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Conhecimento sobre hidratação e estado hídrico
de praticantes de artes marciais

Conocimiento sobre hidratación y estado hídrico de practicantes de artes marciales

Knowledge about hydration and hydric state of practitioners of martial arts

 

* Acadêmica do curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Itajaí/SC

** Nutricionista, Doutoranda em Ciências Farmacêuticas pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI

Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Docente do Centro de Ciências da Saúde da UNIVALI, Itajaí/SC

Tami Cristina Lang*

Luciane Ângela Nottar Nesello**

lucianenesello@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi avaliar o estado hídrico, as práticas de ingestão de líquidos e o nível de conhecimento sobre hidratação de praticantes de artes marciais. Para calcular o balanço hídrico e o percentual de desidratação foi registrada a ingestão de líquidos durante o treinamento e avaliado a variação de peso corporal pré e pós-treino. Para avaliar o conhecimento sobre hidratação foi aplicado um questionário semiestruturado adaptado. As variáveis quantitativas foram calculadas por meio das médias e os desvios padrão. As variáveis categóricas foram descritas por meio de suas freqüências absolutas e relativas, os dados foram tabulados com o programa Microsoft Excel®. A amostra foi constituída por 23 lutadores adultos, de ambos os gêneros. A média de idade foi de 30,5 anos e o IMC médio classificado como sobrepeso. A ingestão média de água foi de 539 mL, a média do percentual de desidratação foi de 0,76% e do balanço hídrico 0,59 kg. A respeito do hábito de hidratar-se, 72,7% dos praticantes sempre se hidratam durante o treino, 54,5% se preocupavam com o tipo de líquido ingerido, havendo predomínio do consumo de água, 59,1% responderam corretamente a função das bebidas isotônicas, 36,3% afirmaram que se hidratam antes da sensação de sede, 77,3% hidratam-se independente da estação do ano e 59,1% afirmaram não ter idéia de como realizar a hidratação adequada. Conclui-se que apesar do conhecimento sobre os hábitos de hidratação ter sido considerado insuficiente, os praticantes de artes marciais apresentaram balanço hídrico positivo não havendo desidratação.

          Unitermos: Hidratação. Balanço hídrico. Artes marciais.

 

Abstract

          The aim of this study was to evaluate the water status, the practices of fluid intake and the level of knowledge about hydration martial arts practitioners. To calculate the water balance and hydration percentage was recorded fluid intake during training and assessed the variation in body weight before and after training. To assess the knowledge about hydration we applied a semi-structured adapted questionnaire. Quantitative variables were calculated using the means and standard deviations. The categorical variables were described by their absolute and relative frequencies; the data were tabulated with Microsoft Excel ®. The sample consisted of 23 fighters adults of both genders. The average of age was 30.5 years and the BMI average classified as overweight. The average of water intake was 539 mL, the average of dehydration percentage was 0.76% and 0.59kg of water balance. About the habit of hydration, 72.7% of practitioners always hydrate during training, 54.5% were concerned with the type of liquid ingested, with a predominance of water consumption, 59.1% answered correctly function of isotonic drinks, 36.3% said they hydrate just before feeling thirsty, 77.3% hydrate independent of season and 59.1% said they had no idea how to do adequate hydration. It is concluded that despite the knowledge of the hydration habits has been deemed insufficient, martial arts practitioners had positive fluid balance with no dehydration.

          Keywords: Hydration. Fluid balance. Martial arts.

 

Recepção: 27/06/2014 - Aceitação: 19/08/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No organismo humano a água constitui grande proporção do volume corporal, correspondendo de 50 a 70% do peso, distribuída nos compartimentos orgânicos entre os líquidos extracelulares e intracelulares (CONSTANZO, 2007). A necessidade de água varia, sendo que a ingestão deve ser igual às perdas que ocorrem principalmente através da urina, fezes, pele, pelo ar expirado e suor (MAUGHAN; BURKE, 2004).

    Durante a pratica de exercícios físicos, ocorre aumento da taxa metabólica basal, elevando a produção de calor, gerando estresse térmico que associado a umidade e calor ambiente, aumenta a produção de suor a fim de manter o equilíbrio térmico.
Este processo impõe grande perda dos líquidos corporais, que pode levar ao quadro de desidratação (VIMIEIRO-GOMES; RODRIGUES, 2001). A desidratação causa rápida redução hídrica, dificultando a regulação da temperatura corporal, além de prejudicar as respostas fisiológicas, o desempenho físico e produzir riscos para a saúde (PERRELLA; NORIYUKI; ROSSI, 2005).

    Cuidados com o estado nutricional e o balanço hídrico adequado, tornam-se necessários, tanto no período de treinamento, como nas competições, visto que ambos os aspectos interferem diretamente no desempenho do atleta (BRITO et al., 2005; LIMA et al., 2007).

    No que se refere às modalidades esportivas, as lutas representam um grupo de risco para a hipo-hidratação, a demanda hídrica durante treinamentos para lutadores pode ser superior às demais modalidades desportivas, por serem atividades anaeróbicas intermitentes e de alta intensidade. Associado a isto ressalta-se que os locais de treinamentos geralmente são fechados, fazendo com que a perda do calor corporal durante o treino seja dificultada (BRITO et al., 2007).

    Os principais pontos de perda de calor corporal são as mãos, pés e cabeça (MARINS, 2000). No entanto, em algumas modalidades com o boxe e muay-thai são utilizados protetores em pelo menos um destes três locais do corpo. Além disso, os uniformes utilizados em algumas modalidades de luta, como no Jiu-Jitsu, contribuem para o acúmulo de calor corporal, o que resulta no aumento da temperatura corpórea (BRITO; VOLP; MENDES, 2008).

    Este estudo teve como objetivo avaliar o estado hídrico, as práticas de ingestão de líquidos e o nível de conhecimento sobre hidratação de praticantes adultos de Jiu-Jitsu, Muay Thai e Boxe de uma academia do Sul do Brasil.

Material e métodos

    Estudo de caráter transversal, na qual foram convidados a participar voluntariamente os praticantes adultos, de ambos os gêneros, de Jiu-Jitsu, Boxe e Muay Thai, matriculados em uma academia Sul do Brasil. A amostra foi composta pelos participantes que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    O conhecimento dos praticantes, sobre hidratação foi avaliado por meio de um questionário semiestruturado, adaptado à amostra, com perguntas objetivas, auto-aplicado, utilizado anteriormente em outros estudos (BRITO et al., 2006; PRADO; GONZAGA; DANTAS, 2010).

    Os dados antropométricos de peso e estatura foram aferidos a fim de avaliar o estado nutricional, através do Índice de Massa Corpórea (IMC) classificando de acordo com os pontos de corte da Word Health Organization (WHO, 2006).

    O balanço hídrico foi calculado pela diferença entre a perda hídrica e o consumo de líquidos durante o exercício: balanço hídrico = massa corporal inicial – massa corporal final. O grau de desidratação em relação à massa corporal inicial foi medido pela alteração da massa corporal, calculado pela fórmula: % desidratação = [(peso inicial – peso final) x 100] / peso inicial.

    A ingestão de água durante o treino foi ad libitum, sendo que os praticantes receberam individualmente uma garrafa comercial padrão com capacidade para 500 mL lacrada e identificada com o respectivo nome do indivíduo. Após o treino, foi mensurado o restante de água de cada garrafa utilizando-se um copo graduado. Se o praticante ingeriu o volume total antes do término do treino, foi registrado em planilha o consumo total de água, sendo o recipiente novamente reabastecido.

    Para descrever as variáveis quantitativas foram calculadas as médias e os desvios padrão. As variáveis categóricas foram descritas por meio de suas frequências absolutas (N) e relativas (%). Para a tabulação dos dados foi utilizado o programa Microsoft Excel®.

Resultados

    A amostra foi constituída por 23 lutadores adultos, de ambos os gêneros. Do total 12 eram praticantes de Jiu-Jitsu, 4 de boxe e 7 de Muay Thai. A média de idade dos praticantes foi de 30,5 anos e o IMC médio foi de 26,4kg/m², classificado como sobrepeso (WHO, 2006). Ressalta-se que a maior média de IMC esteve entre os praticantes de Jiu-Jistu com 28,70Kg/m² e a menor (23,07kg/m²) entre os praticantes de Muay Thai.

    A duração do treino foi de aproximadamente 60 minutos. A média de ingestão de água foi de 539 mL, sendo que a maior ingestão ocorreu no grupo Jiu-Jitsu com média de 913 mL. Ressalta-se que os praticantes de Muay Thai não ingeriram líquido durante o treino. Quanto ao percentual de desidratação e o balanço hídrico, a média foi de 0,76% e 0,59kg respectivamente. A maior média ocorreu no grupo do Jiu-Jitsu com percentual de desidratação de 0,97%, e balanço hídrico de 0,83kg, seguido pelo Muay Thai com 0,90% e 0,57kg respectivamente e o Boxe com percentual de desidratação de -0,10% e balanço hídrico de -0,07kg (Tabela 1).

Tabela 1. Percentual de desidratação e balanço hídrico por gênero de praticantes de artes marciais de uma academia do Sul do país, 2013

    Em relação ao questionário sobre conhecimentos e hábitos de hidratação, foram agrupadas as respostas obtidas, sendo as de maior relevância listadas na Tabela 2, e classificadas de acordo com acerto ou erro. A respeito do hábito de hidratar-se, 72,7% dos praticantes afirmaram que sempre se hidratam durante o treino, porém, evidencia-se que apenas 27,3% hidratam-se antes, durante e depois da prática de atividade física. Os praticantes de Muay Thai foram os que afirmaram hidratar-se somente às vezes.

    Dos praticantes, 54,5% se preocupavam com o tipo de líquido a ser ingerido (água ou isotônico), porém, houve predomínio do consumo de água (86,4%) e apenas 13,6% relataram o uso de bebida isotônica. Ressalta-se que 59,1% responderam corretamente a função das bebidas isotônicas.

    Quanto ao momento de hidratar-se, 50% afirmaram que deve ser antes da sensação de sede, mas apenas, 36,3% o fazem neste momento. Além da água, 18,2% utilizam também sucos naturais para se hidratar. Houve predomínio (77,3%) dos praticantes em hidratar-se independente da estação do ano.

    Quando questionados sobre a relação entre ingestão de água e o tempo de exercício, apenas 27,2% responderam que deve-se beber 250mL a cada 15 minutos, 59,1% afirmaram não ter ideia de como realizar a hidratação adequada e 14,3% não souberam responder corretamente.

    Observou-se ainda na amostra, que 77,3% nunca receberam orientação profissional sobre a maneira adequada de se hidratar. Fato este evidenciado pelo relato de 86,3% já ter apresentado pelo menos uma vez durante treinamentos ou competições, sintomas relacionados ao estresse térmico, sendo que o sintoma mais frequente foi a sede muito intensa, seguido de perda de força, palidez, câimbras e dor de cabeça.

    Ao serem questionados quanto ao hábito de aferir o peso corporal antes e após a prática da arte marcial, 27,3% referiram pesar-se sempre, enquanto 72,7% afirmaram não ter este hábito.

Tabela 2. Percentual das respostas sobre conhecimentos e hábitos de hidratação de praticantes de artes marciais de uma academia do Sul do país, 2013

Discussão

    A média de idade do presente estudo foi de 30,5 (+5,8) demonstrando uma população adulta jovem, o que se assemelha ao evidenciado por Carmo et al. (2011) avaliando 91 atletas adultos praticantes de Jiu-Jitsu (média de idade de 27,09 anos), já Brito et al. (2007) ao estudarem 200 atletas adultos de Jiu-Jitsu, encontraram idade média inferior (24,71 anos).

    A média de IMC encontrada classificou os participantes da amostra como sobrepeso. Corroborando com o encontrado, Andreato et al. (2012) ao avaliar atletas de Jiu-Jitsu, encontraram IMC médio de 25,6kg/m² (sobrepeso) e Poderoso e Poderoso (2012), verificaram que 45,17% dos atletas de Jiu-Jitsu avaliados foram classificados como sobrepeso ou obesidade. Ressalta-se que a classificação de acordo com o IMC não é a melhor a ser utilizada para atletas, pois leva em consideração apenas a massa corporal e a estatura, não identificando os constituintes da composição corporal portanto o IMC elevado pode ser conseqüência de um acentuado desenvolvimento da massa muscular (ANDREATO et al., 2012).

    Quando avaliada a média geral de ingestão de líquidos, observa-se que esteve dentro do preconizado pela Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva (SMBE, 2009), que deve ser de 500 a 2.000mL/hora. Porém, avaliando o grupo Boxe (356mL) e Muay Thai (0mL) isoladamente, observa-se ingestão insuficiente. Corroborando com a presente pesquisa, avaliando outras modalidades esportivas, Prado et al. (2009) ao investigarem praticantes de natação, verificaram média de ingestão de água de 575mL e Perrone et al. (2010) obtiveram ingestão hídrica de 447mL ao avaliar adolescentes praticantes de futebol. Já Vimeiro-Gomes e Rodrigues (2001) ao avaliarem 12 atletas de vôlei do gênero masculino obtiveram média de ingestão de 900 mL.

