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Entre padronizações e conveniências: sob os 

domínios corpolátricos de deuses e semideuses

Entre regulaciones y comodidades: bajo los dominios corpolátricos de dioses y semidioses

 

Licenciado e Bacharel em Educação Física – Escola Superior de Cruzeiro – ESC

Especialista em Metodologia do Treinamento Personalizado Instituto – AVM

(Brasil)

Benedito Augusto Ferreira Ribeiro

meinodach@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente ensaio relaciona a ascensão corpolátrica na sociedade contemporânea disseminada através da mídia. Este trabalho sintetiza opiniões de importantes autores que estudam o tema. Compreender a ascensão corpórea atual é necessário, sendo o sujeito validado pelo tipo de corpo que possui. Assim, a compreensão da corpolatria e de seus pressupostos tornam-se importantes ferramentas de possível entendimento contemporâneo.

          Unitermos: Corpolatria. Corpo. Mídia. Sociedade.

 

Resumen

          Este ensayo se refiere al aumento de corpolatría en la sociedad contemporánea, difundida a través de los medios de comunicación. Este documento resume las opiniones de los autores importantes que estudian el tema. Es necesario entender la promoción corporal actual, siendo el sujeto validado por el tipo de cuerpo que tiene. Así, la comprensión de la corpolatría y e sus supuestos pueden ser herramientas importantes de la comprensión del mundo contemporáneo.

          Palabras clave: Corpolatría. Cuerpo. Medios de comunicación. Sociedad.

 

Recepção: 11/11/2014 - Aceitação: 28/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A relevância gerada/alcançada pela idolatria corporal na contemporaneidade é freqüentemente associada a sucessos e fracassos do individuo. Em conversas cotidianas, nos mais variados ambientes, discute-se o tipo de corpo ideal para homens e mulheres. Nesse contexto, a cultura corpolátrica se solidifica acriticamente em resposta a uma indubitável padronização corporal. Grande parte da sociedade atual é obcecada por padrões corporais perfeitos. Assim, tanto homens como mulheres se colocam diante das novas exigências de sucesso corporal.

    Na era atual o sucesso pessoal e profissional parece estar vinculado ao tipo de corpo que se possui, ou, aos cuidados destinados em sua obtenção. Neste universo, nascem inevitáveis comparações sobre qual moda corporal seguir, qual tipo de roupa usar. Os padrões comportamentais compõem os fartos cardápios de opções corporais hodiernamente reinantes. Entretanto, para os aficionados ao culto corporal, não acompanhar novas tendências, poderá acarretar diversas frustrações. De acordo com Ortega (2008): “são poucos os que de fato estão satisfeitos com os corpos que possuem”.

Bodybuilding Motivation - No Pain No Gain

https://www.youtube.com/watch?v=qbr5kzZtmV0

    Há diversas teorias que poderiam explicar o exacerbado valor adquirido pela aparência física. Como também existem numerosos estudos indicando se tratar de apenas de um dos vários sintomas da modernidade. Todavia, a corpolatria, nessa era atual, expõe preocupações inquestionáveis, até certo ponto vitais à grande parte da sociedade. “O narcisismo é a marca da corpolatria. O que Freud chamou de doença anteriormente, hoje é apenas sinônimo de bem estar consigo mesmo” (CODO; SENNE, 2004).

Ardil massificante: deuses e semideuses

    A preocupação e obtenção de uma visualidade corpórea perfeita passa por inquestionável assimilação irrestrita de comportamentos corpolátricos. Para se conseguir o corpo perfeito, são necessários certos sacrifícios, privações e, na contemporaneidade parece que há muitos indivíduos dispostos a cumpri-los. O universo corpólatra é alimentado por uma fonte inesgotável de apropriação acrítica por parte de seus usuários. Estes indivíduos seguem padrões, modas, assimilam comportamentos, com diversos objetivos, embora o primordial seja obter o status corporal de veneração.

    Da veneração e idolatria corpórea, nasce a maioria dos deuses e semideuses, na contemporaneidade. Eles exibem seus vídeos de superação física, de treinos de musculação, dietas espalhafatosas, dicas de relacionamento, cirurgias estéticas, sendo armazenados aos milhões no Youtube principalmente. Estes sujeitos buscam ampliar e consolidar hordas de súditos. O ambiente virtual faz com que, suas façanhas e conselhos estejam disponíveis a todos, para serem visualizados e curtidos pelos boquiabertos mortais.

    Observa-se que estas supostas divindades sejam assíduos corolários fantoches, entorpecidos pela litania corpolátrica, retroalimentando este ciclo imperturbável.

    O corpo deixou a privação do lar e o espaço restritivo do ambiente médico, para ganhar o espaço público, nas academias, em clínicas de estética, não importando qual tipo de corpo seja, servindo para vender qualquer coisa, fato observável na proliferação de propagandas estéticas em outdoors (FERNANDES, 2010).

