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Educação Física escolar no ensino médio. A sistematização
dos conteúdos como a principal dificuldade encontrada
pelos professores de Educação Física escolar

La Educación Física escolar en la escuela media. La sistematización de los contenidos 

como la principal dificultad encontrada por los profesores de Educación Física escolar

 

Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO

(Brasil)

Daniel Faria Campos

Leíza Cristina Braga de Moraes

Segundo Marcus Vinicius Mecias Pinheiro

Vinicius Reis Rodrigues de Souza

softdaniel@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este texto procura ressaltar uma das dificuldades encontradas pelos professores de Educação Física no ensino médio, que normalmente são desmotivantes a prática das atividades físicas. Procuramos relatar a experiência obtida em uma escola pública de Goiânia, onde todos esses problemas foram observados. Sistematizar os conteúdos da Educação Física Escolar seria o ato de organizá-los de forma coerente em seus diferentes níveis de ensino. Sendo assim nos procuramos na literatura um meio de explicar e auxiliar os professores que tem dificuldade com a sistematização dos conteúdos. Concluindo, pode-se notar que o processo de organização curricular da Educação Física deve ser pensado na forma de estruturar os diferentes elementos da cultura corporal de movimento de forma dinâmica, considerando a realidade escolar envolvida.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Sistematização. Conteúdos.

Recepção: 05/11/2014 - Aceitação: 02/12/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A educação tem sido caracterizada como a área que mais enfrenta desafios e conflitos políticos e econômicos em uma sociedade que esta em constante mudança. A Educação Física escolar que faz parte do componente curricular também sofre muito com esses diversos problemas sociais. Encontramos em nossa pratica de estágio algumas dificuldades que se mostraram muito comum na maioria das escolas públicas de Goiânia, que estão relacionadas com os conteúdos e a infraestrutura. Sendo esse o objetivo deste trabalho de conclusão de curso fazendo uma revisão de literatura onde possamos nortear a nossa prática na escola. A Educação Física possui um vasto conteúdo formado pelas diversas manifestações corporais criadas pelo ser humano ao longo dos anos. São eles jogos, brincadeiras, danças, esportes, ginásticas, lutas, etc. Este conjunto de práticas tem sido chamado de cultura corporal de movimento, cultura corporal, cultura de movimento, etc. Por se tratar de um conjunto de saberes diversificado e riquíssimo, existe a possibilidade de transmiti-lo na escola, porém não é o que se observa na maioria das aulas de Educação Física. (BETTI, 1991; BRASIL, 1998).

    Contudo, mais recentemente, observam-se também alguns docentes mais preocupados com os novos rumos da Educação Física escolar, os quais que vêm se atualizando buscando construir propostas pedagógicas que considerem esse novo papel atribuído à Educação Física, qual seja, a integração do aluno na esfera da cultura corporal de movimento (BETTI, 1991; BRASIL, 1998). Outro fator que foi muito observado em nossa prática escolar foi o fato da infraestrutura precária para a prática das aulas de Educação Física o que refletia também na aplicação dos conteúdos. Neste sentido este estudo buscou desvelar estas experiências, ou seja, procurou-se conhecer o trabalho de alguns professores de Educação Física e a forma como vêm realizando a sistematização dos conteúdos, embora reconheçamos que cada escola esteja inserida numa determinada realidade diferente dos demais.

    O objetivo deste estudo foi investigar alguns princípios básicos sobre a sistematização dos conteúdos na Educação Física escolar e as dificuldades que os professores experientes enfrentam na sua prática pedagógica de Ensino Médio.

    Na Educação Física poucos autores se posicionaram quanto à questão da sistematização dos conteúdos. DAOLIO (2002) é um dos poucos deles. Na opinião deste autor, é um equívoco imaginar que todas as escolas devam trabalhar com um mesmo currículo fechado e inflexível, desconsiderando o contexto no qual está inserida. Por isso o autor não concorda com a sistematização de conteúdos na Educação Física, nos mesmos moldes das outras disciplinas. DAOLIO (2002) defende a necessidade de planejamentos quando estes são tomados como referência, e não como verdade absoluta; atualizados constantemente, construídos e debatidos com os próprios alunos, relacionados com o projeto escolar, enfim, dinâmicos e mutantes, considerando os contextos onde serão aplicados. Portanto na visão da maioria desses autores o professor deve perceber a realidade da escola para que possa refletir debater e contextualizar ate que consiga a sistematização do modelo da qual a sua escola esteja inserida. Já KUNZ (1994), que entende a elaboração de um programa mínimo poderia resolver a bagunça interna de nossa disciplina, um programa de conteúdos baseados na complexidade e com objetivos definidos para cada série de ensino. Esse programa traria opções para o professor que, por exemplo, programa um mesmo conteúdo, com a mesma complexidade tanto para a 5ª série quanto para o ensino médio.

