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Esportes radicais: o histórico do Le Parkour
e as características dos seus praticantes

Deportes de riesgo: historia del Parkour y las características de sus participantes

 

Graduando de nutrição pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

(Brasil)

Daniel Ferreira de Barros

daniel.barros@mackenzie.br

 

 

 

 

Resumo

          O Le Parkour é caracterizado pela prática de ações que utilizam o deslocamento do corpo de um ponto a outro, transpondo obstáculos urbanos ou naturais de forma fluida e mínima interrupção do movimento viabilizando o desenvolvimento do corpo e da mente. Pode ser considerado esporte, arte, filosofia, tendo como motivação a necessidade do homem em escapar de situações de risco, utilizando técnicas que buscam durante a progressão, economia no movimento e o mínimo de interrupção. Surgiu na França em 1980 e consiste no uso racional de energia, com ganho de tempo e economia de esforço ao enfrentar os obstáculos inerentes às adversidades no combate ou no salvamento. No Brasil, essa prática vem se difundindo, principalmente entre os mais jovens, graças à internet e recentes filmes de ação, a exemplo do aconteceu na Europa e EUA. O presente estudo teve como objetivo revisar aspectos desse esporte e seus praticantes.

          Unitermos: Parkour. Esporte radical.

 

Abstract

          Le Parkour is characterized by the practice of actions using the displacement of the body from one point to another, crossing urban or natural obstacles fluidly and minimal interruption of movement enabling the development of body and mind. Can be considered sport, art, philosophy, and motivation as man's need to escape from threatening situations, using techniques that seek during the progression, motion economy and minimal disruption. Emerged in France in 1980 and consists of the rational use of energy, with a gain of time and effort savings when facing obstacles inherent to adversity in combat or rescue. In Brazil, this practice is spreading, especially among young people, thanks to the internet and recent action films, such as the case in Europe and EUA.O present study aimed to review aspects of the sport and its practitioners.

          Keywords: Parkour. Radical Sport.

 

Recepção: 11/11/2014 - Aceitação: 26/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Conhecido como Le Parkour do francês le = o, e parcour = percurso, trajeto, segundo a Parkour Word Association (2005), é uma atividade física que teve suas origens na França. É definida como uma combinação de habilidades naturais do homem tais como correr, saltar e escalar, porém com um uma capacidade de se movimentar-se da forma mais rápida, fluente e eficaz possível, fazendo uso do ambiente urbano (ANGEL; 2011).

    Conceitualmente é definido como uma forma de se deixar ser levado até onde o corpo permite, e para onde quer conduzi-lo. Pode ser caracterizado como um método de treinamento físico, uma disciplina de movimento ou forma de superar obstáculos encontrados normalmente no ambiente urbano (DJORDJEVIC; 2006). A idéia principal é traçar um percurso ou objetivo e por meios próprios, alcançá-lo superando os obstáculos que surgirem no caminho (BELLE; 2006) Durante o deslocamento o praticante faz uso de diversos artifícios, desde a exploração da condição física ao discernimento dos métodos de transposição que oferecem menor risco e eficiência durante o trajeto (GAMA; 2008). Outro ponto que merece destaque nesse esporte é a importância na escolha dos movimentos e rotas selecionadas na execução, pois estas devem além de derrotar os obstáculos no caminho, evitar o gasto energético e ganhar tempo (LEITE et al., 2011). Provavelmente, o Parkour não existiria se não houvesse antes dele o Método Natural por George Hébert, assim como o parcours du combattant. Para que o Parkour possa ser entendido, devem-se conhecer suas origens, seus precursores, além de suas características básicas (MILLER, DOMOINY; 2008). Portanto, o atual estudo teve como objetivo revisar alguns aspectos históricos do esporte, além dos conceitos fundamentais da modalidade Parkour.

Foto: http://imgkid.com/parkour-jump-black-and-white.shtml

Histórico

    O idealizador do Parkour foi David Belle, nascido em 1973, em Fécamp, na Normandia e criado em Sables d’Olonne. Vindo de uma família de atletas, ainda criança praticava ginástica olímpica, escalada e artes marciais (ANGEL, 2011). Sua teoria era que a resistência e agilidade adquiridas nos treinos deveriam ser utilizadas na dia a dia (PARKOUR WORD ASSOCIATION, 2005). Aos 15 anos, mudou-se para Lisses, subúrbio de Paris onde conheceu outros jovens, também praticantes de esporte. Em seus treinos, passou a dedicar-se à progressão por meio do movimento, sendo o principal conceito, todo treinamento deve ser aplicável à vida real resolvendo problemas ou situações extremas (DJORDJEVIC; 2006). Esse treino era uma simulação do que poderia acontecer a qualquer momento, desde salvamento entre outros com foco na eficiência, velocidade, eficácia, longevidade e controle (ANGEL, 2011). O Parkour surgiu não apenas por influência do pai do jovem francês, e seus irmão bombeiros, mas sim pelas experiências esportivas que vivenciou com o grupo (PARKOUR WORD ASSOCIATION, 2005). Surgia então em 1997, a primeira associação Yamakasi (termo de origem africana, significando corpo forte, espírito forte), composta por David Belle, Sébastien Foucan, Yann Hnautra, Frederic Hnautra, Charles Perrière, Malik Diouf, Guylain N’Guba-Boyeke, Châu Belle-Dinh e Williams Belle, tendo como objetivo disseminar a arte e atribuir nomes aos principais movimentos que hoje constituem a base do Parkour. Assim David e seu grupo começaram a nomear todos os movimentos do esporte e seus obstáculos. O consenso foi que chamariam Parkour aos percursos que faziam na procura do caminho mais útil entre dois pontos (ANGEL, 2011; GAMA, 2008).

O Parkour no Brasil

    Não existem indícios certos sobre sua chegada ao Brasil. Alguns estudos afirmam que sua popularidade no país se deve em grande parte pelos vídeos na Internet, não existindo assim registros de um possível embaixador (LEITE et al. 2011). A partir dai, surgiram propostas que o Parkour despontou no Brasil quando o psicanalista Eduardo Bittencourt, conheceu o esporte na Internet, em 2004 ou até mesmo jovens de São Paulo e Brasília nessa época influenciados pelos vídeos já citados que posteriormente passaram a estudar sua filosofia e aventurar-se nesse esporte (ASSIS; 2007). Conseqüentemente formando em São Paulo o grupo conhecido como Le Parkour Brasil e em Brasília, a Associação Brasileira de Parkour. Em julho de 2004, a primeira comunidade brasileira de Parkour foi criada em forma de comunidades virtuais, intitulada Le Parkour Brasil. Como em todo esporte radical, devido as suas características de liberdade de expressão e uso do ambiente urbano de forma não convencional como desafio, no Brasil a prática causou polêmica e seus praticantes freqüentemente chamados de vândalos (BIANCHI, 2008; ASSIS, 2007).

O praticante

    São conhecidos como tracer/traceur, o praticante do sexo masculino e traceuse do sexo feminino, que significa traçar ou ir rápido (BIANCHI, 2008). É sabido que o Parkour envolve espírito de cooperação entre seus praticantes para superação de obstáculos de caráter físico, cognitivo e emocional além da luta contra o próprio medo (BELLE, 2006). O tracer tem um propósito e sobre ele aplica disciplina mental, mudando assim a sua perspectiva de ver o mundo e seus obstáculos. Assim, os desafios, tornam-se menores diante dele. (DJORDJEVIC, 2006). Algumas emoções são evidentes no Parkour, visto que o medo, coragem autoconfiança, autoestima, e insegurança, entre outras, fazem parte do cotidiano desses atletas (MILLER, DOMOINY, 2008). Djordjevic em 2006 relata que a mensagem do Parkour trata-se da união e aceitação de ambos os sexos de todas as raças, além do fato de que qualquer um pode ser um tracer. A persistência e paciência são algumas das características desenvolvidas por eles. O controle das emoções, a tarefa a realizar, o ambiente e a etapa psicológica na qual o indivíduo se encontra são fatores importantes e presentes para a realização plena do movimento seguido do sucesso.

