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Pequenos jogos no futebol: revisão acerca da avaliação
do comportamento tático e físico a partir da manipulação
do número de jogadores

Juegos reducidos en el fútbol: una revisión acerca de la evaluación de 

comportamiento táctico y físico a partir de la manipulación del número de jugadores

 

Mestrando em Ciência do Esporte - UFMG

Membro do Centro de Estudos de Cognição e Ação

(Brasil)

Gibson Moreira Praça

gibson_moreira@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Pequenos Jogos no Futebol são ferramentas úteis para o treinamento de componentes técnicos, táticos, físicos e fisiológicos de atletas em um contexto tático decisional. Neste sentido, estudo verificou a influência de manipulações de números de jogadores, tamanho do campo, regras técnicas e etc. no perfil motor, comportamento tático, variáveis fisiológicas e ações técnicas. Dentre estas, manipulações no número de jogadores apresentam-se como freqüentes em estudos, contudo situações de iniqüidade numérica entre as equipes foram pouco investigadas. Este aporte revisou estudos sobre o efeito de manipulações na relação de número de jogadores (superioridade numérica) nas respostas táticas e no perfil motor. Em relação ao perfil motor, observa-se redução na intensidade de esforço a partir da inclusão de jogadores adicionais, bem como uma redução na intensidade de esforço dos jogadores adicionais em relação aos jogadores regulares. Já no que tange ao comportamento tático, observou-se aumento na distância dos jogadores ao centro da equipe em jogos com superioridade numérica. Sugerem-se novos estudos para investigar comportamentos táticos individuais, bem como perfil motor associado às variáveis de aceleração, de forma a entender o sentido das manipulações nas situações de superioridade numérica nos comportamentos dos jogadores.

          Unitermos: Futebol. Pequenos jogos. Comportamento tático.

 

Recepção: 28/09/2014 - Aceitação: 14/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Dentre os Jogos Esportivos Coletivos (JEC), diversos tem representativa importância na cultura esportiva atual, como Basquetebol, Futebol, Futsal, Handebol, e Voleibol, freqüentemente praticados em diferentes níveis de rendimento (clubes, escolas, espaços de lazer). Autores apontam que eles ocupam lugar destacado na cultura esportiva contemporânea, constituindo um campo específico de manifestação da ação motora. Dentre estas modalidades, o Futebol atrai inúmeros atores, como treinadores, atletas, dirigentes, torcedores e a mídia. Todos encontram no esporte um campo fértil para a vivência esportiva – sob diferentes contextos – em uma modalidade particularmente diferente: rica em imprevisibilidade e nomeadamente multifatorial. No Futebol, embora o desempenho seja nomeadamente, multifatorial, caracterizado pela interdependência dinâmica de componentes fisiológicos, técnicos, táticos e psicológicos utilizam-se abordagens reducionistas para explicar o desempenho a partir de diversos indicadores analíticos de performance, os quais se distanciam do contexto complexo e imprevisível que compõe o jogo de Futebol. Tais indicadores, embora úteis num primeiro entendimento da modalidade, refletem na verdade apenas uma(s) dimensão de análise, não permitindo o acesso à performance como um todo. Atualmente, novas perspectivas de treinamento adotam Pequenos Jogos como ferramentas no processo de ensino-aprendizagem-treinamento (E-A-T). Acredita-se que este meio de E-A-T possibilite replicar ou parcialmente aproximar as demandas de movimento, intensidade fisiológica e requisitos técnicos além de uma consciência tático-cognitiva em um contexto apropriado de jogo, além de permitirem o desenvolvimento das competências para jogá-lo através da aplicação de situações de exercitação com elevado efeito de transferência para a competição.

Pequenos jogos

    Nestes Pequenos Jogos apresentam-se alternativas diversas de configurações (tamanhos do campo, números de jogadores alterações nas regras, limitações técnicas e incremento de pressões) durante sua utilização no processo de Ensino-Aprendizagem-Treinamento do Futebol. Tais manipulações são realizadas em função da intencionalidade do treinador, sendo, portanto, possível elaborar sessões de treino que atinjam, prioritariamente (mas jamais exclusivamente), uma elevada demanda física ou um potencialmente rico ambiente decisional. Assim, conduziram-se diferentes linhas de investigação acerca de respostas relacionadas ao perfil motor (distâncias percorridas, distâncias em intervalos de intensidade e perfil de acelerações), fisiológicas (concentração sanguínea de lactato – [La], Freqüência Cardíaca – FC) e técnicas (passes, finalizações, roubadas de bola, interceptações), mas poucos estudos detiveram-se sobre variáveis táticas associadas à tomada de decisão no contexto de jogo.

Perfil motor

    Na avaliação do perfil motor evidencia-se a busca em diversos estudos pela quantificação de distâncias percorridas e percentuais de distância em extratos de intensidade. Tal avaliação se dá com o uso de equipamentos de monitoramento do posicionamento global (GPS), que permite rápido acesso a informações do perfil-motor e contribui para o incremento das informações acerca dos Pequenos Jogos (1). Mais recentemente, além do aumento da acuidade dos equipamentos de GPS – já funcionando a freqüências de 15Hz – incorporaram-se acelerômetros triaxiais que permitem o acesso a informações de associadas ao perfil de acelerometria dos jogadores, como total de acelerações e distância em aceleração. Contudo, no jogo formal, apresentam-se diferenças entre o padrão de movimentação de atletas de diferentes estatutos posicionais1 (2), o que indica que constrangimentos de ordem tática interferem na resposta mecânica de jogadores de Futebol. Nesta perspectiva, alterações de ordem ambiental conduzem a novas situações-problema no plano da tarefa e demandam, assim, novas respostas dos atletas, conforme apontado na teoria da ação de Nitsch (2009) Além disso, como a resposta motora no jogo de futebol representa o final de um conjunto de ações amparadas em processos cognitivos – percepção das informações, atenção, memória, inteligência e tomada de decisão (3) – sugere-se que, do ponto de vista do treinamento tático, a avaliação do perfil motor seja realizada em permanente diálogo com a análise do comportamento tático apresentado pelos atletas e relativizada pelo estatuto posicional.

Comportamento tático

    Já em relação à avaliação de comportamentos táticos, embora constrangimentos de ordem tática no jogo evidenciem-se como intervenientes na performance de equipes de Futebol (4), observa-se a direção da história da análise científica a partir de abordagens biomecânicas e fisiológicas, com baixo dispêndio de atenção ao comportamento tático dos jogadores e à organização das equipes. Contudo, ao considerar-se que o desempenho no Futebol não responde apenas a componentes mecânicos e fisiológicos, verificando-se uma relação destas com variáveis técnico-táticas, evidencia-se uma lacuna na literatura na medida em que poucos estudos verificaram componentes táticos do desempenho em Pequenos Jogos até o momento. Ainda referente à análise de comportamentos táticos, a revisão de literatura destaca que se utilizou o Teste de Conhecimento Tático Processual – TCTP - (5) e o Sistema de Avaliação Tática no Futebol – FUT-SAT (6) para avaliar o comportamento tático individual de jogadores de Futebol em situações de Pequenos Jogos. Nestes protocolos, realiza-se a avaliação do comportamento tático em função das ações técnico-táticas individuais (TCTP) e dos Princípios Táticos Fundamentais (FUT-SAT). Por outro lado, estudos quantificaram variáveis táticas coletivas relacionadas ao centro de jogo, largura e profundidade em configurações de Pequenos Jogos. Nestes estudos, a análise de coordenadas polares apresenta-se como importante recurso que permite o acesso às interações espaço-temporais entre os jogadores em diversas configurações, sendo estas obtidas em um primeiro momento através de softwares e mais recentemente através dos mesmos equipamentos de GPS utilizados na quantificação do perfil motor.

