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Análise dos efeitos fisiológicos da atividade física em crianças

Estudio sobre los efectos fisiológicos de las actividades físicas en niños

 

Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Karoline Brotto

mariagisele@yahoo.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar a vasta gama de publicações acerca da fisiologia infantil, assim como os efeitos e reflexos da atividade física durante o amadurecimento e preparação para a vida adulta. O enfoque neste tema é pouco valorizado e abordado, porém tem vital importância na militância do profissional de educação física, pois para se trabalhar com o corpo, indispensável conhecê-lo muito bem. Essencial esse estudo mais profundo, especialmente em se tratando da fisiologia de crianças que possuem pela frente toda uma expectativa de vida, primeiramente pré-adolescente, adolescente e adulta e, finalmente, à terceira idade. Os reflexos desse conhecimento hoje basilar serão sentidos e vividos por toda a existência futura da criança, eis que da sua visão e postura perante essa dádiva que é o corpo humano, dependerá sua qualidade de vida. Partindo deste princípio, o objetivo específico deste trabalho é esclarecer quais os efeitos fisiológicos da atividade física em crianças, definir os níveis de desenvolvimento (maturação) dos indivíduos para assim, tornar-se possível uma prática mais efetiva de orientação e exercícios próprios para cada faixa etária com que se deseja trabalhar. Observando obras de diversos autores, conclui-se que a tendência é a concordância em relação à evolução da criança e os cuidados a serem tomados quando da aplicação de atividades físicas intensas, observando as fases do desenvolvimento, a maturação sexual, o consumo energético e suas deficiências, além das particularidades fisiológicas e estruturais que levam a uma diferenciação nos processos de produção de energia.

          Unitermos: Atividade física. Fisiologia. Crianças. Educação Física.

 

Recepção: 16/08/2014 - Aceitação: 09/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Conforme já aduzi, não gostaria de ser apenas mais uma profissional da Educação Física, mas alguém que possa trazer benefícios à população alvo de minha carreira e, quiçá, ser lembrada servindo como exemplo a muitos que passarão parte importante de suas vidas em uma convivência que espero seja salutar e marcante para mim e meus futuros alunos.

    Vivemos na geração do sedentarismo. A cada dia, os indivíduos estão diminuindo mais suas práticas corporais cotidianas e ao mesmo tempo, aumentando a ingestão de alimentos bastante calóricos e pouco nutritivos.

    O resultado não poderia ser diferente: os índices de saúde e qualidade de vida são afetados negativamente. A maior preocupação é que esse processo já não tem mais diferenciações quanto à faixa etária e hoje, já está evidenciada entre crianças e adolescentes.

    A atividade física é aliada na promoção da saúde, pois provoca importantes modificações na composição corporal e na massa magra do indivíduo, sendo assim, é importante fator no controle do sobrepeso em crianças e adolescentes.

    Segundo Rowland (2008) a massa corporal representa o volume do tecido metabolicamente ativo e deveria refletir as diferenças em variáveis como o volume muscular, o tamanho do coração, o comprimento da passada e a produção de calor corporal.

    Tourinho e Tourinho Filho (1998) afirmam que durante o período escolar inicial, meninos e meninas desenvolvem-se de maneira similar, havendo poucas diferenças entre sua estatura, peso e tamanho do coração e pulmões.

    Rose (2002) salienta um importante fator no processo de crescimento e desenvolvimento do metabolismo da criança: as necessidades energéticas, que podem ser alcançadas por diferentes vias metabólicas.

    Segundo Abreu e Rodrigues (2008) as vias energéticas são utilizadas para a produção de energia do indivíduo e podem ser classificadas em três tipos: a via anaeróbica alática, que consiste em atividades intensas de curta duração; a via anaeróbica lática, representada por atividades intensas e mais prolongadas) e a via aeróbica, caracterizada por atividades de longa duração, contínuas e de baixa/moderada intensidade.

    Para Lazzoli et al (1998), ocorre um aumento de VO2máx. em termos absolutos ao longo da idade em relação à potência aeróbica.

    Esse aumento do VO2máx. está intimamente relacionado ao aumento da massa muscular do indivíduo. Já a potência anaeróbica aumenta em relação à idade em proporção maior do que o aumento da massa muscular, evidenciando um efeito da maturação sobre o metabolismo anaeróbico. Vale ressaltar que a capacidade de produzir lactato (fornecimento de energia sem a presença de oxigênio) é menor na criança do que em adultos.

    Segundo Toigo (2007) a prática de atividade física regular na vida adulta é em grande parte dos casos reflexo dos hábitos de vida ativa adquiridos na infância. Seguindo essa linha de raciocínio, Lazzoli et al (1998) reforçam que a atividade física deve ser prioritária na infância e na adolescência, além de apontarem que os princípios de respostas fisiológicas ao exercício são os mesmos para crianças, adolescentes e adultos, com algumas particularidades a que devem ser respeitadas:

(a) ocorre um aumento do VO2máx em termos absolutos ao longo da idade, o qual está intimamente ligado ao aumento da força, isto é, o VO2máx/kg de peso corporal permanece constante com a idade para os meninos, mas há um declínio progressivo do VO2máx/kg de peso corporal em meninas;

(b) a potência anaeróbica não difere entre meninos e meninas antes da puberdade, mas aumenta proporcionalmente mais nos meninos após a puberdade por diferenças hormonais;

(c) crianças recuperam mais rápido do que adultos por que apresentam menor produção de lactato;

(d) crianças tendem a ter menos sede do que os adultos em razão das características diferenciadas de termorregulação e, por essa razão, tendem mais facilmente à desidratação.

(TOIGO, 2007, p. 47).

Processo de crescimento do indivíduo

    “Do nascimento até a idade de 17 ou 18 anos aproximadamente, o indivíduo encontra-se no período de crescimento pós natal, que consiste na extensão de tempo disponível para a maturação dos processos biológicos até o estado adulto. O período de crescimento do ser humano é maior em relação ao tamanho corporal em função da fase de crescimento inicial ser extremamente longa, sendo considerada do nascimento até o início do estirão de crescimento na adolescência.” (Rowland, 2009, p. 22).

    Rowland (2009) explica as mudanças seculares que podem ser observadas com relação à maturação do crescimento. Os padrões de crescimento em crianças nos últimos anos tem indicado um aumento progressivo na estatura e peso, além de uma aceleração no processo de crescimento do indivíduo.

    Rowland (2009) ainda comenta de maneira geral que um grande indicador do ritmo acelerado em que se encontra o processo de maturação biológica que pode ser facilmente notado é o início precoce da menarca.

    Ao passar dos dias, cada vez a população jovem desenvolve-se com mais rapidez, levando em conta aspectos nutricionais - alimentação, sociais – relações interpessoais e familiares – necessidade de ser autosuficiente pela exigência do ritmo frenético em que vivemos.

    Fatores como o GH (hormônio do crescimento), fatores ambientais, influências genéticas, insulina (reguladora da glicose), hormônio da tireóide, idade cronológica X biológica, dentre outros fatores, são determinantes influenciadores dos fatores de crescimento nas crianças.

    Segundo Haywood e Getchell (2010) a altura segue um padrão sigmóide de crescimento – ocorre um acelerado aumento na primeira infância, diminuindo aos poucos para um crescimento constante na segunda infância, com outro aumento rápido observado durante o estirão de crescimento no período da adolescência, seguido por uma diminuição gradativa até o final do período de crescimento do indivíduo.

    No que diz respeito ao peso, seu aumento segue o mesmo padrão da altura: rápido aumento na primeira infância, aumento moderado na segunda, estirão no início da puberdade e, então, aumento constante que diminui aos poucos no final do período de crescimento.

    Vale ressaltar que diversos fatores extrínsecos influenciam diretamente no peso do indivíduo (dieta, exercícios, doenças, dentre outros fatores).

Efeitos fisiológicos da atividade física em crianças

    Segundo Weineck (2003) no que diz respeito à capacidade aeróbica, o organismo infantil e jovem apresentam uma grande capacidade de adaptação (inclusive com fatores relacionados à resistência). Crianças com idade entre 5 a 12 anos atingem 41-55% do consumo máximo de oxigênio nos primeiros 30 segundos de uma atividade física sob carga máxima.

    “Em oposição à capacidade aeróbica, comparando-se a capacidade anaeróbica de resistência em crianças, observa-se que esta se apresenta mais limitada que a capacidade aeróbica. A capacidade anaeróbica em crianças apresenta melhoria em função da idade e do crescimento. A capacidade de desempenho anaeróbico absoluto de uma criança de 8 anos é de 45-50% (relativo ao peso corporal). Em atividades que a predominância é a utilização da via anaeróbica alática, a concentração de ATP e CP na musculatura da criança não difere significativamente da observada em indivíduos adultos, o que sugere que a capacidade de realizar atividades intensas e curtas é bem desenvolvida na criança.” (Abreu e Rodrigues, 2008, p. 3)

    Para Waldo (1997) crianças possuem coração, pulmão e volume sangüíneo menores, sendo assim, não possuem o VO2máx completamente desenvolvido.

    Segundo Barbanti (1997) o termo atividade física consiste em uma totalidade de movimentos executados no contexto dos esportes, aptidões físicas, recreação, brincadeira, jogo e exercício. Em suma, é todo movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que conseqüentemente acabam por provocar um gasto de energia.

