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Percepção e expectativas do esportista com 

deficiência em relação ao profissional de Educação Física

Percepción y expectativas de los deportistas con discapacidad en relación con el profesional de Educación Física

Perception and expectances of the disabled athlete towards the physical education professional

 

*Profissional de Educação Física. Graduado

pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)

**PhD, Docente da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade

de São Paulo (EEFE-USP). Vice-presidente da Comissão de Cultura e Extensão

da EEFE-USP. Coordenadora do curso de Natação Inclusiva da EEFE-USP

Coordenadora do setor de estágio do Departamento de Esporte da EEFE-USP

***PhD. Docente do Mestrado em Promoção da Saúde do UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo). 

Líder do Grupo de Pesquisas em Exercício Físico, Estilo

de Vida e Promoção da Saúde (UNASP). Docente dos cursos de Bacharelado

e Licenciatura em Educação Física do UNASP

Claudio Portilho Magalhães*

Cristiano Nascimento*

Danilo Guimarães*

Elisabeth de Mattos**

Natália Cristina de Oliveira***

natalia.silva@unasp.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A inserção das pessoas com deficiência na sociedade é uma preocupação mundial. No Brasil, a atividade esportiva para este público vem crescendo muito desde a década de 1980, entretanto, a preparação do profissional de Educação Física para lidar com esta demanda ainda é um desafio. O objetivo deste estudo foi verificar as percepções e expectativas do esportista com deficiência em relação ao preparo dos profissionais de Educação Física. Oitenta e nove atletas com deficiência (filiados a clubes cadastrados no Comitê Paralímpico Brasileiro) foram convidados a responder um questionário composto por 21 perguntas. Surpreendentemente, a maior parte dos entrevistados (97,7%) relatou estar satisfeita ou muito satisfeita com os profissionais de Educação Física que os atendem, e esperam deles conhecimento (33,7%), comprometimento (16,8%) e compreensão (16,8%) para com as questões relacionadas ao esporte adaptado. Assim, a preparação profissional em Educação Física deve continuar enfatizando a formação pedagógica e os conhecimentos na área do esporte adaptado, pois isso tem produzido reflexos positivos na preparação de atletas paralímpicos.

          Unitermos: Pessoas com deficiência. Atletas. Educação Física. Treinamento.

 

Abstract

          Inclusion of disabled people in society is a worldwide concern. In Brazil, sports practice in this population has been growing since the 1980s, however, preparation of Physical Education professionals to deal with disabled athletes remains a challenge. The aim of this study was to verify perceptions and expectances of disabled athletes towards Physical Education professionals readiness. Eighty-nine disabled athletes (affiliated to clubs registered at the Brazilian Paralympic Committee) were invited to respond a 21-items questionnaire. Surprisingly, most of them (97,7%) were satisfied or very satisfied with the Physical Education professionals that trains them, and expect them to have knowledge (33,7%), commitment (16,8%) and comprehension (16,8%) regarding adapted sport issues. Thus, Physical Education professional preparation must continue to emphasize pedagogical education and knowledge about adapted sports, as this has been producing positive effects in paralympic athletes’ preparation.

          Keywords: Disabled persons. Athletes. Physical Education. Training.

 

Recepção: 09/10/2014 - Aceitação: 06/12/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A inserção social das pessoas com deficiência (PCD) é uma preocupação mundial. Integração e inclusão são temas freqüentes de discussões e publicações de pesquisadores nacionais e internacionais (Costa a Sousa, 2004). A participação das PCD em atividades esportivas representa uma oportunidade de experimentar sensações e movimentos que, em outras situações, haveria impossibilidade devido às barreiras físicas, ambientais ou sociais (Labronici et al., 2000).

    Grandes benefícios podem decorrer da participação das PCD em atividades esportivas: reabilitação física, psicológica e social, melhoria geral da aptidão física, ganho de independência e autoconfiança para a realização de atividades da vida diária, além de melhoria no autoconceito e na autoestima dos praticantes (Cardoso, 2011).