    Ao se deparar com um obstáculo físico, é feita uma avaliação de restrições que se divide entre: do indivíduo, e sua capacidade de realizar o movimento, do nível de complexidade e do tipo ambiente, novo ou já habituado (BELLE, 2006). Todos esses itens são avaliados visando garantir a segurança e a melhor execução do movimento. Pode-se dizer que a sociabilização é também uma característica do Parkour, pois há nos tracers os sentimentos de altruísmo, de ajuda mútua, integração social, além de instrutores sempre preocupados em ensinar as técnicas dos movimentos, métodos de treinos, a filosofia, além do método de vida do tracer (BIANCHI, 2008).

Conclusão

    Os esportes radicais sofrem uma barreira significativa para sua expansão: não possuem modalidades olímpicas que englobem todas suas práticas e dependem de Comitês e Associações para organizar competições, restringindo conseqüentemente sua visibilidade e possibilidade de entendimento pelo público. O Parkour põe em prática as habilidades do tracer em situações reais, mesmo que em uma representação que oferece menor risco. Simulando situações de perigo, desenvolvendo habilidades motoras e cognitivas. Estimula a postura crítica, com foco no altruísmo e prepara o praticante para enfrentar situações reais. É fato que os novos modos de práticas esportivas que surgem, levantam a necessidade de compreensão da cultura e dos sentidos dos seus praticantes, pois rompem barreiras ao nível de sua representação nos meios de comunicação, aumentando sua popularidade. O Parkour propicia atividades de lazer significativas de interação, funcionando como uma válvula necessária ao estresse gerado por nossa Civilização Moderna. Portanto, é necessária a existência de Políticas Públicas que regulamentem e disseminem a prática desta modalidade, excluindo a barreira social existente, permitindo que todas as esferas sociais se favoreçam com os inúmeros benefícios provenientes de sua consecução. Para garantir a continuidade da propagação dos fatores positivos destas espécies de esporte, é de fundamental importância que a profissionalização crescente de alguns tipos de esportes radicais não restrinja a ludicidade e o espírito de jovialidade e de aventura que norteiam estas práticas. Conclui-se que Parkour é fundamental para definir sua identidade dentro do contexto de esporte radical entretanto o presente texto possui limitações teóricas e técnicas considerando a escassez de informações acadêmicas da modalidade.

Referências

  • ANGEL, J. Ciné Parkour. França: Brighton, 2011.

  • ASSIS, V. L. Le Parkour: uma atividade física contemporânea com um prisma holístico. Associação de Parkour da Grande ABC – PKABC, 2007. Disponível em: http://www.pkabc.com.br/artigo_2.htm. Acesso em: 3 out. 2014.

  • BELLE, J. F. L’initiateur Raymond Belle. 2006. Disponível em: http://www.wmaker.net/parkour/Raymond-Belle_r4.html. Acesso em: 20 set 2014.

  • BIANCHI, J. O Parkour. O desenvolvimento do indivíduo que pratica essa atividade física. São Paulo, 2008. Disponível em: http://jupersonal.freevar.com/artigo_parkour.html. Acesso em: 29 out. 2014.

  • BITTENCOURT, E. Sobre o Parkour. Associação de Parkour da Grande ABC –PKABC, 2008. Disponível em: http://www.pkabc.com.br/artigo_6.htm. Acessoem: 30 out. 2014.

  • DJORDJEVIC, D. O espírito do Parkour, 2006. Disponível em: http://blog.parkour.com.br/2006/05/o-esprito-do-parkour-o-texto-abaixo/. Acesso em: 23 out. 2014.

  • GAMA, J. Como apareceu o Parkour, 2008. Disponível em: http://www.parkour.pt. Acesso em: 15 OUT. 2014.

  • LEITE, N. et al. Perfil da aptidão física dos praticantes de Le Parkour. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 17, n. 3, p. 198-201, 2011.

  • MILLER, J. R.; DOMOINY, S. G. Parkour: a new extreme sport and a case study. Journal of Foot and Ankle Surgery, v. 47, n. 1, p. 63-65, 2008.

  • PARKOUR WORD ASSOCIATION – PAWA. Articules – Le Parkour, France, 2005. Disponível em: http://parkour.net. Acesso em: 23 out. 2014.

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