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Prevalência de sobrepeso e obesidade
em escolares da cidade de Jaíba, MG

Predominio de sobrepeso y obesidad en escolares de la ciudad e Jaíba, MG

 

*Professor do Departamento de Educação Física e do Desporto – UNIMONTES

**Licenciada em Educação Física – UNIMONTES

***GEPOB – Grupo de Estudos e Pesquisa

em Obesidade, Sobrepeso e Atividade Física

(Brasil)

Alex Sander Freitas* ***

Brênya de Paula Miranda** ***

Fernando Ferreira Deusdará* ***

Andréia Luciana Ribeiro de Freitas* ***

alexcarate@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi de determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de 6 a 10 anos de idade escolares da rede pública na cidade de Jaíba - MG. O estudo caracteriza-se por uma pesquisa descritiva de corte transversal e abordagem quantitativa, tendo como amostra 276 crianças, sendo 139 meninos e 137 meninas, com faixa etária de 6 a 10 anos, escolares da cidade de Jaíba- MG. As medidas das variáveis antropométricas (peso, altura, dobra triciptal, dobra subescapular e circunferência da cintura) foram realizadas de acordo com os parâmetros antropométricos propostos por Lohman et al. (1988). Os dados coletados foram tratados por meio da estatística descritiva utilizando o cálculo de média, desvio padrão e frequência através do programa SPSS 16.0 for Windows. Para determinar as prevalências de sobrepeso e obesidade foram adotados os parâmetros propostos por Cole et al. (2000), CDC (2000) e Must et al. (1991), já para as comparações entre os sexos foi utilizado o teste “t” de Student’ com p ≤0,05. Observou-se que em relação ao IMC, segundo os critérios de Cole et al. (2000), CDC ( 2000), Must et al. (1991), a prevalência de sobrepeso foi de 14,1%, 13,4% e 18,1% respectivamente, e para a obesidade 7,6%, 8,3% e 11,2%. Das crianças avaliadas 60,9% obtiveram um %G adequado, assim 39,1% não estão com o %G normal e 24,2% estão com o %G acima do recomendado. Em relação à comparação da morfologia corporal entre os sexos constatou que as meninas sempre tiveram valores mais elevados e a variação da gordura corporal subcutânea e do %G apresentaram diferenças significativas de (p=0,000**) (p=0,004**) e (p=0,002**) para dobra triciptal, dobra subescapular e %G. Na comparação da morfologia corporal entre as idades verificou-se que todas as variáveis analisadas apresentaram diferenças significativas com exceção da dobra triciptal (p=0,059). Conclui-se que os resultados do presente estudo estão em consenso com a literatura, visto que em Jaíba houve aproximadamente 25% de escolares com %G acima do indicado, o que significa que uma em cada 4 crianças estão com sobrepeso ou obesidade em uma cidade considerada de pequeno porte, o que caracteriza um fato preocupante de prevalência de obesidade infantil.

          Unitermos: Obesidade. Sobrepeso. IMC. Escolares.

 

Recepção: 12/04/2014 - Aceitação: 25/07/2014.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 197, Octubre de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A obesidade pode ser definida como um acúmulo excessivo de gordura no organismo ou um distúrbio do estado nutricional, traduzido pelo desequilíbrio, prolongado e permanente, entre ingestão e gasto calórico (FORTE et al., 2004). Também se tornou um dos maiores problemas de saúde pública, que vem aumentando significativamente em todo o mundo, em países desenvolvidos e em desenvolvimento (LEITE et al., 2010). De acordo com Lino; Muniz; Siqueira (2011) a obesidade é o estado mais grave do excesso de peso, caracterizada como uma das doenças que integra o grupo de doenças e agravos não transmissíveis.

    Em relação à obesidade infantil, nos últimos anos, tem se observado aumento progressivo em sua prevalência (BALABAN; SILVA; MOTTA, 2001), e de acordo com Rech et al. (2010) estudos recentes têm mostrado que o sobrepeso e a obesidade comprometem a saúde desde a infância, estendendo-se pela adolescência e idade adulta.

    Uma vez que a obesidade está associada a um grande número de doenças, entre as quais as enfermidades cardiovasculares e cerebrovasculares, os distúrbios metabólicos, diversos tipos de câncer e doenças do aparelho digestivo (COSTA et al., 2011). Entre os adolescentes vale salientar o custo emocional da obesidade em uma sociedade que valoriza o ser muito magro como exemplo de beleza (SICHIERI; SOUZA, 2008).

    Segundo Guedes et al. (2010), o sobrepeso e a obesidade apresentam etiologia multicasual, envolvendo componentes genéticos, fisiológicos, metabólicos e psicológicos; contudo, o que pode justificar em grande parte o crescente aumento nas últimas décadas da proporção de jovens com sobrepeso e obesos são as mudanças observadas recentemente em seu estilo de vida. Para Poeta et al. (2010) uma possível predisposição genética, hábitos alimentares inadequados e um estilo de vida sedentário são alguns dos fatores relacionados ao desenvolvimento da obesidade infantil.

    Balaban; Silva (2001) citam que a obesidade infantil preocupa devido ao risco aumentado que esses indivíduos têm de se tornarem adultos obesos. Logo, considerando o aumento acelerado da obesidade infantil e a gravidade do problema apresentado este estudo tem como objetivo determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de 6 a 10 anos escolares da rede pública na cidade de Jaíba – MG. E, se justifica na necessidade que professores de Educação Física têm de conhecer a morfologia corporal dos alunos para um maior embasamento e melhor direcionamento de suas aulas, além do fato de não haver trabalhos científicos sobre o tema proposto na referida cidade.

Metodologia

    O presente estudo é caracterizado como descritivo de corte transversal, com análise quantitativa dos dados. A população foi composta por todos os alunos matriculados no ensino fundamental I com idade entre 6 e 10 anos, sendo que a composição da amostra foi selecionada de forma aleatória através de sorteio simples, na qual foram selecionadas 2 (duas) escolas da rede pública de ensino, uma estadual e uma municipal, tendo um total de 276 alunos. Desse total de alunos 139 foram do sexo masculino (M) e 137 do feminino (F).

    As variáveis antropométricas foram medidas de acordo com os parâmetros, procedimentos e técnicas propostas por Lohman et al. (1988), sendo mensurada a massa corporal, estatura, dobras cutâneas tricipital e subescapular, e circunferência da cintura. Posteriormente foram determinados o IMC e a porcentagem de massa gorda (%G). Para a realização da coleta de dados do estudo foram utilizados um estdiômetro acopaldo à balança com precisão de 0,1cm, uma balança da marca Filizola com precisão de 0,1kg, um adipômetro Sanny com precisão de 0,1mm e pressão constante de 10g/mm².

    Os dados foram introduzidos e analisados a partir da utilização do SPSS 20.0 for Windows. Para a caracterização da amostra foram utilizados os procedimentos de Estatística descritiva com média, desvio padrão e frequência. Para determinar as prevalências de sobrepeso e obesidade foram adotadas os parâmetros propostos por Cole et al. (2000), CDC (2000) e Must et al. (1991). Para as comparações entre os sexos utilizamos o teste “t” de Student para amostras independentes, e para a verificação da variação de acordo com a idade foi utilizada a análise de variância (ANOVA) a um fator, em ambas as situações foram adotadas um nível de significância de p≤0,05.

Apresentação e discussão dos resultados

Tabela 1. Valores mínimos, máximos, média e desvio padrão

das variáveis da morfologia corporal externa da amostra

 

Tabela 2. Classificação do IMC da amostra segundo critérios de Cole et al. (2000)

    Comparando-se esta prevalência com algumas encontradas em outros estudos brasileiros, o que se observa é que os valores do excesso de peso se aproximam como em um trabalho de Dutra; Araújo; Bertoldi (2006) realizado na zona urbana da Cidade de Pelotas com uma amostra de 810 indivíduos no período de outubro a dezembro de 2003 em que a prevalência de sobrepeso foi de 19,3%; e considerando-se o critério proposto por Cole et al. (2000), a prevalência de sobrepeso foi de 21,8% e a obesidade de 4,5%.

    Em outro estudo realizado em oito municípios do Estado de Santa Catarina os resultados ainda são mais próximos dos encontrados no presente trabalho e a faixa etária da amostra de ambos é entre 6 a 10 anos. O mesmo contou com a participação de 4964 escolares e a coleta de dados foi realizado entre julho de 2007 a maio de 2008 com alunos de escolas públicas e privadas, sendo que a prevalência de sobrepeso estimada foi de 15,4% e de obesidade 6,0%, logo somando sobrepeso e obesidade a prevalência atinge 21,4% (RICARDO; CALDEIRA; CORSO, 2009).

Tabela 3. Classificação do IMC da amostra segundo critérios de Must et al. (1991)

    Em uma pesquisa de caráter observacional e transversal realizada com uma amostra de 588 sujeitos de ambos os sexos, escolares do 6° ano das escolas de Covilhã e Fundão em Portugal teve resultados semelhantes, pois se observou que as crianças com pré-obesidade estavam em um total de 18,2% e que a prevalência de crianças obesas situavam-se nos 14,1% (ALVES, 2010).

    Em relação ao Brasil um estudo transversal, tendo como amostra 1.158 adolescentes de 10 a 19 anos de escolas públicas e privadas do município de Fortaleza, Ceará que foi concretizado no período de março a maio de 2003 obteve como resultado a prevalência de 19,5% de sobrepeso/obesidade para toda a amostra; segundo o critério de Must et al. (1991), a prevalência encontrada de sobrepeso e obesidade nas escolas privadas foi de 23,9% maior que nas escolas públicas que foi de 18% (CAMPOS; LEITE; ALMEIDA, 2007).

Tabela 4. Classificação do IMC da amostra segundo critérios do CDC (2000)

    Perante a prevalência de excesso de peso no grupo amostral, verifica-se que a nível mundial, a amostra apresenta prevalência inferior a encontradas em um estudo realizado por Meininger et al. (2010) nos EUA com 1070 crianças do jardim de infância a sexta serie que apresentaram 28,7% de sobrepeso, 17,9% estavam em risco de sobrepeso e 9,4% estavam com percentil superior a 90, analisado conforme os critérios propostos por CDC (2000).

    Travi (2008) realizou um estudo de corte transversal com 728 escolares de 6 a 11 anos do ensino fundamental de escolas públicas e particulares, em 2006, na cidade de Campo Grande (MS). Para a determinação de sobrepeso e obesidade, foram aproveitados como referências a tabela e curvas do CDC (2000), por idade e gênero, no qual o sobrepeso é definido no percentil entre 85 e 95 e a obesidade é caracterizada em percentil acima de 95. Nesse estudo foram encontradas prevalências de sobrepeso e obesidade de 21,7 e 15,7% nas crianças das escolas particulares e 11,5% e 13,3% nas das escolas públicas, respectivamente.

Tabela 5. Classificação do percentual de Gordura segundo Deurenberg (1990)

    De acordo com a tabela 5, verifica-se que, 2,9% da amostra possuem o percentual de gordura excessivamente baixa, 12,0% baixa; 14,1% moderamente alta, 4,7% alta e 5,4% excessivamente alta; sendo que do total dessa amostra 60,9% estão com o percentual de gordura adequada, assim percebe-se que da população estudada 39,1% não estão com o %G normal; ou seja, não estão dentro do padrão do %G considerado indicado para a faixa etária dos escolares que compunham a amostra do presente estudo; e o fato mais preocupante é que se pôde observar ainda que 24,2% dos avaliados estão com o %G acima do recomendado.

    Maestri; Fiamoncini (2006) realizaram um estudo com uma amostra composta de 164 alunos, sendo 84 meninas e 80 meninos com idades de 8 a 10 anos da Escola de Ensino Fundamental Paquetá – Brusque (SC), no qual se constatou que as meninas apresentaram níveis adequados de %G, apesar de 25%, em média, encontrar-se com percentual excessivamente baixo; as médias de %G nos meninos de 8 a 9 anos estavam adequados, mas os de 10 anos tiveram média moderadamente alta. Notou-se ainda que alguns indivíduos apresentaram %G muito abaixo do que seria adequado para sua idade, ou seja, 1,63%, valor que deveria estar entre 10 e 20%, e que meninos de 8 anos tiveram em sua maioria um %G muito além do adequado, o que aconteceu também na idade de 9 anos, mas em menor escala.

Tabela 06. Comparação da morfologia corporal entre o sexo masculino e o sexo feminino

    De acordo com a tabela 06, quando observamos a variação da gordura corporal subcutânea e do %G, as meninas apresentaram valores mais elevados com diferença significativa, sendo que para a dobra tricipital o sexo masculino teve como média 12,45±6,08 enquanto o sexo feminino teve como média 15,17±6,23 (p=0,000**), e a dobra subescapular teve valores menores para ambos os sexos, o masculino teve média de 6,63±4,07, e o feminino teve média de 8,15±4,58 e (p=0,004**), porém a média das meninas continua sendo superior a dos meninos como ocorreu nos casos anteriores. Em relação ao %G obteve-se média de 17,84±7,68 para meninos e para meninas a média foi de 20,59±6,87 e (p=0,002**). O fato de o sexo feminino apresentar resultados superiores se justifica devido às meninas possuírem em todas as faixas etárias maiores quantidades de massa gorda em sua morfologia corporal e normalmente se desenvolverem mais cedo que os meninos.

    De acordo com Malina; Bouchard; Bar-or (2009) meninas têm mais massa gorda que os meninos em todas as idades, dos 4 até os 18 anos de idade. E, depois de um aumento rápido na gordura subcutânea durante os seis primeiros meses de vida, ambos os sexos passam por uma diminuição na gordura subcutânea até os 6 ou 7 anos. Em seguida, meninas apresentam um aumento linear na gordura subcutânea com o decorrer do tempo até o fim da puberdade. Meninos, contudo, mostram um leve aumento na espessura da gordura entre 7 e os 12 ou 13 anos, e logo após uma diminuição na gordura subcutânea durante a puberdade. Ainda, afirmam que em meninas a massa gorda parece aumentar aproximadamente em uma taxa maior após os 8 anos de idade e no decorrer da adolescência e que no final dessa fase a massa gorda absoluta de meninas é, em média, cerca de duas vezes maior que a de meninos.

Tabela 07. Comparação da morfologia corporal entre a faixa

etária de 6 a 10 anos dos escolares que compõe a amostra do estudo

    O que se observa na tabela acima deve ser considerado normal, pois nessa faixa etária dos 6 a 10 anos estamos em fase de crescimento e desenvolvimento, então o mais natural é que os valores fossem maiores para os alunos mais velhos, ou seja, tinham idade mais elevadas, até o período em que os valores cheguem ao um ponto de estabilidade. Segundo Malina; Bouchard; Bar-or (2009) o estirão de crescimento em meninas se inicia em média em torno dos 9 ou 10 anos de idade, atinge o pico em torno dos 12 e para em torno dos 16; já em meninos a aceleração se inicia em média em torno dos 10 ou 11 anos, atinge o pico em torno dos 14 e para em torno dos 18 anos de idade.

    Entretanto, ainda de acordo com os mesmos autores dentro de um grupo de crianças do mesmo sexo e da mesma idade cronológica, haverá variações na idade biológica, ou no nível de maturidade biológica atingido. Assim, mesmo que determinadas crianças estão biologicamente avançadas com relação as suas idades cronológicas, outras se atrasam biologicamente com relação as suas idades cronológicas. E, embora duas crianças possam ter a mesma idade cronológica, elas podem não ter atingindo o mesmo nível de maturidade biológica, ou seja, elas variam quanto ao estado de maturidade.

Conclusão

    A partir dos dados obtidos, foi possível verificar que a prevalência de sobrepeso e obesidade na cidade do presente estudo já pode ser considerada um assunto preocupante para a população, visto que para a amostra dos 276 escolares avaliados aproximadamente 25% estão com o %G acima do adequado segundo os parâmetros propostos por Deurenberg (1990), o que significa dizer que em Jaíba, uma cidade de pequeno porte, uma em cada quatro crianças estão com sobrepeso ou obesidade.

    Para estimativa das prevalências de sobrepeso e obesidade ponderando as três metodologias adotadas foram encontradas os seguintes resultados: 14,1% para sobrepeso e 7,6% para obesidade de acordo com Cole et al. (2000); 18,1% de sobrepeso e 11,2% de obesidade segundo Must et al. (1991); 13,4% e 8,3% para sobrepeso e obesidade respectivamente para CDC (2000). Observa-se que entre as três metodologias adotadas para a classificação do IMC houve uma pequena diferença e que os valores encontrados foram muito próximos.

    Agora, abordando à comparação da morfologia corporal entre a faixa etária de 6 a 10 anos dos escolares avaliados verificou-se de maneira geral que todas as variáveis analisadas apresentaram um aumento considerável nas médias à medida que a idade dos alunos progredia e apresentaram diferenças significativas com exceção da variável dobra triciptal que não apresentou diferença significativa (p=0,059).

Referências

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