fortes na sociedade contemporânea. Há uma interferência no comportamento de meninos e meninas, aos quais se impõem estereótipos de longa data (ROGOFF, 2005).

    Através de uma pesquisa bibliográfica buscou se fundamentar a relação entre a ginástica e o gênero. Assim, descrevemos a ginástica, suas características, seus benefícios, as particularidades da prática e sua real importância.

    Na discussão sobre gênero buscou se a interlocução com a ginástica, dos preconceitos envolvidos no seu contexto, da predominância e associação feminina na prática.

    Sendo então a ginástica uma prática corporal definida pela sociedade somente para mulheres, entendidas como construções sociais em um espaço como no universo familiar onde ocorrem as práticas educativas de gênero: o que um pode fazer e outro não pode; (MEYER, 2004 p.12 apud SCHWENGBER, 2012, p. 793), devemos entender que a maneira que somos educados pela família “são conflituosos, instáveis e recheados de disputas (...) que se constrói aquilo que reconhecemos como certo/errado, normalidade/desvio, nós/eles, homens/mulheres, meninos e meninas”.

    Questiona-se o gênero na ginástica, com o objetivo de desmistificar que a ginástica é restrita ao gênero feminino, justificando que a mesma deve ser trabalhada com ambos o gênero feminino e masculino (SOARES, 2001, p. 53 apud OLIVEIRA e PORPINO, 2010 p. 5). A ginástica a ser discutida no presente estudo trata-se da Ginástica Geral e suas relações quanto ao gênero masculino e feminino.

Metodologia

    A pesquisa se caracteriza como bibliográfica, pois recolhe e seleciona conhecimentos e informações acerca de um problema ou hipótese já organizado e trabalhado por outro autor, colocando o pesquisador em contato com materiais e informações sobre determinado assunto (MATTOS, ROSSETTI JR e BLECHER, 2008, p. 38).

    Para inclusão no presente estudo utilizamos os artigos publicados em revistas especializadas da área de 2000 a 2013 utilizando os indexadores: ginástica e gênero.

Referencial teórico

Ginástica

    Para Fernandes (2011) a ginástica é a arte de fortalecer o corpo promovendo destreza, destituído de maldade, natural e imparcial. Caio e Santos (2013) acrescentam ainda que a ginástica é denominada pela prática de variados movimentos com a intenção de alcançar objetivos. Denominada através dos gregos como a arte de exercitar o corpo nu (gymnos), associada ao exercício físico e a nudez, representa o natural, o simples, o limpo, a pureza, destituído de maldade (OLIVEIRA e LOURDES, 2004).

    Os exercícios generalizados e naturais são então os conteúdos da ginástica. Difundida em varias formas de realização: correr, saltar, lutar, arremessar, trepar, rolar, empurrar, defender, etc. Sendo estes movimentos naturais e próprios da natureza humana, não há necessidades de serem construídos e sistematizados, inclusive as crianças brincam espontaneamente de correr, brincar, saltar, rolar, trepar (CASAROTTO, ROSA, 2011).

    A palavra ginástica pertence ao gênero feminino, porém ficou caracterizada a partir de elementos associados ao gênero masculino, tais como força, agilidade, virilidade, energia, etc. (MACHADO, 1997). Nascimento et al. (2013) acrescenta que a ginástica é a utilização do corpo para a execução de movimentos fundamentais, tais como, correr, saltar, rolar, trepar, arremessar, empurrar e defender.

    Antes do sec. XIX, a ginástica já possuía o conceito associado a vários tipos de “exercícios corporais”, dentre eles a corrida, os jogos, as lutas, os cantos e a dança e, a ginástica atual tem suas origens do século XIX, onde foram produzidos “novos projetos educativos voltados à consolidação das sociedades burguesas, nos quais ganharam importância e destaque o corpo, o movimento, os comportamentos e as práticas corporais” (BRASILEIRO e MARCASSA, 2008).

    Vigarello (2003, p.13) afirma que, a ginástica “multiplica os gestos quase abstratos reduzidos à sua mais simples expressão dinâmica (...) para recompô-los num conjunto sempre mais amplo”. Inúmeras são as contribuições da ginástica como conteúdo sistematizado da Educação Física influenciando na vida dos jovens desde a saúde do corpo até a compreensão das emoções que nele refletem (MARQUES e LIMA, 2012).

    Sendo a ginástica um dos componentes da cultura corporal sua prática sistematizada contribui com benefícios fisiológicos, cognitivos, artísticos, sociais e culturais (SALES et al., 2012). Assim na proposta crítica, a ginástica trabalha a perspectiva da multidimensionalidade humana, ou seja, forma o homem em sua totalidade por intermédio dos movimentos corporais de forma lúdica e prazerosa (GAIO e SANTOS, 2000).

    De forma natural as práticas da ginástica desenvolvem qualidades físicas como: resistência geral, coordenação, equilíbrio, força, flexibilidade e ritmo (CASAROTTO, ROSA, 2011).

    Com a grandeza de movimentos e situações disponibilizada com a execução da ginástica, favorece o desenvolvimento dos aspectos físicos e mentais, ressaltando flexibilidade, força, equilíbrio e coordenação (TSUKAMOTO e KNIJNIK, 2008).

    A ginástica melhora a força e a resistência muscular, além de possibilitar trabalhos específicos em diferentes grupos musculares (ALMEIDA, VERAS e DOIMO, 2010). Visto que a ginástica é acolhida como excelente método paro o aprimoramento do condicionamento físico do corpo humano, elevando de forma considerável o aperfeiçoamento da aptidão física (DARIDO, 2003).