    O professor de Educação Física acaba enfrentando muitas dificuldades no processo de ensino-aprendizagem de seus alunos, principalmente em escolas públicas. Dificuldades que muitas vezes acabam desmotivando esse profissional. Na visão de ALVES (2007) que expõe diversos fatores que desmotivam os alunos à prática de Educação Física, como a metodologia de ensino inadequada, conteúdos que não favorecem a aprendizagem, relacionamento professor-aluno, postura desinteressada do educador, falta de coordenação de área, orientação, supervisão ou direção da escola e a ausência de significado sobre o real papel da Educação Física no contexto escolar que identifique o professor.

2.     Referencial teórico

    A sistematização dos conteúdos da educação física tem a finalidade de ajudar no planejamento das diferentes formas de cultura corporal e aos diferentes níveis de ensino organizadamente. Alguns autores entendem a sistematização dos conteúdos como a forma mais concreta para alcançar os seus objetivos.

    Segundo ZABALZA (1994):

    A temática dos conteúdos de ensino (saber escolar ou conhecimento escolar) encontra-se permanentemente em discussão. Quando falamos em conteúdos escolares não podemos apenas resumir ao “o que ensinar?”, devemos envolve outras questões referentes aos objetivos da escola, como o “para que ensinar?”. (p. 14)

    Atualmente a educação física vem sendo aplicada como uma matéria extracurricular ou a matéria que é de recreação para os alunos, que não sabem que a educação física tem uma importância fundamental para a formação social e do conhecimento corporal que é de grande importância para todas as pessoas. O desafio para a Educação Física nesse momento é, então, seguir como prática educativa, devendo ir ao encontro dos objetivos definidos em cada proposta pedagógica sem perder a especificidade da área. Junto com os demais componentes curriculares a Educação Física está definida, na Educação básica, como portadora de um conhecimento capaz de fazer alunos de diferentes sexos, faixas etárias, religiões e etnias, viverem a sua cidadania de maneira autônoma.

    O autor ZABALZA (1994), explica que:

    As dimensões assumidas hoje classificam a programação escolar em quatro tipos de currículos. O primeiro encontra-se centrado nas disciplinas e aprendizagens formais; o segundo está centrado no aluno; o terceiro é denominado de crítico e o último de tecnológico e funcional. (p. 10)

    O modelo de aprendizagem formal para o autor é o mais presente na nossa sociedade. No segundo modelo de aprendizagem centrado no aluno tem uma característica mais humanista e não tem uma grande curricular definida os alunos aprendem. No modelo de aprendizagem critica os conteúdos são programados para desenvolver uma mudança consciente e social, intencionalmente e levando em consideração a condição social de cada aluno. E o ultimo modelo citado pelo autor que é o modelo tecnológico funcional está fortemente ligado ao conceito de uma educação eficaz refletida por uma maior “cientificidade”, o professor não deve preocupar-se apenas com o conteúdo a ser explorado, mas com que recurso didático metodológico.

    Esses quatro modelos são utilizados como norteadores para a prática do ensino, até alcançar os determinados objetivos, sendo necessário ser definido inicialmente aonde se quem chegar à aprendizagem, antes mesmo de uma sistematização dos conteúdos. Outro fator que foi visto nessa revisão foi o fato de alguns autores especificarem que nas outras matérias como Matemática, Ciências e Português os livros didáticos que são responsáveis pelas sistematizações dos conteúdos, pois alguns professores seguem do inicio ao fim os conteúdos.

    Como explica ROSÁRIO et al. (2003):

    Os entrevistados destacam que os livros didáticos são seguidos à risca pelos professores, sendo os autores os responsáveis pelas decisões sobre a sistematização. Muitas pesquisas e tentativas de se mudar essa organização já foram propostas, porém a resistência dos professores de Ensino Fundamental e Médio é muito forte, mantendo o uso dos livros com a organização tradicional. (p. 12).

    DARIDO (2005) pensa de uma maneira contraria aos professores e explica:

    Mas o livro didático não precisa ser assim, ele também pode ser construído e empregado de outra forma, como um recurso de auxílio ao professor. Através de estudos, pesquisas e debates podemos chegar até um conjunto de conhecimentos elaborados cientificamente, capaz de superar todos esses problemas destacados nas demais disciplinas e, por fim, levar ao professor um documento de auxílio para a sua prática pedagógica. (p. 4)

    Através da revisão bibliográfica foi percebido que são poucos os autores da Educação Física que trazem o assunto em suas publicações, que já é falha na sua organização e a pesquisa sobre esse determinado assunto, seria de grande importância para os estudos dos profissionais de se buscar um avanço pedagógico na área. Alguns autores destacam como seria feita os princípios para os processos de seleção dos conteúdos (SOARES et al. 1992).

    A sua relevância social: no qual o aluno será capaz de compreender os conteúdos escolares dando sentido e significado à sua realidade;

    O princípio da contemporaneidade: no qual haverá necessidade de se inserir, na organização curricular, os conteúdos mais atuais no âmbito nacional e internacional.

    ZALBALZA (1994) descreve dez critérios que devem ser seguidos para a preparação e seleção dos conteúdos escolares:

Revisão de literatura: rever literatura especializada e geral da área a se atuar, procurando estabelecer conceitos básicos dos conteúdos que se pretende abordar;

Identificação dos conteúdos axiais (conteúdos relativos ao eixo, à área) visão ampla da área, o professor sendo então capaz de discriminar o que será fundamental e o que será secundário em sua disciplina;

Processo experiencial: optar por um modelo de intervenção indutiva baseado em hipóteses (onde não há esquemas prévios);

Critério de representatividade: aqui o professor deve certificar-se que os conteúdos escolhidos (parte) representam uma boa ideia do conjunto (todo);

Critério de exemplaridade: importância da estratégia nos campos de conhecimento para a organização dos conteúdos;

Significação epistemológica: respeitar a estrutura própria de cada disciplina;

Transferibilidade: privilegiar conteúdos com maior capacidade de aprendizagens generalizáveis, onde o aluno conseguirá transferir conceitos de determinados temas para outras situações (diferentes do contexto onde ele aprendeu);

Durabilidade: utilizar o que é fundamental, o que é necessário e que apresente maior durabilidade;

Convencionalidade: e consenso: selecionar os conteúdos importantes e válidos para a sociedade em que os aplicará não fazer dos conteúdos escolhidos uma forma de confronto com a sociedade (exemplo: educação religiosa e sexual);

Especificidade: elencar conteúdos que sejam específicos para a sua disciplina, conteúdos estes que dificilmente serão abordados por outras disciplinas e em outros momentos.(p.20)

    Sendo assim para ZABALZA (1994) a sistematização dos conteúdos deve ser selecionada e organizada de forma coerente ao longo dos anos escolares.

    Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNs (BRASIL, 1998), baseados em ZABALA (1998), os conteúdos podem ser apresentados segundo suas categorias, que são:

    Conceitual ligado a fatos, conceitos e princípios, ou seja, trata na Educação Física além das questões de regras, táticas, história e recordes, do entendimento de como e porque realizamos movimentos corporais, como se constitui uma dança, dos motivos que levam as pessoas à prática de esporte, das mudanças de nosso organismo a curta e longo prazo com a prática de atividades físicas, etc.

    A categoria procedimental é ligada ao fazer, ou seja, trata do aprendizado e execução de gestos esportivos, dos movimentos rítmicos, dos movimentos de lutas, da elaboração de uma partida esportiva, do trabalho em grupo para a criação de novas regras e jogos, etc.

    A categoria atitudinal é vinculada a normas, valores e atitudes. É tratada através de leituras, discussões, debates, vivências em atividades que tragam à tona temas como a violência, a cooperação, a competição, o coletivo, a justiça, a autoridade, o respeito e como tudo isso aparece na cultura corporal de movimento e na sociedade.

    Daólio (1996) propõe a seguinte sistematização da Educação Física Escolar na educação básica:

  1. Para as séries iniciais do Ensino Fundamental, os conhecimentos da cultura corporal de movimento devem compor-se basicamente de forma vivencial, os alunos devem vivenciar variadas formas de movimento; o aluno deverá realizar compreender e dar significado aos movimentos executados.

  2. Nas séries intermediárias do Ensino Fundamental (até a sexta série), o professor deverá priorizar o desenvolvimento e reconstrução de técnicas esportivas, ginásticas e de dança; mas não de forma padronizada. Assim, o professor deverá utilizar vários elementos e complementos para que o aluno construa e reconstrua diversas situações, tornando a aprendizagem mais significativa.

  3. Final do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio: deve-se ampliar os objetivos da Educação Física. Nesta fase os alunos, além de vivenciar a cultura corporal de movimento, devem compreendê-la, criticá-la e transformá-la. Além disso, o autor indica para o Ensino Médio o trabalho com temas nos quais os alunos possam estudar e aplicar seus conhecimentos. (p. 24, 25)

3.     Metodologia

    Utilizamos neste artigo a revisão de literatura para que nós conseguíssemos atingir os determinados objetivos. A revisão de literatura tem papel fundamental no trabalho acadêmico, pois é através dela que nós situamos o nosso trabalho dentro da grande área de pesquisa da qual faz parte, contextualizando-o. Essas informações foram obtidas através da revisão bibliográfica. Identificando os princípios para a sistematização dos conteúdos da Educação Física. Analisando a Educação Física em dados de pesquisas, relatos de situações e argumentos, mostrando quais as dificuldades enfrentadas pelos professores. Analisando propostas pedagógicas na literatura da área que oferecem subsídios para a sistematização do conteúdo da Educação Física escolar. Pois ao citar uma série de estudos prévios que servirão como ponto de partida para nossa pesquisa, assim fomos “afunilando” sua discussão. Através da revisão de literatura, nos reportamos e avaliamos o conhecimento produzido em pesquisas prévias, destacando conceitos, procedimentos, resultados, discussões e conclusões relevantes. Para construir uma revisão de literatura não é muito fácil, pois teve que haver uma leitura aprofundada e intensa de todos os textos que foram utilizados como referência. Dos textos que tomamos com o referencia para esse artigo foi feita uma mediação dos autores que abordam o determinado tema. Explicando as citações e no que contribuíram para a nossa pesquisa. (SANTOS, 2006).

4.     Conclusão

    Ao final dessa revisão foi percebido que pela fala de muitos autores, os conteúdos da educação física escolar existe uma sistematização por parte dos PCNs mas não existe um comprimento por parte dos professores, até pelo fato da escola não ter essa cobrança em relação a isso.

    Outro fator notado foi que os livros didáticos são os maiores responsáveis por essa sistematização nas escolas, em quase todas as matérias, sendo assim o responsável pela sistematização acaba sendo os próprios autores dos livros didáticos, o que não é muito interessante até pelo fato da necessidade de avaliar primeiramente a realidade em que se vivem os alunos. Portanto apresentamos aqui perspectivas e reflexões para as aulas de Educação Física direcionada para a formação do educando. Os conteúdos devem ser pedagogizados com sentidos e significados, e necessitam ser trabalhados de forma integral, proporcionando por sua vez aprendizagens significativas, levando os alunos a aprender a aprender. Destacamos que as aulas de Educação Física não podem ser um apêndice das demais disciplinas e atividades escolares, nem ser um momento subordinado e compensatório para as “durezas” das aulas em sala.

Referencial bibliográfico

  • BETTI, M. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.

  • BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física, 3º e 4º ciclos. Brasília, 1998.

  • DAÓLIO, Jocimar. Educação física escolar: em busca da pluralidade. Revista Paulista de Educação Física, supl. 02, p. 40-42, 1996.

  • DAOLIO, J. A cultura da/na Educação Física. 2002. 112 f. Tese (Livre docência) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.

  • KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.

  • ROSÁRIO, Luís F.R.; DARIDO, Suraya C. A sistematização dos conteúdos da educação física na escola: a perspectiva dos professores experientes. Motriz. Rio Claro, v.11, n.13, p. 167-178, set-dez. 2005.

  • SOARES, Carmem Lúcia, TAFFAREL, Celli N.Z; VARJAL, Elizabeth; CASTELLANI FILHO, Lino; ESCOBAR, Micheli O. BRACHT, Valter. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • SANTOS. Apostila de Metodologia Cientifica II. Itapeva, 2006.

  • ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

  • ZABALZA, Miguel A. Planificação e desenvolvimento curricular na escola. Portugal: Edições Asa, 1994.

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