Análise do serviço em função da posição específica e a sua eficácia no voleibol infantil feminino Análisis del saque en función de la posición específica y su eficacia en el voleibol infantil femenino Analysis of the service based on a specific position and its effectiveness in women’s youth volleyball |
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*Department of Sport Sciences, Exercise and Health University of Trás-os-Montes and Alto Douro at Vila Real **Polytechnic Institute of Setubal ***Research Center in Sport Sciences, Health Sciences and Human Development (CIDESD) |
Paulo Vicente João* *** Ioana Cotiuga* Ana Pereira** *** (Portugal) |
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Resumo O presente estudo foi realizado com o objetivo de analisar o serviço em atletas em processo de formação em função da posição específica e a sua eficácia. Para este efeito, 17 atletas do sexo feminino (13.88±0.33 anos), pertencentes a uma equipa do Desporto Escolar, participaram neste estudo tendo sido analisadas 199 ações de serviço, correspondentes a 9 sets em 3 jogos de competição. As variáveis estudadas foram as seguintes: zona de serviço, direção de serviço, eficácia de serviço e posição específica. Para esta análise recorreu-se à estatística descritiva, por intermédio das frequências e percentagens e à estatística inferencial através do Qui-quadrado (c2) para determinar o grau de dependência. Aplicou-se ainda o coeficiente V de Cramer para medir a intensidade da associação entre as variáveis. Os resultados apontaram uma associação significativa entre a posição específica e as variáveis zona de serviço (p=0.000) e direção de serviço (p=0.047). No entanto, nenhuma das variáveis analisadas (zona de serviço e direção de serviço) interferiu de forma determinante na eficácia de serviço. Unitermos: Voleibol. Serviço. Posição específica. Zona de serviço. Eficácia.
Abstract The present study was carried out with the objective of analyzing the service among athletes during the training process according to a specific position and its effectiveness. The sample is made up of 17 female athletes (13.88 ± 0.33 years) that are part of a team Sports School. For this purpose, 199 service actions were analyzed, corresponding to 9 sets in 3 competition games. The studied variables were the following: the service zone, the service direction, service effectiveness and the specific position. For this analysis we used descriptive statistics through the frequencies and percentages as well as inferential statistics using the Chi-square (c2) test in order to determine the level of dependency. Applied as well was Cramer's V Coefficient to measure the intensity of the association between the variables. The results showed a significant association between the specific position and the service zone (p = .000), as well as between the specific position and the service direction variable (p = .047). However, none of the analyzed variables (service zone and service direction) intervened in a determining manner with the service effectiveness. Keywords: Volleyball. Service. Specific position. Service zone. Efficiency.
Agradecimentos: Os autores do presente estudo vêm por este meio agradecer à Escola E.B. 2,3 de Lamaçães de Braga, e particularmente à Dr. Guilhermina Rodrigues e suas atletas e ao Dr. Vladimiro Ferraz, em virtude de ter ajudado na recolha de todos os dados durante esta investigação.
Recepção: 24/09/2014 - Aceitação: 12/11/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 199, Diciembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Ao longo da evolução do jogo de Voleibol, o serviço além de ser a primeira ação de jogo, destaca-se como sendo a primeira arma de ataque da equipa e um fator que influencia decisivamente no resultado do jogo (Mesquita, Guerra, & Aráujo, 2002; Ureña, Del Campo, & Oña, 2003; Yiannis & Panagiotis, 2005; Grgantov, Mili & Kati, 2013; Silva, Lacerda & João, 2014). Este gesto técnico tem vindo a evoluir nas últimas décadas, sendo uma ação de jogo em que as equipas têm dado grande importância (Lirola, 2006; Costa, Mesquita, Greco, Ferreira, Moraes, 2011). O serviço tem vindo a ser uma ação cada vez mais determinante no jogo de Voleibol, dando a possibilidade de realizar serviços com novas trajetórias, condicionando assim a efetividade e as opções em termos de ataque da receção adversária e facilitando a fase defensiva e o contra-ataque da equipa servidora (Gerbrands & Murphy, 1995; Ureña, Santos, Martínez, Calvo, & Oña, 2000; Lozano, Calvo, Cervelló, & Ureña, 2003).
Para vários autores, as razões que determinam a escolha da zona de serviço estão em concordância com as opções estratégicas da equipa recebedora (Costa, Mesquita, Greco, Ferreira, Moraes, 2011) e com a zona que ocupam posteriormente os jogadores de cada posição específica durante a defesa, no sentido de facilitar a transição da zona de serviço para a zona de defesa de cada jogador específico, reduzindo assim o espaço que necessitam para cobrir (Ureña et al., 2000; Quiroga et al., 2010).
No que diz respeito à direção de serviço, os estudos efetuados com jovens atletas apontam para uma maior tendência de escolha de trajetórias diagonais médias (DM) e paralelas (P), incidindo a maioria destas na zona central do campo, de menor risco, mantendo assim um maior controlo sobre o serviço (García - Tormo et al., 2006).
Por isso, para alcançar resultados positivos, o serviço deve assim ser tratado com o máximo de atenção, devendo-se dar enfâse tanto à qualidade de execução, como à autonomia, como também ao controlo em termos de quantidade de execução (Gouvêa e Lopes, 2008). Esta investigação é importante na medida em que examina e tenta delimitar futuras intervenções específicas à idade e género.
O objetivo deste estudo foi analisar as variáveis de serviço (zona de serviço, direção de serviço) em atletas em processo de formação em função da posição específica (distribuidor, atacante central, atacante Z4 e oposto) e a eficácia de serviço.
Método
Amostra
A amostra foi constituída por 17 atletas do sexo feminino (13.88±0.33 anos), pertencentes a equipa do Desporto Escolar da Escola E.B. 2,3 de Lamaçães, de Braga. A equipa atua no Campeonato Nacional de Voleibol Infantil Feminino e treinam cerca de 6 horas semanais.
De referir que os encarregados de educação das atletas assinaram um termo de autorização para a realização das filmagens.
Procedimentos
Para a análise do serviço foram observados três jogos de competição da equipa Lamaçães, perfazendo um total de 9 sets, que corresponderam a 199 ações de serviço.
As variáveis consideradas no presente estudo foram as seguintes: as ações de serviço em função da jogadora que efetua este procedimento (distribuidora, atacante central, atacante Z4 e oposta), zona de serviço, direção de serviço e eficácia de serviço.
Para a avaliação da variável zona de serviço adotou-se o modelo sugerido por Gerbrands e Murphy (1995). Assim, as zonas de serviço foram analisadas pela divisão da zona regulamentar de serviço em três corredores longitudinais de três metros de largura cada, correspondente à projeção das zonas 1, 6 e 5 na área situada atrás da linha de fundo do campo (figura 1).
Figura 1. Zonas de serviço
A variável direção de serviço foi estruturada, atendendo ao sistema proposto por Lozano, Calvo, Cervelló, e Ureña (2003), que diferenciou esta em três tipos de direção: 1) Paralela (P): a zona de serviço e a zona de receção encontram-se em linha, correspondendo com os serviços efetuados de ZS1 a Z5, de ZS6 a Z6 e de ZS5 a Z1; 2) Diagonal média (DM): a zona de serviço situa-se numa zona próxima da zona de receção, correspondendo com os serviços efetuados de ZS1 a Z6, de ZS6 a Z5, de ZS6 a Z1 e de ZS5 a Z6; 3) Diagonal longa (DL): a zona de serviço localiza-se numa zona mais afastada da zona de receção, correspondendo com os serviços efetuados de ZS1 a Z1 e de ZS5 a Z5 (figura 2).
Figura 2. Direções de serviço. ZS = Zona de serviço
Para a avaliação da eficácia de serviço recorremos ao sistema metodológico proposto pela FIVB (2010), diferenciando os seguintes valores: 0) Serviço falhado; 1) Serviço que permite a construção de qualquer tipo de ataque; 2) Serviço que limita as opções de construção de ataque, não permitindo a realização de ataques rápidos; 3) Serviço que impossibilita a construção de ataque e conduz para o retorno de um free ball; 4) Ponto direto.
Relativamente à recolha dos dados para a avaliação das ações de serviço recorreu-se à filmagem em vídeo. As imagens vídeo foram captadas através de uma câmara de vídeo digital Sony HDR-CX 130, apoiada num tripé, localizada num plano superior atrás da linha final do campo, no topo de pavilhão, de forma a garantir uma recolha de imagens pormenorizada. Posteriormente, as filmagens foram convertidas em formato DVD, com o fim de facilitar a visualização das imagens e garantir a sua total qualidade.
