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Resenha crítica do artigo: Flexibilidade em praticantes amadores
de futsal
de Fábio Luiz Cheche Pina e Thelma Willamowius Pina,
publicado na Revista Brasileira de Futebol e Futsal, volume 5,
número 15, páginas 52-59 no ano de 2013

 

*Nutricionista, Mestre em Medicina: Ciências Médicas

Doutoranda em Ciências do Movimento Humano - UFRGS

**Graduando em Educação Física Bacharelado - UFRGS

***Graduando em Educação Física Licenciatura – UFRGS

(Brasil)

Carolina de Ávila Rodrigues*

Daniel Lemes Totti**

Eduardo Claus***

anilorac@portoweb.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este texto é uma resenha elaborada para a disciplina de Futsal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tem como objetivo ressaltar aspectos positivos e algumas falhas que foram encontradas no artigo.

          Unitermos: Resenha. Artigo. Futsal.

 

Recepção: 02/07/2014 – Aceitação: 21/10/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Resenha

    Em suma o artigo avaliou o nível de flexibilidade de jovens adultos paranaenses praticantes amadores de futsal.

    A introdução está concisa. Os autores abordam aspectos relacionados à aptidão física, destacando a capacidade física flexibilidade como um indicador de saúde, visto que ela está associada à diminuição do risco de mortalidade, aumento da mobilidade e manutenção da capacidade funcional, oportunizando independência e a qualidade de vida às pessoas.

    Os autores também fazem referência sobre como a flexibilidade pode estar prejudicada na prática desportiva de alta intensidade e como ela pode prevenir o risco de lesões. A partir daí Pina e Pina contextualizam a flexibilidade dentro da prática do futsal. Sabe-se que o futsal é um esporte dinâmico e que está associado à alta velocidade dos movimentos. Assim, os autores acreditam que baixos indicadores de flexibilidade estariam relacionados a um maior número de entorses. Além disso, praticantes amadores de futsal estariam em desvantagens em relação aos profissionais devido às exigências da modalidade.

    Por fim, Pina e Pina destacam a falta de informações a repeito da flexibilidade em atletas amadores de futsal e como essas informações seriam interessantes para o controle das variáveis de treinamento desse perfil de atleta.

    Portanto, o objetivo do estudo foi analisar a flexibilidade em praticantes amadores de futsal de ambos os gêneros.

    Em relação à metodologia, esta foi a parte do artigo que consideramos mais deficitária. Os autores relatam que a pesquisa foi uma pesquisa de caráter transversal onde utilizaram uma amostra de conveniência no período de 2012. Para o grupo seria interessante saber qual período de 2012? A coleta foi durante o ano todo? Só no verão? Só no inverno? Sabemos que a temperatura influencia de forma direta a flexibilidade. Portanto, esta informação seria importante. Os autores chegam a referir o controle da temperatura nas limitações do estudo, mas mesmo assim gostaríamos de saber quando o estudo (período do ano) foi conduzido, em que local e turno. Os autores não descrevem se os voluntários foram todos avaliados no mesmo turno do dia o que poderia influenciar nos resultados, visto que pela manhã somos menos flexíveis.

    Fizeram parte do estudo 25 mulheres e 26 homens com idades entre 18-35 anos. Aspecto positivo, os grupos tinham tamanhos semelhantes para fazer a comparação entre os sexos. Porém, como nem todos periódicos exigem, os autores não apresentam o cálculo de tamanho amostral que resultou em dois grupos de, aproximadamente, 25 indivíduos, ou se eles alocaram todos os voluntários que aceitaram participar do estudo e que estavam conforme os critérios de inclusão.

    Como critérios de inclusão, os autores alocaram voluntários aparentemente saudáveis que não fossem associados junto a Federação Paranaense de Futsal e que não tivessem treinado mais de uma vez por semana nos seis meses precedentes ao início do estudo. Como critérios de exclusão, não participaram do estudo aqueles com limitações osteomusculares ou cardiológicas (relatadas pelos próprios voluntários).

    Os dados foram coletados em uma única ocasião através de uma anamnese e aplicação do teste de sentar e alcançar (SA). A avaliação foi feita por apenas um avaliador com experiência superior a seis meses nos procedimentos da coleta. O fato de um só avaliador realizar as medidas diminui a variabilidade dos resultados. Entretanto, se dois avaliadores tivessem avaliado todos os participantes, seria possível realizar a concordância entre eles dando maior confiabilidade aos resultados, visto que quando apenas um avalia pode existir erro sistemático na medida, cometendo o avaliador sempre mesmo erro em todas as medidas.

    Com relação aos aspectos éticos, todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e o estudo seguiu as normas da Resolução 196/96. Por ser um estudo publicado em 2013, os autores poderiam ter utilizado a resolução que hoje vigora sob o número 466/12.

    Para análise da flexibilidade, os autores utilizaram o teste de sentar e alcançar (SA) seguindo os procedimentos da The American Alliance for Helath, Physical Education, Recreation and Dance de 1984. O teste foi feito com o auxilio de uma caixa de madeira da marca Sanny com dimensões de 30,5x30, 5x30,5 cm, com uma parte superior plana de 56,5 cm de comprimento, sobre a qual fixaram uma escala de medida com amplitude que ia de zero a 50 cm.

    Cada sujeito realizou três tentativas com intervalo de 30s, sendo o valor mais alto das tentativas anotado para posterior comparação entre os sexos. Aspecto positivo, ao nosso ver, como foram 3 tentativas, o participante de certa forma conseguiu se familiarizar com o método, já que não houve sessão de familiarização prévia ou aquecimento, antes do teste.

    Como critério adotado para a avaliação da flexibilidade, os autores seguiram às classificações propostas por Ribeiro et al. (2010). Os autores referem somente isso, o que consideramos ser uma informação incompleta. Sabemos que a informação pode ser dada desta forma para poupar caracteres no texto e ficar conforme as normas do periódico, porém se tivéssemos no corpo do artigo os valores que utilizaram como acima, dentro ou fora dos pontos de corte estabelecidos por Ribeiro et al. (2010), facilitaria. Para que entendêssemos melhor, buscamos o artigo de referência onde descobrimos que o estudo é um estudo populacional (n=16405) com pessoas de 15-99 ativas e sedentárias.

    Para análise estatística, os autores utilizaram teste de normalidade de Shapiro Wilk e descreveram os resultados através de média e desvio padrão para as variáveis contínuas. Entretanto, o que chamou a nossa atenção é que posteriormente os autores descrevem que utilizaram o teste T para amostras independentes e o teste de Mann-Whitney para comparar os valores iniciais entre os grupos (homens e mulheres). Se testaram a normalidade dos dados, os autores deveriam ter aplicado apenas um destes dois testes. Caso os dados tivessem distribuição paramétrica, aplicariam o teste T. No caso de dados não paramétricos, aplicariam o teste de Mann- Whitney. Utilizaram os dois testes, o que não estaria correto, pois ambos são aplicados para realizar a mesma análise conforme a distribuição dos dados (paramétricos ou não paramétricos).

    Para as comparações entre os grupos e as tentativas, os autores utilizaram o teste de Mauchly que avalia a esfericidade dos dados e posteriormente aplicaram ANOVA (análise de variância) de dois caminhos. Para as variáveis em que a esfericidade não foi identificada, os autores aplicaram a correção de Greenhouse-Geisser e o post-hoc de Scheffé para observar onde estavam realmente presente as diferenças estatísticas.

    Os autores utilizaram também Qui-quadrado para verificar associação entre os sujeitos de ambos os sexos que se encontravam acima, dentro ou abaixo da média da flexibilidade proposta por Ribeiro et al. (2010). Os dados foram processados no pacote estatístico SPSS versão 17 e os autores utilizaram como nível de significância um p<0,05.

    Nos resultados, os autores apresentam as características gerais da amostra através de uma tabela, onde os homens tinham em média 23 anos, 33 cm de flexibilidade e 161 meses de experiência com a prática do futsal. As mulheres, por sua vez, eram mais jovens tendo como média de idade 20 anos (p<0,001), flexibilidade semelhante à dos homens (32 cm, p=0,055) e menor experiência com o futsal (105 meses, p=0,004). Acreditamos que os autores poderiam ter verificado a massa e estatura dos voluntários, possibilitando uma descrição mais completa da amostra.

    A tabela 2 do artigo sumariza o comportamento da flexibilidade ao longo das três tentativas do teste. Os autores encontram diferenças estatísticas significativas de aumento da flexibilidade da segunda em relação à primeira tentativa (+5,2%) e da terceira em relação à segunda (+1,6%) e à primeira tentativa (+6,9%) tanto em homens como em mulheres (p<0,001). Não houve diferenças estatísticas da interação sexo versus tentativas.

    Pina e Pina fazem, ainda, uso de uma figura para apresentar a distribuição da amostra (acima, dentro ou fora) conforme os pontos de corte estabelecidos por Ribeiro et al. (2010). Como principais achados do estudo, 100% dos homens e 92% das mulheres estudados encontraram-se acima dos parâmetros de flexibilidade adotados como referência. O único aspecto em relação à figura é que a legenda ficou com uma fonte de tamanho pequeno o que dificulta sua leitura e interpretação.