    O esporte adaptado consiste na implementação de adaptações e modificações em regras, materiais e locais das atividades, de maneira a ir de encontro às necessidades únicas das PCD (Gorgatti e Gorgatti, 2005). Ele surgiu como forma de reabilitação dos veteranos da Segunda Guerra mundial, particularmente na Inglaterra e nos Estados Unidos (Mattos, 1990). No Brasil, o esporte adaptado data do final da década de 1950, com o basquetebol em cadeira de rodas, que passou a ser oferecido por clubes especializados em esportes para PCD (Mattos, 1994).

    A partir de 1980 a atividade física e esportiva para as PCD começou a crescer de forma expressiva. Eventos, publicações e políticas públicas nacionais tiveram destaque a partir desse período, marcando a integração social destas pessoas (Costa e Sousa, 2004).

    Data também desta época a Resolução 03/1987 do Conselho Federal de Educação (Brasil, 1997), que trata (dentre outros assuntos) da inclusão de conhecimentos relacionados à Educação Física adaptada nos cursos de graduação em Educação Física, já que o profissional desta área deve estar preparado para atuar junto às PCD. Por se tratar de um fato relativamente recente, ainda há muitos profissionais no mercado de trabalho que não receberam tais conhecimentos em sua formação, além disso, o material didático sobre o tema em língua portuguesa ainda é escasso (Aguiar e Duarte, 2005).

    Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi verificar as percepções e expectativas dos esportistas com deficiência em relação ao preparo dos profissionais de Educação Física para atuar junto a eles.

Métodos

    Os participantes desta pesquisa foram atletas amadores com deficiências física, visual, mental, auditiva e/ou múltiplas. Todos eles eram filiados a um dos 58 clubes cadastrados no Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB - www.cpb.org.br) no estado de São Paulo, na época da coleta de dados deste estudo (dez/2009).

    Foi feito contato via e-mail com todos os clubes, enviando o instrumento de pesquisa em anexo e solicitando seu preenchimento por parte dos atletas. Os que concordaram em participar da pesquisa preencheram o instrumento em seus locais de treinamento e o devolveram em seguida por e-mail aos pesquisadores.

    O questionário foi elaborado pelos pesquisadores e continha 21 perguntas, 18 fechadas e 3 abertas. O instrumento abordou aspectos referentes aos conhecimentos e competências dos profissionais de Educação Física que trabalham com esportistas com deficiência.

    Os dados obtidos foram analisados através de estatística descritiva.

Resultados

    Dos 58 clubes filiados ao CPB, somente sete responderam ao contato dos pesquisadores. Nossa amostra, então, foi composta pelos 89 atletas paralímpicos amadores (15,73% do sexo feminino e 84,27% do sexo masculino) provenientes destes clubes.

    A maioria dos atletas (56,18%) praticava modalidades em grupo (voleibol, basquetebol e rúgbi), seguida de 40,45% que praticavam modalidades individuais (natação, atletismo, bocha, kart e esgrima). Uma pequena parcela da amostra (3,37%) praticava ambos os tipos de modalidades.

    A freqüência da prática esportiva variou entre 6 vezes ou mais por semana (10,11%), 3 a 5 vezes por semana (82,92%) e 1 a 2 vezes por semana (26,97%).

    Quando perguntados sobre as primeiras impressões em relação ao conhecimento dos profissionais de Educação Física que os treina, grande parte dos atletas deram respostas positivas: 52,81% responderam “excelente”, 39,33% “bom”, 6,74% “regular”, e somente 1,12% dos entrevistados responderam “ruim”.

    Perguntamos aos entrevistados se eles já haviam sofrido algum tipo de discriminação por parte dos profissionais de Educação Física. A grande maioria (85,39%) afirmou nunca ter se sentido discriminado.

    Ao tratarmos do nível de satisfação dos atletas com os profissionais de Educação Física, observamos que 44,94% dos participantes estavam muito satisfeitos com eles, e que 52,81% estavam apenas satisfeitos. Apenas 2,25% relataram estar insatisfeitos ou muito insatisfeitos.

    Quanto às expectativas em relação aos profissionais de Educação Física, as respostas estão representadas na Figura 1 a seguir:

Figura 1. Expectativas de atletas paralímpicos amadores em relação aos profissionais de Educação Física

    Com 33,71% das respostas, o conhecimento foi o ponto mais citado, seguido do comprometimento e da compreensão (com 16,85% das respostas cada).

