Estilos de liderança e comunicação dos treinadores de futebol Estilos de liderazgo y comunicación de los entrenadores de fútbol Leadership styles and communication of soccer trainers |
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Alunos da Licenciatura em Educação Física e Desporto do ISCE (Portugal) |
André Chaveiro José Correia Paulo Cruz |
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Resumo O êxito ou o insucesso da actuação do treinador e dos atletas está dependente da comunicação entre ambos, e se esta falhar vai gerar confusão e frustração, podendo, assim, a comunicação fazer a diferença entre ganhar ou perder. Hoje em dia, saber comunicar é obrigatório para qualquer treinador, e a relação treinador/atletas deve basear-se num processo de comunicação dirigido, consciente e claro. Por sua vez, a liderança do treinador pode ser decisiva para as conquistas, sendo este um ponto de equilíbrio para todo o grupo, pois uma das suas principais funções é a manutenção do equilíbrio e da dinâmica do grupo. Para além disso, no desporto em geral, e no futebol em particular, existe uma grande pressão por parte dos adeptos, da imprensa, dos dirigentes e do próprio treinador, para que os resultados desejados sejam atingidos. Desta forma, o presente estudo teve como objectivo analisar a importância da comunicação e da liderança dos treinadores de futebol nas suas equipas. Unitermos: Treinadores de futebol. Estilos de liderança. Comunicação.
Abstract The success or failure of the coach’s and athlete’s performance depends of the communication between them, if it fails it’s going to generate confusion and frustration, so communication can make difference between win and lose. Nowadays, it’s obligatory that any coach knows how to communicate, and the relationship between trainers and athletes must be based on a focused, conscious and clear communication process. In turn, the leadership ability of the coach can be decisive for the conquests, and it is a point of balance for the entire group, because one of his main functions is the maintenance of the balance and dynamic of the team. Besides that, on sports in general and particularly on soccer, there is a big pressure made by the supporters, the press/papers, the officers and even the coach, to reach the wished scores. In this way, the aim of this study was to analyses the importance of the communication and leadership ability of the soccer trainers in their teams. Keywords: Soccer trainers. Leadership styles. Communication.
Recepção: 18/09/2014 - Aceitação: 31/10/2014.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Estado da arte
Ser um bom profissional é uma tarefa que exige um esforço e empenho contínuos. No entanto, Lima (1982), afirma que “para se ser um bom treinador é preciso que a pessoa esteja suficientemente interessada na modalidade, encontrando nela, sem qualquer esforço, a motivação para trabalhar e estudar”. Hoje em dia, com a modernização das sociedades e, consequentemente, com a actualização dos seus ideais éticos, o desporto, nomeadamente o futebol, tornou-se uma actividade de lazer de grande importância, quer seja de forma activa, através da sua prática, quer de forma menos activa, sendo um observador da modalidade. Desta forma, a sociedade moderna está cada vez mais focada na obtenção de resultados positivos, ignorando assim todo o trabalho que estes resultados exigem.
Contudo, segundo Araújo (2008), “ser treinador vai muito além da obtenção de vitórias. Esta profissão implica várias funções como a tomada de decisões, a organização do treino, a gestão de pressões exercidas, tanto sobre ele como sobre os atletas, o controle de emoções, etc.”. Assim, mesmo que nunca tenha sido elaborado o perfil ideal de treinador, admite-se que existem características essenciais para que este seja um bom profissional, tais como ser um bom líder, um bom comunicador, ser sereno, decisivo, motivador, e saber reagir perante a diversidade de situações com que um atleta ou a equipa são deparados.
No futebol, a comunicação está associada à transmissão de informação, quer seja pelos treinadores, jogadores, árbitros ou qualquer técnico desporto ligado a competição. No entanto, a percepção e o entendimento da informação podem não ser os mais correctos, conduzindo a diferentes tipos de comportamentos.
Um estudo científico, realizado na Escola Superior de Rio Maior, com uma amostra constituída por 10 treinadores, cinco dos quais de equipas seniores, e os restantes cinco de equipas infanto- juvenis, demostra que nas equipas infanto-juvenis, o objectivo da instrução a partir de feedbacks foi sobretudo Prescritivo (80,52%), Avaliativo Positivo (9,33%), Afectividade Positiva (3,98%), e Descritivo (2,84%), e Interrogativa (2,18%). Por sua vez, o conteúdo da informação é sobretudo táctico (50,90%) e psicológico (27,38%).
Tal como já foi referido, podem existir falhas na recepção e na emissão da informação, causando problemas de entendimento, quer nos treinos como nos jogos. Assim, com a mesma amostra descrita anteriormente de equipas infanto-juvenis, foi possível observar que após a recepção da informação, 75,99% dos atletas mudam o comportamento positivamente, isto é, modificam o seu comportamento em função da informação que lhes é transmitida. Por sua vez, 12,59% dos atletas modificam negativamente o seu comportamento, e 6,83% não o modificaram.
No que diz respeito às equipas seniores, o objectivo da instrução a partir de feedbacks foi particularmente Prescritivo (80,17%), Avaliativo Positivo (8,28%), Afectividade Positiva (6,67%), e Descritivo (2,54%). E, tal como nas equipas infanto-juvenis, o conteúdo da informação que o treinador pretende transmitir é sobretudo táctico e psicológico. Em relação à transmissão da informação e ao seu entendimento e execução, verificou-se que apenas 56,95% da informação teve influência no comportamento no atleta, sendo que destes 74,81% mudaram o seu comportamento de forma positiva, 8,41% mudaram o comportamento de forma negativa, e 8,29% não modificaram o comportamento.
Através da comparação dos resultados obtidos para as equipas de seniores e para as equipas se infanto-juvenis é possível concluir que os treinadores das equipas seniores, devido ao elevado grau de competitividade e exigência, na sua comunicação têm um menor carácter pedagógico, enquanto os treinadores das equipas infanto-juvenis, talvez devido à menor pressão no alcance de resultados positivos, optam sobretudo por motivar, ensinar, corrigir e pelo divertimento na prática da modalidade.
Tal como a comunicação, a coesão do grupo, no futebol, é um importante factor de sucesso, sendo conseguida através da liderança. Segundo Singer (1977), “a liderança é entendida como uma relação de interacção entre personalidade e a situação, uma vez que toda a situação requer talentos especiais para enfrenta-las e resolvê-las”. Seguindo a mesma linha de pensamento, os autores CartWright e Zander (1967), afirmam que “o líder é aquele cujas interacções permitem melhorar a qualidade e a coesão de grupo, e esta liderança pode ser partilhada ou exercida por um ou vários membros do grupo”. Mais tarde, Noce (1992), diz que “um bom líder terá que ser obrigatoriamente um bom comunicador, eficaz na transmissão da mensagem e com grande capacidade de solucionar problemas e tomar decisões apropriadas”. Desta forma, a coesão de grupo é um factor importante na medida em que todos os elementos da equipa estão focados em atingir os objectivos delineados pelo líder. Assim, caso o líder não possua as características mais adequadas, ou até mesmo se este não se integrar convenientemente, a comunicação dos objectivos à equipa pode falhar, levando ao fracasso da mesma.
O comportamento do líder perante a equipa está relacionado com o comportamento dos atletas, estando assim o seu comportamento directamente ligado a duas dimensões específicas: a Relação Social (afecto, indicativo de amizade, confiança mútua, respeito) e a Execução de Tarefas (organização, comunicação e métodos de procedimentos).
Segundo Noce (2002) existem vários tipos de liderança, tais como a liderança situacional que é criada com o objectivo de moldar o comportamento do líder às características da equipa e da situação desportiva; a liderança por maturidade do subordinado; e a liderança democrática. Os diferentes estilos de liderança requerem um líder que comunique com clareza, de modo a que a mensagem e as ideias sejam correctamente transmitidas e interpretadas. Um líder pouco seguro e claro na transmissão ostenta maior dificuldade de interacção com os seus atletas. Numa equipa de futebol, existe uma grande quantidade diversidade de indivíduos, sendo de muito complexo um líder comunicar com todos os atletas. Desta forma, o Programa de Formação para a Eficácia dos Treinadores (PFET), é um programa que visa promover quatro comportamentos no treinador: o reforço, o encorajamento após o erro, as instruções correctivas e as instruções técnicas e destaca também a a importância da redução de quatro comportamentos considerados indesejáveis: a ausência de reforço, a punição, e a instrução técnica punitiva. No que diz respeito à vitória, o programa pretende que os treinadores se centrem no esforço dos atletas. Assim, no Quadro 1 estão representadas as acções desejadas e indesejadas, de acordo com o PFET.
Quadro 1. Esquematização das acções desejadas e indesejadas, de acordo com o PFET
Pela análise do Quadro 1, é possível reforçar a ideia que atitude mais desejável por parte dos treinadores é o encorajamento, a preocupação, o respeito e ensino para com os seus atletas.
A relação treinador-atleta e o exercício da liderança, segundo Côté (1998) pode ser estudo a partir das capacidades profissionais e características pessoais, das características e potencialidades dos atletas, e da avaliação das limitações e recursos disponibilizados pela organização. Assim, é como base nestes aspectos que os treinadores tomam decisões nas competições e nos treinos.
No que diz respeito à relação treinador- atleta em termos pessoais e sociais verificou-se uma tendência dos treinadores de não procurarem contactos com os atletas, deixando que estes se desenvolvam espontaneamente. Por sua vez, o treinador assume uma necessidade de ter relações positivas com os seus atletas. Uma atitude aberta perante dos membros da equipa é importante pois aumenta a coesão de grupo, visto que os atletas sabem que perante as suas dificuldades podem contar com a ajuda dos colegas e também do treinador. Em relação à preparação psicológica dos atletas, verificou-se que as principais acções são a promoção da motivação e empenhamento dos atletas, o aumento da autoconfiança, a valorização das atribuições internas face aos comportamentos e rendimento obtido nas competições, e a melhoria dos níveis de concentração.
Segundo Côté, Salmela, Trudel, Baria e Russell (1995) e Côté e Sedgwick (2003), os treinadores demonstram interesse pela comunicação positiva com os seus atletas, dando relevância aos aspectos técnicos do treino e valorizando dos factores psicológicos que influenciam os atletas e, consequentemente, a competição.
Como já foi referido, a liderança é um factor importante no desporto, sendo uma forma de avaliar esta característica o estudo das reacções dos atletas. Desta forma, recorrendo a uma amostra de 200 atletas, dos quais 170 do sexo masculina e 30 do sexo feminino, como idades compreendidas entre os 11 e os 36 anos, foi possível concluir que a motivação/inspiração a área mais frequente e valorizada pelos atletas, seguida do feedback positivo e negativo. Para além disso, existem diferenças entre o comportamento dos treinadores e o comportamento que os atletas consideram ideal, sendo que a divergência é mais acentuada em relação ao comportamento democrático, na motivação e no apoio social. Assim, é o bom ambiente promovido pelos treinadores e o apoio existentes nas equipas, bem como a liderança exercida pelos treinadores e o rendimento individual que desencadeiam uma maior satisfação.
No que diz respeito às diferenças entre sexos, as mulheres percepcionaram mais comportamentos de feedback negativo, enquanto os homens manifestaram uma maior preferência por comportamentos democráticos por parte dos treinadores. Em relação à coesão de grupo, os atletas do sexo feminino evidenciaram níveis de coesão mais elevados, em comparação com os atletas do sexo masculino, estando as diferenças mais significativas relacionadas com os aspectos sociais, tanto ao nível da integração como da empatia individual para o grupo.
Por sua vez, no que diz respeito às diferentes faixas etárias, os iniciados e juniores percepcionaram menos comportamentos de motivação do que os seniores; os iniciados e os juvenis assinalaram menos comportamentos democráticos do que os infantis e os seniores; os infantis apresentaram maiores níveis de apoio social do que atletas iniciados e juniores; os infantis apontaram maiores níveis de feedback negativo aos seus treinadores do que os seniores. Para além disso, os infantis preferem mais comportamentos de apoio social por parte dos treinadores do que os seus colegas juniores, e têm mais preferência por comportamentos de feedback negativo que os seniores. O facto de os infantis apresentarem mais comportamentos de apoio social por parte dos seus treinadores, em comparação como os juniores e seniores, e, por sua vez, o facto de os infantis preferirem comportamentos de apoio social do que os iniciados e juniores, pode estar relacionado com o facto, como anteriormente foi referido, de as equipas mais jovens manifestarem menor pressão na obtenção de bons resultados, sendo o grande objectivo a motivação, o ensino e a correcção. Contudo, confirmar o que previamente foi proferido é necessário a realização de mais estudos científicos.
Por fim, os resultados obtidos destacam e confirmam a importância dos treinadores como figuras transformacionais, dirigindo as suas acções para a motivação, promovendo o sucesso e o esforço contínuo, procurando representar um modelo ideal de optimismo, confiança, respeito e sucesso. Há uma necessidade de os treinadores ajustarem os seus comportamentos aos diferentes tipos de atletas, devido aos diferentes resultados obtidos.
Conclusão
Um líder desportivo tem um papel fundamental numa equipa, tendo como objectivo a conquista dos melhores resultados possíveis, possuindo estratégias para tornar o ambiente em grupo mais agradável e desenvolver a coesão de grupo, tendo, em diversas situações, que optar pelo estilo de liderança que mais se adequa, ao grupo e ao momento desportivo que enfrenta.
Por sua vez, a comunicação é um factor imprescindível para a qualquer estilo de liderança. Hoje em dia, um bom líder é obrigatoriamente um bom comunicador, alguém que transmite com clareza a sua mensagem. Assim, a comunicação um dos factores que mais condicionam a liderança, ou seja, para que um jovem atleta sinta segurança na execução da sua actividade, esta terá que ser explicada de forma clara e perceptível.
Por fim, o facto de o atleta se sentir apoiado e motivado pelo treinador, estabelecendo uma boa comunicação e compreensão entre ambos, aumenta o rendimento e o desempenho desportivo do atleta.
Referências bibliográficas
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