    Segundo Guimarães et al (2013) a ginástica dificilmente é incluída em um plano de ensino da Educação Física, devido a diversos fatores como, capacitação profissional, espaço e material, porém, o problema maior está em lidar com o preconceito por parte dos meninos que não participam das aulas de ginástica, privando-se de aprender a pensar, criar e a comunicar-se através do corpo.

As distinções de gênero: menino ou menina

    O gênero é a compreensão de que ninguém nasce mulher ou homem, menina ou menino, porém são condições impostas pela historia e pela cultura (SCHWENGBER, 2012). Assim a distinção entre os homens e mulheres, é compreendida através de uma construção social por uma cultura que determina as diferenças em relação a homens e mulheres (BERRIA et al., 2010).

    Muito discutida no meio acadêmico, as distinções entre homens e mulheres extrapolam as diferenças físicas e /ou sexuais. Divergências na descrição e conceituação de gênero e sexo contribuem na complexidade de pressuposição sobre o que vem a ser feminino e masculino (SANTOS et al., 2013).

    As concepções da diferenciação de gênero no decorrer dos séculos permanecem fortes na sociedade. Há uma interferência no comportamento de meninos e meninas, dos quais se impõem estereótipos de longa data (ROGOFF, 2005).

    Não está relacionado a sexo, existem as características físicas especificas de macho e fêmea, mas gênero vai além, são características adquiridas culturalmente dentro da sociedade (ANTUNES e REIS, 2000).

    O Gênero é peculiar das influências “sociais” e das intervenções “coletivas contemporâneas”, e “pensado enquanto elemento constitutivo de relações fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, como um primeiro modo de dar significado às relações de poder” (COELHO FILHO, 2000).

    A definição de gênero evidência “o ser mulher e o ser homem”, idéia construída durante a história da sociedade, visto que os papéis sociais de cada um são estipulados conforme o seu sexo, não se remetendo ao conceito biológico de sexo, o que naturalmente explica as diferenças “entre feminino e masculino” (GONÇALVES JUNIOR e RAMOS, 2005, p.5).

    Acatar a concepção de gênero desenvolvido culturalmente por nossa sociedade é, fundamental para excluirmos explicações de desigualdades partidas de elementos fundamentados às diferenças físicas e biológicas. O relacionamento “entre os sexos” são edificadas socialmente, por isto, “podem ser mudadas, assim como a hierarquia entre homens e mulheres” (VIANNA, 2003, p. 47).

A relação entre gênero e ginástica

    A ginástica é uma prática culturalmente feminina, como consequência desse pensamento ocorre uma separação na prática dessa atividade pelo gênero do indivíduo. As manifestações corporais e a capacidade de realizar movimentos específicos está relacionada com as vivências e não com o gênero. A ginástica deve ser um meio que possibilite a interação entre os gêneros, aprendendo a conviver, compartilhar e se aceitarem, acabando com qualquer tipo de preconceito e estereótipo (NASCIMENTO et al., 2013).

    A predominância feminina na prática da ginástica é dada por um contexto histórico através dos paradigmas culturais e sociais que estabelecem diferenças e predominâncias entre os gêneros. Pelo fato da ginástica ser uma atividade caracterizada feminina, gera o preconceito contra os garotos, colocando-os em uma situação de julgamento, produzindo receio e afastamento dessa prática (TSUKAMOTO e KNIJNIK, 2008).

    O homem sempre ocupou lugar privilegiado, tanto na prática esportiva como na gímnica, sendo a mulher colocada em plano inferior onde tais experiências não eram reservadas (DARIDO, 2005).

    Historicamente, os movimentos da ginástica estavam associados a elementos masculinos como força, potência, agilidade, energia, os quais passam atualmente a ser associados também as mulheres (DARIDO, 2005).

    Maldonado e Bocchini (2013), afirmam ter dificuldades em administrar a aula de ginástica por parte dos meninos, pois os mesmos tiveram resistência, porém trabalharam a ginástica envolvendo as “relações de gênero e de etnia existentes”.

    A ginástica sofreu e ainda sofre com preconceitos equivocados quanto às relações entre os gêneros, pois como classificar os elementos ou os movimentos da ginástica como feminino ou masculino, as características de gênero não podem ser proporcionalmente inversas ou até mesmo iguais. Não se podem rotular os praticantes pelas características pertinentes da prática.

Considerações finais

    A ginástica é uma prática que costuma ser relacionada ao sexo feminino, quase sempre voltada a uma atividade para a mulher. Há hegemonia feminina na ginástica pode ser explicada pelo contexto histórico que envolve a sua prática, já que ainda hoje existe preconceito contra garotos que buscam a ginástica como atividade física.

    Apesar de ser definida culturalmente como prática feminina a ginástica está associada a elementos masculinos tais como força, potência e agilidade. Valências que atualmente também podem ser relacionadas a mulheres.

    Independente de gênero é a vivencia que faz com que o indivíduo tenha capacidade de realizar movimentos específicos de forma correta, deixando de forma nítida que a prática, a aptidão e a interação com a ginástica nada tem haver com gênero, mas sim com o prazer em vivenciá-la.

    Pode se concluir que muitas são as relações entre ginástica e gênero, porém a ginástica em sua essência não se restringe a gênero pois sua prática vai além das diferenças entre homem e mulher, estando relacionada a ganhos sociais, cognitivos e físicos de forma geral.

Referencial bibliográfico

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