efdeportes.com

Intervenção motora aquática: contribuições
para o desenvolvimento motor infantil

Intervención motora acuática: contribuciones para el desarrollo infantil

Aquatic motor intervention: contributions to the child motor development

 

*Especialista em Educação Física

Universidade Comunitária da Região de Chapecó

**Mestre em Ciências do Movimento Humano

Universidade Federal de Santa Maria

Universidade Comunitária da Região de Chapecó

Larissa Wagner Zanella*

lariwagner@hotmail.com

Carla Rezer**

rezer@unochapeco.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Muitas pesquisas que investigam o desenvolvimento motor, concentram seus enfoques no ambiente terrestre. Poucos estudos consideram a importância de um meio aquático para o favorecimento das habilidades motoras fundamentais (HMF). Pensando nisso, o objetivo deste estudo foi verificar as possíveis contribuições para os estágios de desenvolvimento motor de 30 crianças de 2 a 4 anos através de uma intervenção motora no ambiente aquático, utilizando a Matriz analítica de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais de GALLAHUE e OZMUN (2005). O estudo concluiu que as crianças são favorecidas no desenvolvimento ao participar de atividades em um ambiente diferenciado como é a água.

          Unitermos: Meio aquático. Desenvolvimento. Habilidades motoras fundamentais.

 

Abstract

          Many studies investigating motor development, concentrate their focus on the terrestrial environment. Few studies consider the importance of an aquatic environment for favoring fundamental motor skills (FMS). Thinking about it, the aim of this study was to investigate the possible contributions to the stages of development of 30 children 2-4 years by a motor intervention in the aquatic environment engine, using the Analytical framework for the development of fundamental movement skills of GALLAHUE e OZMUN (2005). The study concluded that children are favored in the development of activities to participate in a different environment like water.

          Keywords: Aquatic environment. Development. Fundamental motor skills.

 

Recepção: 26/08/2014 - Aceitação: 15/10/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Os padrões de desenvolvimento motor tem sido alvo de várias pesquisas em diferentes momentos da história do estudo do desenvolvimento motor humano. Em sua grande maioria, os estudos direcionam a atenção para a motricidade no ambiente terrestre. Pouco se conhece sobre a locomoção humana e seu desenvolvimento no ambiente aquático.1 Mais ainda, a utilização do meio aquático não constitui exclusividade dos tempos atuais, uma vez que o homem da pré-história já utilizava do ambiente aquático com muita freqüência.2 Atualmente, as pesquisas relacionadas ao desenvolvimento motor e o ambiente aquático vem aumentando, abrangendo diversas áreas de estudo, como por exemplo a educação física e fisioterapia.3

    Para as crianças nadar significa se deslocar no meio líquido. Pesquisadores reportam que nadar deixa a criança mais ágil e é um dos únicos exercícios que estimulam todas as partes do corpo, pois a água proporciona movimentos tridimensionais.4 A criança que tem oportunidades motoras no meio aquático tem o sistema imunológico mais fortalecido, capacidades respiratórias melhoradas, diminuindo as probabilidades desenvolver problemas ocasionados pelo sedentarismo.4 Para que as crianças engajem-se nas atividades aquáticas é necessário que os alunos adquiram um conjunto de habilidades, comportamentos e conhecimentos específicos do meio aquático.

    Tal processo pode ser denominado de aquisição da "prontidão aquática". Isto por que antes de aprender as habilidades motoras específicas das atividades aquáticas, o indivíduo terá de apropriar-se de comportamentos, habilidades e conhecimentos que o preparem para as aquisições subseqüentes.4 Outros pesquisadores denominam esse processo de "adaptação ao meio aquático".5,6 Portanto, somente após a adaptação ao meio aquático é que se inicia a aprendizagem das habilidades motoras específicas das diversas atividades aquáticas. No passado, os professores assumiam que a adaptação ao meio aquático deveria ser realizada a partir do momento em que a criança passava a freqüentar a pré-escola, ou seja, ao terceiro ano de vida. Atualmente, o processo de adaptação ao meio aquático ocorre bem mais cedo, em muitos casos as aulas iniciam a partir do primeiro mês de vida do bebê. Esse processo é realizado através das vulgarmente denominadas aulas de "Natação para Bebês".

    Portanto, o objetivo do presente estudo foi analisar as contribuições de atividades aquáticas para o desenvolvimento motor de crianças na faixa etária de 2 a 4 anos, mais especificadamente identificar as possibilidades de atividades aquáticas para esta faixa etária; aplicar um programa de ensino de atividades aquáticas e identificar as mudanças no padrão motor terrestre do início e do final da aplicação do programa.

Métodos

Participantes

    Este estudo é caracterizando como um estudo de corte quase-experimental7 utilizando uma amostra composta por 30 crianças (17 meninos e 13 meninas) com idade entre 2 anos e 3 meses e 4 anos e 6 meses, participantes de um programa de atividades aquáticas. O nível socioeconômico das famílias das crianças participantes é caracterizado por uma média de R$ 3.600,00. O nível de escolaridade dos pais foi identificado em 4% dos pais com pós-graduação; 58% com nível superior completo; 25% com ensino médio completo; 13% com ensino fundamental. Cerca de 80% das crianças freqüentam escola no período vespertino, contam com 15min. de intervalo para lanche e 1 hora por dia destinada a atividades livres no pátio da escola (grama, areia, brinquedos). Contam com aula de educação física uma vez por semana e o período livre no parque é mesclado com duas turmas em conjunto de maternal e pré I. Todas as crianças apresentaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais e/ou responsáveis.

Instrumentos

    Para avaliar os estágios do desenvolvimento motor das crianças foi utilizada a Matriz analítica de desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais8, nas habilidades de equilíbrio estático, corrida, salto com um pé, arremessar e chutar. Para a análise do ambiente familiar foi aplicado um questionário para os pais com o objetivo de identificar as atividades vivenciadas pelas crianças no seu dia a dia.

Procedimentos

    Este estudo contou com 3 fases:

  1. Avaliação pré-intervenção: as crianças foram distribuídas em subgrupos de 3 crianças com faixa etária semelhante. Estes pequenos grupos participaram de uma sessão de 40 minutos de brinquedo livre em ambiente terrestre. Neste momento foi permitido que elas desenvolvessem brincadeiras e através de observações a equipe de avaliadores composta por 2 profissionais de educação física realizou registros em vídeo para posterior avaliação dos estágios motores.

  2. Programa de atividades aquáticas: 2 aulas semanais de 50 minutos, por um período de 24 semanas. As aulas contavam com 4 partes: (1) preparação; (2) atividades específicas para o cumprimento do objetivo da aula; (3) brincadeiras em grupo; (4) encerramento. Nas aulas eram contemplados conceitos importantes como, por exemplo, a respiração, flutuação, propulsão, respiração, saltos, movimento de pernas e braços de forma lúdica, com ênfase no aprendizado do nado crawl e nado costas.

  3. Avaliação pós-intervenção: avaliação semelhante à pré-intervenção. Foi oferecida uma sessão em pequenos grupos com faixa etária semelhante. Na sessão de 40 minutos foi oferecida oportunidade de brinquedo livre no espaço terrestre. Neste momento a equipe de avaliadores registrou as brincadeiras em vídeo para posterior análise dos estágios motores.

Resultados

    As crianças foram identificadas nos seguintes estágios de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais:

Corrida

    Na avaliação pré-intervenção de corrida 81% das crianças foram identificadas em estágio inicial, onde possuíam impulso com os dois pés e pouso com um dos pés; fase de vôo, mas sem controle, os braços foram usados sem eficiência para o equilíbrio, nesta fase os sujeitos apresentaram movimento rígido e hesitante. No momento pós-intervenção houve uma transição onde 68% das crianças foi identificada em estágio elementar, porém com certo desenvolvimento dos movimento apresentaram nesta fase certo molejo na execução da atividade conseguindo correr sem necessitar de um apoio final, porém não alcançaram ainda o estágio de desenvolvimento maduro.

Salto com um pé

    No momento pré-intervenção, a habilidade de salto com um pé 87% das crianças apresentaram estágio inicial de movimento. Nesta habilidade as crianças não apresentavam ritmo de movimento, os braços são utilizados para auxiliar o equilíbrio e o movimento parece entrecortado e rígido. Na fase de avaliação pós-intervenção 43% das crianças apresentou estágio elementar do desenvolvimento motor nesta habilidade motora fundamental. As crianças neste estágio apresentavam pouca força no salto e pouco equilíbrio.

Arremesso

    No momento pré-intervenção 82,3% do grupo apresentou estágio inicial na habilidade de arremesso. As ações motoras desta habilidade eram feitas a partir do cotovelo. A ação parecia um empurrão, o tronco normalmente se mantinha perpendicular ao alvo e mostrou uma pequena ação de giro durante o arremesso. Aproximadamente 13% das crianças apresentaram estágio elementar com características de segurar a bola atrás da cabeça, inclinar o braço para frente acima do ombro e o tronco é flexionado para frente com movimento do braço para frente. No momento pós-intervenção houve pequena transição de estágio, isto é, 81% das crianças continuou integrando a fase inicial do movimento.

Chutar

    No momento pré-intervenção a habilidade de chutar foi classificada como inicial em 100% das crianças. De forma mais específica, as crianças não apresentaram um movimento preparatório; a perna do chute tendeu a manter-se inclinada durante o chute e um ou mais passos deliberados foram dados em direção à bola, entretanto o movimento apresentava pouca força. No momento pós-intervenção aproximadamente 87% das crianças continuou integrando o estágio inicial.

Discussão

    Os resultados obtidos foram baseados nos níveis de desenvolvimento proposto por Gallahue e Ozmun (2005), sendo nomeados como estágio inicial, elementar e maduro. Os dados apresentados referentes à estes estágios, demonstrou que a grande maioria das crianças são reportadas no estágio inicial de desenvolvimento. Após o desenvolvimento do programa de atividades aquáticas há uma transição de estágios de desenvolvimento, onde as crianças passam a desempenhar HMF com características do padrão elementar. Entretanto, em nenhuma observação houve identificação de alguma criança no estágio maduro.

    O objetivo geral desta pesquisa foi analisar as contribuições de atividades aquáticas para o desenvolvimento motor de crianças. As informações coletadas demonstraram que maioria das crianças está normalmente incluída na faixa de aquisições que promovem a habilidade motora e encontravam-se no estágio adequado para sua idade cronológica.

    Independente do ambiente, o estímulo deve ser adequado, sendo primordial que tanto na família como na escola, o importante é a criança receber orientações adequadas.9,10 Os dados encontrados nesta pesquisa evidenciou que as crianças possuem um ambiente estimulante e saudável e com orientação adequada para que possam desenvolver a motricidade, emoção e pensamento lógico. O desenvolvimento motor está relacionado com experiências individuais de cada criança e o tipo de estímulo vivenciado poderá proporcionar melhor desempenho das habilidades motoras que são divididas em estágios inicial, elementar e maduro representado pelos movimentos fundamentais de corrida, arremesso, salto com um pé e chute. As crianças avaliadas com idade entre dois e quatro anos, quanto ao padrão de habilidade motora, deveriam estar no estagio elementar desenvolvendo controle nas habilidades rítmicas dos movimentos de coordenação motora grossa e é o que foi encontrado nesta pesquisa.10,11

