efdeportes.com

Análise do cronotipo e desempenho físico 

de um indivíduo praticante de natação

Análisis del cronotipo y rendimiento físico de un sujeto que practica natación

Chronotype analysis and performance of physical an individual practitioner of swimming

 

*Orientadora, Professora Doutora do Curso de Educação Física da UniCesumar, Maringá, PR

**Acadêmica do curso de Bacharelado em Educação Física da UniCesumar, Maringá, PR

(Brasil)

Márcia Aparecida Andreazzi*

Andressa Demarchi de Carvalho**

marcia.andreazzi@unicesumar.edu.br

 

 

 

 

Resumo

          A cronobiologia é a ciência que estuda as diversas ritmicidades, entre elas os ritmos biológicos presentes em diversos seres vivos. As preferências por certos horários do dia para a realização de algumas atividades é conceituado como cronotipo. Desta forma, a população pode ser classificada em três tipos: matutinos, vespertinos e intermediários. O presente estudo teve como objetivo analisar o cronotipo de um indivíduo praticante de natação e verificar sua relação com o desempenho físico. A coleta de dados foi realizada nos meses de setembro e outubro/ 2011, nas dependências de uma Escola de Natação na cidade de Maringá/ PR, durante dezesseis dias, sendo oito aos sábados no período da manhã e oito nas terças à noite. A pesquisa consistiu de aplicação de questionários para análise cronobiológica do indivíduo, outro com informações da rotina do mesmo e ainda um pós-aula a fim de verificar o rendimento e desempenho físico. Como resultado, a pesquisa evidenciou que o indivíduo em estudo foi classificado como moderadamente matutino e que, de fato, os melhores resultados na prática da natação foram obtidos nas aulas realizadas no período da manhã, evidenciando a influência do cronotipo sobre o desempenho físico deste indivíduo.

          Unitermos: Cronotipo. Exercício físico. Relógio biológico.

 

Abstract

          Chronobiology is the science that studies the various ritmicidades, including biological rhythms present in many living things. Preferences for certain times of the day to perform some activities is conceptualized as chronotype. Thus, the population can be classified into three types: morning, afternoon and intermediates. The present study aimed to analyze the chronotype of an individual practitioner swimming and verify their relationship to physical performance. Data collection was conducted in September and October/ 2011, the premises of a Swim School in the city of Maringá / PR, during sixteen days, eight saturdays in the morning to eight on tuesday in the night. The survey consisted of questionnaires for chronobiological analysis of the individual, other information with the same routine and also a post -lesson to check the performance and physical performance. As a result, the research showed that the test subject was classified as morning and that, in fact, in practice the best results were obtained in swimming lessons held in the morning, showing the influence chronotype on physical performance.
          Keywords: Body clock. Chronotype. Exercise.

 

          Trabalho de conclusão de curso (TCC) no curso de Bacharelado em Educação Física da UniCesumar/ Maringá/ PR/ Brasil.

 

Recepção: 13/08/2014 - Aceitação: 03/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

1.     Introdução

    Atualmente a qualidade de vida para manter a saúde é uma grande preocupação das pessoas. Neste sentido, a cronobiologia contribui muito neste processo auxiliando na compreensão e interpretação dos eventos fisiológicos que variam regularmente ao longo do tempo.

    No homem há uma pré-disposição biológica que define o melhor horário para se exercer certas atividades em função de variáveis fisiológicas, bioquímicas e comportamentais do nosso organismo, o relógio biológico (TASHIMA et al, 2008).

    Grande parte da população não consegue respeitar o relógio biológico por uma série de motivos. Muitas atividades desenvolvidas durante o dia não dependem apenas da luz, mas também dos relacionamentos sociais, como por exemplo, horário do trabalho, das escolas, das refeições e da prática de atividade física. Estes fatos geram conflitos entre o relógio biológico e o social e podem comprometer a qualidade de vida, influenciando o rendimento no trabalho, nos estudos e a saúde (MIRANDA NETO e IWANKO, 1997). Marques et al. (1999) afirmam que é fundamental para a sobrevivência de uma espécie que determinadas funções e comportamentos manifestem-se nos momentos em que a situação ambiental seja a mais adequada para a sua expressão, caso contrário, haverá conseqüências à saúde do indivíduo.

    Para a atividade física não é diferente. Um bom desempenho físico é obtido considerando as diferentes capacidades apresentadas pelas pessoas ao longo do dia. Os conhecimentos da cronobiologia podem contribuir também para melhores resultados do desempenho físico e esportivo, através da relação do treinamento com evidências que atualmente estão disponíveis sobre o relógio biológico, como melhor horário para passar instruções complexas, realizar atividades que exigem maior esforço, e até mesmo a percepção individual de esforço (MINATI et al., 2008).

    Normalmente em competições esportivas, as diferenças entre os classificados são milésimos de segundo. Por isso, vem sendo referido que muitos recordes esportivos alcançados estejam relacionados com a hora do dia e ao ritmo biológico do atleta. Na natação e no atletismo a maioria das competições ocorre no fim da tarde, o que coincide com o pico da temperatura corporal (REILLY, 2000).

    Considerando que o cronotipo pode intervir no desempenho físico, o presente trabalho teve por objetivo determinar o cronotipo de um indivíduo praticante de natação em uma academia na cidade de Maringá/ PR e relacionar o seu cronotipo com o desempenho físico durante as aulas, realizadas em diferentes horários.

2.     Metodologia

    Foi utilizada para este estudo de caso, uma pesquisa do tipo qualitativa, para análise cronobiológica de um indivíduo adulto, com 48 anos, do gênero masculino, praticante de natação a mais de cinco anos.

    Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e aprovação pelo Comitê de Ética da Unicesumar, sob parecer nº 271/2011, a pesquisa foi desenvolvida.

    A pesquisa ocorreu nas dependências de uma academia de natação na cidade de Maringá/ PR, e o indivíduo escolhido praticava natação, em períodos distintos, duas vezes por semana, terça à noite (20:15) e sábado de manhã (7:00), totalizando, ao longo de 2 meses de observações, 16 aulas, realizadas durante a mesma estação do ano, a primavera de 2011. Cada aula tinha a duração de 45 minutos.

    A coleta de dados compreendeu inicialmente, a aplicação de um questionário cronobiológico e outro complementar, composto por questões semiestruturadas, proposto por Horne e Osteberg (1976) e adaptado por Cardinali et al (1992), que teve por finalidade determinar o cronotipo do participante. De acordo com o total de pontos obtidos neste questionário, define-se o cronotipo do indivíduo, que pode ser matutino, moderado ou definitivo, vespertino, moderado ou definitivo e intermediário ou indiferente, que são os indivíduos que se adaptam a diversos horários do dia. Ao final de cada aula, foi aplicado outro questionário visando analisar o rendimento da aula (GOMES et al. 2008; ALEXANDRE et al., 2010). Em todas as aulas foram anotados o total de metros nadados e, aos 20 minutos de cada aula, aproximadamente, foram registrados, sem aviso prévio ao praticante, o tempo médio gasto no estilo de nado crawl em 25 metros.

    Para a análise dos dados de desempenho foram calculadas as médias e o desvio padrão.

3.     Resultados e discussão

    A aplicação do questionário cronobiológico proposto por Horne e Osteberg (1976), adaptado por Cardinali et al (1992), permitiu classificar o cronotipo do indivíduo como moderadamente matutino.

    De acordo com Gomes et al (2008), pessoas com este cronotipo são mais ativas pela manhã, e gostam de poucas obrigações noturnas, momentos em que manifestam cansaço e predisposição para o sono. Estes indivíduos dormem mais cedo, por volta das 22:00 horas e despertam também mais cedo por volta das 5:00 às 7:00 horas, estando em condições adequadas para o trabalho logo pela manhã, num nível de alerta muito bom, concluíram os autores.

    Benedito Silva (2008) complementa afirmando que nestes indivíduos as fases dos ritmos endógenos são mais adiantadas, comparadas à população em geral. Estes avanços acontecem na temperatura corporal, no ciclo vigília/sono, na excreção de hormônios e nas medidas de desempenho. Estas pessoas constituem cerca de apenas 10 à 12% da população geral (ANDRADE et al., 2008).

    Com a aplicação do questionário contendo as questões semi estruturadas, o indivíduo afirmou já ter ouvido falar do tema cronobiologia. Contudo, vários trabalhos tem evidenciado o desconhecimento das pessoas sobre o que é cronobiologia (MARQUES et al., 1999) afirmando que a cronobiologia, enquanto ciência, deve ser divulgada cada vez mais (BERTOLI et. al., 2014; BORGES e STABILLE, 2014).

    Ao perguntar sobre sua rotina, o pesquisado afirmou trabalhar nos períodos da manhã e tarde e que a opção pela escolha dos horários da prática da natação se deu devido às circunstâncias convenientes, envolvendo outras atividades e horários de folga. Miranda Neto e Iwanko (1997) constataram que grande parte da população não consegue respeitar o relógio biológico por uma série de motivos e que estes conflitos entre o relógio biológico e o social podem comprometer a qualidade de vida e a saúde. Apesar desta constatação, o indivíduo afirmou estar satisfeito com os horários escolhidos para a prática da natação, que são das 7:00 às 7:45 horas (manhã) e das 20:15 às 21:00 (noite).

    Quando questionado sobre sua disposição para o exercício, o pesquisado afirmou que no período da manhã a prática da natação rende mais, onde classificou seu rendimento como sendo regular. Afirmou ainda nunca se sentir sonolento/cansado durante o período em que está nadando. Para Silvério (2003) é muito difícil quantificar e medir o rendimento no desporto. Uma das maneiras citadas por ele são as medidas objetivas, por exemplo, tempos, marcas, distâncias e resultados versus medidas subjetivas, por exemplo, auto avaliação do rendimento pelos próprios atletas ou pelos treinadores, as quais foram utilizadas neste estudo.

    Já nos questionários pós-aula, ao perguntar se sentia disposição antes da prática da natação, o pesquisado afirmou sentir-se disposto à pratica do exercício, independentemente do horário, e que sempre se alimentava bem e que mantinha uma boa qualidade de sono nas noites anteriores à prática da natação. Martinez (2001) afirma que uma das principais funções do sono é restaurar os processos químicos e físicos deteriorados durante a vigília. O excesso de exercício, bem como um sono de má qualidade, seja em função do exercício ou mesmo por outros distúrbios, pode prejudicar o rendimento durante os treinamentos (MARTINS et al., 2010).

    Considerando a disposição durante a aula, foi solicitada que o indivíduo classificasse a carga de trabalho exigida durante as aulas. Para as aulas da manhã não houve percepção de carga leve (0%), 75,5% foram consideradas moderadas e 24,5%, pesadas. Por outro lado, para as aulas da noite, 28,5% foram classificadas como leves e 71,5% moderadas, e não houve percepção de aulas pesadas (0%). Portanto, ao analisarmos a percepção de esforço deste nadador, notamos que as aulas realizadas no período da manhã exigiram um esforço físico maior do praticante (moderada e pesada) em relação às aulas da noite (leve e moderada). Silvério (2003), afirmou que a percepção de esforço significa detectar e interpretar as sensações do corpo durante a execução de um exercício, porém, Reilly et al (2000), constataram que existem muitas flutuações no esforço percebido, sendo muito difícil determiná-lo.

    Além disso, Reilly et al. (2000) sugerem que no período da tarde, se perceba um valor menor de esforço, pois neste momento, o indivíduo escolhe exercitar-se mais arduamente ou acha o exercício mais fácil. Apesar de parecer contrariar o seu cronotipo (moderadamente matutino), esta sugestão pode ser a mais provável para se justificar o resultado da percepção de esforço deste praticante (noite: leve e moderada). Porém, Reilly et al. (2000), afirmaram que ainda há muita inconsistência nos estudos realizados sobre o ritmo circadiano e a percepção de esforço, devido às diferenças no tipo de exercício, nas instruções da escala de esforço percebido, no sexo, nas cargas de exercício e momentos diferentes do dia.

    Ao final das aulas, foi perguntado ao participante como se sentia fisicamente e, do total de aulas realizadas no período da manhã, somente em 6,25% delas sentiu-se indisposto após a aula, porém, este valor aumentou para 25% após as aulas da noite. Comprovando seu cronotipo como moderadamente matutino neste quesito.

    Com relação aos dados de desempenho durante as aulas de natação constatou-se que o indivíduo nadou, em média, 769 metros nas aulas do período da manhã e 747 metros no período da noite (Tabela 1).

Tabela 1. Média e desvio padrão de metros nadados em cada aula e tempo gasto para nadar 25 metros em 

estilo crawl, após 20 minutos do início da aula, durante as 8 aulas realizadas no horário da noite e 8 no horário da manhã

    A variação do desempenho durante o dia é extremamente importante, principalmente em atividades como desportos. O desempenho é uma variável voluntária e pode ser um reflexo da motivação, considerada capaz de contrariar os efeitos dos ritmos biológicos (SILVÉRIO, 2003). Outros fatores individuais também são apontados por Silvério (2003) como a idade, o nível de prática, mudança de estratégia, personalidade, sexo, forma física, estado de fadiga ou repouso, dificuldade e duração da tarefa e o cronotipo.

    Neste estudo, consideramos principalmente duas variáveis que podem explicar o melhor desempenho no período da manhã, primeiro a constatação de que se trata de um indivíduo moderadamente matutino, e segundo, as práticas realizadas no período da manhã foram aos sábados, podendo assim, haver maior motivação devido à chegada do final de semana, o que pode ter sobreposto, inclusive, o acúmulo do cansaço da semana.

    Tashima et al (2008), através de testes cognitivos realizados pela manhã, observaram uma tendência de melhora de desempenho no grupo dos matutinos, comparado aos vespertinos, afirmando que para o bom desempenho esportivo deve-se considerar as diferentes capacidades apresentadas pelas pessoas ao longo do dia.

    Nos dados referentes ao tempo médio gasto no estilo de nado crawl em 25 metros, aos 20 minutos da aula, obteve-se a média de 33 segundos no período da manhã e 36 segundos no período da noite. Durante as aulas, os dados foram registrados pela pesquisadora, sem aviso prévio ao praticante. O resultado era verificado pelo praticante apenas ao final da aula, ao assinalar os demais quesitos do questionário pós-aula. De acordo com Silvério (2003), caso o praticante tenha conhecimento imediato do resultado, há um incentivo que tende a mascarar as flutuações circadianas no desempenho. Apesar da pouca diferença entre estas médias, Reilly (2000) reforçou que em competições esportivas, as diferenças entre os classificados são milésimos de segundo.

    Minati et al. (2008) afirmaram que as condições fisiológicas e bioquímicas, como temperatura corporal, parâmetros metabólicos, variáveis cardiovasculares e desempenho psicomotor, como tempo de reação, vigilância, tomadas de decisão, destreza e memória são extremamente importantes para um bom desempenho físico e devem ser analisados para verificar as relações com o melhor momento do dia para treinar.

    A temperatura é listada como sendo um dos principais fatores que influencia o desempenho físico. De acordo com Magalhães et al (2001), a temperatura corporal é menor pela manhã, aumenta ao longo do dia chegando ao máximo pelo início da noite, tendo variações norma is de até 0,6º C. Reilly (1994) afirmou que como a temperatura corporal atinge seu pico no final da tarde e início da noite, muitos indivíduos apresentam um melhor desempenho nestes horários, porém nem todos os indivíduos acompanham o ritmo da temperatura corporal, alguns são bastante determinados pelo ritmo da ativação que é mais influenciado pelo ciclo sono-vigília.

    Silvério (2003) afirmou que é difícil controlar as influências do meio-ambiente, como a temperatura. Ao entardecer, por exemplo, temperaturas mais altas podem favorecer à obtenção de melhores resultados, porém, na natação e em piscina coberta, estas influências ambientais são mais facilmente controladas já que a temperatura e a umidade são mantidas relativamente constantes, fato ocorrido em nossa pesquisa.

4.     Conclusão

    Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que houve a predominância da matutinidade no indivíduo analisado, portanto, seu cronotipo foi classificado como moderadamente matutino.

    Constatou-se também, que os melhores resultados na prática da natação foram obtidos durante as aulas realizadas no período da manhã, confirmando assim, a influência do cronotipo no desempenho físico.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 198 | Buenos Aires, Noviembre de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados