Suplementação de carboidratos: uma revisão Suplementación con carbohidratos: una revisión |
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*Orientadora Universidade Federal do Paraná (Brasil) |
Raul Roscamp de Oliveira Maria Gisele dos Santos* |
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Resumo O objetivo deste estudo é estudar a suplementação de carboidratos antes, durante e após o exercício. Sabe-se que o rendimento atlético depende de inúmeros fatores entre eles, a alimentação adequada e treinamento. A primeira tem grande importância, pois sem uma nutrição ótima todo o treinamento do atleta pode ser prejudicado. A alimentação de um atleta influencia diretamente no seu rendimento físico, assim, a atuação do desportista está ligada à disponibilidade de carboidratos no seu organismo. A produção e ressíntese de energia no organismo em exercício dependem basicamente da contribuição de dois macronutrientes: o glicogênio hepático e muscular; triglicerídeos do tecido adiposo e muscular. Unitermos: Suplementação. Carboidratos. Exercício.
Recepção: 15/08/2014 - Aceitação: 29/10/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
McArdle (2003) mostra que em repouso a produção é determinada basicamente pelo metabolismo das gorduras (60%), já em exercício de endurance o predomínio é do metabolismo dos carboidratos. O catabolismo do glicogênio é o principal meio de obtenção de energia para o exercício quando este passa de baixa para alta intensidade, pois consegue suprir rapidamente o ATP durante os processos oxidativos. Mamus (2004) verifica que a quantidade de carboidrato disponível é determinante para regular o metabolismo das gorduras no exercício. A maior oxidação de carboidratos pela ingestão de alimentos com alto índice glicêmico, que elevam a glicemia e a taxa de insulina sanguínea, abafa significativamente a quebra de ácidos graxos livres do tecido adiposo durante o exercício.
Grandjean e Shroeder (1994) apontam que os atletas devem consumir uma dieta que forneça os nutrientes básicos e, principalmente, que seja rica em carboidratos para suprir as necessidades de energia, principalmente atletas que praticam atividades de longa duração. Para Lancha (2002) e Mullinix (2003) um dos maiores problemas encontrados ainda hoje é o baixo consumo de carboidratos por parte dos atletas o que ocasiona queda no rendimento no período de treinamento e principalmente na competição.
Rogatto (2003) diz que a ingestão de carboidratos tem forte relação com o rendimento em exercícios físicos. A adequação da ingestão de carboidratos na dieta pode ser decisiva para o atleta no momento de uma competição, podendo ser responsável pela vitória ou pela derrota. Além da manipulação da dieta e do treinamento realizado na semana anterior à competição, outros fatores podem influenciar a capacidade do atleta em manter o trabalho muscular. Já Mamus (2004) defende que haja uma alimentação rica desses macronutrientes durante a fase de treinamento para se obter sucesso na competição, pois é nesse período que ocorre maior gasto energético e conseqüentemente, um aumento na ingestão calórica para manutenção do peso corporal e para o funcionamento correto do organismo. Por exemplo, Dill et al (1932), estudaram os efeitos da ingestão de carboidratos na corrida utilizando um cachorro treinado para correr a certa intensidade. Em jejum, o cão foi capaz de correr de 3 a 6 horas antes de fatigar-se, fato que coincidiu com a queda das concentrações de glicose sanguínea. Quando alimentado por carboidrato antes e durante o exercício, foi capaz de correr mais de 13 horas. Os autores concluíram então que o rendimento em exercício prolongado poderia estar associado à disponibilidade de carboidratos, em forma de glicose disponível. Portanto a ingestão de carboidratos era capaz de retardar a fadiga do cachorro. McArdle (2003) mostra que em exercício intenso fatores neurais-hormonais aceleram a produção de adrenalina, noradrenalina e glucagon (inversamente, há uma redução na produção de insulina). Dessa forma, é acionada a enzima glicogênio-fosforilase que acelera a quebra de glicogênio hepático e muscular. Nos primeiros minutos de exercício, quando o oxigênio não consegue suprir à demanda de energia, o glicogênio muscular é a fonte primária, pois não necessita do oxigênio para a produção de energia. A captação de glicose circulante aumenta acentuadamente de acordo com a intensidade do exercício (leve – 25 a 30% do VO2máx; moderado – 50-60% do VO2máx; 75-90% do VO2máx). Por exemplo, uma hora de exercício de alta intensidade reduz o glicogênio hepático em 55%. O aumento na captação de glicose por volta dos 40 minutos de exercício pode ser entre 7 a 20 vezes em relação à mesma captação em repouso.
A vantagem de se depender do metabolismo dos carboidratos em exercício aeróbio é a transferência de energia duas vezes mais rápida que as gorduras e proteínas. Se comparado somente com as gorduras essa diferença é de até 6% mais produção de energia pelos carboidratos. Diversos estudos (LANCHA, 2002; MCARDLE, 2003, TIMMONS et al., 2003) demonstram que à medida que o exercício segue e as reservas de glicogênio diminui a glicose sanguínea passa a ser a principal fonte de energia pelos carboidratos. A concentração plasmática de glicose sofre uma queda após certo período, pois o fígado não consegue acompanhar a utilização da glicose pelos músculos. Em torno de 90 minutos de exercício extenuante, os níveis de glicose sanguínea podem ser reduzidos a menos de 45 mg de glicose por 100ml de sangue, portanto pode ocorrer hipoglicemia e queda no rendimento. A prova de maratona é um modelo clássico para explicar o metabolismo do carboidrato. Para Silveira et al. (2011) maratonistas possuem um excepcional VO2máx variando entre 70 e 85 mL.kg-1.min-1. Esses atletas percorrem uma maratona em intensidades abaixo do VO2máx, como observado em eventos de duração superior a 10-15 min. A estimativa é de que muitos dos 42 km de uma maratona sejam percorridos em aproximadamente 75%-85% do VO2máx. Durante esse tipo de evento, a oxidação de glicose e ácidos graxos é estimada para ocorrer numa razão de 7:3; para cada sete moléculas de glicose três moléculas de ácido graxo são oxidadas (NELSHOME, 1999). Nessas condições, a oxidação de lipídios favorece a continuidade da atividade muscular por longo período. Caso isso não ocorra, os estoques de glicogênio são rapidamente depletados comprometendo a continuidade da atividade. É importante observar que a taxa relativa de oxidação de glicose é maior (7:3) que a de lipídio, demonstrando a importância da entrada de carbonos no ciclo do ácido tricarboxílico (anaplerose) à custa de carboidrato. Sabe-se também que atletas de elite (nível olímpico) podem alcançar uma razão ainda maior entre carboidrato/lipídio, isto é, usam predominantemente carboidratos durante o exercício de longa duração e conseguem manter-se em intensidades próximas de 90% do VO2máx, confirmando a predominância da utilização de carboidratos (SPRIET, 2007). Portanto, esses atletas têm maior sucesso em provas de maratona por conseguirem manter uma elevada taxa de oxidação de glicose por unidade de tempo (potência aeróbia). Para Joyner (2008) e Spriet (2007), uma alta capacidade de estocar glicogênio associada a uma elevada eficiência mecânica é decisiva para o rendimento desses atletas. A depleção de carboidratos leva a uma queda na capacidade de trabalho que diminui progressivamente após duas horas para 50% da intensidade inicial. Esse nível de trabalho reduzido tem ligação direta com a produção e liberação de energia pela oxidação das gorduras, que passam a ter papel principal na produção de energia nesse período. Dessa forma, é necessário se fazer a reposição dos carboidratos durante toda a competição (pré, durante e pós) levando-se em conta tipo, concentração e forma de ingestão do carboidrato (LANCHA, 2002; MCARDLE, 2003, TIMMONS et al., 2003; MAMUS, 2004).
Suplementação pré-competição
O objetivo de uma dieta rica em carboidratos na fase pré-competição, é aumentar glicogênio estocado e prevenir a sua depleção quando o treinamento é realizado exaustivamente por dias sucessivos, requerendo uma dieta de 65 a 75% de calorias provenientes de carboidratos para melhorar o desempenho (WOLINSKY & HICKSON, 1996, MAMUS, 2006). Dependendo da situação pré-treino, essa ingestão pode chegar a 80% do total calórico calculado como necessidade (SANTOS, 1996).
Para McArdle, Katch e Katch (2003) a capacidade de resistência varia intensamente de acordo com a dieta de carboidratos utilizada antes do exercício a qual além de proporcionar ao atleta energia suficiente, a refeição pré-competição também deve garantir a hidratação.
Com base nisso, Rodriguez (2004) buscou hipóteses sobre as variáveis nutricionais e o rendimento dos atletas de atividades de longa duração. Neste estudo foram aplicados dois tipos diferentes de carboidratos para 4 ciclistas treinados, com idade média de 21,5 anos (±2,1) e com peso corporal de 65,9 kg (±3,9), os quais passaram pelo Peak Power Output para determinar a potência máxima de cada um. Logo após, cada atleta participou de três provas, com intervalos de 3 a 7 dias e com potência entre 50 e 60% do PPO. Uma hora antes da prova, tendo um grupo controle, aplicaram-se nos atletas (em jejum) carboidratos de rápida absorção e em outro grupo aplicaram carboidratos complexos. Após isso, descansaram e foram para a prova, que consistia em pedalar entre 50 a 60% do PPO durante 120 minutos. Durante a prova, foi consumida uma solução isotônica com 55 gramas de carboidrato simples por litro de líquido. Por fim, Rodriguez (2004) concluiu que aqueles atletas que consumiram carboidratos simples previamente, apresentaram glicemia de rebote entre os minutos 30 e 40. Do contrário, os atletas que consumiram carboidratos complexos demonstraram normalidade e vantagem no tempo final de cerca de 5 minutos para aqueles do primeiro grupo.
Mamus (2006) descreve que os alimentos a base de carboidratos podem ser oferecidas na forma sólida ou líquida, sendo a dosagem ideal recomendada de 1 a 6g /Kg /peso corporal. De acordo com Walton & Rhodes (1997), esse tipo de ingestão na forma líquida é recomendada para que seja alcançado um melhor desempenho físico durante o evento esportivo. Porém Wolinsy & Hickson Jr. (1996) defendem que as refeições líquidas são mais toleradas próximo do horário do treinamento ou competição. E Sapata (2006) diz que as bebidas energéticas ingeridas antes têm como propósito prevenir ou retardar os distúrbios homeostáticos que podem acompanhar a atividade física, assegurando um volume plasmático adequado desde o início do exercício, promovendo um pequeno reservatório de fluídos no lúmen gastrintestinal, que será absorvido durante a atividade. Além disso, para Wolinsy & Hickson Jr. (2002) o consumo no pré-exercício pode potencializar as concentrações de glicose no sangue circulante, através do fornecimento de carboidratos.
Para Sapata (2006) o efeito do consumo de bebidas com carboidratos no pré-exercício em relação ao metabolismo e desempenho ainda é questionado. O autor procurou elucidar os efeitos do consumo prévio de bebidas com diferentes tipos de carboidratos antes de um exercício em cicloergômetro com intensidade fixa no segundo limiar ventilatório. Trinta minutos antes de iniciar o exercício, os voluntários ingeriram 250 ml de uma das três diferentes bebidas (placebo; malto; glicose) definidas através de um sorteio prévio. Os voluntários não apresentaram alterações na glicemia nos períodos antes e após 30 minutos de ingestão do placebo e glicose diferentemente da resposta glicêmica após o consumo da bebida malto. Portanto, como nos estudos de Febbraio e Stewart (1996) e Febbraio et al. (2000) o estudo de Sapata (2006) verificou que o consumo de bebidas carboidratos 30 minutos antes do exercício, compostas por carboidratos simples ou complexos e ambas as soluções de alto índice glicêmico, não alteraram o desempenho no exercício quando comparadas com a ingestão de bebidas sem carboidratos (placebo). No estudo de Hargreaves et al. (1985), o consumo de carboidratos de alto índice glicêmico, 45 minutos antes do exercício, não gerou efeitos no desempenho, independentemente da resposta glicêmica. Foster et al. (1971) demonstraram que o consumo de 75g de glicose 45 minutos antes de um exercício relativamente intenso (84% VO2 pico) estava associado com diminuição no tempo até a exaustão, comparada com uma refeição mista ou controle.
Kirwan et al. (2001), analisaram o consumo de uma refeição com carboidrato complexo e de alto índice glicêmico 45 minutos antes do exercício. Como resultado, a glicemia aumentou após 30 minutos do consumo. Depois disso, houve diminuição na glicemia até o final do teste.
No estudo de Gleeson (1986) e Febbraio e Stewart (1996), quando comparados os grupos que ingeriram as refeições de alto índice glicêmico, baixo índice glicêmico e placebo, não se verificaram alterações significativas no lactato sanguíneo, medida bastante utilizada para predição do desempenho no exercício (BILLAT, 1996).
Suplementação durante
A nutrição é uma importante ferramenta dentro da prática desportiva, pois, quando bem orientada, pode reduzir a fadiga, permitindo que o atleta treine durante mais tempo ou que se recupere melhor entre os treinos (WILLIANS E DEVLIN, 1992). Wasserman e Abunrad (1989) em uma revisão sugeriram a reposição calculada sobre o uso relativo de carboidrato no suprimento energético para cada atividade física. Em exercícios de intensidade moderada, onde cerca de 50% do dispêndio energético ocorre através da oxidação de carboidrato com um dispêndio calórico de 12 Kcal/min-1, seria necessário 1,5g de carboidratos por minuto, o que corresponde à reposição de 45g de carboidratos a cada 30 minutos de exercício.
Burke (2001) argumenta que não importa o que se consuma antes do exercício contanto que durante o exercício em intensidade moderada, se consumam açúcares em forma líquida de alto índice glicêmico.
Sapata (2006) descreve que os carboidratos utilizados durante o exercício podem melhorar o desempenho do atleta.
Nos estudos de Viebig (2010) verifica-se que a suplementação com carboidratos durante o exercício e suas especificações variam entre pesquisadores. O autor defende que o uso para a prevenção da hipoglicemia e redução da performance de atletas durante o exercício, o carboidrato consumido deve ser igual à quantidade de carboidrato utilizada. Tal fator foi estudado por Riddell (1999), que utilizou uma amostra de 20 adolescentes com diabetes tipo 1 que se exercitaram durante uma hora ingerindo água ou bebida com 6-8% de carboidrato. Neste estudo observaram que no grupo contendo bebida com carboidrato, a glicemia não se reduziu significativamente. No entanto, quanto ao grupo que recebeu apenas água houve risco de hipoglicemia.
Suplementação após
O consumo de soluções contendo carboidratos após o exercício é recomendado pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, visando favorecer uma máxima ressíntese de glicogênio muscular e hepático.
Conclusões
A depleção de carboidratos leva a uma queda na capacidade de trabalho que diminui progressivamente após duas horas para 50% da intensidade inicial. Esse nível de trabalho reduzido tem ligação direta com a produção e liberação de energia pela oxidação das gorduras, que passam a ter papel principal na produção de energia nesse período. Dessa forma, é necessário se fazer a reposição dos carboidratos durante toda a competição (pré, durante e pós) levando-se em conta tipo, concentração e forma de ingestão do carboidrato.
Referências
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FURTADO JR., O. Proposta de um instrumento de avaliação motora e antropométrica para crianças em idade pré-escolar e de 1a a 4a séries do ensino fundamental. 1998. 62 f. Monografia (Licenciatura em Educação Física) – UFPR; Curitiba.
GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. Crescimento, Composição Corporal e Desempenho Motor de Crianças e Adolescentes. São Paulo: CLR Baliero, 1997. 362 p.
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MALINA, R.; BOUCHARD, C. Growth, Maturation and Physical Activity. Champaign: Human Kinetics, 1991.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sobrepeso e obesidade. Disponível em: http://www.saude.gov.br. Acesso em março de 2003.
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SILVA, Sergio Gregório. Equações para predição de gordura corporal. Disponível em: http://www.sergiogregorio.com.br. Acesso em junho de 2003.
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