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Avaliação da intervenção da fisioterapia junto 

às mulheres prostitutas da cidade de Sobral

Evaluación de la intervención en fisioterapia con mujeres prostitutas de la ciudad de Sobral
Evaluation of the role of physical therapy to women of the prostitutes of Sobral city

 

*Acadêmica do curso de Fisioterapia do Instituto Superior de Teologia-INTA.

**Mestra e professora do Curso de Fisioterapia

do Instituto Superior de Teologia-INTA

(Brasil)

Oséias Soares Pereira*

liviaabraga@hotmail.com

Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha**

aleudineliaonte@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Estudo de caráter descritivo, com o objetivo de avaliar a intervenção da fisioterapia junto às mulheres prostitutas da cidade de Sobral. Os dados foram coletados na Associação das Trabalhadoras do Sexo da cidade de Sobral através de entrevista individual. Participaram da entrevista seis mulheres que responderam questões relacionadas à profissão, sexualidade, autoimagem e atuação do fisioterapeuta. Os resultados evidenciaram a complexidade das questões que rodeiam esta população e a fragilidade do atendimento integral por parte do profissional de fisioterapia.

          Unitermos: Prostitutas. Fisioterapia. Intervenção.

 

Abstract

          Descriptive study, with the aim of evaluating the physical therapy intervention with women prostitute in the city of Sobral. Data were collected in the Association of Sex Workers Sobral through interviews individual. Participated interview six women who answered questions related to profession, sexuality, selfimage and role of the phisiotherapist. The results show the complexity of the issues surrounding this population and the fragility of comprehensive care by the physical therapy professional.

          Keywords: Prostitutes. Physical therapy. Intervention.

 

Recepção: 15/10/2014 - Aceitação: 03/12/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A pesquisa propõe revelar os anseios que rodeiam a prática da prostituição. Pois com o estudo será possível conhecer a visão que as mulheres prostitutas têm de si mesmas, dando ênfase em sua sexualidade. Através do conhecimento das experiências e de suas impressões sobre sua própria realidade e sobre a atuação da fisioterapia, que se espera que seja inovadora, servirá para traçar um perfil social amplo de sociedade carente. Fazendo com que a atuação em saúde e fisioterápica se torne mais integral, abrangente e eficiente.

    O profissional de fisioterapia está inserido nas questões sociais da população através de sua efetiva participação no núcleo de Apoio a Saúde da Família-NASF, onde dentre muitas funções, atua de forma a está apto a planejar, programar, controlar e executar políticas, programas que visem melhorias na saúde em seu conceito amplo. A atuação junto à população é feita através de interconsultas, visita domiciliar, atendimento individual, participação em reuniões de equipe, educação permanente e atendimentos coletivos através de grupos (BARBOSA, 2010).

    Para que se haja uma intervenção efetiva em relação à sexualidade da mulher, os profissionais de saúde que atendem em nível de atenção básica precisam de uma capacitação sobre o tema, pois o mesmo tem adquirido grande importância (GARCIA e LISBOA, 2012).

    Por estas questões e outras de importância relevante, a temática prostituição levanta discussões complexas que devem ser interpretadas por seus estudiosos, pois questões como origem da profissão e relação entre profissional e cliente são pertinentes desta profissão. Já que a escolha de mudar de profissão por parte das prostitutas encontra barreiras, pois a baixa escolaridade, as dificuldades financeiras, a pobreza absoluta e a falta de qualificação profissional as deixam sem perspectivas de galgar em outra profissão (MOURA et al, 2010).

    Devido os problemas que acompanham as profissionais do sexo e a fim de entender o porquê de muitas mulheres ainda procurarem a prostituição como profissão é que este trabalho tem sua relevância. O estudo se justifica também por propor uma investigação pessoal da visão que as trabalhadoras do sexo têm de sua sexualidade e autoimagem, e sobre a intervenção da fisioterapia, pois o conhecimento destas mulheres sobre si mesmas e como a fisioterapia pode intervir, podendo servir como respaldo para pesquisas futuras e garantir subsídio para a intervenção psicossocial de outros indivíduos carentes de assistência integral a saúde.

    Tivemos como objetivos Avaliar a percepção das mulheres prostitutas a intervenção da Fisioterapia na cidade de Sobral; Conhecer o perfil psicossexual da mulher prostituta; Descrever os motivos que as levam a escolher a prostituição como profissão; Analisar a visão que estas mulheres têm da própria sexualidade e da sua autoimagem em relação à profissão e Investigar a atuação da Fisioterapia junto a estas mulheres.

2.     Metodologia

2.1.     Tipo de estudo

    Trata-se de uma investigação de natureza descritiva, qualitativa, na perspectiva de buscar compreender a visão das profissionais do sexo assistido pela Associação das trabalhadoras do sexo da cidade de Sobral-ASTRAS, sobre sua profissão, sua sexualidade, autoimagem e o papel do fisioterapeuta na assistência a estas mulheres.

    Haguette (1977) e Minayo (2006) consideram que a metodologia qualitativa é fundamental nos estudos que objetivam conhecer os fenômenos humanos, os quais não podem ser abordados de forma segmentada, haja vista que consideram o “todo” das interações e dos envolvimentos do sujeito com seu ambiente. Compreendendo essa questão de outro modo, Minayo (2006) enfatiza que não é como “encher a cabeça” com fatos, mas sim compreender a totalidade da experiência humana, interligando os saberes, dando-lhes sentido e situando-lhes no contexto em que está inscrito, ou seja, criando uma “cabeça bem-feita”. Por observar os sujeitos não em situações isoladas, artificiais, e sim na perspectiva de um contexto social.

2.2.     Local do estudo

    O estudo foi desenvolvido na Associação das Trabalhadoras do Sexo da cidade de Sobral-ASTRAS, com as profissionais do sexo, localizada no bairro Sinhá Saboia Sobral-Ceará, Brasil.

    A associação é uma parceria entre as trabalhadoras do sexo, que realizam seus trabalhos desde 2001, atuando com aproximadamente 300 mulheres prostitutas no município de Sobral-CE.

2.3.     Participantes do estudo

    Trabalhadoras do sexo, cadastradas na ASTRAS. O número de participantes inicialmente foi de 250 mulheres, que é o número total de profissionais que estão cadastradas na associação. Foi observado, no entanto, nos depoimentos as repetições das falas, incongruências, divergências, fazendo-se necessário a entrevista com 06 participantes, que de forma coerente respondeu ao objeto de estudo.

    Foram excluídas da pesquisa as mulheres que tenham menos de um ano de profissão, que não tenha respondido a todas as perguntas do estudo, as que apresentaram algum problema cognitivo que impossibilitaria a autonomia da participante e as que apresentaram alguma incoerência com a pesquisa.

2.4.     Coletas de dados

    Os dados foram coletados, em 3 meses, no período de abril a junho de 2014, onde o pesquisador disponibilizou seu tempo para se deslocar até a ASTRAS no turno da tarde, ou em outro horário, dependendo sempre da possibilidade de encontro com as profissionais.

    Inicialmente procedeu-se uma aproximação com os sujeitos, para explicar a pesquisa, no segundo momento, pediu-se para essas participantes assinarem um termo de consentimento da pesquisa onde estão sendo explicadas o que vai ser realizado, assegurando o anonimato das mulheres e explicando que esse estudo não trará danos nem custos para o entrevistado, já no último momento, será realizada uma entrevista semiestruturada em profundidade, interativa, reflexiva, procurando respeitar as experiências e a opinião dessas profissionais.