    O exercício tem influência sobre os estoques calóricos e compete com a demanda energética do crescimento normal pelos nutrientes disponíveis. Por meio de “roubo calórico”, a atividade física pode, então, potencialmente prejudicar o crescimento sobre uma base nutricional sólida.

    Villares, Ribeiro e Silva (2005) descrevem que há menor capacidade cardiorrespiratória nas crianças e/ou adolescentes, por sua vez apresentam menor volume sistólico, menor débito cardíaco e menor capacidade respiratória.

    “A atividade física serve como um potente estímulo para a produção de fatores de crescimento. Porém, os mecanismos por trás dessa ação – tal como suas implicações para o crescimento positivo – ainda não foram esclarecidos. A atividade muscular gera estresse mecânico local, ativando o crescimento musculoesquelético. Em alguns casos, agentes intermediários apócrinos e autócrinos podem mediar esse processo.“ (ROWLAND, 2009, p. 34).

    Segundo Vieira (1989) os sistemas fisiológicos possuem alto grau de adaptação à atividade física. A resposta de cada sistema é discreta: para realizar um trabalho pesado em ambiente quente, é necessário um ajuste nos mecanismos de termorregulação corporal. Cada tarefa tem seus componentes fisiológicos principais, para executá-la, o organismo requer o funcionamento efetivo dos sistemas pertencentes.

    Lawther (1972) ressalta que o amadurecimento fisiológico precoce parece ser acompanhado de muitos desenvolvimentos favoráveis da personalidade do indivíduo, dentre eles, pode-se citar como exemplos a liderança, estabilidade social, agressividade, personalidade estável, maturidade emocional.

    Segundo os autores Mathews e Fox (1983) uma atividade física só terá efeito se alcançar um limiar mínimo de intensidade, sendo que este varia de indivíduo para indivíduo, e está intimamente envolvido com o nível de aptidão física.

    Quando se aplica uma carga de esforço, (uma vez que ela seja de uma intensidade capaz de produzir adaptações) o organismo se comporta de uma maneira típica e bem definida ao recebê-la. A intensidade e duração do esforço não afetam apenas o gasto energético total, mas, também, o substrato energético utilizado no metabolismo celular.

    Para Geithner et al (2004) um maior gasto energético gerado pela prática regular de atividade física pode proporcionar reduções significativas na quantidade de gordura corporal, independentemente da faixa etária e sexo do indivíduo.

    Segundo Lazzoli (2006) além de reduzir o risco da obesidade e de doenças cardiovasculares, a atividade física também exerce efeitos benéficos a longo prazo, como por exemplo ampliação no repertório locomotor.

    Para Alves (2003) a atividade física na idade escolar proporciona mais saúde, menos excesso de peso, melhor performance cardiovascular além de uma melhor densidade óssea.

    Oliveira (2006) ressalta que a atividade física contribui para a redução de gordura, aumento da massa muscular e aumento da densidade óssea, além de proporcionar o aumento das potencialidades físicas, psíquicas e sociais.

    Para Figueiredo (1994) a prática física regular faz com que o percentual total de massa gorda corporal diminua e, em contrapartida, permite incrementar a massa corporal total, com incidência significativa sobre a massa magra.

    Segundo Ctenas e Vitolo (1999) a prática regular de atividade física condiciona o coração, tonifica os músculos, ajuda a manutenção do peso, favorece a saúde óssea e proporciona bem-estar mental e integração social.

Considerações finais

    Com base no que foi proposto no presente estudo, algumas conclusões podem ser realizadas. A atividade física para crianças não pode e nem deve ter caráter punitivo, pelo contrário, deve consistir em uma prática prazerosa.

    As contribuições da atividade física regular e contínua nos aspectos físicos e mentais do indivíduo são bem claros e irrefutáveis. Na sociedade em que vivemos, pouco tem sido a importância dada à necessidade de se manter o corpo em movimento. Para que o bem estar do indivíduo na infância prevaleça com hábitos saudáveis na fase adulta, seu incentivo deve ser estimulado desde cedo. Ser fisicamente ativo desde a infância representa muitos benefícios nas esferas motora, afetiva e cognitiva.

    Contemplando todas as falas dos autores utilizados para a realização do presente estudo, é possível concluir que aspectos como aumento da massa magra, termorregulação, desenvolvimento das performances anaeróbia/aeróbia, produção de fatores de crescimento, fortalecimento ósseo e muscular, aumento da capacidade cardiorrespiratória, dentre outros, são fatores que representam alguns dos efeitos fisiológicos da atividade física nas crianças.

Referências

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