    De acordo com o percentual de desidratação encontrado na presente pesquisa, percebe-se que não houve perdas hídricas severas, porém, os efeitos da ingestão inadequada de líquidos podem ocorrer mesmo que a desidratação seja leve ou moderada. Com 1 a 2% de desidratação inicia o aumento da temperatura corporal em até 0,4ºC para cada percentual subsequente de desidratação, a redução de desempenho ocorre com um percentual de desidratação em torno de 3% e a partir de 6% existe risco de choque térmico, coma e morte (SBME, 2009). O encontrado na presente pesquisa assemelha-se às variações verificadas por Vimeiro-Gomes e Rodrigues (2001) em que o percentual de desidratação variou entre 0,13 a 2,78% e balanço hídrico de 0,1 a 2,3kg.

    Em período pré-competição os praticantes de esportes de combate que incluem o Muay Thai, Jiu-jitsu e o Boxe adotam estratégias radicais para perda de peso, causando hipohidratação, sendo que as perdas variam de 2 a 13% do peso corporal total (PETTERSSON, 2013).

    As estratégias mais comuns incluem a redução da ingestão alimentar e de líquidos, bem como a desidratação suor induzida pelo exercício ou a utilização de sauna, métodos ainda mais extremos, incluem vômitos autoinduzidos e uso de diuréticos e laxantes (ARTIOLI et al., 2010). O que torna-se perigoso uma vez que níveis moderados de hipohidratação (1 a 3%) diminuem o funcionamento cognitivo, o desempenho psicomotor, o tempo de tomada de decisão, e reduz o estado de alerta, além das alterações que causam na função cardiovascular (SHIRREFFS et al., 2005).

    Quando questionados, a maioria dos praticantes (72,7%) referiu preocupar-se com a hidratação durante o treino, porém, um baixo percentual se hidratava antes, durante e depois do treino. Resultados semelhantes foram obtidos por Carmo et al. (2011) em que mais de 70% dos praticantes de Jiu-Jitsu entrevistados preocupavam-se com a hidratação durante o treinamento e competição e 24% mencionaram hidratar-se às vezes.

    Autores relatam que hidratar-se antes, durante e depois do exercício é fundamental para a manutenção do desempenho físico, evitar lesões e manter as funções orgânicas (SHIRREFFS, 2005; PRADO; GONZAGA; DANTAS, 2010). A hidratação durante o exercício ainda é necessária para evitar a hipertermia, disfunções da defesa antioxidante celular, reparar a diminuição do volume plasmático, prevenir variações na osmolaridade sanguínea e na concentração plasmática de sódio (PAIK et al., 2009; SILVA et al., 2011).

    Pouco mais da metade da amostra (54,5%) afirmou preocupar-se com o tipo de líquido a ser ingerido, sendo que a maior parte consumiu apenas água. Ressalta-se que dentre a presente amostra pouco mais da metade conhecia a função correta das bebidas isotônicas. Semelhante ao encontrado na presente amostra, dos avaliados por Brito et al. (2006), 50% afirmaram que se preocupam com a o tipo de líquido a ser ingerido mas a água foi o líquido mais consumido e 63,7% conheciam a função da bebida isotônica.

    A água tem o benefício de promover um rápido esvaziamento gástrico, no entanto, o consumo de uma bebida com carboidrato, durante o exercício, oferece vantagens, pois mantém os níveis de glicose sanguíneos durante o exercício. Dependendo das circunstâncias de temperatura, umidade relativa do ar, tempo de duração do treinamento ou competição, sugere-se preferencialmente a ingestão de bebidas esportivas à água (SBME, 2009).

    A bebida carbohidroeletrolítica poderá auxiliar o atleta poupando seus estoques de glicogênio muscular e hepático, além de conter água e eletrólitos que auxiliam no melhor rendimento dos atletas (SOARES et al., 2007; CIRNE; MENDES, 2011). Se a atividade durar mais de uma hora, ou se for intensa do tipo intermitente, como no caso dos praticantes da presente pesquisa, mesmo com menos de uma hora de duração, deve-se repor carboidrato na quantidade de 30 a 60g/h e sódio na quantidade de 0,5 a 0,7 g/L (SBME, 2009).

    Verificou-se que grande parte da amostra (63,7%) se hidrata apenas depois de ter sentido sede, um parâmetro ineficiente para manter o estado de euhidratação, tendo em vista que é necessária a perda de 1,5 a 2 litros de fluidos para que o mecanismo da sede dê sinal, e neste nível de perda de água o indivíduo já pode estar com um quadro de hipo-hidratação leve, o que pode causar um sério impacto sobre o controle da temperatura corporal (ALFLEN et al., 2009).

    Em relação à hidratação e as estações do ano, 77,3% responderam hidratar-se independente da estação. Com resultados semelhantes, Moraes, Silva e Silva (2010), verificaram que 61,11% dos atletas de Jiu-Jitsu, ingeriam líquidos independente da estação do ano. Ferreira (2007), ressalta que independente da época, existe a possibilidade de ocorrer desidratação, decorrente da baixa ingestão de líquidos, associada às perdas através dos mecanismos de convecção e condução.

    Quando questionados em relação à aferição do peso corpóreo antes e depois dos treinos, grande parte da amostra informou nunca ou quase nunca fazer o controle. Condizendo com estes achados Brito et al. (2006), ao avaliarem caratecas verificaram que 79,2% não possuem o hábito de pesar-se antes e após o treino, e dos jogadores de futebol avaliados por Ferreira et al. (2009), 72,2% também não possuíam este hábito.

    Verificar a massa corporal antes e depois do treino é uma técnica rápida, fácil e de baixo custo, que tem o benefício de identificar a perda hídrica para posteriormente estabelecer uma reposição adequada, tornando possível calcular, de forma indireta, a demanda de consumo de líquidos durante a atividade física através do proposto por Maughan e Shirrefs (1998), que deve ser 1 a 1,5 litros para cada quilo perdido.

    Quanto a relação entre ingestão de água e o tempo de exercício apenas 27,2% responderam corretamente, de acordo com o preconizado pela SBME (2009) que é aproximadamente 200 a 250ml a cada 15 ou 20 minutos. Mais da metade dos praticantes afirmou não ter ideia de como devem realizar a hidratação, o que corrobora com o relato de grande parte da amostra (72,7%) não ter recebido orientação profissional a respeito da maneira correta de hidratar-se. Assemelhando ao encontrado no presente estudo, 72,2% dos avaliados por Moraes, Silva e Silva (2010) e 60,7% dos caratecas investigados por Brito et al. (2006) nunca tiveram orientação sobre a melhor maneira de se hidratar.

    A falta de conhecimento a respeito da correta hidratação pode promover uma hidratação inadequada, ou consumindo líquidos em excesso, ou não consumindo, como ocorreu com os praticantes de Muay Thai, afetando negativamente o desempenho (FERREIRA et al., 2009). O baixo consumo de líquidos durante a atividade física, aliado a fatores que aumentam a perda hídrica, além de diminuir a performance do atleta, pode desencadear sintomas que influenciarão na habilidade do indivíduo durante o treino (LAITANO et al., 2011).

    Dos praticantes, um percentual considerável (86,3%) referiu já ter sentido sintomas relacionados à desidratação. O sintoma mais frequente foi a sede muito intensa, seguido de perda de força, palidez e câimbras. Sintomas semelhantes foram encontrados em outros estudos como o de Moraes, Silva e Silva (2010) em que os sintomas prevalentes foram sensação de perda de força, a sede intensa e a câimbra. Cruz, Cabral e Martins (2009), avaliando atletas de mountain bike, também obtiveram prevalência de sensação de perda de força, seguido por câimbras e sede intensa.

    Sintomas como câimbras e sede muito intensa estão relacionados à desidratação igual ou superior a 5% (BRITO et al., 2007). O aparecimento de cãibras pode estar também relacionado à perda excessiva de sódio pelo suor (FRANÇA, 2010). A sensação de perda de força pode ser decorrente da hipoglicemia, demonstrando que o consumo de carboidratos durante o exercício é essencial (WINNINCK et al., 2005).

Conclusão

    De acordo com o IMC os praticantes foram classificados em sobrepeso, porém, ressalta-se a importância da mensuração das dobras cutâneas para verificar a composição corporal de atletas, uma vez que o excesso de massa muscular poderia elevar o IMC.

    A ingestão hídrica dos avaliados resultou em um balanço hídrico positivo, entretanto não houve percentual de desidratação significativo. O grupo de praticantes de Jiu-Jitsu apresentou balanço hídrico, percentual de desidratação pós treino e consumo de água durante o treino maior que os demais grupos.

    O conhecimento sobre os hábitos de hidratação dos praticantes de artes marciais avaliados pôde ser considerado insuficiente para manter uma hidratação adequada, visto que a maior parte das questões teve um percentual de erro por mais de 50% da amostra.

    Conhecimentos básicos sobre hidratação são fundamentais para corrigir práticas que afetem negativamente o desempenho esportivo, considerando que grande parte não havia recebido orientação profissional, sugere-se que sejam feitas educações nutricionais a fim de elucidar dúvidas e proporcionar hábitos corretos de hidratação a fim de evitar prejuízo à saúde.

Referências

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