    Os atletas também foram questionados sobre o que poderia ser feito para aumentar a qualidade dos treinos. A maioria deles (39,33%) sugeriu que a freqüência fosse aumentada, 10,11% reclamaram dos equipamentos fornecidos pelos clubes ou pelo Estado, e 3,37% sugeriram a criação de outros centros especializados em esporte paralímpico.

Discussão

    Nesta pesquisa, procuramos verificar as percepções e expectativas dos esportistas com deficiência em relação ao preparo dos profissionais de Educação Física para atuar junto a eles. Surpreendentemente, mais de 97% dos atletas entrevistados relataram estar satisfeitos ou muito satisfeitos com o serviço prestado por estes profissionais, e a maioria nunca se sentiu discriminada por eles. Além disso, em relação às expectativas dos atletas para com os profissionais de Educação Física, eles esperam principalmente conhecimento, comprometimento e compreensão perante questões relacionadas ao esporte para PCD.

    A literatura científica ainda é bastante escassa nessa área. Não foram encontrados na literatura nacional outros trabalhos com temática semelhante à do presente estudo. Em comparação com outros países, o Brasil está iniciando a profissionalização do profissional de Educação Física na área do esporte adaptado, e ainda são necessários mais investimentos nessa área (Ribeiro e Araújo, 2004).

    Estudo realizado com profissionais e estudantes de Educação Física (Palla e Castro, 2004) revelou que eles possuem, em geral, atitudes favoráveis relacionadas ao trabalho com PCD, mas a falta de qualificação, de oportunidades e condições de trabalho constituem importantes barreiras. As atitudes favoráveis podem ter reflexo na primeira impressão das PCD perante o profissional. Estes dados confirmam os nossos: a maior parte dos participantes desta pesquisa relatou uma primeira impressão positiva em relação ao conhecimento dos profissionais de Educação Física.

    O estudo de Aguiar e Duarte (2005) avaliou 67 profissionais de Educação Física que trabalhavam como assistentes pedagógicos em diretorias de ensino do Estado de São Paulo e verificaram que apenas 18% deles não haviam recebido conhecimentos sobre Educação Física adaptada, embora 63% tenham relatado não possuir conhecimento suficiente para promover a inclusão das PCD nas atividades escolares. Não avaliamos o conhecimento dos profissionais neste estudo, mas a julgar pela opinião dos atletas paralímpicos amadores, nossos resultados parecem indicar que a maior parte dos profissionais de Educação Física possuía conhecimento sobre o trabalho com PCD.

    A inclusão de uma disciplina abordando assuntos relacionados às PCD nos currículos de graduação em Educação Física - proposta pela Resolução 03/87 (Brasil, 1987) - teve prazo máximo para implantação no primeiro semestre letivo de 1990. A partir daí, a formação de profissionais habilitados para o atendimento deste público tornou-se legal (Ribeiro e Araújo, 2004).

    Atualmente, existe um substancial mercado de trabalho voltado ao esporte adaptado, verificado pelo crescente número de publicações em congressos e pela quantidade de associações relacionadas ao esporte adaptado (Ribeiro e Araújo, 2004).

    Corroboramos com a opinião de Palla e Castro (2004), que ressaltam os benefícios às PCD e à sociedade advindos de um plano de ação envolvendo: a) capacitação profissional para profissionais graduados que atuam com estas pessoas; b) aumento da carga horária das disciplinas de Educação Física adaptada oferecida nos cursos de graduação, c) implementação de estágios supervisionados em Educação Física adaptada, d) criação de cursos de extensão na área, e e) parcerias entre os setores público e privado para a geração de verbas.

Conclusão

    A percepção dos esportistas com deficiência em relação ao preparo dos profissionais de Educação Física é positiva, a maioria deles está satisfeita com o serviço prestado. Os atletas paralímpicos amadores esperam deste profissional conhecimento, comprometimento e compreensão perante as questões relacionadas ao esporte paralímpico, e isso pode ser conseguido com a formação e atualização profissional de qualidade.

Referências

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