Análise das dificuldades enfrentadas por uma atleta deficiente visual na prática do atletismo: relato de caso Análisis de las dificultades que enfrenta un atleta discapacitado visual en la práctica del atletismo: relato de caso |
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*Pós-graduanda do programa de especialização em esportes e atividades físicas inclusivas para pessoas com deficiência, pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF ** Mestre em Ciências Biológicas - Bioquímica Estrutural e Fisiológica Especialista em Docência do Ensino Superior, Especialista em Tutoria, Graduada em Educação Física e Orientadora de Especialização da UFJF Docente da Rede Municipal de Ipatinga – MG |
Prof. Rozeli dos Passos* Prof. Ma. Wanda Maria de Faria** (Brasil) |
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Resumo O atletismo é considerado esporte base para diversas modalidades, devido suas características de trabalhar variadas habilidades naturais e por ser fundamental no desenvolvimento físico e motor do ser humano. O objetivo do trabalho foi pesquisar as dificuldades de uma pessoa com deficiência visual, praticante de atletismo, após ter desenvolvido uma doença hereditária. A metodologia utilizada foi uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, utilizando o método de relato de caso, e para coleta de dados a entrevista semi-estruturada. O relato de caso trata-se da participante S.M.P.S.B, 56 anos, sexo feminino, moradora da cidade Coronel Fabriciano/Minas Gerais, que veio a desenvolver a doença hereditária mácula degenerativa diagnosticada aos 18 anos de idade, hoje atleta do departamento de atletismo,da Associação Esportiva e Recreativa Usipa, nas provas de marcha atlética e fundo. Os resultados mostram que existe discriminação com relação à deficiência da mesma, tanto no ambiente de trabalho quanto nos demais ambientes. As dificuldades financeiras também são fatores que interferem na prática da modalidade de atletismo. Em relação aos afazeres domésticos e cuidados pessoais, consegue desenvolver, mas depende de outras pessoas para ajudar. A prática do esporte possibilitou a mudanças positivas em relação à estrutura física, mental e psicológica, além de minimizar a progressão da doença da participante. Unitermos: Atletismo. Dificuldades. Deficiência visual.
Recepção: 15/11/2014 - Aceitação: 06/12/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Considerado como um importante esporte-base para diversas modalidades esportivas, o atletismo se destaca devido às suas características de trabalhar as habilidades naturais do ser humano, como correr, saltar e arremessar e por ser fundamental no desenvolvimento físico e motor dos indivíduos que o praticam (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO, 1989).
Segundo Agrícola (2007), entre essas habilidades naturais do ser humano, é o esporte que tem uma maior aceitação e legitimidade no contexto social atual, despertando sentimentos, atitudes, comportamentos e reações, como força e fenômeno social.
De acordo com Oliveira (2006), para compreender o atletismo é necessário adaptar os materiais, modificar as regras, diminuir distância, diminuir alturas, variar pesos, usar jogos e brincadeiras, principalmente quando se fala na pessoa com deficiência visual, a qual a sociedade traz consigo diversos estereótipos, que de acordo com Ribas (1986), “homens não somos também socialmente todos iguais”, apresentamos diferenças fisicamente em relação às características de cor, tamanho, habilidades, comportamento, inteligência, cultura e, portanto, quanto às pessoas deficientes não é diferente, talvez seja mais percebido devido à deficiência ou a seqüela que apresenta.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2005), a deficiência pode ser definida por qualquer “perda ou anomalia da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica de uma pessoa”. Segundo Gargiulo (2005), a deficiência visual pode ser entendida como a perda total da visão, cegueira, ou como baixa visão, denominada por alguns autores visão subnormal.
Ao se pensar na pessoa com deficiência visual praticando atividade física visando o alto desempenho, logo vem à cabeça o sedentarismo, através da percepção da sua limitação visual ou pela ausência de estímulos quando a doença é adquirida (WILLIANS et al. 1996). Segundo o Comitê Olímpico Espanhol (1994), o maior problema para atingir a performance esportiva não será a ausência de uma carga genética adequada para a prática de um determinado esporte, mas sim a falta de uma estimulação em seus momentos adequados, o que afirma Zakarov (1992), onde a falta deste estímulo causará uma redução no nível das capacidades motoras e, também na coordenação, determinando não só a falta de movimento, mas a baixa motivação em sua prática.
Além das barreiras físicas advindas da deficiência, a pessoa deficiente praticante de atividade física sofre ainda com as barreiras sociais, como aponta Matthiesen (2007), como a falta de patrocínio; apoio dos meios de divulgação; ausência de mão de obra qualificada; falta de material específico para o desempenho no esporte adaptado, e a falta de dependências qualificadas e de transporte adaptado, onde Ferreira e Botomé (1984), contextualizam dizendo que “não é possível integrar alguém em uma sociedade cuja estrutura é desintegradora e propensa à marginalização”, concluindo que as pessoas com deficiência têm um importante papel social, que transpõem barreiras até então inatingíveis, pois é no sucesso desses desempenhos que surgem os elementos eficientes para combater o preconceito, a falta de reconhecimento, e a discriminação social.
Diante deste contexto, este estudo tem como objetivo pesquisar as dificuldades de uma pessoa com deficiência visual, praticante de atletismo, após ter desenvolvido uma doença hereditária, da equipe da Associação Esportiva e Recreativa Usipa – A.E.R. USIPA.
Metodologia
O estudo foi realizado na A.E.R. Usipa, com a participante S.M.P.S.B, 56 anos praticante de atletismo nas provas de marca atlética e meio fundo, na cidade de Ipatinga – Minas Gerais, deficiente visual com diagnóstico da doença mácula degenerativa da retina. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, utilizando o método de estudo de caso, considerado segundo Trivinos (1990), um dos mais relevantes tipos de pesquisa qualitativa, que permite realizar investigações em profundidade, de um indivíduo, grupo, instituição ou unidade social.
Segundo Polit e Hongler (1987), ao conduzir um estudo de caso, o pesquisador tenta “analisar e entender as variáveis que são importantes para a história, desenvolvimento, ou cuidado do sujeito ou problemas do mesmo”. Uma das maiores vantagens apresentadas pelo estudo de caso é a profundidade alcançada por este tipo de pesquisa, possibilitando investigar um número limitado de indivíduos, instituições ou grupos. Por outro lado, a maior desvantagem deste método, deve-se ao fato dos dados estarem delimitados a particularidade de um sujeito, que por sua vez não produzem proposições para testar hipóteses (POLIT e HONGLER, 1987).
Para coleta de dados foi utilizado o método de entrevista semi-estruturada, o que segundo Bogdan e Biklen (1994), o investigador percebe a forma como os sujeitos interpretam suas vivências já que ela “é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador uma ideia de como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”. Primeiramente foi realizado um contato com a pessoa a ser pesquisada para apresentação e explicação da pesquisa. Em atendimento ás exigências bioéticas do estudo, a participante foi assegurada do sigilo e convidada a assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Para a manutenção do anonimato da participante foi utilizada as iniciais de seu nome.
A entrevista foi realizada na A.E.R. Usipa, onde a entrevistada realiza seus treinamentos, em data previamente agendada e programada, conforme sua disponibilidade, respeitando sua privacidade. A entrevista foi gravada em fita cassete, utilizando a filmadora Full HD da Multilaser, modelo DC115, de alta definição, tela LCD de 2,4, que filma com áudio, 8x zoom digital, sensor de imagem de 14MP com CD acessório que contém o driver da câmera e fornece o softwere MAGIX Vídeo easy SE / MAGIX Photo Manager 9 para processamento de foto e vídeo. A transcrição da fita realizou-se pela técnica de análise de conteúdo, que segundo Berelson (1952), é uma técnica de investigação para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação, em que o pesquisador respeita com fidedignidade o vocabulário utilizado pela entrevistada e sempre que necessário recorre e aprecia novamente o conteúdo para transcrição exata da entrevista. Os dados foram coletados em Julho 2014.
Relato de caso
Adulto com 56 anos de idade, gênero feminino, encaminhada para o departamento de atletismo da A.E.R. Usipa por um professor de academia, após um teste de resistência. Formada em Zootecnia e Ciências Biológicas, apresenta a doença mácula degenerativa da retina desde 1998, mas com conhecimento de glaucoma desde os dezoito anos de idade. S.M.P.S.B relata que tem vários casos da doença em sua família, inclusive com óbito de cinco pessoas, incluindo o pai, todos seus irmãos também apresentam o glaucoma ou glaucoma e a mácula degenerativa da retina. Um dos motivos relatados é que devido ao grau de parentesco dos seus pais, primos de primeiro grau, tal fator possa ter relação direta com a hereditariedade da doença
Exerce suas atividades profissionais, como professora concursada da Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais – Superintendência Regional de Ensino- SRE. Atualmente encontra-se afastada de suas funções, sendo remanejada para ajustamento de função devido à evolução da doença e aguarda ser examinada por junta médica na Cidade de Belo Horizonte - MG.
Quando iniciou na modalidade de atletismo na A.E.R. Usipa em 2004, treinadora E.R., relata que apresentava auto-estima baixa, alcoolismo, fumante e necessitava primeiramente de tratamento psicológico, pois apresentava sintomas de depressão. E.R relata que foi um desafio muito grande, porque nunca havia trabalhado com pessoas com deficiência visual, apenas deficiência mental e auditiva. Teve que estudar e aprofundar sobre a deficiência, seu maior receio era de acometimento de lesões e de não atender as expectativas da S.M.P.S. B, já que ministrava treinos a jovens e adolescentes atletas de rendimento. Sua treinadora relata que alem disso também que não sabia como os jovens e adolescentes iriam reagir diante daquela situação, como seria a aceitação de S.M.P.S. B naquele meio e que naquele momento iria fazer parte da equipe.
O esporte foi fundamental na sua reabilitação, relata S.M.P.S. B, “só consegui a minha recuperação, devido ao apoio, acolhimento e a dedicação da treinadora E.R., e o apoio desses jovens e adolescentes”. Apesar de algumas adaptações nos treinamentos como as mudanças nos percursos de treinos, volume de treinamento, priorização de exercícios de coordenação, evitando corridas nos morros por causa do piso e saltos sobre barreiras. A carga de treino realizada por S.M.P.S. B é de 80 km por semana, durante quatro horas de treinos diários, às vezes em dois períodos e tem total reconhecimento do espaço da pista de atletismo e demais espaços da A.E.R. Usipa, onde realiza os seus treinamentos, relata que tem grandes dificuldades quando é realizada a limpeza do local, e a treinadora faz o reconhecimento do espaço com ela.
No Atletismo, S.M.P.S. B realiza treinamentos das provas de marcha atlética e fundo, sendo a única deficiente visual na equipe de competição da A.E.R. Usipa.
Discussão
O preconceito é o principal responsável por parte das dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência, é o que aborda S.M.P.S. B, em sua entrevista, quando perguntada se sente ou sentiu alguma discriminação: “principalmente na escola, na hora do conselho de classe, onde meus próprios colegas de trabalho me discriminavam na hora de falar a nota dos alunos, pois eu não enxergava direito e eles ficavam zombando e não respeitavam minha deficiência”. Conforme Cabral e Nick (1998) correspondem a uma: “(...) atitude ou sentimento que predispõe ou inclina um indivíduo a atuar, pensar, perceber e sentir de um modo que é coerente com o juízo favorável sobre outra pessoa ou objeto (...)”.
De acordo com Zaoual (2003), o mundo se caracteriza por uma extrema diversidade de populações, a vitória sobre o preconceito, tanto da deficiência quanto em relação a qualquer outra representação de um povo minoritário, só se dará quando não se visar às diferenças, mas sim sua sobreposição pela igualdade de direitos, pela percepção do outro enquanto indivíduo competente, que pode claramente atingir sua própria independência e autonomia; quando o foco for transferido da anomalia para a possibilidade; e quando a diferença for aceita como um belo e trabalhoso desafio a ser conquistado.
Para Bartholo (2007), o preconceito supõe um saber prévio e independente a qualquer escuta interpessoal. Para o Tunes (2007), o preconceito em relação à deficiência tem raízes na própria definição do conceito de deficiência, pois o próprio ato de nomear o deficiente já implica o preconceito. A autora acrescenta ainda que a noção de deficiência está associada à falta que pode ser parcial, transitória ou absoluta.
Para Ribas (1986), “toda pessoa considerada fora das normas e das regras estabelecidas é uma pessoa estigmatizada”. Ou seja, o estigma não está na pessoa, ou na deficiência em si, mas nos valores culturais da sociedade na qual aquele indivíduo está inserido. Tais valores incluem as idéias dos padrões de beleza e estética, bem como na busca pelo sucesso, como uma garantia de status e felicidade. A própria palavra deficiente colabora para a designação de um ser que se opõe ao eficiente. Tal marca afasta o individuo da normalidade, impedindo, em muitas ocasiões, o seu potencial de viver plenamente.
De acordo com Souza (1999) o esporte apresenta vários benefícios para as pessoas com deficiência: atividade física regular e bem orientada estimula, entre outras, a produção de endorfinas e catecolaminas, responsáveis, respectivamente, por sensações de bem estar e pelo combate à depressão; ao praticar o esporte o indivíduo tem a percepção de sua autoeficácia, ou seja, ele percebe que é capaz de fazer algo por sua saúde e por seu bem estar emocional, quando bem orientado, além de canalizar a agressividade, elevar sua tolerância à frustração e aumentar sua motivação, sua autoimagem e autovalorização. Benefícios estes confirmados por S.M.P.S. B: “a prática do atletismo orientado pela minha treinadora E.R, possibilitou alterações em relação à estrutura física do meu corpo, minha mente, estou muito mais ligada e concentrada, não esqueço as coisas facilmente, com disposição altíssima para realizar as tarefas do meu dia-a-dia, autoestima elevada, confiança, determinação, tenho mais firmeza nas minhas decisões”.
Segundo Masini (2002), a autoestima resulta da "harmonização das próprias expectativas e esperanças com as próprias realizações" construídas no dia-a-dia. Para Bouchard e Tétreault (2000), a confiança é um elemento fundamental para a fixação da pessoa à prática motora. Associar o prazer à confiança é o melhor instrumento para que a pessoa não abandone o esporte. Prazer por realizar e alcançar metas possíveis, e, também, por uma prática pedagógica acessível às percepções e as capacidades de cada um. Conclui ainda que as dificuldades de acesso são grandes para essa parcela da população, mas uma eficiente proposta pedagógica, conhecendo as características da pessoa, permitirá que ela não associe falsos ideais à sua prática e, assim evitar a decepção por ter objetivos muito distantes de sua capacidade.
Para Masiero (2008), a manutenção da autoestima, é a base da instalação e manutenção ao longo da vida do processo de resiliência, pois a autoadmiração e o amor próprio promovem a fé na vida dando força para lutar e vencer as dificuldades.
Para Marques e Iora (2009), o contato inicial com o atletismo, além de ser uma modalidade muito acessível, é muito importante fará com que o aluno tenha um interesse pela modalidade e conseqüentemente facilitará, de certo modo, a condução do processo metodológico proposto pelo professor. Segundo Oliveira (2006), para compreender o atletismo é necessário adaptar os materiais, modificar as regras, diminuir distância, diminuir alturas, variar pesos, usar jogos e brincadeiras, possibilitando a realização da modalidade nas várias faixas etárias existentes, contribuindo fortemente no interesse pela modalidade. Para Bragada (2000), o atletismo é fundamental, principalmente devido as suas capacidades e habilidades servirem de sustentação para outras modalidades esportivas. Segundo Pereira (1993), os processos de ensino junto a pessoas com deficiência visual devem apresentar maior ênfase nas propostas cognitivas associadas ás motoras, já que esse enfoque tem maior efetividade. O mesmo autor apresenta que o processo de aprendizado deve ser permeado pela diversidade dos estímulos, influenciado pelo tempo de prática e pela descrição positiva feita pelo instrutor.
Segundo Carrol (1968), para o indivíduo que perdeu a visão quando já conhecia o mundo através do seu olhar, a deficiência visual é um morrer e também pode significar um renascimento. Um “morrer” porque aquela pessoa com visão normal não existe mais, e um “renascimento” porque mesmo sem o sentido da visão, o indivíduo pode se readaptar à nova condição de vida e procurar vencer as múltiplas limitações que a cegueira impõe. A deficiência visual também pode ter uma influencia negativa em outros campos da vida do sujeito, tais como a independência pessoal, carreira, a segurança financeira e o lazer.
Ao realizar os treinamentos S.M.P.S. B juntamente com sua treinadora E.R precisou fazer as adaptações necessárias para que ela realizasse os mesmos movimentos que a equipe realizava. “Eu faço todo o treinamento que uma pessoa normal realiza, mas com as devidas adaptações, o que importa é a realização do movimento e não a amplitude, velocidade e agilidade que vou realizá-lo, apesar destas capacidades serem fundamentais no atletismo”. Ainda segundo S.M.P.S. B, “uma das suas maiores dificuldades é no preparo da alimentação, como não enxerga o fogo do fogão, almoça todos os dias na casa de uma irmã, e depois é com materiais para a prática do atletismo e por fim com relação à segurança financeira”. Ao relatar sobre autonomia Sassaki (1997) conceitua dizendo que se refere ao domínio do ambiente físico e social. Já a independência como a possibilidade de opinar sem depender de outras pessoas, percebendo seus próprios desejos e interesses. O movimento inclusivo visa, então, à vida autônoma e independente das pessoas com deficiência, dando a estas o poder de decidirem sobre suas próprias escolhas. Conceitua-se inclusão social o processo pelo qual a população e o meio se adaptam para receber o diferente.
Perder algumas capacidades e habilidades, ganhar em maturidade e experiências significa “viver com todas as maravilhas e dores deste mundo”, como é dito por Tótora (2005). Segundo a autora para desfrutar da vida, é necessário o exercício constante do cuidado de si, na busca de elaborar-se, transformar-se e atingir certo modo de ser e com isso conseguir produzir, criar, inventar e aumentar a sua potencia de agir, de viver.
De acordo com Vieira (1999), resultados semelhantes ele encontrou pesquisando os atletas e ex-atletas de atletismo que relatam que uma das maiores dificuldades é de se manter e se dedicar exclusivamente à carreira esportiva sem patrocínio e sem ajuda dos clubes ou órgãos públicos, e fica mais drástico, quando a análise é feita dentro de competições amadoras, onde grande parte dos competidores tem que tirar recursos do próprio bolso para custear competição ou viagem e quando esse esportista não tem esse recurso acaba não competindo, como é o caso da S.M.P.S.B.
Considerações finais
Diante do estudo apresentado, o cerne do preconceito ainda ronda a vida de pessoas com deficiência. Várias foram as dificuldades encontradas para minimizar as limitações como: falta de patrocínio, falta de espaços adaptados e apoio financeiro.
Neste relato a participante demonstra ser alguém que soube aproveitar e valorizar as oportunidades, vivenciar novas experiências e modificar de forma positiva a percepção das alterações da doença mácula degenerativa da retina, sendo minimizados através da prática esportiva apesar de todas as dificuldades enfrentadas.
A prática do esporte possibilitou a mudanças positivas em relação à estrutura física, mental e psicológica de forma a melhorar a autoestima, confiança, tomada de decisão, determinação e a realização das tarefas do dia-a-dia, além de minimizar a progressão da doença. A competência técnica e pedagógica do profissional são aspectos determinantes para a permanência não só da participante na modalidade de atletismo, como de outros praticantes que abandonam o esporte, devido a profissionais desmotivados e não capacitados para o trabalho.
Ainda há um longo caminho a percorrer, pois é necessário que os diferentes segmentos da sociedade (escolas, comunidades, clubes, etc.) estejam receptivos e preparados para acolher as pessoas com deficiências. É necessário investir na dissolução de barreiras arquitetônicas e atitudinais, que têm limitado ou restringido a descoberta de novas possibilidades de interatuação da pessoa deficiente na sociedade. Da mesma forma, é necessário que a pessoa deficiente exerça seus direitos e deveres como cidadã, reivindicando sua participação nesses esportes, e capacitando-se para tal.
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Digital · Año 19 · N° 199 | Buenos Aires,
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