Considerações finais

    As habilidades motoras ocorrem em conjunto com a progressão das idéias, atitudes e dependendo da ocorrência de vários fatores como, constituição genética, influência ambiental, social, cultural e estimulação.8,11 O desenvolvimento motor está relacionado com experiências e vivências individuais de cada criança. Quanto maiores as oportunidades de experimentação e exploração, melhor será o desenvolvimento desta criança nas tarefas cotidianas.11 As crianças que tem seus movimentos restringidos por falta de oportunidades e por receberem menos estímulos, poderão ser seu desenvolvimento motor prejudicado.8,13 Neste sentido um programa de atividades aquáticas torna-se uma excelente oportunidade de prática e experimentação. Além de contribuir para o desenvolvimento das HMF que serão utilizadas para o envolvimento da criança em esportes, atividades de lazer ou da vida diária, favorece o desenvolvimento de capacidades físicas importantes para uma vida saudável como força, controle motor e controle respiratório.

Limitações

    Esta pesquisa não contou com instrumentos que pudessem verificar estatisticamente as contribuições de uma intervenção motora aquática. Portanto, sugerimos para pesquisas futuras que seja desenvolvida uma pesquisa mais aprofundada e controlada, com instrumentos adequados para que os pesquisadores possam mensurar quantitativamente as contribuições reais do ambiente aquático no desenvolvimento infantil.

Referências bibliográficas

  1. Xavier Filho E, Manoel EJ. Desenvolvimento do comportamento motor aquático: implicações para a pedagogia da natação. Revista Brasileira Ciên. e Mov. Brasília. São Paulo – SP, 2002, V. 10. N. 2. p. 85-94.

  2. Tahara AK, Santiago DRP, Tahara AK. As atividades aquáticas associadas ao processo de bem estar e qualidade de vida. EFDeportes.com, Revista Digital, 2006, 103. http://www.efdeportes.com/efd103/atividades-aquaticas.htm

  3. Klein JJ, Silva SK. Análise do desenvolvimento motor de crianças com 7 anos em determinadas habilidades fundamentais. Monografia apresentada ao Curso de Educação Física, UNOCHAPECÓ, Chapecó, SC, 2006.

  4. Langendorfer S, Bruya L. Aquatic readiness. Developing water competence in young children. Human Kinetics. Champaign, IL, 1995.

  5. Carvalho C. Uma perspectiva didáctica da natação, 1984.

  6. Mota J. Aspectos metodológicos do ensino da Natação. Edição da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Porto, 1990.

  7. Thomas JR, Nelson JK. Métodos de Pesquisa em Atividade Física. 3ª Ed. Porto Alegre, Ed. Artmed, 2002.

  8. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o Desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2005.

  9. Haywood KM, Getchell N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 3. ed. Porto Alegre Artmed, 2004.

  10. De Godoy KMA. A arte no contexto da motricidade humana. Motriz, 1999, 5(1)

  11. Pereira ÉF, Teixeira CS, Villis, JMC, Paim MCC, Daronco LSE. Fatores motivacionais de crianças e adolescentes asmáticos para a prática da natação. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 2009, 17(3), 9-17.

  12. Oliveira JÁ. Padrões motores fundamentais: implicações e aplicações na educação física infantil. Interação, 2002, 6(6), 37-41.

  13. Magill RA. Aprendizagem Motora: Conceitos e Aplicações. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.

  14. Campos E, Santos CCD. Controle postural e motricidade apendicular nos primeiros anos de vida. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, 2005.

  15. Marconi MA, Lakatos EM. Fundamentos de Metodologia Científica. 6ª Ed. São Paulo – SP. Ed. Atlas, 2006.

  16. Nahas MV, Kerbej FC. Natação: algo mais que 4 nados. São Paulo: Manole, 2002.

  17. Shaw S, D’Angour A. A Arte de Nadar. São Paulo: Manole, 2001. 147p.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 198 | Buenos Aires, Noviembre de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados