Representações sobre medo de dirigir por mulheres Representaciones sobre el miedo a conducir por parte de algunas mujeres |
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*Psicóloga. Especialista em Psicologia do Trânsito pela UNIP **Enfermeira. Especialista em Enfermagem do Trabalho pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão ***Enfermeira. Servidora da UTI Neonatal da Santa Casa de Misericórdia da Bahia ****Enfermeiro. Mestrando em Enfermagem pela UFBA *****Odontólogo. Doutor em Ciências da Saúde, FAMED/UFAL ******Psicólogo. Doutor em Saúde Pública, FAMED/UFAL (Brasil) |
Márcia Maria Pantoja Corrêa* Louise Lisboa de Oliveira Villa** Samira Vieira Cézar Matos*** Josielson Costa da Silva**** Daniel Antunes Freitas***** Jorge Luís de Souza Riscado****** |
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Resumo Objetivou-se identificar as representações do medo de dirigir em mulheres no município de Santa Maria da Vitória, Bahia, Brasil e os sentidos dados aos fatores psicológicos, emocionais e sócio-culturais envolvidos que impactam o medo de dirigir. A pesquisa realizada teve caráter qualitativo. Participaram do estudo seis mulheres que apresentam medo para dirigir, sendo coletados depoimentos através de um roteiro de entrevista. Verificou-se que as reais causas do medo de dirigir em mulheres estão de fato ligadas a forma como são educadas no meu intrafamiliar, a maneira como lindam com determinadas situações, como morte de um ente querido por acidente de carro, e outros fatores que também podem ocasionar o medo. Unitermos: Mulheres. Trânsito. Medo de dirigir.
Recepção: 19/08/2014 - Aceitação: 22/10/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O ato de movimentar um veículo automotor exige do indivíduo vários tipos de comportamentos, o que podem ocasionar diversas emoções, uma delas seria o medo ao dirigir.
O medo de dirigir afeta homens e mulheres, mas um número ainda maior de mulheres; cerca de 85%, como apontou Belina (2003) em sua pesquisa.
Para a mulher, cabe tornar-se um ser mais subserviente, submisso, isto quer dizer, que a feminidade passa pela docilidade, do recato e outras. Segundo Riscado (2012) a questão da hegemonia de gênero masculino e feminino é construída sócio-culturalmente e esses valores atribuídos irão nortear comportamentos expressivos tantos para os homens quanto para as mulheres.
Dentre as pessoas mais atingidas com o medo de dirigir em maioria estão às mulheres. Por isso a importância de procurar, pesquisar e entender por que as mulheres são as mais atingidas com o medo de dirigir, pois hoje com a entrada em massa das mesmas no mercado de trabalho juntos aos vários papéis assumidos, de mãe, esposa, dona de casa e profissional, dirigir seria uma forma de conquistar independência e autonomia nestes vários setores da vida. Para algumas mulheres dirigir é um ato rotineiro e fácil, para outras, mesmo aquelas bem sucedidas profissionalmente, o ato de dirigir é uma tarefa árdua que causa um grande sofrimento psicológico e emocional.
O objeto de nosso estudo se pauta pelas representações sobre dirigir veículos automotores, por mulheres.
Com esse objeto, pretende-se focalizar a dimensão simbólica das falas e das ações desses sujeitos para que se possa não só melhor atuar junto a eles, mas também – como base nessa dimensão – subsidiar ações com e para mulheres em geral, voltadas para a promoção da direção/pilotagem saudável, em geral, e a prevenção do estresse, em específico.
As representações estão sendo entendidas neste estudo a partir de uma dimensão socioantropológica, baseando-se nos conceitos de Laplantine (2001) e de Sperber (2001).
Portanto, o presente trabalho visa identificar as representações sobre o dirigir veículos automotores por mulheres, no município de Santa Maria da Vitória, Bahia, Brasil, pesquisando quais fatores psicológicos, emocionais e socioculturais envolvidos que causam o medo de dirigir.
Metodologia
Estudo exploratório através de uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, com aplicação de um roteiro de entrevista, segundo Minayo (2005),
A pesquisa foi realizada no município de Santa Maria da Vitória, Bahia, Brasil, em uma Clínica de Psicologia do Trânsito.
Foram abordados seis sujeitos do sexo feminino com idades entre 30 a 60 anos, compreendendo profissionais e usuários. Todos os sujeitos entrevistados tiveram suas identidades originais preservadas e adotaram-se nomes fictícios.
As respostas dos sujeitos investigados, ou seja, as categorias analíticas e as também empíricas, que emergiram no campo, após leitura flutuante e posteriormente em profundidade, seguiram a técnica de Análise de Conteúdo, de Laurence Bardin (1997), que segundo a autora toda análise de conteúdo basea-se em uma definição precisa dos objetivos da pesquisa e desenvolver-se a partir de diferentes fases, organizadas cronologicamente: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação.
Dessa forma, toda informação obtida através das entrevistas foram analisadas e interpretadas, com intuito de identificar e compreender as possíveis causas do medo de dirigir em mulheres no município de Santa Maria da Vitória pesquisando quais fatores psicológicos, emocionais e sócio-culturais envolvidos que causam o medo de dirigir.
Resultados e discussão
Nas entrevistas realizadas com as seis mulheres, pode-se perceber que o medo ou a fobia de dirigir é proveniente de várias questões como: acidente de um parente, educação familiar, trânsito tumultuado, a forma como o instrutor transmite as aulas, de como o marido ou irmão ensina, etc.
“Cresci com a consciência de que um carro, nada mais é do que uma arma, ou seja, se mal utilizado, pode gerar conseqüências desastrosas. Dirigir, a meu ver é uma necessidade, pois, me conduz ao trabalho, ao lazer, etc...” (Any, 32 anos).
Tudo isso contribuiu para que essas mulheres tivessem como obstáculo ao medo. Para algumas o medo ainda é paralisante, deixando de lado o sonho de dirigir.
No relatado de uma entrevistada que tirou a sua CNH, mas nunca conseguiu dirigir por medo de enfrentar o trânsito:
“Quando começava a dirigir com meu marido ao lado ficava trêmula com medo de errar... Apagava às vezes o carro e logo desistia” (Asmin, 34 anos).
Outra entrevistada teve seu início na direção de uma forma equivocada, mas mesmo assim não desistiu e após ter aulas com um instrutor de uma auto-escola sentiu-se segura para dirigir conquistando autonomia e independência:
“Meu medo de dirigir começou quando meu marido tentou me ensinar sem nenhuma técnica e no primeiro dia eu bati o carro, fiquei muitos anos sem querer pegar na direção de um veículo. (Adelma, 58 anos).
Mas são mulheres capazes de superar desafios e num aporte de criar movimentos para tentar dar conta dos seus propósitos
“Aos poucos, fui tomando confiança em mim e percebendo que dirigir não era difícil como imaginava e que era capaz em aprender” (Anubes, 38 anos).
Mas algumas mulheres por outro lado amealheiam ansiedade e medo e se engessam numa perspectiva de dependência, conforme o depoimento:
“Mas fiquei com muita ansiedade e medo e logo desisti. Hoje em dia sinto falta de ter essa independência.” (Asmin, 34 anos).
Considerações finais
O medo desproporcional de dirigir pode fazer com que a pessoa desista de tentar. Mas, é importante salientar que em cada tentativa aprendemos a lidar com todas nossas angústias, frustrações, inseguranças e medos. É ai que aos poucos vamos nos conhecendo e tendo contato com aquilo que desejamos, a insegurança e o desconforto estão atreladas ás várias etapas de nossas vidas. Desta forma, eliminar o objeto (carro) não fará desaparecer a fobia.
Prioritariamente para vencer o medo de dirigir o importante é conhecermos a nossa essência, o que de fato nós somos, o que desejamos, e o que gostaríamos de fazer, tendo consciência de estarmos em um processo de adaptação as contingências sociais. Sendo assim, o nosso olhar deverá estar sempre voltado para dentro, para que possamos analisar o queremos, o que poderá ser modificado ou melhorado, tanto no que se refere a nossa relação com o mundo e com os nossos próprios medos, seja estes ligados a realidade ou a nossa imaginação.
Porém, com a mudança de papéis, a sobrecarga de atividades assumidas a fez com que a mulher assumisse de fato o volante de sua vida e literalmente obrigada a assumir o volante de um automóvel, antes papel exclusivamente masculino, assim como enfatiza Corassa (2000): Se os homens podem, porque ela não?
Mesmo trazendo autonomia e liberdade, entrar nesse universo tipicamente masculino, não foi nada fácil para a mulher.
Saber enfrentar o medo não é tarefa fácil seja ele qual for ainda mais quando se está dirigindo uma arma como o carro. É preciso muita força de vontade, e às vezes até mesmo de psicoterapia para a sua superação.
Muito foi superado, como podemos ver no dia a dia as mulheres enfrentando o trânsito, indo ao trabalho, levando seus filhos(as) à escola ou curtindo o seu lazer, sendo muitas vezes xingadas e humilhadas no trânsito pelos homens e até mesmo por outras mulheres. Mesmo assim, ainda enfrentam todo descaso e medo, mesmo sendo consideradas mais cautelosas do que os homens no trânsito.
Referências bibliográficas
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