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A sistematização dos conteúdos na Educação Física: uma análise com professores dos anos finais do ensino fundamental no Vale do Taquari

La sistematización de los contenidos en la Educación Física: un análisis
con profesores de los años finales de escuela primaria en Vale do Taquari

 

UNIVATES – Centro Universitário

Lajeado, RS

(Brasil)

Rodrigo Lara Rother

Ismael Costantin

Janaína César

Jéssika Rodrigues

João Paulo de Souza

rodrigorother@univates.br

 

 

 

 

Resumo

          A escolha e sistematização de conteúdos para a Educação Física escolar é um tema polêmico e controverso. Inspirado pela discussão de Luís Fernando Rocha Rosário e Suraya Cristina Darido (2005) apresentada em seu artigo A sistematização dos conteúdos da educação física na escola: a perspectiva dos professores experientes foi realizado um estudo para descobrir quais conteúdos tem sido trabalhados nas aulas de Educação Física, bem como descobrir como os professores os sistematizam. Os resultados apresentaram os esportes como elemento principal, embora os professores apontem diferenciais na forma de como o utilizam nas suas aulas.

          Unitermos: Educação Física. Ensino Fundamental. Sistematização de conteúdos.

 

Recepção: 24/10/2014 - Aceitação: 13/11/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 198, Noviembre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Dentre os diversos temas estudados acerca da Educação Física Escolar no curso de graduação em Educação Física (Licenciatura) da Univates – Centro Universitário (Lajeado-RS) está a sistematização dos conteúdos no ensino fundamental. Na disciplina de Educação Física nos Anos Finais do Ensino Fundamental, foi oportunizado aos alunos a leitura e discussão de um artigo escrito por Luís Fernando Rocha Rosário e Suraya Cristina Darido (2005) intitulado A sistematização dos conteúdos da educação física na escola: a perspectiva dos professores experientes, que trata exatamente desta problemática. Neste texto, os autores fazem uma análise dos resultados das pesquisas realizadas com professores experientes e apontam questões referentes à falta de diversificação dos conteúdos, onde predominam os esportes tradicionais nas aulas de Educação Física. As questões apresentadas no texto de Rosário e Darido (2005) geraram algumas inquietações que motivaram a realização de um novo estudo, adaptado a realidade da rede escolar do Vale do Taquari, região de abrangência da Univates-Centro Universitário, local onde os futuros profissionais formados pela instituição irão inserir-se no mercado de trabalho. Esta nova perspectiva inspirada no texto original de Rosário e Darido (2005), bem como os resultados encontrados serão apresentados a seguir.

Sistematização dos conteúdos na Educação Física

    Para que os professores possam orientar-se sobre a escolha dos conteúdos que formarão suas aulas, Souza e Ramos (2013) apresentam alguns critérios baseados no que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) selecionam como mais indicados para a compreensão dos alunos. Em relação aos anos finais do ensino fundamental, ou seja, do 6ª ao 9ª ano, os PCN’s nos falam de uma divisão por blocos de conteúdos que compreenderão esportes, jogos, lutas e ginásticas; atividades rítmicas e expressivas e conhecimentos sobre o corpo. Já nos anos iniciais, ou seja, do 1ª ao 5ª ano, o que deve ser compreendido é a vivência e experiência que o aluno tem sobre suas movimentações corporais, diversificando suas formas de movimento e conhecendo suas capacidades e seus limites. Com uma compreensão maior do corpo, as abordagens devem levar a um maior desafio e aprimoramento técnico das aulas, além de uma maior autonomia e aprofundamento do aluno.

    Essa é a sistematização que o governo apresenta, através de seus parâmetros, como forma de levar o aluno a uma melhor aprendizagem e ganho em relação as aulas de educação física. Colaborando com essa idéia Souza e Ramos (2013) acrescentam que a educação física não deve contemplar apenas o ensino das qualidades e capacidades físicas, mas também de reflexão e cultura corporal. Estes autores apontam ainda que a educação física deve ser desenvolvida de acordo com o contexto que está inserido a escola, a comunidade e os alunos, como também os gostos e interesses desses alunos de forma a complementar seu ensino. Isso reflete em uma certa independência do aluno para que esse possa refletir, conhecer e aumentar os seus repertórios tanto de movimentos corporais como de vivências esportivas.

    Sobre a complexidade dos conteúdos, os PCN’s abordam uma filosofia progressista em que os conteúdos deverão ser abordados em todas as séries mudando apenas o nível de complexidade para cada ano, apagando assim os pré-requisitos necessários para poder implementar ou não tal conteúdo em determinada série. Em contraponto a isso, Kunz (1994) nos mostra que a educação física não deve ser apenas uma forma de aprendizagem do gesto motor por si só, mas também uma forma que o aluno tem de trabalhar competências diversas como afetivas, cognitivas e sociais, assim aumentando a gama de proposições possíveis para as aulas de educação física, que diferem do reducionismo apresentado apenas quando o gesto físico e técnico era o esperado.

    Além dessas perspectivas, outros autores nos mostram algumas abordagens didáticas em relação as suas sistematizações, apresentando formas diferentes de trabalhar as aulas com os alunos em suas diversas perspectivas. Este é o caso de Resende e Soares (1997) que nos trazem uma perspectiva de ensino humanista, em que o fator aprendizado e desenvolvimento do conteúdo é trabalhado com o próprio aluno, sendo este capaz de atuar junto na escolha de objetivos, conteúdos e ensinamentos a serem aprendidos. Essa temática se trata de um desenvolvimento aberto onde o professor trará uma problematização e o aluno poderá desenvolver uma avaliação critica em relação ao seu ensino/aprendizagem.

    Sousa e Ramos (2013) citam também uma abordagem desenvolvimentista, em que a questão principal é o crescimento através de um processo de desenvolvimento corporal, em que a questão motora é o principal objetivo da aprendizagem, assim como na sua avaliação que priorizará o gesto técnico. Esta filosofia, muito utilizada por muito tempo, hoje já está em desuso devido ao novos conhecimentos formulados e novas tendências que mostram que a educação física atual não se baseia mais apenas nos quesitos motores e execuções de movimentos realizadas. Freire (1995) trata a Educação Física não mais como o reduzido fato do gesto motor, mas sim os demais sistemas que integram a formação pessoal para a compreensão de mundo e conhecimento corporal que o aluno terá através do ensino.

    Rosário e Darido (2005) apresentam ainda alguns critérios que poderiam ser utilizados para o desenvolvimento dos alunos desde as séries iniciais até o ensino médio. Estes autores nos trazem a idéia de que o condicionamento e aptidão física e esportiva já não podem mais ser prioridades do ensino, e sim uma prática diversificada sem discriminar nenhum esporte nem aluno a sua prática, além de reconstruir os elementos da cultura corporal dos próprios alunos. Apresentam ainda que a primeira parte do ensino compreenderia a vivencia dos alunos em suas diversas formas para poder sentir e compreender os movimentos a que são submetidos. Já nas séries intermediarias há a aplicação e desenvolvimento de algumas técnicas esportivas, porém sem a padronização que se tem em escolinhas e clubes que trabalham a especificidade do esporte, onde estas técnicas serão conteúdos utilizados como um meio de vivenciar os esportes por si só e compreender os diversos movimentos nestes realizados. O que muda para os anos finais da educação é o fato de que além da prática de certos movimentos serem mais aprofundados, os alunos deverão poder criticar e transformar os gestos motores para uma melhor compreensão dos problemas e situações a eles propostas.

    Estes são alguns exemplos de abordagens que estudiosos trazem como freqüentemente utilizadas na construção do planejamento das aulas de Educação Física por parte dos professores, mostrando não necessariamente como e o que se deve fazer em relação a sistematização dos conteúdos da Educação Física escolar, mas como auxiliar na construção do planejamento, mostrando caminhos que o professor poderá trilhar para atingir os objetivos propostos tanto por ele, como pela escola e pela educação em geral na busca pelo real desenvolvimento dos alunos.

Metodologia

    A metodologia utilizada foi baseada em um paradigma qualitativo, classificando essa pesquisa como um estudo investigativo, uma vez que se pretendeu investigar, analisar e refletir sobre a prática pedagógica do professor de Educação Física.

    Conforme Negrine apud Molina Neto e Triviños (1999, p. 61):

    A base analógica deste tipo de investigação se centra na descrição, análise e interpretação das informações recolhidas durante o processo investigatório, procurando entendê-las de forma contextualizada. Isso significa que nas pesquisas de corte qualitativo não há preocupação em generalizar os achados.

    Assim, o presente estudo foi uma investigação que utilizou como instrumento a entrevista, composta por cinco questões abertas, sendo que não houve preocupação em usar valores numéricos ou generalizações.

    A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1994, p. 21-22).

    As escolas foram escolhidas aleatoriamente entre a rede pública e privada de quatro municípios do Vale do Taquari. Participaram do estudo quatro professores de Educação Física atuantes nos anos finais do Ensino Fundamental de escolas municipais, estaduais e particulares, compreendendo de três a vinte e cinco anos de experiência em docência na Educação Física. Os critérios de inclusão dos participantes deste estudo foram ser graduado em educação física e atuar nos anos finais do ensino fundamental em alguma escola da região do Vale do Taquari. Foi apresentado aos participantes, antes da realização da pesquisa, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para que pudessem ler e assinar, estando ciente dos objetivos e procedimentos, bem como da possibilidade de, em qualquer momento da pesquisa, sentir-se livre para abandoná-la sem ônus algum.

    Segundo Molina Neto apud Minayo (1994, p. 51):

    Em Ciências Sociais, tendo como referência a pesquisa qualitativa, o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo.

    O instrumento utilizado na coleta dos dados no campo foi a entrevista. Conforme a última autora, a entrevista vem sendo utilizada por muitos pesquisadores em seus trabalhos de campo, pois é um dos objetos de fundamental importância para a reflexão e coleta de dados sobre determinado assunto. Segundo Minayo (1994, p. 57), a entrevista “não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada”. Já para Visauta apud Molina Neto e Triviños (1999, p. 73) a entrevista “consiste em uma conversação séria entre duas ou mais pessoas”.

    A realização da entrevista com os professores foi em seu horário de trabalho, em uma sala disponibilizada pela escola, ou em sua folga e durou aproximadamente trinta minutos. Foi aplicada uma entrevista semiestruturada, com perguntas abertas com respostas redigidas pelo entrevistador.

    Para análise das informações foi realizada a triangulação dos dados coletados por meio das entrevistas, com o referencial teórico de diferentes autores e com as interpretações dos pesquisadores. A triangulação das informações, conforme Triviños (1987, p.138), “tem por objetivo abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo”. Quanto às respostas obtidas, as mesmas foram tabuladas e estão apresentadas abaixo, sendo identificados os respondentes como P1 (Professor entrevistado 1), P2, P3 e P4 respectivamente, e as questões enumeradas de acordo com a sua ordem de apresentação.

Resultados e discussão

Análise da questão 1: “A escola possui algum plano pedagógico para as aulas de Educação Física? Cite”

    Em relação as respostas da questão N°1, quanto ao plano pedagógico da Educação Física, os cinco professores entrevistados apontam que existe um plano pedagógico. Os entrevistados P1 e P2 tem um plano pedagógico parecido. Um professor relata que “possui um plano pedagógico geral e para cada área de conhecimento, um plano de estudo com os conteúdos para cada ano” (P1). Outro entrevistado, semelhante ao primeiro, diz que “possui os planos de estudo e a partir deles são elaborados os planos de aula, levando-se em consideração o perfil da turma e de seus alunos” (P2).

    Outro entrevistado (P3) diz ter ciência da existência de um Plano Político Pedagógico da escola, porém demonstra não ter conhecimento ou acesso à ele, pois não sabe se o mesmo contempla a Educação Física.

    “Possui um plano político pedagógico, mas que ele não tem conhecimento se contempla algo em especial para a Educação Física, o que me foi passado para ele, são os planos contemplando o que deve ser trabalhado em cada ano de ensino” (P3).

    Na entrevista quatro, o professor não deixa claro se o Projeto Político Pedagógico da escola contempla a Educação Física, mas demonstra ter conhecimento sobre os objetivos da escola em relação às aulas de Educação Física.

    Conforme resposta de P4, a escola tem como princípios básicos e como agentes formadores a preocupação com o lado físico e também o lado psicológico, entendendo que os dois precisam estar em harmonia para um bom desenvolvimento educacional. Entendendo a importância das aulas de Educação Física para a formação do caráter da pessoa. A escola tem no seu projeto, utilizar as aulas para melhorar o relacionamento intersocial entre os alunos, trabalhar a coordenação motora, percepção corporal, atividades lúdicas, recreativas e modalidades esportivas, suas determinadas regras e fundamentos. Além de salientar a importância da educação física para o bem estar e boa saúde, a educação física proporciona ao aluno confrontar seus limites, seus medos, aceitação ao erro, aceitar a vitória, a derrota, trabalhar em equipe, respeitar a diferença, etc. A escola enfatiza também que a educação física ajuda aos alunos compreender melhor as regras (P4).

Análise questão 2: “De que forma são estruturados os conteúdos a serem passados aos alunos ao longo do ano letivo de 5ª á 8ª série?”

    Todos os professores entrevistados tem seus conteúdos estruturados por trimestres, no qual trabalham diversos conteúdos decididos por eles próprios, mas em conformidade com o que a escola possibilita.

    Um dos entrevistados trabalha com seus alunos de acordo com as condições oferecidas pela escola.

    "Alguns conteúdos são distribuídos por trimestre. Outros fazem parte do cotidiano das aulas os quais são estruturados pelos professores de acordo com o clima, espaço físico e materiais disponíveis, procurando oportunizar o maior número de experiências corporais" (P2).

    Outro professor relata que faz ao máximo que seus alunos tenham o maior número de vivências possíveis.

    "No meu caso, busco fazer oficinas sobre determinados assuntos, nessas oficinas procuro explicar e falar o que espero deles durante as atividades. Buscamos através de pesquisa ter um conhecimento do assunto como história, regras e peculiaridades do assunto, realizo atividades recreativas e lúdicas, movimentos dos fundamentos, o jogo em si. Mas acima de tudo terminar a aula sempre com uma conversa final onde são feitos apontamentos positivos e negativos, seja de ordem técnica ou comportamental, mas sempre visando a vivência e os conflitos como forma de aprendizagem e crescimento" (P4).

Análise questão 3: “Além dos esportes tradicionais, há outras modalidades que são desenvolvidas ao longo do ano? Quais?”

    Quando questionados sobre os conteúdos que trabalham na escola, em relação à diversificação, todos os professores relataram que trabalham os esportes tradicionais (vôlei, futsal, basquete e handebol), mas diversificam com outros conteúdos. Dentre as práticas citadas pelos entrevistados, dois professores citaram atividades cooperativas como exemplo na diversificação dos conteúdos. Um dos entrevistados diz que “além dos exercícios, atividades recreativas, gincanas, acontecem pesquisas, em que os alunos trazem os conhecimentos adquiridos para a socialização com a turma” (P2).

    Todos os professores entrevistados relataram trabalhar com outros conteúdos que envolvem a educação física, alguns citaram dança, atletismo, jogos de mesa. Além dessas práticas, dois professores citaram conteúdos que têm sido pouco explorados na área escolar, como esportes de outras culturas, musculação e conhecimentos sobre saúde.

    “Além do futebol, basquete, vôlei e handebol, procuro trazer esportes de outras culturas, adaptação e criação de jogos novos. Realizo trabalho com materiais diversos como cordas, bambolês, pneu, atletismo (corridas, saltos, arremessos), taco bola, golfe, baseball, etc.” (P4).

    “Sim. Atletismo, dança, jogo com raquetes, tênis de mesa, alongamentos com materiais diversos (corda, bastão, borracha), conceitos relacionados a saúde (IMC, percentual de gordura, doenças, benefícios do exercício) ginástica e musculação com materiais alternativos” (P2).

    Mesmo diversificando as práticas nas aulas de educação física, os esportes tradicionais já citados ainda são os conteúdos mais abordados nas aulas destes professores, embora, por vezes, ele é trabalho de outra forma, caracterizado como pré-desportivo. A evidência dos esportes tradicionais nas aulas dos professores entrevistados coincide com as práticas dos professores já apresentado por Rosário e Darido (2005, p.172), onde as autoras dizem que “mesmo com os professores que procuram diversificar e aprofundar seus conteúdos, o esporte ainda é o principal conteúdo da Educação Física”.

    Todos os professores entrevistados relataram diversificar as aulas de educação física, mas o esporte por muitas vezes está presente mesmo nas aulas ditas diferenciadas. Esta afirmação também corrobora com Rosário e Darido (2005) que afirmam:

    “Os jogos, que também foram apontados por todos, normalmente trazem elementos desses esportes tradicionais, e mesmo sendo denominados de recreativos, cooperativos, lúdicos ou infantis em sua maioria não deixam de ser pré-desportivos. Ou seja, mesmo quando a aula não trata do esporte propriamente dito, os jogos são tratados com vistas ao esporte” (ROSÁRIO e DARIDO, p. 172).

Análise questão 4: Como é trabalhado o esporte? O que você prioriza para o conhecimento do aluno em relação aos esportes?

    Em relação as resposta desta questão, pode-se observar que todos os professores tem como objetivo principal o trabalho em relação ao aluno, com perspectivas para a vivências múltiplas em relações ao esporte, sendo esse mais uma forma de prazer para o aluno e também uma forma que vai além da resposta física e contempla também socialização, conhecimento de conceitos e regras além de ser um fator importantíssimo para a motricidade do aluno. Como podemos observar na resposta da entrevista com P2.

    “O esporte não é um fim por si só, mas sim um meio através do qual se busque o desenvolvimento corporal do aluno, levando em consideração as capacidades físicas de cada aluno. O objetivo não é a excelência no esporte e sim a significação do mesma forma de prazer na atividade física para a vida do aluno” (P2).

    O que também pode ser observado através de todas as respostas, é que o principal meio de trabalhar com os alunos são os esportes, apontando-o como motor principal para o aprendizado dos alunos. Apenas P4 apresentou trabalhos com recreação e brincadeiras diferentes, porém mesmo assim usando o esporte como um meio de criar outras atividades ligadas ao mesmo. Uma resposta que explica esse fato foi a de P1, que diz ser o esporte o conteúdo mais trabalhado, mas de forma global nas séries mais “velhas” e de forma sintética nas mais “novas”, onde os alunos estão “ainda” em desenvolvimento, de acordo com o entrevistado.

    Comparando com o artigo de Rosário e Darido (2005) que originou este estudo, encontram-se semelhanças quando nos deparamos com as falas dos professores para expressar os objetivos que buscam para a criação e administração de suas aulas. Mesmo com as duas investigações sendo realizadas com professores de estados brasileiros diferentes, os conceitos que se buscam passar para os alunos são os mesmos e é o que a graduação na Educação Física vem proporcionando aos seus futuros professores, como democratizar as aulas para os diferentes alunos que existem em uma mesma turma, vivenciar várias formas de movimentos corporais e motores, além de fazer com que o aluno tenha consciência de seus limites, noções de cooperação e experiências corporais.

    As informações obtidas nas entrevistas dão conta de que o esporte está sendo trabalhado de maneira a integrar o aluno não apenas no jogo e na competição, mas com um papel fundamental para o aprendizado do aluno. Os professores salientam tratar o esporte como formador da personalidade e faz com que o trabalho seja mais agradável e com ganhos mais proveitosos tanto por parte do aluno como também do professor, como pode ser percebido na fala de P3:

    “Sem sombra de dúvidas o trabalho com esporte traz aos alunos vivências diferentes, novas experiências, práticas que envolvem socialização e troca de experiências com os colegas. É a melhor forma de ensinar aos alunos através do prazer que a aula trará, pois na hora que saem da sala é a hora que podem socializar e trazer suas diferenças a torna diferente de quando estão presos na sala. Outro fator importante a ser considerado é que o esporte pode ser trabalhado de diversas maneiras para que os objetivos possam ser alcançados sendo na forma do desporto propriamente dito como em formas de jogos e brincadeiras que fazem os alunos evoluírem através do prazer na aula” (P3).

    A resposta de P4 traduz claramente o que os professores tanto do Vale do Taquari quanto os de São Paulo, conforme Rosário e Darido (2005), pensam em relação aos objetivos que tem sobre as aulas de educação física e sobre o que priorizam para os seus alunos se tratando de conhecimentos que estes irão adquirir.

    “ O esporte é trabalhado em todos os seus sentidos. Buscamos dar um entendimento e curiosidade sobre as regras e sua formação, sua importância como agente formador. Os fundamentos específicos passo a passo, uso o esporte para fazer recreação, brincadeiras, trabalho a diferença que há entre eles, aceitação de cada um, competitividade, exclusão, respeito as regras e as limitações dos colegas. O esporte para mim é uma ferramenta maravilhosa. Através das vivências com os alunos na quadra, consigo usar acertos e erros do esporte como uma conseqüência natural e normal. Aprendemos com a repetição e no esporte não é diferente” (P4).

Análise questão 5: Na sua opinião, é importante a inclusão de novos conteúdos, que diferem aos esportes, como ferramentas de aprendizagem?

    Todos os professores têm em mente que a inclusão de outras formas de aprendizado diferentes do esporte são também importantes para a formação dos alunos, sendo utilizados conjuntamente com os esportes tradicionalmente trabalhados. Os quatro professores mostraram que trabalham com atividades que não sejam propriamente desportivas como na fala da entrevista P3 que diz:

    “Importantíssimo. Porque a educação física não se resume aos desportos. Posso citar como exemplo o trabalho que venho realizando na escola onde atuo, que paralelamente ao ensino dos esportes, tenho trabalhado com questões relacionadas a saúde e exercício físico (IMC, percentual de gordura, saúde, benefícios do exercício físico, doenças, ginástica e musculação) através de aulas teóricas e práticas. E o resultado tem sido muito bons. Acredito que é importante que os alunos tenham outros conhecimentos” (P3).

    Ainda temos exemplos dos outros professores que trabalham com atividades onde o esporte não é o principal, como o entrevistado P4 que nos apresenta exemplos onde os próprios alunos criam suas atividades através de materiais diversos e P1 que apresenta como prioridade para as aulas não somente o esporte mas também assuntos diversos, como alimentação e atualidades. Um dos professores não nos apresentou exemplo de como trabalha na sua aula, porém nos deixou sugestões dizendo que tanto na educação física como em outras matérias pesquisadas e discutidas devem ser incentivadas aos alunos para que mesmo aqueles que não podem praticar atividades esportivas possam receber e buscar conhecimentos além das atividades e vivências do desporto.

    Através das respostas e exemplos que os professores deram em suas entrevistas, pode-se perceber a semelhança na preocupação dos professores em trazer não apenas os esportes para a pratica de aula dos seus alunos como também outras práticas diversificadas. Souza e Ramos (2013) apontam que está cada vez mais crescente a preocupação em apresentar conteúdos diversos na Educação Física escolar.

    “A professora varia os conteúdos ao longo do ano tentando explorar as diferentes manifestações da cultura corporal de movimento (esporte, ginástica, danças, lutas e jogos). Em cada série é realizado um trabalho pedagógico diferente mesmo quando explorado um mesmo tema ou conteúdo” (SOUZA e RAMOS, 2013, p. 28).

    Essa fala é semelhante com as encontradas nas entrevistas, onde os professores nos apontam que o trabalho também através de conteúdos não desportivos traz um enriquecimento também para a vida dos alunos fora da escola e depois do seu ciclo escolar, com trabalhos que vão desde brincadeiras para a socialização com trabalhos fisiológicos e que tratam da alimentação, por exemplo.

    Através das respostas dos professores observa-se que o desporto apenas pelo desporto não está mais tão em alta nas aulas de Educação Física organizadas pelos professores. Os objetivos que anos atrás tinham como finalidade a busca de vitórias através do desporto está mudando de paradigma, seja pelas mudanças dos planos de ensino que estão buscando cada vez mais o enriquecimento do aluno de forma global, ou então pelos próprios professores que receberam uma graduação onde o ensino de várias formas de culturas e manifestações farão com que os alunos tenham um aprendizado muito melhor em relação aos conhecimentos que apenas os esportes podem trazer. Mesmo sendo uma resposta de poucos professores, de maneira geral os educadores buscam, ou ao menos informam que buscam, a utilização de outras formas de ensinar que diferem do esporte está cada vez mais em alta e traz cada vez mais benefícios para os alunos como, por exemplo, o principal papel da educação física que é levar o aluno a ter uma vida saudável mesmo depois do seu ciclo escolar.

Considerações finais

    A sistematização dos conteúdos a serem trabalhados pelos professores pesquisados é baseada nos planos de estudos organizados pelas escolas que atuam. Esses planos não direcionam especificamente a um conteúdo, ou seja, abordam áreas de conhecimento que o professor deve atuar, desta forma, ficando a cargo do professor o tipo de atividade que será trabalhada e esta é retratada como preferência ou dominância de conhecimento do professor atuante. Essa sistematização acaba acarretando em conteúdos esportivos ou que se baseiam no mesmo.

    O esporte é um conteúdo importante na Educação Física e deve ser explorado. Ver o esporte apenas como um jogo, sem considerar seus aspectos lúdicos, os valores de liderança, ganhar ou perder, seus aspectos psicomotores e tantos outros fatores, é deixar de reconhecer seu valor e, principalmente, privar o aluno de conhecimentos importantes para a sua formação.

    Assim como no artigo utilizado como base para esse estudo, de Rosário e Darido (2005), o principal critério para a sistematização dos conteúdos está embasado nos fundamentos do esporte. Ainda em concordância com o artigo estudado, mesmo os conteúdos ditos como diferenciais trazem alguns aspectos do esporte, como os jogos cooperativos, jogos adaptados e pré-desportivos, que foram citados por alguns dos professores pesquisados, bem como aqueles do estudo original. Além disso, como se referem os autores do artigo que utilizado como inspiração, mesmo o esporte sendo o conteúdo de maior predominância, ele por muitas vezes não é explorado como deveria, isto é, as práticas são apenas o jogo propriamente dito, deixando de fora outros aspectos importantes que deveriam ser trabalhados, como os fundamentos, o aprimoramento dos movimentos, a crítica e reconstrução destes movimentos, a coletividade, entre outros.

    Devido a pequena abrangência deste estudo, seus resultados não podem ser estendidos a todas as escolas do país, porém mostra que o papel do professor mudou muito e que a imagem do professor que só “joga a bola para o aluno” já não está mais tão presente em nosso meio. O que podemos tirar de positivo com as respostas obtidas nas entrevistas é que os professores estão cada vez mais conscientizados sobre os objetivos e conteúdos que possam estar sendo trabalhados com os alunos, mesmo que os esportes tradicionais ainda estejam presentes com muita força, porém com formas de apresentação diversas. Esta diferentes formas de trabalhar que os professores estão trazendo para suas aulas faz com que seja possível imaginar um futuro em que a aula de Educação Física trará um real desenvolvimento para o aluno, de forma prazerosa, tanto na aula quanto na sua vida fora da escola.

    Conforme Souza e Ramos (2013) mostraram anteriormente, os Parâmetros Curriculares Nacionais descrevem a Educação Física como uma área que tem uma grande gama de conhecimentos a serem explorados e é muito importante que o professor as considere no momento de seu planejamento, tratando a Educação Física como ela deve ser: educativa, plural e prazerosa.

Referências

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