Manipulações no número de jogadores

    No que tange aos Pequenos Jogos, diversos estudos verificaram a influência da alteração do número de jogadores no comportamento dos jogadores. Observou-se redução na intensidade de jogo a partir do aumento do número de jogadores em cada equipe (1) e aumento no número de ações técnicas de passe, drible e chute a gol a partir da redução do número de jogadores (7). Além disso, observaram-se diferenças no comportamento tático na comparação entre Pequenos Jogos na configuração 3x3 e 6x6 (8). Contudo, a utilização de Pequenos Jogos com igualdade numérica representa uma possibilidade de utilização desta ferramenta, condizente com determinados objetivos técnico-táticos. Porém, o jogo formal apresenta situações no campo de jogo nas quais as relações entre os jogadores são por diversas vezes desbalanceadas, ou seja, apresentam superioridade numérica para uma ou outra equipe. Manipular a diferença no número de jogadores entre as equipes constitui-se em um constrangimento espaço-temporal, além de permitir aos defensores uma melhoria na capacidade de defender ocupando e protegendo espaços em frente ao gol (9, 10). Na literatura encontram-se referências para a utilização de Pequenos Jogos em superioridade numérica e com a presença de jogadores de apoio (11). Segundo os autores, situações de jogos reduzidos com equipes com diferentes números de jogadores possibilitam que os jogadores durante a defesa vivenciem a transição de sistemas de marcação individual para zonal, na medida em que a marcação individual em situação de inferioridade numérica sempre revela um adversário livre. Neste âmbito, jogadores seriam levados, na defesa a realizar fechar regiões mais próximas à baliza a defender (10), aumentando a incidência de Princípios Táticos no meio campo defensivo e reduzindo a amplitude em profundidade da equipe em defesa. Já no ataque, espera-se que atacantes busquem a circulação da bola como estratégia para encontrar espaços diante da fechada linha defensiva adversária e optem pela ampliação do espaço de jogo efetivo em largura e profundidade, de forma a criar na defesa dificuldade para fechamento das principais linhas de passe. Em estudos que investigaram a utilização de superioridade numérica em Pequenos Jogos, observou-se do ponto de vista técnico um aumento no número de passes e recepções com jogador extra no ataque em comparação a um jogador extra na defesa (12). Além disso, a inclusão de jogadores extras reduziu a intensidade de esforço, com menor tempo dispendido em freqüências cardíacas mais elevadas em comparação ao jogo com igualdade numérica. Em outro estudo, observou-se que os jogadores adicionais percorreram um número significativamente superior de sprints e maior distância total em comparação aos demais jogadores (13). Um terceiro estudo observou redução na distância dos atacantes e defensores em relação ao centroid de sua equipe, redução na área total coberta por equipes no ataque e na defesa e aumento na distância centroid entre as equipes (10) Por fim, observou-se que o jogo em superioridade numérica resultou no aumento da distância percorrida em intensidades inferiores e redução da distância percorrida em intensidades elevadas, bem como um aumento na distância do jogador em relação ao centroid2 da equipe (9).Apesar da supracitada importância da utilização de Pequenos Jogos com superioridade numérica do ponto de vista do treinamento tático, evidencia-se a pequena preocupação na literatura em investigar as alterações que estas configurações carregam. Nos estudos que investigaram esta configuração, observa-se baixo interesse na avaliação de componentes táticos inerentes a esta alteração configuracional, o que limita sua aplicabilidade no contexto do treinamento em Futebol.

    Outra possibilidade na configuração dos Pequenos Jogos evidenciada em estudos consiste na inclusão de jogadores de apoio posicionados fora do campo de jogo, servindo de apoio à equipe portadora da bola. Na prática, estes jogadores representam uma superioridade numérica para a equipe em ataque, mas possuem limitações relacionadas à área de atuação e a impossibilidade de finalizarem a baliza. Sua utilização tem se justificado até o momento considerando-se a possibilidade do aumento no tempo efetivo de jogo, na medida em que permitem a saída de menos bolas pelas linhas lateral e de fundo, além do aparecimento de diferentes conceitos defensivos em função da inferioridade numérica criada na defesa. Apesar da utilização desta alternativa metodológica em diversos desenhos experimentais, verifica-se que do ponto de vista tático e mecânico a investigação dos efeitos de sua inclusão não foram mensurados.

Considerações finais

Por fim, de um lado evidencia-se perceptível robustez de estudos relacionados à investigação do perfil motor em Pequenos Jogos de diferentes configurações, e por outro se observa que, embora incipiente, já há interesse acadêmico em conhecer as nuances táticas – individuais e coletivas – que permeiam o jogar nesta ferramenta de treino. Contudo, o desempenho no Futebol responde à relação dinâmica de componentes de diversas naturezas – técnicos, táticos, físicos e fisiológicos, mas pouco se investigou acerca das relações que se estabelecem entre estes componentes no contexto de jogo. O desconhecimento desta relação limita a utilização dos Pequenos Jogos enquanto reprodutor das demandas técnicas, táticas, físicas e fisiológicas.
Além disso, sugere-se que as manipulações no número de jogares realizem-se em designs de pesquisa que contemplem também outras variáveis, de forma a entender se os resultados apresentados até agora – seja do ponto de vista da alteração absoluta no número de jogadores ou na modificação na relação de equidade numérica entre as equipes – confirmam-se em diferentes configurações de espaço, regras e limitações técnicas. Neste sentido, a abordagem de uma variável isoladamente pode incidir num reduzido conhecimento acerca daquela manipulação em outros contextos de treinamento.

Notas

  1. Por estatuto posicional entende-se a posição de origem do jogador no jogo formal, i.e zagueiro, lateral, meio-campista, atacante e outras subdivisões.

  2. Média da posição de todos os jogadores de uma equipe em um campo de jogo.

Referências

  1. AGUIAR MVD, BOTELHO GMA, ALVES BSVG, SAMPAIO JE. Physiological responses and activity profiles of football small-sided games. Journal of Strength and Conditioning Research. 2013;27(5):1287-94.

  2. DI SALVO V, BARON R, TSCHAN H, CALDERON MONTERO FJ, BACHL N, PIGOZZI F. Performance characteristics according to playing position in elite soccer. Int J Sports Med. 2007;28:222-7.

  3. AFONSO J, GARGANTA J, MESQUITA I. Decision-making in sports: the role of attention, anticipation and memory. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. 2012;14(5):592-601.

  4. ARAÚJO D. O desenvolvimento da competência tática no desporto: o papel dos constrangimentos no comportamento decisional. Revista Motriz. 2009;15.

  5. GRECO PJ, ABURACHID LMC, SILVA SR, MORALES JCP. Validação de conteúdo de ações tático-técnicas do Teste de Conhecimento Tático Processual - Orientação Esportiva. Motricidade. 2014;10:38-48.

  6. COSTA IT, GARGANTA JM, GRECO PJ, MESQUITA I, MAIA J. System of tactical assessment in Soccer (FUT-SAT): Development and preliminary validation. Motricidade. 2011;7(1):69-83.

  7. OWEN AL, WONG DP, PAUL D, DELLAL A. Physical and technical comparisons between various- sided games within professional soccer. International journal of sports medicine.2014;35(4):286.

  8. SILVA B, GARGANTA J, SANTOS R, Teoldo I. Comparing Tactical Behaviour of Soccer Players in 3 vs. 3 and 6 vs. 6 Small-Sided Games. Journal of Human Kinetics. 2014;41:191-202.

  9. SAMPAIO JE, LAGO C, GONCALVES B, MACAS VM, LEITE N. Effects of pacing, status and unbalance in time motion variables, heart rate and tactical behaviour when playing 5-a-side football small- sided games. J Sci Med Sport. 2014;17(2):229-33.

  10. TRAVASSOS B, VILAR L, ARAÚJO D, MCGARRY T. Tactical performance changes with equal vs unequal numbers of players in small-sided football games. International Journal of Performance Analysis in Sport. 2014;14(2):594-605.

  11. GRECO PJ, BENDA RN. Iniciação Esportiva Universal. Belo Horizonte: Editora UFMG; 1998.

  12. BEKRIS E, SAMBANIS M, MILONYS E, SARAKINOS A, ANAGNOSTAKOS K. The physiological and technical-tactical effects of an additional soccer player’s participation in small sided games training. Physical Training. 2012.

  13. Hill-Haas S, Coutts A, Dawson B, Rowsell G. TIME-MOTION CHARACTERISTICS AND PHYSIOLOGICAL RESPONSES OF SMALL-SIDED GAMES IN ELITE YOUTH PLAYERS: THE INFLUENCE OF PLAYER NUMBER AND RULE CHANGES. Journal of Strength and Conditioning Research. 2010;24(8):2149–56.

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