Análise estatística
A análise dos dados recolhidos foi efetuada através da estatística descritiva, por intermédio das frequências e percentagens e da estatística inferencial através do cálculo do Qui-quadrado (c2) e o coeficiente V de Cramer, apresentando-se os dados obtidos em tabelas de contingência. Para os casos em que se verificou a existência de mais de 20% das células com frequências esperadas inferiores a 5, recorreu-se a simulação de Monte Carlo, de forma a obter uma probabilidade exata. O nível de significância (a) foi estabelecido em 5% (a=0.05). Todos os dados foram analisados com o SPSS 17.0
Resultados
Na tabela 1 são apresentados o número de ações observadas e as respetivas percentagens por zona de serviço e em função da posição específica.
Constatou-se que a zona de serviço mais predominante é a Z6 e que apenas 11.1% dos serviços foram efetuados da Z5, sendo a zona menos utilizada pela nossa amostra. Considerando o total de serviços, podemos observar que a atacante central e de Z4 foram responsáveis pela maioria das ações e a distribuidora foi a jogadora com menos ocorrências de serviços.
Relativamente aos serviços executados da zona 6, as atacantes centrais e de Z4 são as que mais contribuíram para o predomínio da mesma, sendo as jogadoras opostas e as distribuidoras, as que obtiveram maior percentagem de ocorrências nos serviços realizados na Z1.
Tabela 1. Zona de serviço em relação à posição específica
Denota-se ainda a maior participação da jogadora oposta nos serviços efetuados da zona 5. A análise inferencial dos dados indica que existe uma associação estatisticamente significativa entre as variáveis zona de serviço e a especialização funcional com um grau de relação moderado (V de Cramer = 0.431).
A tabela 2 apresenta os resultados da análise de relação entre a zona de serviço e a eficácia.
Tabela 2. Zona de serviço em relação à eficácia de serviço
Em geral, a maioria dos serviços apresentaram eficácia 1, demonstrando os resultados que esta ação não provocou grandes dificuldades na receção da equipa adversária, sendo os serviços que impossibilitam a construção de ataque e conduzem para o retorno de um free ball (eficácia 3), os menos frequentes no nosso estudo. Ao analisarmos os dados por zonas específicas, denota-se que todas as zonas (Z1, Z6 e Z5) contribuíram para os serviços que permitem qualquer tipo de ataque, na medida em que registam valores percentuais superiores nas ações com eficácia 1, evidenciando-se entre estas, a Z6.
A Z1 indica maior incidência nos serviços com eficácia 2 relativamente às outras áreas, sendo também a zona onde ocorreu maior percentagem de erros.
Pode-se observar ainda, que os serviços efetuados da Z5 conseguem mais pontos diretos relativamente às outras zonas de serviço, visto que o número total de serviços realizados desta zona foi menor em relação à Z1 e Z6.
A análise inferencial dos resultados indica que não existe associação estatisticamente significativa entre as variáveis zona de serviço e a eficácia.
O número de ações observadas e as respetivas percentagens por direção de serviço em relação à posição específica são apresentados na tabela 3.
Em termos gerais, podemos verificar a existência de valores mais elevados nas ações de serviço com trajetórias paralela e diagonal média, resultados que poderão estar relacionados com a zona de serviço mais utilizada pelas atletas (Z6).
Relativamente à direção de serviço em função da posição específica, os resultados apontam para maiores percentagens de trajetórias paralelas efetuadas pelas atacantes centrais e atacantes Z4. Relacionando estes valores com o número elevado de ações executadas por estas posições da Z6, podemos deduzir uma possível trajetória paralela imprimida desta zona.
A DM indica ser a direção preferencial da jogadora oposta, pois a maioria dos serviços desta jogadora foram realizados com esta trajetória. A direção diagonal longa (DL) apresentou menos ocorrências do total de serviços executados, alcançando valores superiores para a atacante central.
Tabela 3. Direção de serviço em relação à posição específica
A análise inferencial permitiu verificar a existência de uma relação de dependência entre as duas variáveis, embora com um grau de associação fraco (V de Cramer=0.179). A tabela 4 apresenta os resultados referentes à análise de relação entre a direção de serviço e a eficácia.
Tabela 4. Direção de serviço em relação à eficácia de serviço
Todas as direções de serviço permitiram valores percentuais mais elevados no item eficácia 1, destacando-se, entre estas, a trajetória diagonal média.
Relativamente às ocorrências de erro (eficácia 0), os serviços realizados com direção paralela foram os que registaram maiores percentagens, ao contrário, a DL foi a direção que obteve mais pontos diretos.
A análise inferencial permitiu constatar que não existe associação significativa entre a direção de serviço e a eficácia.
Discussão
O presente trabalho veio contrastar os resultados obtidos em estudos realizados no voleibol de alto rendimento. Desta forma, os nossos resultados revelam que não existe uma prevalência dos serviços realizados da zona 1 (Maia & Mesquita, 2006; Costa, Mesquita, Greco, Ferreira, Moraes, 2011; Quiroga et al., 2010), podendo estes estar influenciados pela antiga regra que limitava o serviço nesta zona (Maia & Mesquita, 2006). No entanto, de acordo com os estudos realizados com atletas em processo de formação (García - Tormo et al., 2006; Arias et al., 2010) as percentagens da Z6 são muito semelhantes com a Z1. Este facto pode dever-se à idade dos atletas que por serem mais jovens, a antiga zona de serviço não é influenciada comparativamente às atletas de alto nível (García - Tormo, Redondo, Valladares, & Morante, 2006), o que poderá justificar também os nossos resultados pelas percentagens elevadas de serviços observados pela Z6
Arias, Arroyo, Domínguez, González, e Álvarez (2010) verificaram tal como no nosso estudo, uma maior ocorrência de serviços realizados da zona 6 pelas atacantes centrais e de Z4. Já Maia e Mesquita (2006) considera a zona 6 como a preferencial apenas da atacante Z4.
Relativamente aos serviços executados da zona 5, vários estudos (Maia e Mesquita, 2006; Quiroga et al., 2010; Arias et al., 2010) destacam os serviços efetuados pelo central e atacante Z4, ao contrário do nosso estudo que aponta para a maior participação da jogadora oposta.
Segundo Ureña, Santos, Martínez, Calvo, e Oña (2000), Maia e Mesquita (2006) e Quiroga, García-Manso, Rodríguez-Ruiz, Sarmiento, De Saa, e Moreno (2010), os jogadores optam em geral pela zona de serviço mais próxima da sua área defensiva, no sentido de facilitar a transição e reduzir o espaço que necessitam de cobrir. No entanto, os nossos resultados parecem indicar que o número elevado de ocorrências de serviços da zona 5 na jogadora oposta poderão estar relacionados mais com as opções estratégicas da equipa adversária, não se centrando tanto na ocupação rápida da sua zona defensiva que é a zona 1.
Quanto à análise inferencial, os estudos de Maia e Mesquita (2006) e Arias et al. (2010) também verificaram uma associação estatisticamente significativa entre a zona de serviço e a especialização funcional.
Relativamente ao estudo de relação entre a zona de serviço e a eficácia, os nossos resultados seguem a tendência dos atletas de alto rendimento de Quiroga et al. (2010) que também registaram uma maior percentagem para os serviços que permitem a construção de qualquer tipo de ataque.
O estudo de relação entre a direção de serviço e a eficácia apresenta valores percentuais superiores nos serviços realizados com trajetórias DM com eficácia 3 e DL com eficácia 4, vindo ao encontro dos aspetos mencionados por García - Tormo et al. (2006), que segundo estes, os serviços com trajetórias diagonais poderão atingir maiores níveis de eficácia relativamente aos serviços paralelos, devido à aplicação de maior potência sobre a bola e transmissão de maior flutuação ao serviço, que dificultaria a receção adversária, comparativamente aos serviços paralelos que aplicam menor força à bola e favorecem a receção.
Conclusões
A zona de serviço de maior ocorrência é a zona 6 e a direção de serviço com maiores índices percentuais é a paralela, sendo a atacante central e a atacante Z4, as jogadoras que mais contribuíram para o predomínio das mesmas.
A jogadora oposta apresenta maiores percentagens de ocorrências nos serviços efetuados da zona 5, o que poderá ter relação com as opções estratégicas da equipa adversária, visto que é também a zona que obteve melhores índices de eficácia. A mesma jogadora parece servir preferencialmente com trajetória diagonal média.
O estudo de relação entre as variáveis zona e direção de serviço e a eficácia de serviço permite verificar que a maioria dos serviços realizados não provoca grandes dificuldades na receção adversária, sendo a zona 6 e a direção diagonal média, as que mais contribuíram para os serviços com eficácia 1.
Os serviços efetuados da zona 1 e com direção paralela são os que apresentam maiores ocorrências de erro, sendo a direção diagonal longa a que obteve mais pontos diretos.
A reduzida amostra, correspondente a apenas um clube, limita muito a generalização destes resultados e a comparação com estudos semelhantes.
Concluindo, a zona de serviço e a direção de serviço poderão estar associadas a posição específica. No entanto, as mesmas variáveis no presente estudo interferiram de forma determinante na eficácia de serviço.
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