    Na discussão os autores iniciam trazendo os principais achados, o que é bom, pois relembra o leitor do que será discutido a partir do que foi encontrado. Eles começam discutindo a relação entre sexo e a flexibilidade que neste estudo não foi observada, uma vez que homens e mulheres tiveram resultados semelhantes. Para comparar a avaliação da flexibilidade no futsal, os autores trazem um estudo (Levandoski et al. 2007) realizado com 15 atletas de futsal feminino juvenil (15-17 anos), em que os autores obtiveram resultados inferiores ao do presente estudo. Porém, Pina e Pina estudaram voluntários com uma idade mais avançada, portanto, esse não seria o melhor estudo para ser utilizado como comparação.

    Os autores seguem a discussão justificando o motivo pelo qual não fizeram sessão de familiarização e sim a realização de três tentativas. Eles referem que não existe consenso na literatura sobre quantas sessões seriam necessárias para um sujeito estar familiarizado ao teste de sentar e alcançar.

    Na sequência, abordam a praticidade do teste de SA ser utilizado em estudos populacionais, mas também alertam que por avaliar, somente, um movimento articular (flexão do tronco), este teste teria limitações por não fazer uma análise global. Entretanto defendem o uso do SA baseados nos achados de Ayala et al. (2011) que avaliaram 46 homens praticantes de futsal e observaram boa validade do método.

    Dada a importância da flexibilidade para a prevenção de lesões, Pina e Pina dão continuidade à discussão abordando esse aspecto. Todavia os autores se "perdem" quando começam a relatar estudos que submeteram indivíduos a um programa de treinamento de flexibilidade. Essa parte ficou um tanto deslocada do objetivo do artigo que era apenas avaliar a flexibilidade. Os autores não realizaram nenhum tipo de treinamento com os voluntários. Por conseguinte, os parágrafos, além de deslocados, se tornam desnecessários.

    Ainda abordam o motivo da escolha dos pontos de corte de referência. Como os dados de referência são de uma amostra paulista, esses se aproximam mais da realidade paranaense. O que não aconteceria se os autores tivessem usado uma referência internacional.

    Antes de finalizar, os autores descrevem as limitações do estudo. Entre elas, destacam: não terem controlado a temperatura ambiental, não terem avaliado os hábitos de atividade física dos participantes, bem como a freqüência com a qual o futsal era praticado antes dos seis meses prévios ao estudo. Também sugerem que novos estudos sejam conduzidos utilizando faixas etárias e hábitos de atividade física diversos, possibilitando um melhor entendimento de como essa capacidade física atua ao longo da vida de praticantes de futsal.

    Por fim, concluem que praticantes amadores de futsal possuem adequados indicadores de flexibilidade.

    O artigo está bem estruturado, escrito de forma clara, o que possibilita um bom entendimento, com exceção dos aspectos já relatados ao longo desta resenha e ao fato de os autores não terem definido o que para eles foi considerado um praticante de futsal. Excluindo esses aspectos, a flexibilidade é um tema pertinente para quem trabalha ou trabalhará com praticantes amadores ou jogadores profissionais de futsal, dada sua relevância na prevenção de lesões. Isso sem falar no auxílio da flexibilidade para que o praticante tenha boa mobilidade dentro e fora da quadra de jogo. Devemos incluir na periodização ou no planejamento da preparação física dos nossos alunos, exercícios que possibilitem desenvolvimento da flexibilidade, seja ele (a) aquele (a) que joga uma vez por semana com os amigos como diversão, ou aqueles(as) que participam de uma equipe amadora ou profissional de futsal.

Referências

  • AYALA F, SAINZ DE BARANDA P, DE STE CROIX M, SANTONJA F. Criterion-related validity of four clinical tests used to measure hamstring flexibility in professional futsal players. Physical Therapy in Sport. Vol. 12. Núm. 4. p. 175-181. 2011.

  • LEVANDOSKI G.; CARDOSO FL, CIESLAK F, SANT'ANA CARDOSO A. Perfil somatótipo, variáveis antropométricas, aptidão física e desempenho motor de atletas juvenis de futsal feminino da cidade de Ponta Grossa/PR. Fitness Performance Journal. v. 6. n. 3. p.162-166, 2007.

  • RIBEIRO CCA; ABAD CCC, BARROS RV, BARROS NETO TB. Nível de flexibilidade obtida pelo teste de sentar e alcançar a partir de estudo realizado na Grande São Paulo. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. v.12, n. 6, p. 415-421, 2010.

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