    O que realmente importa é atingir objetivos corpóreos, uma objetividade visivelmente muscular. Nestes casos, os corpos são lapidados para o estrelato, redesenhados para o rompimento das regras, polidos para angariar aceitação onde transitam, instituindo normas de um concorrido mercado em expansão. O poder corpóreo das contemporâneas divindades é consolidado através dos meios de comunicação. A privação da qual fala Fernandes (2010), revela a ruptura e dessacralização corpórea, parece ser este um fenômeno sem precedentes na contemporaneidade. Torna-se evidente o descontentamento corpóreo de deuses e semideuses, embora, o que os torna parecidos é sua suprema idolatria corpórea.

    Hierarquicamente, os deuses atuais, são as celebridades, esportistas, artistas em geral. Os semideuses englobam, pessoas comuns que exibem seus esforços e sofrimentos na construção de corpos idolatráveis. A diferença entre estas duas categorias está no alcance de seus milagres. Enquanto os deuses possuem a capacidade global de divulgação e assimilação de suas proezas, indiscutivelmente propagadas; os semideuses dependem do auxílio divino da Mídia, através de seu poder chamado redes sociais. Assim, como Hércules realizou os doze trabalhos, os modernos deuses e semideuses buscam a permanência no Olimpo corpolátrico das massas.

    Entre deuses e semideuses, está o consumidor comum, a massa consumidora amorfa, estimulada a querer novidades, a estabelecer vínculos corpóreos reais e imaginários. Para isso, os meros mortais possuem variedades de tendências a copiar, pois a corpolatria está assumindo a centralidade de suas existências. A avidez da massa é alimentada pelos assombros corporais de deuses e semideuses. Ambos alardeiam quando seus objetivos físicos, pessoais e profissionais foram superados.

    Na sociedade, admiti – se todo o tempo que corpos bem – construídos, com proporções equilibradas, devem ser obtidos por meio de muito esforço e objetividade. Essas anotações de aperfeiçoamentos técnicos do bodybuilding (corpo esculpido na academia) servem de base para ampliar o debate crítico acerca da perspectiva desse corpo “ideal” na cultura contemporânea, divulgado pelo campo da comunicação, em especial da imagem publicitária. (GARCIA, 2005, p 24).

    As máximas “no pain no gain” ou, “a dor é a fraqueza saindo do corpo”, muito utilizadas atualmente, demonstram real e inegavelmente o sofrimento relacionado à obtenção do sucesso corporal. Abre aspas, acaso o candidato a divindade passe por muitos desconfortos. Manter a alcunha de deus ou semideus requer desprendimento, privação e sofrimento. É indispensável aceitar sôfrega e doloridamente os dogmas corpolátricos. Como fala Ortega (2008) “resta ao homem desbravar a última fronteira, o corpo”.

    A deificação corporal traz além de uma pretensa felicidade, a recorrente angustia acaso o sujeito não consiga alcançar o modelo corporal de excelência. Na contemporaneidade diversos moldes corporais são pré-fabricados sob a ótica da insatisfação e da efemeridade. A corpolatria através da mídia veicula e reforça desconfortos entre o consumidor e seu corpo. “Muda-se a aparência, mas efetivamente não se muda a personalidade, e este é um grave problema. A identidade cultural pós-moderna deve ser disposta para além da mera realidade aparente, legitimada pelo corpo” (GARCIA, 2005, p 30).

    Ao identificar a frustração com seu próprio corpo, o consumidor, encarrega – se de colocar à disposição das mais variadas opções de idolatria corpórea. Surgem lacunas que serão preenchidas por algum novo projeto corporal. Um universo de possibilidades se – descortina-nos mais variados meios de comunicação. Assim, são veiculadas belas imagens forjando supostos encantos, além de reforçarem e promoverem desejos e ideais corpóreos quase sempre inatingíveis.

    A mídia realiza importante papel no que concerne ao desencadeamento da atividade consumista nos indivíduos. Após serem internalizados os conceitos e preconceitos gerados e veiculados pela mídia, a corpolatria finaliza com seu tempero, de gosto duvidoso e padronizado. Cabe a sociedade apenas deglutir o alimento midiático que acaba de ser servido em forma de corpo. (RIBEIRO, 2014b, p 13).

    Neste universo de imagens artificiais, novas tendências corpóreas surgem rapidamente, embora sejam expurgadas pela mesma facilidade com que surgiram. Quanto mais efêmero melhor, não há a necessidade de erigir um padrão corporal como último. A corpolatria enxerga na mídia a renovação de suas opções pré-formatadas. “A sociedade de consumo consegue tornar permanente a insatisfação. Uma forma de causar esse efeito é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem sido alçados ao universo de desejos do consumidor” (BAUMAN, 2009, p 105).