    Foi realizada a entrevista em local reservado, onde a profissional teve liberdade de falar e expressar sua opinião em relação a sua sexualidade. O tempo da entrevista se deu, em consonância com a necessidade de cada participante, deixando-o a vontade para exprimir suas experiências com a prostituição e expressar suas opiniões sobre sexualidade, anseios, imagem corporal e sobre a atuação da fisioterapia junto a estas mulheres. As conversas foram gravadas, conforme permissão da entrevistada.

2.5.     Análises dos dados

    Os dados receberam tratamento sistemático de leitura, agrupamento e codificação, e foram organizados em temáticas por afinidade de conteúdo e de significados contidos no instrumento de coleta de dados. (MINAYO, 2006, RODRIGUES e LEOPARDI, 1995)

2.6.     Aspectos éticos

    O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Vale do Acaraú e seguiu as normas da Resolução nº 466/2012 sobre pesquisa envolvendo seres humanos, do Conselho Nacional de Saúde. De acordo com o número de protocolo de aprovação 644.300 de 02/04/2014.

3.     Resultados e discussão

    A pesquisa mostra o perfil psicológico, social e sexual das mulheres prostitutas da cidade de sobral. Ao conhecer o ponto de vista destas mulheres, estaremos diante de um perfil diferenciado da maioria das mulheres, pois as mesmas tem mais liberdade ao falarem de sexo, apesar de que a sexualidade como um todo se mostra ser de pouca compreensão de todas.

    Em relação à fisioterapia mostraram ter um conhecimento vago e enfatizado na reabilitação, mostrando assim as fragilidades em assistência integral por parte dos profissionais de fisioterapia.

    As mulheres participantes deste estudo apresentam um perfil diversificado quanto à idade, ao estado civil, número de filhos, tempo de profissão e idade em que iniciou a mesma. Quatro das mulheres são solteiras; uma casada e outra separada (ver tabela 01). Todas têm no mínimo dois filhos e no máximo quatro. O inicio da vida sexual e da vida profissional se deu por volta de 13 a 19 anos e de 13 a 29 anos respectivamente (ver tabela 02).

Quadro 01. Perfil social das prostitutas

 

Quadro 02. Perfil profissional das prostitutas

O que é ser uma mulher independente?

    A mulher conquistou seu espaço na sociedade de forma concisa e gradativa. As principais mudanças no perfil desta população, se da no âmbito pessoal, familiar, trabalhista e social. As conquistas de décadas garantiram-lhes independência. Segundo Vieira (2005), a subjetividade da mulher perpassa ao que se entende por mulher independente, que por vezes é associada ao nível de escolaridade, relação familiar ao espaço de destaque que ocupam na sociedade. Apesar da subjetividade do individuo, o estudo comprova que a visão de independência é generalizada até mesmo em populações estigmadas, é o que se comprova com as falas das entrevistas, quando indagadas o que é ser uma mulher independente.

“Pra mim, eu acho, uma mulher livre. Agora sim sou independente, quando eu era junta... Era muito presa... Hoje sou mais livre.” F.C.

“Independência é a pessoa trabalhar, ter seu dinheiro, se manter. Não me acho independente, porque não trabalho, espero só pelo marido, não faço tudo que eu quero.” M.G

“Ser independente é viver de seu próprio dinheiro. Sou independente, porque não preciso de ninguém pra me dar dinheiro, nem do meu pai e nem da minha mãe.” R.L.

“É trabalhar pra sustentar a família. Sou independente porque aprendi a trabalhar muito cedo, tenho família, sou mulher, mãe, pai... Tudo. tenho responsabilidade com a família.” F.N.R.L.

O que é sexualidade?

    Borges (2013), afirma que as mulheres desde as últimas décadas, vêm experimentando a desinstitucionalização do rígido e tradicional modelo de trajetória de vida baseado no padrão. Em um mundo de instabilidades nos vínculos amorosos e nas instituições, ter uma profissão pode significar para elas independência financeira, autonomia pessoal, liberdade, maior margem de manobra sobre suas vidas, bem como uma profissão pode significar para elas independência financeira, autonomia pessoal, liberdade, maior margem de manobra sobre suas vidas, bem como uma forma diferente de estar presente do mundo.

    Quanto ao conhecimento sobre sexualidade, os resultados mostraram que as profissionais, com exceção de uma, reconhece sua sexualidade apenas no ato sexual. É o que fica claro em suas falas:

“Sexo com carinho.” A.S.A.

“Só fazer sexo mesmo” M.G.

“O que é sexo pra mim? Acho que é bom né?” I.M.S.S.

“Pra mim é só sexo...O que é pra você? Pra vocês?” R.L.

“É uma coisa... É um trabalho que eu faço... pra mim é um trabalho.” F.C.

    Este conceito de sexualidade se torna restrito conforme a da definição de Oliveira (2008), quando diz que sexualidade perfaz uma ampla dimensão pessoal, própria ao ser humano, constituindo sua totalidade biopsicossocial e espiritual. Assim, refere-se não somente a uma dimensão biológica, mas também a um universo dotado de subjetividade, em que se firmam as relações pessoais e interpessoais. Uma das profissionais parece se aproximar desta definição, quando sintetiza o tema em questão.

“Sexualidade é tudo. Uma maneira de se sentir mulher.” F.N.R.L.

Como você se enxerga?

    Para que a mulher ocupe seu espaço na sociedade sem deixar sua subjetividade, sua autoestima precisa estar preservada. Por vezes esta autoestima é abalada pela as conseqüências da escolha prostituição como é comentado por Penha et al (2012), pois é perceptível também que essas mulheres constituem um grupo que vive, secularmente, à margem da sociedade, sendo estigmatizadas e vítimas constante de violência, seja ela física, psicológica ou sexual. Duas das entrevistadas confirmam esta afirmação, quando indagadas sobre como elas se enxergam.

“Desvalorizada, em relação aos companheiros, ou até mesmo em relação à sociedade.” F.N.R.L.

“Eu...Nem sei como dizer, eu me vejo... um pouco mais derrubada... Pra frente. Antes era mais trancada, hoje sou mais esperta.” F.C.

    Contrário do que se pensa, o estudo mostrou que quatro das mulheres preservam uma boa visão de si mesmas, preservam um comportamento que vai de encontro com Schreiner et al (2004), quando associa o trabalho de prostituição a sintomas de depressão, pois segundo ele, é uma população de risco para transtornos depressivos, apesar disto, até mesmo como defesa estas mulheres se definem como:

“Maravilhosa.” A.S.A.

“Uma pessoa boa.” M.G.

“Ah... Eu me acho linda, se eu não me achar bonita quem é que vai achar? Eu me achando bonita e meu marido gostando... Os outros que se danem!” I.M.S.S.

“Eu me vejo a melhor mulher do mundo, eu me amo.”R.L

O que a motivou a trabalhar com o sexo?

    Conforme Lopes, Rabelo e Pimenta (2007), a escolha da profissão como fonte de renda, parte do principio que os fins justificam os meios, já que, através do dinheiro ganho na prostituição, é possível adquirir respeito, amigos, família e tudo mais que necessitam para viver dignamente. Não importa a profissão, o que importa é o dinheiro advindo dela, que lhes irá possibilitar acesso à subsistência e até mesmo elevar o padrão de vida com que sonham e, dessa forma, serem aceitas e bem tratadas pela sociedade, é o que afirmam quatro das entrevistadas.

“Ganhava pouco e precisava de dinheiro, achei bom ganhar dinheiro.” A.S.A.

“Porque não tinha outro emprego, meu marido me deixou... Tive que criar meus filhos, fiquei só e grávida de seis meses e outro de três anos.” I.M.S.S.

“Foi algumas amigas que já trabalhavam com isto, acho que foi por dinheiro, pra ter minhas coisas... coisa de jovem.” F.N.R.L.

“Porque estava precisando ganhar dinheiro né? Saí da firma, não estudei, só fiz até a 8ª serie, estava difícil, vi as colegas ganhando dinheiro fácil, bem ligeirinho... Fui indo, me acostumei.” F.C.

Duas das entrevistadas revelaram outros motivos relevantes para a escolha da profissão:

“Só pra fazer mesmo, gostava de beber.” I.M.G.

“Não sei, acho porque é bom não é não? Eu prefiro ser uma profissional do sexo do que ser uma psicóloga, médica, professora... Do que qualquer uma dessas” R.L.

Existe diferença entre sexo por prazer, por amor e por dinheiro?

    Estes relatos podem ser resultantes do que expressa Garcia e Lisboa (2012), quando define a liberdade da profissão, pois vivemos em uma época de liberação onde muitas normas, mitos e tabus em relação à sexualidade vêm sendo superados e/ou desconstruídos. Vivemos um incessante estímulo à expansão do desejo sexual e à busca da liberdade individual.

    Lopes, Rabelo e Pimenta (2007), afirmam que a mulher prostituta assume duas identidades: a de profissional prostituta, que vende o corpo, e a de mulher direita, na qual ela se torna ao sair do ambiente de trabalho. Vendo por esta ótica, é possível a prostituta sentir prazer com os clientes? Existe diferença de sexo por amor, por dinheiro ou por prazer? As falas de todas as mulheres confirmam esta separação de vinculo no ato sexual:

“Existe sim, por amor é mais gostoso, dá mais prazer”. A.S.A.

“Sim, por dinheiro é rapidinho e tchau, não gosta da pessoa”.MG

“Sim, por dinheiro a gente faz pra não passar fome”.I.M.S.

“Sim, por prazer você fica porque você quer sentir prazer, por dinheiro você fica porque quer alguma coisa, por amor, você fica de graça”.R.L

“Com certeza existe... É totalmente o contrário o sexo por dinheiro e por amor. As vezes nem tem prazer... muitos querem saber se tem... É uma vida muito triste.”F.N.R.L.

“Existe. Por prazer a gente faz quando tá com vontade; por amor quando gosta da pessoa e por dinheiro, se faz por necessidade”.F.C

Se pudesse escolher outra atividade laboral, mudaria de profissão?

    Sobre a satisfação com a profissão, cinco das mulheres afirmaram estar razoavelmente satisfeitas pelo fato da estabilidade financeira, posição esta justificada por et al Schneider (2004), quando afirma que embora a maioria das mulheres prostitutas refiram o desejo de abandonar a profissão, uma considerável parcela desta população relatam que a motivação para seguir com sua prática profissional é a compensação financeira, mas se tivessem oportunidade mudariam de profissão:

“Eu era satisfeita, ganhava muito dinheiro... Era respeitada, mesmo que por um momento. “Mudaria, se pudesse... Mas não sei fazer outra coisa”. A.S.A.

“Estou satisfeita, mas mudaria.” M.G

“Eu era feliz, porque todo dia tinha dinheiro pra comprar as coisas, nunca fui forçada. Mudaria sim... Porque pra mim seria melhor... Fazer programa não é bom não... Pegar todo dia, um e outro.” I.M.S.S

“Não estou satisfeita, de maneira alguma. “Mudaria sim... Tô querendo mudar, pra qualquer coisa... Falta só as oportunidades.” F.N.R.L.

“Não tenho nada a declarar não, só me queixo um pouco dos clientes... Tem uns que são muito ignorantes.” “Mudaria, porque a gente não vai viver sempre desse jeito, o corpo bonitinho... Garota de programa não tem dinheiro certo.” F.C.

    Apesar do estigma que a profissão traz, uma das participantes afirma não ter interesse em mudar de profissão, resultado este explicado por Burbulhan, Guimarães e Bruns (2012) que justifica esta posição como comodismo e conformismo quanto ao seu destino.

“Outra profissão? Eu não...Quero ficar assim mesmo.” R.L.

Conhece o trabalho da fisioterapia? De que forma você acha que este profissional pode contribuir para sua saúde?

    Quanto ao conhecimento da profissão de fisioterapia e do fazer do fisioterapeuta, todas as profissionais provaram ter nenhum um vago entendimento.

“Não sei o que faz. Acho que pode ajudar a subir na vida.” A.S.A.

“Só conheço quando quebra uma perna... Faz exercícios.” “Poderia me ajudar do jeito que curaria a doença.” M.G.

“Ouvi falar porque levava minha tia pra fazer o tratamento. Não sei mais o que pode fazer.” I.M.S.S.

“Fisioterapia... Não é aquele negócio... Não sei nada. Poderia me ajudar em duas coisas: Fazer massagem nos meus dois joelhos.” R.L.

“Já ouvi falar, mas não conheço não.” “Acho que orientar, né? Conversar com a pessoa.” F.C.

    O pouco conhecimento é referente ao modelo biomédico a que a fisioterapia está atrelado, principalmente devido ao seu surgimento, pois surgiu como uma “especialidade paramédica com o propósito de reabilitar e preparar pessoas fisicamente lesadas nas grandes guerras, em acidentes de trabalho ou por doenças oriundas das condições sanitárias precárias para o retorno à vida produtiva (RESENDE, 2009).

    Diante desse cenário, Wisniewski e Delai (2011), defende que cabe à fisioterapia uma releitura de seus fundamentos e analise de suas práticas, com vistas a adaptar-se a essa realidade e contribuir na mudança do quadro social e sanitário do país. Em consonância com os princípios propostos pelo modelo de Vigilância à Saúde, o fisioterapeuta deve ser inserido em outros níveis de atenção e desenvolver suas ações de acordo com as diretrizes da territorialização e da adscrição da clientela.

    Apenas uma das mulheres parece compreender o papel integral da assistência do profissional de fisioterapia:

    “Não entendo bem... mas acho que é entender a pessoa pra poder tratar. Acho que não vale nem tanto o físico, o corpo. O que vale é a mente... Acho que tudo isto envolve a fisioterapia.” F.N.R.L.

    Assim, as atribuições desses profissionais perpassam desde as ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e assistência à reabilitação, até tratamentos específicos, dando prioridade à saúde da mulher, criança, idoso, adulto, pessoas com deficiência, saúde mental, realizando ações coletivas e/ou individuais na unidade ou em domicílio, suprindo as necessidades da população para se propiciar qualidade de vida e conseqüente bem estar físico, psíquico e social (BARBOSA et al, 2010).

4.     Considerações finais

    O estudo possibilitou conhecer o perfil psicossexual da mulher prostituta da cidade de Sobral, revelando que as trabalhadoras do sexo ainda enfrentam estigmas, e vivem o desafio de conquistar autonomia e direitos sociais, além de enfatizarem a auto aceitação..

    Em relação à sexualidade, as profissionais mostraram ter pouco conhecimento sobre o tema em sua forma ampla, restringindo o assunto ao ato sexual, mostrando assim fragilidade no conhecimento da mulher em relação ao seu corpo. Apesar do pouco conhecimento, esta fragilidade não reflete na forma que elas lidam com a autoimagem, pois a maioria das participantes do estudo se enxerga com bom grau de satisfação e aceitação.

    Com relação à intervenção da fisioterapia junto a estas mulheres, revela-se uma brecha na intervenção integral do individuo carente de cuidados. As falas das mulheres comprovam que o fazer do fisioterapeuta ainda é precisa ser conhecido pela maioria da população, para então ganhar maior espaço na atenção básica, podendo então intervir de maneira eficiente junto à população carente de cuidados.

    O estudo mostrou a intervenção da fisioterapia junto às mulheres prostitutas de Sobral, fazendo-se necessários novos estudos, com amostras maiores, servindo assim para respaldar novas pesquisas com esta população e com outras que sejam marginalizadas e estigmatizadas pela sociedade.

Referencias

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