    E nesse complexo sistema está a figura do consumidor, envolta em alienação, sedenta por mais uma novidade. A conexão efusiva entre divindades midiaticamente construídas e os reles mortais, são consolidadas através dos veículos de comunicação. Entre padronizações e conveniências, o cenário corpolátrico se auto – sustenta de imagens fictícias e supostamente perfeitas, cujo cardápio nutre diariamente a população. Há intensa propagação de idolatria corpórea midiática, essencial e principalmente através do e no corpo da celebridade, abalizadora de sentimentos pseudo-identitários. Para Cristiane Zovin (2010) “a celebridade possui seu corpo atrelado ao produto, por representar uma identidade exclusiva”.

    Embora, a corpolatria possa supostamente preencher vazios existenciais, ela gera entre outros, os hiatos psicológicos. Podem ocorrer cascatas de conseqüências emocionais negativas. Além disso, o efeito dominó reverso é uma possibilidade desagradável, de possíveis (impossíveis) tentativas de reformatação corporal aos padrões preestabelecidos. A inadequação traduzir-se-á por um viés intercambiável entre corpo real e corpo imaginado. Onde primeiramente há secreção corpolátrica através da mídia, que por sua vez veicula corpos investidos de beleza, jovialidade e músculos. Deste modo, parte da sociedade curva-se diante de seus deuses e semideuses, com objetivo de serem cópias fiéis dos mesmos.

    A transmutação, ou oportunidade de mudança para o padrão corporal supostamente divino, poderá desencadear decepções e frustrações. A ascensão corpolátrica é abalizada midiaticamente sob uma realidade facilmente entendida como despretensiosa, nem sempre estudada profundamente. Pereira (2005) fala, “a espetacularização corporal, somada ao ver e exibir incessantemente propagado pela mídia nos remete a uma analise na tentativa de compreender o corpo na contemporaneidade”.

    A indissolubilidade entre corpo e mídia, pode ser compreendida contemporaneamente, como a propagação global e persuasiva, do supremo culto ao corpo. Onde o corpo é o caminho e a medida a serem utilizados. Caminho, pois é o veículo tanto complexo como irrefutável. O corpo transporta e exibe tendências, cria e mantêm novos prosélitos. Medida, pois é usado para quantificar/qualificar o indivíduo enquanto integrante da sociedade, onde hodiernamente suas ações devem ser realizadas com intuito de obter e manter uma aparência venerável/ discernível.

    Nesta era atual a aparência exibe um caráter de preocupação maior do que qualquer outro assunto. Parecer e estar extremamente preocupado com o corpo é algo aceitável, mesmo que para isso o sujeito coloque outras valências em segundo plano. Ao mesmo tempo a corpolatria emerge como panacéia e caixa de pandora, de um lado ilusão, e de outro a malevolência. Desta forma, tanto o caminho e a medida de seu alcance, consolidam a sua força na contemporaneidade.

    Enquanto isso, muitos indivíduos projetam suas ações unicamente com objetivo de ampliar a aceitabilidade social através de seus corpos. Aliás, corpos cultivados principalmente dentro de academias de musculação, em clínicas de estética e cirurgias plásticas. Locais onde a imaginação flui sob a ótica de que tudo é possível, e o céu é o limite. Assim, parecer fraco, velho ou feio, é só uma questão de investimento no local certo, para melhorar o que a natureza construiu errado.

    A indústria da beleza obrigatoriamente não possui apenas a pretensão de elevar os lucros, mas de fidelizar [...], o que pode ser avaliado ao visualizar principalmente as campanhas publicitárias na televisão, trata – se do amplo reforço que é atribuído ao construir ou comprar o corpo belo atualmente. (RIBEIRO, 2014a).

Considerações finais

    A ascensão corpólatra na sociedade exibe a preocupação suprema em obter uma aparência venerável. Nascem os modernos deuses e semideuses, eles consolidam estas preocupações, utilizam estratégias ardilosas ao fazerem de seus corpos produtos consumíveis. O ardil corpolátrico é legitimado e expresso midiaticamente, apela à parte mais sensível e desprotegida do cliente: o corpo.

    Corpo que é utilizado como mostruário de produtos, bela e musculosamente construído. Visualidades investidas de desejo, causadoras de inevitáveis comparações entre o corpo consumidor e o corpo consumível. Então, ao falar direta e irrestritamente, a corpolatria conecta os possíveis consumidores a seus ditames e dogmas.

    Na contemporaneidade, os traços corporais individuais são tolhidos para que o indivíduo seja unicamente igual. Corpos descaracterizados, apenas exibindo imagens padronizadas; linhas de produção, com peso, medidas, e aspirações idênticas a todos. Assim, a padronização corporal é amplamente difundida e superficialmente discutida.

    Ressurge a massa de modelar, o corpo, podendo ser talhado, moldado, hipertrofiado, siliconado, aumentado ou diminuído. A corpolatria exibe suas facetas na contemporaneidade, enquanto progressivamente solidifica conceitos e preconceitos. “Eis a corpolatria: uma tempestade de manifestações concomitantes, ressaltando ou guindando o corpo ao centro do Universo. Sempre o meu corpo, e sempre antagonizado, contraposto à economia, à política, e a civilização” (CODO; SENNE, 2004, p. 25).

Referências

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